December 29, 2015

"Chama o ladrão", por Cid Benjamin


É um escândalo que, nesse quadro, o estado resolva pagar a conta de luz da SuperVia

Ladrão (Foto: Arquivo Google)
Fim de ano é uma época propícia para a aprovação de maracutaias de todo tipo. Políticos vigaristas aproveitam que a população está preocupada com as festas de Natal e Ano Novo e votam coisas de que até Deus duvida. Pois este fim de 2015 não foi exceção.
No dia 16 de dezembro, sob a batuta do presidente da Alerj, o deputado Jorge Picciani, foi aprovada uma proposição do governador Luiz Fernando Pezão concedendo um subsídio no valor de R$ 39 milhões para a SuperVia pagar a sua conta de luz à Light. A SuperVia opera os trens no Rio e é controlada pela superpoderosa, e hoje superenrolada em denúncias de corrupção, Odebrecht.
A justificativa apresentada por Pezão para a medida é surrealista: o aumento das tarifas de energia elétrica foi maior do que o previsto, afetando os lucros da empresa. Ora, o aumento das contas de luz onerou a economia de todos os consumidores. Por que o socorro apenas à SuperVia?
A situação no estado beira a calamidade pública. O próprio Pezão foi obrigado a decretar situação de emergência na área de saúde no Rio. O secretário de Saúde se demitiu, alegando que vai se candidatar no ano que vem, e pelo menos 11 hospitais e 17 UPAs estavam recusando pacientes por falta de condições de funcionamento no momento em que este artigo estava sendo escrito.
A Uerj está a ponto de fechar as portas. Os alunos se cotizam para pagar o transporte de funcionários responsáveis pela limpeza, há meses sem receber.
E o governador, sem dinheiro para pagar o décimo terceiro salário dos servidores, acena com uma inacreditável proposta: que eles busquem empréstimos na rede bancária.
É um escândalo que, nesse quadro, o estado resolva pagar a conta de luz da SuperVia.
Mas as barbaridades não param aí. Pezão deu benefícios fiscais a grandes empresas, que deixarão de pagar mais de R$ 35 bilhões em ICMS até 2018. Entre elas estão Ambev, Jaguar, Land Rover e Nissan. Seus interesses foram considerados pelo governador mais importantes do que as necessidades da população. E ainda há quem diga que crime organizado é o que comete um adolescente de favela que vende um papelote de cocaína.
Que Pezão é candidato a ser o pior governador do Estado do Rio nas últimas décadas, já se sabe. Ele chega a dar saudades de seu padrinho político, o inesquecível Sérgio Cabral, com suas dancinhas de cancã em Paris, de guardanapo na cabeça.
Que Pezão e seu secretário de Segurança, Mariano Beltrame, não controlam a PM, sendo coniventes com o fato de ela ter se transformado numa máquina de assassínio de jovens pobres e negros, também se sabe. Mas é preciso que a população saiba também que, enquanto o estado afunda, Pezão está dando à Odebrecht esse presente de Natal.
Aliás, no mesmo dia em que ele foi aprovado, a Alerj rejeitou proposta de que não houvesse reajustes das tarifas cobradas pela SuperVia ao longo de 2016, atendendo a outro pedido de Pezão.
Francamente, só mesmo lembrando a música de Chico Buarque: “Chama o ladrão, chama o ladrão!”
 O Globo, 29 de dezembro de 2015

December 26, 2015

Papai Noel existe


História da figura que marcou o Ocidente ecoa no drama dos refugiados 


ADRIANA CARRANCA 
 
Papai Noel existe. Para ser mais exata, Papai Noel existiu. Seu nome era Nicolau. Ele não nasceu no Polo Norte, mas na Grécia. Estivesse vivo hoje, seria um imigrante na pequena Demre (antiga Myra), na costa mediterrânea da Turquia — naqueles anos, por volta de 280, sob o Império Romano, que o perseguia por sua religião: o cristianismo. Na Grande Perseguição de Diocleciano, quando Bíblias eram queimadas e padres, obrigados a renunciar, foi preso e torturado. Sobreviveu e, como bispo de Myra, é lembrado pelo socorro às minorias e aos pobres, em especial às crianças, às quais costumava entregar presentes em segredo, colocando-os à noite dentro de sapatos deixados fora das casas. Ao saber de um homem prestes a entregar as filhas para a prostituição por não ter o dinheiro exigido na época para casá-las, decidiu ajudá-lo: visitou a casa durante a madrugada, poupando o pai da humilhação de depender da caridade, e como as janelas estivessem fechadas jogou pela chaminé três sacolinhas com moedas de ouro — o suficiente para o dote de cada uma das jovens.

Ele foi canonizado séculos depois e tornou-se hábito dar presentes às crianças pobres no aniversário de sua morte, 6 de dezembro. A tradição viajou à América na bagagem de holandeses que desembarcaram em Nova York no século XVII. Eles o chamavam de “Sinterklaas”, transliteração de Santo Nikolaos (nos EUA, Santa Claus). Ao longo dos séculos, transformou-se no velho barrigudo de barba branca e roupa vermelha, ora pela pena de poetas, que reescreveram sua história misturada a outras lendas, ora de publicitários, que enxergaram na caridade do santo uma forma de aumentar o faturamento do comércio no Natal, empurrando a data para o dia 25. Na Europa, ele ressurge no século XX como Père Noel — Papai Noel.

