ENTÃO Nº 2 NO DOPS, ZONILDO CASTELLO BRANCO ISENTA CANTOR DE COLABORAÇÃO COM POLÍCIA POLÍTICA |
DA SUCURSAL DO RIO O delegado aposentado Zonildo Castello Branco afirma que Wilson Simonal não era informante do Departamento de Ordem Política e Social, apesar de um relatório interno do Dops sustentar o contrário.
Em 1971, quando o informe foi elaborado no órgão -ao fim seria anexado ao processo 3.540/72-, Castello era o diretor da Divisão de Operações, o número dois da polícia política no Rio.
Foi ele quem encaminhou para o diretor o relatório de autoria do inspetor Mário Borges. "Simonal era muito ligado, conhecia o Mário Borges, mas colaborador não era, não."
O delegado sustenta que enviou o informe ao superior, sem nenhuma restrição às informações, porque esse era o método. "Eu apenas submetia o relatório à consideração."
A Folha localizou no Rio o empresário Sérgio de Andrada Guedes, um dos três condenados no processo. Conversou com ele por telefone, Guedes prometeu ligar, mas não respondeu mais aos recados.
Ele foi um dos dois homens que buscaram Raphael Viviani em casa na noite de 24 de agosto de 1971. No processo, aparece como colaborador do Dops e industrial -hoje sua empresa tem mais de 300 funcionários.
"Muito pouco sei daquilo. Sei tanto quanto vocês, imprensa", disse ele, no único contato com o jornal.
A condição de informante "parece uma história de cobertura", diz o ator e cineasta Cláudio Manoel, sobre o depoimento em que o cantor assim se assumiu.
Ele é codiretor do filme que conta a vida de Simonal.
"Estranho que no próprio dia em que o cara vai ter essa ação ele vai e presta queixa." Seria uma forma de justificar a colaboração do Dops em uma iniciativa sem cunho político.
"Acho impossível provar a condição de informante, sendo ou não." Critica: "Parece mais relevante é que de uma certa forma a questão de ele ser ou não informante parece decisiva para justificar se merecia ou não ter sofrido o tipo de lepra que sofreu".
Cláudio identifica crueldade com Simonal: "Por que não passa? Digamos que fosse provado que o cara foi um informante da ditadura. Trinta anos depois da Lei da Anistia, o que interessa isso?".
Na sua opinião, houve contra Viviani "uma operação truculenta, estúpida e de vendeta pessoal que descambou para o errado".
Inocente
Logo que uma enorme leva de marinheiros foi presa pelos golpistas de 1964, dois advogados de 38 anos de idade se desdobraram para, sem cobrar um tostão, dar conta de tantas defesas urgentes: Antonio Evaristo de Moraes Filho e Antônio Augusto Alves de Souza.
Eles ficariam de tal modo marcados que seus detratores pró-regime gracejavam: não eram causídicos de porta de xadrez, mas de porta de fortaleza -instalações militares onde os clientes eram encarcerados.
Ao se ver em apuros, Simonal procurou Evaristo. O motivo era óbvio, diz Alves de Souza: "Ele era um advogado excepcional, o melhor da época".
Durante todo o processo 3.540/72, a dupla representou Simonal. Evaristinho, como chamavam o criminalista, era homem de esquerda. Morreu em 1997. Assinou sozinho os principais documentos da defesa, inclusive os que avalizam o depoimento em que o cantor se reconhece informante.
Seu colega, que "não era politizado", afirma que ambos nunca tiveram dúvidas de que a versão de Simonal no episódio era verdadeira: ele dizia não saber de tortura contra Viviani.
A Justiça não lhe deu razão, mas a defesa obteve vitória relativa ao limitar a três meses a pena final, sem necessidade de cumpri-la na prisão.
"Se ele fosse realmente culpado, não se sentiria atingido", diz Alves de Souza. "Por isso acredito piamente na inocência. Ele se sentia profundamente infeliz. Em nenhum momento ficou provado nos autos que participou da tortura ou que estava presente, o que evidencia a inocência."
De fato, nenhum depoimento, nem o de Viviani, sustentou que Simonal torturou ou assistiu às sevícias. Ele foi condenado por ser considerado corresponsável por constrangimento ilegal, mas não agressor.
Para Alves de Souza, Simonal foi vítima de "perseguição ideológica": "Da mesma forma que havia a perseguição estatal contra aqueles que tinham a ideologia de esquerda, o pessoal que era perseguido se voltou contra ele".
A intolerância feriu: "Pela mesma maneira que se julgava crime de ideologia, o que é um absurdo, as pessoas que se diziam comunistas queriam acusá-lo por ser um homem que tinha outra ideologia, por ser de direita".
A inveja teria contribuído: "Os invejosos anônimos aproveitaram aquele momento para ajudar a derrubá-lo. Os arrivistas que querem subir à custa do sofrimento alheio". (MÁRIO MAGALHÃES)
Folha, 21 de junho de 2009
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