August 3, 2013

CASO AMARILDO - HIPÓTESES


A nova versão no caso Amarildo, é de que ele teria sido capturado por uma facção do narcotráfico ao sair da UPP, assassinado e o corpo levado da favela por um caminhão da Conlurb que o jogou no lixão do Cajú, tudo com o objetivo de inculpar a PM. Como as câmeras comunitárias não
funcionaram neste dia, não é possível confirmar a saída de Amarildo da UPP. Essa versão, que vem das investigações policiais, e do próprio secretário Beltrame respondendo a ministra dos Direitos Humanos, é ainda mais dramática do que a anterior. Afinal, a Rocinha era dita como “pacificada” e de repente a polícia afirma o contrário, inclusive identificando mais de uma facção do poder paralelo do narcotráfico naquela comunidade, que deveria estar livre desse problema, conforme o reiterado discurso do governador.


Portanto, há pelo menos três hipóteses do caso Amarildo: a primeira e melhor, Amarildo está vivo e escondido por alguém que não quer que ele apareça por motivos aleatórios; segunda, Amarildo foi vítima fatal de um “acidente do trabalho policial” no interior da UPP e o corpo levado para desova numa viatura sem GPS localizador; terceira, após liberado Amarildo, supostamente envolvido com o narcotráfico, foi capturado por uma facção rival, para incriminar a PM.


Infelizmente todas hipóteses sobre o caso demonstram o descompasso do discurso oficial com a realidade, expondo a fragilidade e inconsequência da segurança pública do estado, sobretudo nas comunidades tradicionalmente abandonadas pelo poder público. Contudo, o que mais incomoda a todos nós, é a empedernida insistência do governo de justificar seus erros e o equívoco de suas políticas.

Investigações policiais no Brasil têm sido corriqueiramente utilizadas para torcer a verdade e proteger pessoas e instituições, apostando na fragilidade e esquecimento da opinião pública. É mais que possível que o caso não seja elucidado, e pior, que jamais se saiba onde está Amarildo.

- Márcio Donicci 

February 17, 2013

A nova elite do Congresso do PMDB

Senadores e deputados devem refletir sobre a seleção que vem sendo escalada para dirigir o Congresso e ocupar cargos relevantes no plenário. A cúpula do Parlamento tem algo como 20 posições de destaque, que refletem a essência da liderança das duas Casas. Sempre houve casos esparsos, e graves, em que foram escolhidos parlamentares com mais prontuário que biografia. Jamais chegou ao que se está armando agora.

Para a presidência do Senado, o favorito é Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele já esteve nessa cadeira (ocupada pelo padre Diogo Feijó) e em 2007 renunciou porque foi revelada uma rede de relações perigosas na qual a empreiteira Mendes Júnior pagava as despesas da namorada com quem tivera uma filha.

O episódio valeu à senhora a oportunidade de posar para um ensaio de J. R. Duran na revista "Playboy".

Para a presidência da Câmara, já ocupada por Ulysses Guimarães, o favorito é o deputado Henrique Alves (PMDB-RN). Mantinha em sua assessoria (paga pela Viúva) o sócio da empresa Bonacci Engenharia, que recebeu R$ 6 milhões em verbas federais direcionadas para obras em 20 municípios do Rio Grande do Norte governados por correligionários. Na sede da empresa, o repórter Leandro Colon encontrou o bode Galeguinho.

Para a vice-presidência da Câmara, a bancada do PT escolheu o deputado André Vargas. Há poucos dias, quando o ex-governador gaúcho Olívio Dutra disse que José Genoino deveria renunciar ao mandato, Vargas exibiu a ética do PT 2.0: "Quando ele passou pelos problemas da CPI do Jogo do Bicho, teve a compreensão de todo mundo. (...) Ele já passou por muitos problemas, né?"

Para a liderança da bancada do PMDB de Calheiros e Alves, exercida em outros tempos por Mario Covas, o favorito é o deputado Eduardo Cunha (RJ). Começou sua carreira política durante o collorato, quando tinha o beneplácito de Paulo Cesar Farias. Tornou-se poderoso padrinho nas Centrais Elétricas de Furnas e no seu fundo de pensão. Em 2011, fechou todos os salões do Copacabana Palace para uma festa familiar com mil convidados. Tem o apoio de Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes.

Cunha disputa o lugar com o deputado Sandro Mabel, um dos homens mais ricos do Congresso. Acusado de ter oferecido R$ 1 milhão de luvas e R$ 30 mil de mesada a uma colega para que mudasse de partido, viu-se absolvido pelo plenário.

Na liderança do PT está o deputado José Guimarães (CE), irmão de José Genoino, ex-presidente do partido, que aguardará no plenário o desfecho da sentença do Supremo Tribunal Federal que o condenou a seis anos e 11 meses de prisão, impondo-lhe uma multa de R$ 468 mil. Em outra encarnação, ele liderou a bancada petista.

Em 2005, um assessor de Guimarães foi preso no aeroporto de Congonhas com R$ 200 mil numa mala e US$ 100 mil na cueca.

Juntos, o PMDB e o PT controlam 31 da 81 cadeiras do Senado e 165 das 513 na Câmara.
Essa nova elite parlamentar reflete um sentimento das bancadas e de boa parte do plenário. Elas seguem uma norma de don Vito Corleone:

"Para mim, não tem importância o que uma pessoa faz para ganhar a vida. Entendeu?"

ELIO GASPARI


ilustração de CRUZ