Essa história fantástica, relatada por historiadores como Gerry Bowler, de “Santa Claus: A Biography”, com pequenas variações, me foi contada a primeira vez por um barqueiro, quando visitei Demre, às margens do Mediterrâneo. Talvez esta seja uma história familiar ao leitor, mas não pude deixar de notar a ironia que nela reside ao relembrar 2015 e a imagem do menino sírio Aylan, morto à beira da mesma costa que deu vida a Papai Noel.

Um ano em que vimos milhões de desesperados lançarem-se ao mar entre a costa da Turquia, onde Nicholas era bispo, e Evros, na Grécia, onde nasceu; perseguidos, como ele, que em busca de vida nova, deixaram um rastro de mortes na travessia — mais de 3,6 mil, dos quais 500 crianças como as que o clérigo costumava presentear. É um ano que não vai acabar, porque não só as imagens, mas as consequências do que produziu, voltarão a nos assombrar muitas vezes.

Um ano em que um milhão de pessoas, um terço das quais crianças, pediram por socorro às portas da União Europeia, expondo as fissuras de um continente mais desunido do que imaginávamos e desenterrando os vermes da xenofobia que julgávamos acabados, mas ressurgiram prontos para corroer seu tecido frágil, alimentando-se dos mortos deixados pelo terrorismo. Fenômenos que não deixarão 2015 acabar, porque estão longe de ter fim — tome-se como exemplo que 31 de dezembro chegará com apenas 184 refugiados realocados, entre os 160 mil que aguardam por um destino na União Europeia. Outros mais virão.

Um ano em que 16 milhões de crianças, uma em cada oito nascidas em 2015, vieram ao mundo em uma zona de guerra — em Síria, Iraque, Afeganistão, Iêmen, Sudão do Sul, República Centro-Africana — sob condições que limitarão seu desenvolvimento físico, cognitivo, emocional; e 13 milhões tiveram de deixar a escola pelos mesmos conflitos. O descaso cobrará seu preço mais tarde, e revisitaremos 2015 por gerações a vir.

Um ano que se aproximou do fim com um acordo histórico sobre o clima, mas teimará em não acabar porque as boas intenções só mudam o curso da História quando colocadas em prática. E o que vimos em 2015 foi a violação sistemática dos tratados internacionais anteriores — as leis humanitárias, a Convenção dos Direitos da Infância, a Convenção dos Refugiados e seus protocolos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Um ano que não terminará porque o futuro é construído com o que se faz agora — o que deixa de ser feito ou é feito à revelia de avanços e direitos já conquistados não produz amanhã, mas retrocesso. E voltaremos a este ano muitas vezes. Por isso, ontem foi Natal, mas 2015 está longe de terminar.

O GLOBO, 26 DE DEZEMBRO DE 2015

November 2, 2015

Tragédia anunciada


O cidadão comum, num momento de raiva, com uma arma de fogo na mão, mata o outro e assim desestrutura duas famílias, a sua própria e a do morto


por


Na Câmara dos Deputados, está se urdindo a aprovação de um projeto de lei (PL) que visa desmantelar o Estatuto do Desarmamento, uma lei que ajudou a salvar milhares de vidas pelo Brasil afora. Entre outros elementos, propõe-se que cada cidadão possa adquirir até seis armas de fogo e portá-las nas ruas.

O apelo à aprovação deste PL surge no rastro da sensação de insegurança que atormenta as famílias brasileiras. Neste cenário, a ideia ingênua é que se o Estado não consegue garantir a segurança das pessoas, o cidadão armado garantirá a segurança de sua família. Nada mais equivocado, de acordo com as evidências científicas.

Várias pesquisas internacionais mostraram que o risco de alguém sofrer homicídio ou suicídio em um domicílio onde haja arma de fogo é cerca de três vezes maior. Os professores das Universidades de Chicago e de Duke, Ludwig e Cook, demonstraram não apenas o efeito da difusão das armas de fogo para fazer aumentar os homicídios, mas desconstruíram o mito de que os criminosos seriam dissuadidos a cometer crimes pelo cidadão armado. Pelo contrário, eles verificaram que a arma de fogo dentro do lar está associada a uma maior probabilidade de roubos. Numa pesquisa publicada pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), apurou-se que as chances de um cidadão armado que foi vítima de roubo ser assassinado é 56% maior do que a vítima desarmada.

Se no plano individual a posse da arma de fogo, em vez de garantir a segurança, confabula a favor de um maior risco de vitimização fatal do seu dono e familiares, existem ainda as consequências sociais da corrida armamentista, que ocorrem por dois caminhos. Em primeiro lugar, milhares de homicídios são ocasionados por conflitos interpessoais, entre os quais brigas de bar, no trânsito etc. Muitas vezes, é justamente o cidadão comum que, num momento de raiva, com uma arma de fogo na mão, mata o outro e assim desestrutura duas famílias, a sua própria e a do morto. Em segundo lugar, quanto mais armas houver no mercado legal, mais roubos e extravios ocorrem, que ajudam a irrigar o mercado ilegal e fazem com que o preço das armas diminua aí, permitindo que os criminosos mais desorganizados (e perigosos) tenham acesso a esse instrumento. De fato, pesquisa do Instituto Sou da Paz com o Ministério Público de São Paulo mostrou que 38% das armas apreendidas pela polícia, envolvidas em casos de homicídios ou roubos, haviam sido registradas.

Três teses de doutorado em Economia da FGV, PUC e USP encontraram resultados inequívocos: quanto maior a difusão de armas de fogo, maior a taxa de homicídios. No Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), fizemos vários estudos sobre o tema e concluímos que a cada 1% a mais de armas nas cidades, a taxa de homicídios aumenta 2%. Mostramos, ainda, evidências de que o Estatuto do Desarmamento ajudou a salvar milhares de vidas desde 2004.

Contudo, o controle responsável das armas de fogo no país, ainda que seja um elemento crucial a favor da segurança de todos, não é uma panaceia. Há que se avançar muito para termos um Sistema de Justiça Criminal mais eficiente. Por outro lado, temos que investir seriamente nas nossas crianças e jovens, de modo que o menino de hoje não seja o bandido de amanhã. Muito resta a fazer. A miséria da segurança no Brasil nasce quando as leis são feitas sem levar em conta as evidências empíricas e o conhecimento acumulado na academia científica, como é o caso da proposição a um passo de ser aprovada na Câmara dos Deputados.

Daniel Cerqueira é técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada 

OGLOBO, 31 DE OUTUBRO DE 2015

 

October 25, 2015

TV de cachorro

TATI BERNARDI

Quem aqui se lembra como era a vida há cinco anos? A gente acordava, lia o jornal, trabalhava, faltava na academia, via TV, fazia ou não umas coisas (se era namorado recente, talvez a gente transasse; se era marido, talvez a gente lesse; se era nada, talvez a gente saísse) e dormia. Ah, sim, e entremeando esses momentos, a gente se alimentava.

Hoje inverteu tudo. Agora o importante é comer como as celebridades fitness do Instagram ou como os chefs renomados dos reality shows e, nos intervalos, quiçá, trabalhar, respirar, transar, ler e dormir. Hoje eu já acordo com uma espécie de carrasco dentro do meu cérebro: sem pressa, sem glúten, sem farinha, sem açúcar, sem lactose, sem hormônios, sem agrotóxicos, sem sódio, sem sal nenhum, sem gordura trans, sem gordura nenhuma, sem transgênicos, sem parabeno (ops, esse é na maquiagem), sem o animal ter sofrido, sentada, sentindo o sabor, sementes. Às vezes tudo isso me dá tanta tristeza e preguiça que apenas bebo água. Ainda vão inventar a água orgânica. Putz, acabei de procurar água orgânica no Google e... tarde demais!

Quem aqui se lembra como era a televisão há cinco anos? Artistas faziam novelas, seriados, plásticas. Agora eles fazem moqueca de redução de escalope de avestruz cru, salpicão de feijão tropeiro reeditado a partir da espuma de feijão carioca que na verdade é um tofu com algas e penne ao limone, mas a massa do penne é feita de lula que é feita de nozes e o limão é abacaxi revisitado. Todo mundo tem um programa que ensina a cozinhar. Cozinhar hoje é o novo "atacar de DJ". Não foi escalado pra próxima das nove? Não conseguiu nem um papel como amiga da alma penada da novela espírita das seis? Então mostra pra gente a sua versão da panqueca de camarão! Nem tudo está perdido!

Sábado fui almoçar no restaurante de um chef que admiro muito. Um lugar que eu sempre ia e era quase um segredinho meu. Fui avisada logo na entrada por uma produtora: "Estamos documentando a vida dele para um reality e todo mundo que vem aqui pode aparecer no programa". Eu só queria comer. O sucesso é muito brega. Sim, tem que ganhar dinheiro, tem que aproveitar, eu faria o mesmo, mas, ainda assim, o sucesso continua sendo muito brega. Fui comer no restaurante ao lado.

Onde foi parar aquele iogurte que a gente bebia, de manhã, enquanto enfiava uma roupa porque estava atrasada? Tenho a impressão que se eu comer "qualquer coisa" hoje, só pra "resolver a fome", pandinhas bebês morrerão de depressão. Aquele almoço "vou ali na esquina engolir um troço" já já vira crime, homicídio doloso "não tinha a intenção de matar, mas machucou muita gente proferindo aquelas palavras". Hoje a gente vê fotos da Xuxa com crianças, trajando um maiô PP e saia transparente e acha estranho. Que doideira esses anos 80! O que vamos achar, daqui a 20 anos, de um reality que estressa crianças de oito anos para que elas saibam fazer pato trufado?

Que minuto foi esse em que todas as pessoas e programas de TV e revistas e sites e redes sociais decidiram que comida é a coisa mais importante do mundo? Por que vocês vão pra Roma, Paris, Buenos Aires, sei lá, qualquer cidade linda, e só tiram fotos de pratos e cardápios e da cara de espertões que vocês fazem porque estão em algum lugar que o guia Michelin mandou? E os guias que falam sobre pracinhas, pessoas, parques, museus e arquitetura?

FOLHA DE SÃO PAULO, 23 DE OUTUBRO DE 2015

October 21, 2015

Quando se perde a esperança: o terceiro levante palestino pode ser o definitivo


Na maioria dos casos, os novos atentados chamados "terroristas" pelo governo são cometidos por mulheres e adolescentes palestinos que usam pedras, chaves de fenda ou facas de cozinha. Foi o caso de uma mãe de tres filhos e mestranda de 30 anos abatida a tiros em Afula, na Galiléia, ao atacar um soldado.

Em resposta, judeus se armam e atacam aleatoriamente palestinos ou árabes israelenses pelas ruas. Em Kiryat Ata, perto de Haija, um judeu esfaqueou outro por julgar tratar-se de um árabe. Até a esquerda entrou em pânico: Isaac Herzog, líder trabalhista, foi o primeiro a exigir o bloqueio e toque de recolher nos bairros palestinos, logo posto em vigor.

Benjamim Netanyahu fez o Shin Bet revirar a Cisjordânia em busca de bodes expiatórios, mas essa revolta difere das anteriores, principalmente, por não ter liderança, coordenação ou metas. São atos de violência aleatórios, cometidos por mulheres e homens jovens sem filiação política que não explicam seus motivos. Sao indivíduos fartos e sem esperança, contra os quais tanto o Exército quanto a diplomacia são inúteis. De pouco adianta, também, endurecer as penas contra quem se dispõe a jogar a vida fora para expressar sua indignação.

Se não é uma repetição de 1987 e 2000, pode ser mais grave e difícil de enfrentar. Para Aser Schecter, do jornal israelense Haaretz, "não é uma intifada, é a cara do Israel binacional". Se o país se recusar a abrir mão dos territórios ocupados para uma Palestina soberana onde árabes sejam cidadãos livres, é esse o futuro à sua espera.

CARTA CAPITAL - A SEMANA
 edição de 18 de outubro de 2015

October 14, 2015

Cabelo loiro não pode!


Às vezes, juntar coisas como elas aparecem na superfície é um bom mapa para entender forças que atravessam uma questão

Imagine, caro leitor, viver num lugar onde seu filho fosse proibido de pintar o próprio cabelo de loiro. Imagine que essa proibição, ao ser transgredida, pudesse levá-lo a sanções que incluem a possibilidade de morte. Não estamos falando de ficção despótica. Isso acontece hoje, perto de nossos olhos. E tem profunda relação conosco.

Em recentes conversas com jovens de algumas comunidades da periferia do Rio de Janeiro, ao perguntarmos sobre sua percepção da violência em seu entorno, a resposta imediata era de que havia pouca violência. Entretanto, numa pergunta posterior as respostas foram intrigantes: “Aqui pode tudo, só não pode pintar o cabelo de loiro, o pessoal que trabalha tomando conta não deixa.” E uma outra: “Teve um dia em que apareceu um corpo de um moleque todo cortado ali no campinho de futebol, mas isso faz tempo, e o cara tinha aprontado”. A ideia de violência estava totalmente descolada dos acontecimentos que descreviam e ligada à presença ou ausência de tiroteios e furtos. Ao mesmo tempo, numa outra ponta, não é preciso abordar ninguém numa pesquisa com rigor teórico ou em entrevistas documentais para escutar narrativas de senso comum de quem frequenta regiões nobres sobre o tema. Basta acompanhar as redes sociais que flagramos depoimentos carregados de certeza dizendo que o Rio está muito violento com flechas apontadas para culpados decretados: “São esses moleques que não querem nada da vida, sabem muito bem o caminho certo mas não querem”.

Essas duas pontas da mesma questão são pistas para a compreensão de como estamos elegendo a juventude pobre como o perigo da vida urbana. Generalizando, ao depositar nela a responsabilidade de todos os acontecimentos no imaginário e ausentando do debate a negação de direitos sofrida por eles. Esse modo de narrar é difundido por parte da opinião pública. Ao se apostar na espetacularização de determinados eventos que envolvem essa juventude — chamar pequenos furtos de arrastão, por exemplo — cria-se uma vertigem semanal que injeta mais combustível na escolha desses jovens como foco do problema e promove pouca compreensão para um possível pacto de ações que poderiam mudar o rumo dos acontecimentos. E ainda: Quando os jornais estampam na manchete on-line ou impressa “jovens de classe média presos por tráfico de drogas”, ao dar uma notícia sobre jovens brancos, e “traficantes são mortos ao reagirem a prisão”, ao falar de jovens negros envolvidos com o mesmo tipo de atividade, que ao serem presos correm risco de execução longe de qualquer legalidade, está contribuindo para esse imaginário que destina a um determinado CEP da cidade a falta de direitos, a ausência de legalidade, a exclusão e a morte. E mais: ao deixar de noticiar boas práticas de trabalho neste campo nos noticiários, deixa crer que não era um parceiro real pelas mudanças sociais.

O leitor pode dizer que exagero, juntando coisas distintas, e de graus de relevância completamente diferentes. Mas, às vezes, juntar coisas como elas aparecem na superfície é um bom mapa para entender forças que atravessam uma questão. O que quero na coluna de hoje é demonstrar a atual escalada da perigosa escolha do jovem pobre e negro como inimigo número um da vida urbana. Da milícia que proíbe pintar o cabelo ao aparato policial que é mobilizado para ser um seletor de frequência de uma região da cidade até a naturalização com as repetitivas notícias sobre a presença de adolescentes no tráfico de drogas, teimamos em deixar de ver as causas, naturalizamos e aceitamos apenas uma resposta militar para isso.

Isso não significa que nada foi feito. Tivemos avanços nos últimos anos, narrados por esta coluna, inclusive. Políticas públicas, iniciativas e projetos da sociedade civil que apostaram no reconhecimento e fomento das práticas desta juventude e na sua potência de invenção criadora alcançaram espaços importantes. Sobretudo, a cultura, a comunicação, o empreendedorismo, o ativismo, trabalhos de base comunitária e de presença da arte em escolas promoveram bons exemplos com resultados. Todavia, os bons exemplos não são mais suficientes para a dimensão da questão. Precisamos de algo que gere impacto e não apenas resultados. Isso deve ser guiado e articulado pelos governos sem interrupção por conta de fim de mandatos. Porém, devemos nos concentrar num pacto público — não é apenas tarefa dos governos — que coloque como eixo central do desenvolvimento das cidades a garantia de direitos para essa juventude. Deve ser ousado, inclusive, considerando a possibilidade de perdão para aqueles jovens envolvidos em pequenos furtos — sem risco de morte — e a aposta em seus potenciais.

Os jovens populares já deram muitas contribuições para nossas cidades. A cultura juvenil urbana e popular já inventou soluções urbanas (mototáxis) e novos campos da arte (passinho do menor). Não podemos desistir de retribuir e ofertar caminhos de garantia de direitos. Não podemos aceitar a generalização, ela é a base para perversidades de controle territorial. Longe de você?

MARCUS FAUSTINI

O Globo, 14 de outubro de 2015 

October 13, 2015

O mesmo é um vácuo


Nada mudou porque não aprendemos nada

Costumo dizer por aí que a única surpresa garantida dos dias de hoje é o shuffle da sua lista de músicas. De resto, nos assola a sensação de que as tragédias atuais são a colheita do sempre. Escrevo esta coluna há alguns meses, e o tema da cidade como espaço falido por mortes e crimes retorna não como um recalcado, mas como a evidência escancarada de uma sangria aberta há décadas e nunca curada. Seja nos ônibus em Copacabana, seja nas ruas da Maré, nos insurgimos pontualmente contra o nosso eterno extermínio particular. Parece que esquecemos para nos aliviar daquilo que não tem remédio nem nunca terá. Esquecer não para mudar, mas para continuar o mesmo.

Em que momento perdemos o senso de tudo que nos conecta em uma cidade? Quando deixamos de ser a “cidade porosa”, para usar o título do excelente (e tomara que logo traduzido) livro do pesquisador Bruno Carvalho sobre a Cidade Nova e sua diversidade cultural? Quando nos separamos em lados que não somam, quando deixamos um fosso ser criado “naturalmente” por cada um de nós? O arquivo das coisas não nos dá o luxo de esquecermos, de portarmos a “ignorância ensandecida”, de acharmos que o OUTRO sempre é o culpado. Isso já virou uma espécie de doença social, em todos nós, sem limites de classe, de cor, de bairros, de idade. Está lá, escancarado nos textos desde o século XIX, que essa mesma sociedade criou as condições para a inequidade, o crime, as mortes gratuitas e anônimas dos que menos têm, o ódio dos que menos têm pelos que mais têm (e vice-versa), a urbanização da desigualdade. Nada mais nos colará em um desejo comum de vida urbana se não soubermos o absurdo que nos fundou, seja cobiça, luxúria, tristeza, seja casa grande e senzala, seja o céu, o sol e o mar, seja tiro, porrada e bomba. Não há a menor possibilidade de transferirmos para quem quer que seja nossa cota histórica. Não há mais possibilidade da imprensa simplesmente “dar notícias” na busca de um público que tem medo porque medo vende bem. Somos representados como bichos em tocas, acuados por dentro (nossas paranoias pessoais) e com pânico do lá fora (nossas paranoias sociais).

Abra o arquivo, ele hoje é digital, está aí na sua frente, dê uns cliques, aperte os cintos e bem vindo ao reino da memória: em 19 de outubro de 1992, após os primeiros eventos que foram batizados de “arrastões”, eis algumas manchetes dos principais jornais do Rio: “Arrastões levam pavor às praias” (“O Dia”), “Arrastões invadem a orla da Zona Sul (“Jornal do Brasil”), “Arrastões aterrorizam as praias da Zona Sul” (“O Globo”). No dia seguinte, seguiram manchetes ainda parecidas com as de hoje: “Zona Sul vai reagir aos arrastões” (“O Fluminense”) ou “Zona Sul declara guerra ao arrastão” (“O Dia”). Nesse mesmo dia, o “Jornal do Brasil” publica, por fim, a notícia que nos arremessa no abismo de um tempo imóvel e patético: “Moradores culpam as linhas [de ônibus]”. Sim, as mesmas linhas, a mesma massa juvenil sob olhares de condenação por parte dos moradores, nenhuma solução para o transporte público de massa além de ônibus lotados. Aliás, há sim uma solução que muitos esperam há 23 anos: não circular mais na Zona Sul nenhum ônibus vindo da Zona Norte. Muros, grades, câmeras, duras, constrangimentos, violência generalizada. Nada mudou porque não aprendemos nada. O que adiantaram as manchetes? No que colaboraram com o imaginário já classista e divisor do carioca? Pois estamos aqui, no mesmo lugar.

Imaginemos: o rapaz preto e pobre nascido na data dos primeiros arrastões (23 anos atrás) pode viver com a cidade os mesmos erros e permanecer personagem das mesmas manchetes. Décadas em que as crises são as mesmas, as reações violentas são as mesmas, as respostas dos governos são as mesmas, o descaso com a juventude é o mesmo, as falas públicas são as mesmas (agora, porém, amplificadas pelas redes sociais). Porque permanecemos os mesmos, de todos os lados — dos que agridem e dos que são agredidos, dos que roubam e dos que são roubados, dos que são presos pela cor da pele e dos que são vítimas por andarem pelas ruas de seu bairro. Intolerância que acumula violência, que alimenta paranoia que gera intolerância e por aí segue o curso obtuso das coisas.

Textos como este parecem às vezes ecoarem no nada, porque a primeira reação do leitor que não lê é condenar qualquer voz que pede um pouco de sanidade — aqui, no caso, simplesmente prestar atenção ao fato de que para os mesmos problemas temos, há décadas, as mesmas respostas erradas. Não se trata de “apoiar bandidos”, muito menos de proteger quem deva ser culpado pelos seus atos perante uma justiça com igualdade de direitos (para todos, e não de forma seletiva). Trata-se simplesmente de gritar mais uma vez o óbvio: uma cidade é feita por quem a habita, em todas as suas áreas. Não por quem a idealiza em um vácuo cujo peso da história vergonhosa entre nós já deveria ter expandido seu vazio para novas formas de vida.

 Fred Coelho

 
O GLOBO, 23 DE SETEMBRO DE 2015 

October 12, 2015

Gabi

Arthur Dapieve

Como tantos filhos cujos pais se separaram, eu e minha irmã ganhamos um animal de estimação. Meus tios viram filhotes de cachorro à venda numa barraca da Domingos Ferreira e, de noite, nos levaram à casa do feirante para escolher um. Da pequena matilha, uma menina meio pinscher meio fox terrier se insinuou para nós. Foi batizada de Kelly e tornou-se nossa amorosa companheira por bons 15 anos.

Pouco tempo depois, minha irmã viu um gatinho tigrado abandonado debaixo de um carro na Bolívar. Entre as lendas que cercam a convivência entre cães e gatos e o risco real que o bichinho corria em meio aos pneus de Copacabana, ela decidiu resgatá-lo. Depois de certa confusão sobre seu sexo, durante a qual o chamamos de Bruna, foi batizado de Bozó. A ideia era achar quem o adotasse. Kelly o adotou. Viveu 17 anos. 

Quando Bozó morreu, eu já não morava com ele. Estava casado, noutro bairro, e acompanhei pelo telefone a minha mãe e a minha irmã tomarem a difícil decisão de sacrificá-lo. Depois da Kelly, morria o meu outro melhor amigo. Jurei que não queria mais ter animais para não ter de passar de novo pela imensa dor de perdê-los. Diante da perspectiva das tristezas, eu renunciava às alegrias. A metade vazia do copo, sempre.

O fato de minha primeira mulher ter medo de animais ajudou-me a manter essa decisão. A alegria da chegada de nossa filha fez-me esquecer completamente o assunto. Porém, tal qual o casamento dos meus pais, o meu também acabou. E nem a solidão da solteirice e da paternidade à distância me fizeram voltar atrás. Animais, nunca mais.

Comecei a namorar. A moça decidiu dar uma gatinha às filhas. Comprou uma siamesa e batizou-a de Gabi. Não deu muito certo no propósito de fazer companhia às meninas. Parece que a raça não se entende com crianças pequenas. Gabi chegou-se foi à adulta. Fosse como fosse, eram as quatro mulheres lá, em Icaraí. Eu cá, em Laranjeiras.

Um dia, porém, eu e minha namorada decidimos nos casar. Vieram ela, as duas filhas e, naturalmente, a Gabi, então com pouco mais de dois anos. Sou quase um Francisco de Assis. Sempre tive facilidade com animais. Não foi difícil para a Gabi me adotar. Lembrei-me comovido do Bozó e de por que os egípcios veneravam os gatos. “Você paparica demais essa gata!”, brincava minha mulher, que também a adorava.
  
A contemplação da Gabi tornou-se a nossa religião particular. A inteligência, a graça, os olhos muito azuis, a máscara e as luvas pretas... Sua personalidade forte — que as nossas três pequenas detratoras chamavam de “maus bofes” — não nos deixava considerar a sério a hipótese de acrescentar outra divindade peluda ao nosso templo. No entanto, quando a Gabi já tinha quase oito anos, uma amiga precisou achar lares para uma ninhada. Receosos, adotamos um tigrado ruivo e magricela, que chamei de Tigre.

Gabi não só aceitou o Tigre como deixou que ele sugasse suas tetas sem leite. Aberta a porteira, com o passar dos anos, adotamos o Gaudí, gordinho branco de pelo longo, focinho cor de coco queimado, e acolhemos o Bartók, gordinho preto com manchas brancas na barriga e nas axilas. Minha mulher praticamente transformou em hobby as fotografias dos quatro gatos. Eu pensava em Picasso. Els Quatre Gats.

De manhã cedo, um a um, vinham nos dar bom-dia na cama que tomávamos emprestada deles. Se alguma vez na vida eu tive a consciência de estar sendo feliz foi nessas manhãs. Contudo, diferentemente da felicidade pura e simples, da qual se goza e ponto, a consciência de estar sendo feliz arrasta a percepção de que a felicidade acaba. Passei os últimos anos assombrado por essa inevitabilidade biológica.

Aquela nossa felicidade matinal acabou há quase dois meses. Gabi morreu, perto de fazer 19 anos. Teve uma vida longa e, tirando a derradeira semana, uma vida boa. Foi elegante até o final. Partiu quando pegamos no sono. Desde então, não há um único dia em que eu não chore de saudade. Ela estaria aqui, ronronando no meu colo, enquanto escrevo a coluna (uma outra coluna, claro). Ou ali, dormindo na poltrona. No máximo, na porta do escritório, miando para entrar. Ela era a minha companheira de trabalho.

Pergunto-me qual o propósito de um texto assim, texto que não me sentia pronto para escrever até a última sexta, quando li a “cachorreira” Zélia Duncan prantear a morte de Doralice, siamesa de 16 anos. A Cora Rónai e o Artur Xexéo também já homenagearam seus entes queridos e peludos. Noutras folhas, lembro-me de uma crônica antológica do Carlos Heitor Cony, chorando sua cadela Mila, de 13 anos. Trata-se quase de um gênero literário, uma narrativa de encontro, encantamento e despedida.

Ocorre-me que para esse luto sem velório, obituário ou anúncio fúnebre, para essa dor terrível, mas que afeta diretamente apenas um indivíduo, um casal, no máximo uma família, para essa saudade sem expressão social, um texto assim é o modo de comunicar à praça: ei, a Gabi existiu, eu a amava, e fomos muito felizes juntos. 

 Arthur Dapieve Foto: O Globo

O GLOBO, 9 DE OUTUBRO DE 2015

October 9, 2015

O inimigo mora ao lado


Mônica Bergamo
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O inimigo mora ao lado!

O desentendimento entre um casal de professores universitários e um agrônomo em Perdizes que sempre se deram bem vai parar na delegacia. Motivo: os dois votam no PT. E ele tem aversão ao PT
Walquíria Leão Rego tem 70 anos e mora há três décadas no mesmo edifício, numa rua pacata do bairro de Perdizes. A socióloga, que dá aulas de teoria da cidadania na Unicamp, vive no 4º andar e sempre se deu bem com seus vizinhos de baixo: o engenheiro agrônomo José Luiz Garcia, 67, a mulher dele, Marília, e a filha do casal, Ana Luisa. A jovem já deu aulas de inglês para Walquíria. A professora recebeu Marília para comer bolo e tomar chá.

Walquíria já foi filiada ao PT. Hoje é "o que se pode chamar de eleitora fiel". O vizinho nunca gostou da legenda. Mas a diferença não era um problema. "Jamais nos desrespeitaram", diz ela.
O clima de boa vizinhança começou a mudar há cerca de um ano, na época das eleições. Walquíria e o marido, Rubem Leão do Rego, colocaram um adesivo de Dilma no carro, um New Fiesta vermelho. Garcia, que guarda o automóvel na garagem justamente ao lado, colocou o seu: "Fora, Dilma. E leva o PT junto". "Esse adesivo já é um sinal de selvageria. Achei sintomático", diz ela.

Dilma foi reeleita e o ambiente no prédio de Perdizes azedou de vez. O engenheiro, inconformado com o resultado das eleições, que acredita terem sido fraudadas, começou a escrever dizeres contra o PT em cartazes do elevador. Um deles, da Sabesp, alertava sobre a falta de água: "A seca resiste". Garcia escreveu: "O PT também". No dia seguinte, o troco de um morador: "Desinformado".

"Então escrevi: 'Lava Jato', diz o engenheiro. "Aí eles ficaram loucos", segue, referindo-se ao casal petista. Repreendido pela síndica, Garcia desistiu do elevador. "Criei um jornalzinho. Todos os dias eu escrevia notícias numa folha de papel: 'José Dirceu, herói do PT, preso pela segunda vez', 'Lula, lobista dos empreiteiros'. Eles [os vizinhos] tinham que ler. Foram ficando tiriricas. Mas não podiam dizer nada porque o papel estava colado dentro do meu carro."

A tensão foi aumentando. Em 8 de março, dia do primeiro panelaço contra Dilma, o engenheiro "não se contentou em bater panelas", diz Walquíria. "Ele passou minutos gritando, num grau de agressividade, de ódio: 'Petistas filhos da puta, ladrões, corruptos'", conta Walquíria. "O que eu fiz foi gritar como todo mundo", diz Garcia.

Em 16 de agosto, o engenheiro estava com febre e não foi à passeata contra o governo na avenida Paulista. Viu tudo pela TV e só saiu de casa para comprar remédio. Voltou da farmácia "com aquela adrenalina", diz. "E entrei no prédio gritando: 'Fora PT! Fora PT!'." O elevador abriu e dele saiu Rubem, que disse: "O senhor me respeite". Garcia diz que respondeu: "Respeito é para quem merece. O PT não merece".

Walquíria diz que ele, na verdade, gritava: "Eu não respeito petista ladrão, corrupto, filho da puta". "Meu marido ficou lívido", afirma.

Há duas semanas, a filha dela, Daniela, foi visitar os pais e se encontrou com Garcia na garagem do prédio. "Ela tem muito medo dele. E ficou olhando na tentativa de prever algum gesto. Ele vira e diz: 'O que está olhando, sua filha da puta?'. E mostra o dedo [médio] para ela. A Daniela pega o celular, anda na direção dele e diz: 'Faz de novo que eu quero te fotografar!'. Ele dá ré com o carro, ela tem que recuar."

A briga foi parar na delegacia. Daniela prestou queixa dizendo que teve que "se deslocar para uma pilastra para evitar que José Luiz a atropelasse". No fim do depoimento, um investigador, Arnaldo, se aproximou. Armado, disse: "Vocês vão me desculpar. Mas o PT é mesmo o partido mais corrupto da República". Walquíria reagiu: "O senhor é um agente do Estado". E ele: "E qual é o problema de eu achar que a Dilma é uma filha da puta?".

Garcia também foi ao 23º DP, no mesmo dia que Daniela, para dar a sua versão dos fatos. E diz que o casal agora vai ter que provar as acusações que fez. "Disseram até que eu quis matar a filha deles. Pegam um 'negocinho' e transformam num 'negocião'. É o modus operandi do PT." Ele mostra à coluna um vídeo com imagens da garagem e afirma que não colocou a vida de Daniela em risco.
Relatado em blogs, o desentendimento despertou solidariedade de professores e até do Ministério do Desenvolvimento Social ao casal –Walquíria é autora de um livro sobre o impacto do Bolsa Família na vida das mulheres que recebem o benefício.

"Ele não sabe nada de nossas vidas. Nunca se preocupou em saber por que votamos no PT, por que 54 milhões de pessoas votam no partido", diz Walquíria, que afirma se identificar com o projeto social da legenda, de redução das desigualdades. "Na cabeça dele, as pessoas são ignorantes ou ladras e por isso votam no PT."

"Quando um vizinho defende um governo cleptocrata e fobiocrata, ou ele faz parte da cleptocracia ou ele é um idiota total", diz Garcia. "Não tem acordo. Eu vou passar por ele todos os dias e dizer: 'Bom dia, seu petista'?. Acabou o diálogo. Não temos outra opção, não temos como reagir. A maioria silenciosa não aguenta mais. Só que agora não é mais silenciosa."

Ele acredita que a Operação Lava Jato deveria convencer qualquer eleitor a não votar mais no PT. "Eu digo, poxa, será que isso não é suficiente? São evidências, gente. Não são invencionices do [juiz Sergio] Moro. Se o cara não se convenceu até agora, fica difícil. Aí eu já questiono o discernimento dele."

O engenheiro diz que leu na internet a repercussão da briga que protagoniza. "Dizem que é preciso dar um basta [no ódio político]. Eu concordo. Agora, para que seja dado um basta, eles precisam parar de roubar, né?"

Ele se formou em agronomia pela UFRRJ (Universidade Federal Rural do RJ) e depois estudou nos EUA. Hoje, dá consultorias e cuida de terras que tem em Minas Gerais. Defende a agricultura orgânica. Diz que foi de esquerda na juventude.

"Se depois da queda do Muro de Berlim o cara não se dá conta de que o esquerdismo é uma coisa furada, é burrice. Usar camiseta do Che Guevara, você vai me desculpar! Com todos os livros mostrando que ele era um assassino sanguinário?"

Acredita, no entanto, que a esquerda está mais forte do que nunca. "Falam de recrudescimento da direita. Mas o que está havendo é um recrudescimento do socialismo, com a China rivalizando, a Rússia. E na América Latina tem esse pessoalzinho da Bolívia, da Venezuela."
Para ele, o Brasil não teve uma ditadura entre 1964 e 1985, e sim um "governo militar". "Nós aqui tivemos uma ditadura tropical. Tinha até Congresso e partido político. A ditadura brasileira avacalhou." Não defende, no entanto, a volta dos militares. "Mesmo porque eles acabaram. Agora são um bando comandado por um devasso, o Jaques Wagner [ministro da Defesa, de saída do cargo]. Na internet tem até fotografia dele em baile de Carnaval com duas mulheres se beijando. Isso pra mim é devassidão."

Ele viu a imagem de Wagner na internet. "Ela [a web] possibilitou que as pessoas se informassem. Hoje você tem 'zilhões' de informações para processar. Você vê as coisas acontecendo na televisão, na internet. É evidente que isso aí gera reação."

"Essa raiva... Raiva, não, indignação.... Como é que você separa indignação de raiva? Aí vamos entrar numa questão de semântica", diz ele para explicar o que sente.

A "raiva" surgiu com o mensalão. "Ali foi o começo." Antes disso, já era um crítico do programa Bolsa Família. "Você já viajou pelo Brasil? Você não arruma ninguém mais para trabalhar. Ninguém quer pegar no pesado. Essa não é a receita para um país que quer se desenvolver –criar essa legião de pessoas que têm aversão ao trabalho. O Brasil está ingovernável, numa situação pré-falimentar", diz ele, encerrando a entrevista e pedindo para não ser fotografado.

Entusiasta do Bolsa Família, a professora Walquíria credita à imprensa o fenômeno do que chama de "ódio político". "Este foi o clima que a mídia criou no país."

Ela diz que, por isso, agora vive com medo do vizinho. "Eu não sei o que uma pessoa com esse grau de ódio político é capaz de fazer", afirma.

Há dez dias, a professora voltou ao 23º DP com o advogado Marco Aurélio de Carvalho e o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) para pedir investigação criminal. O policial que xingou Dilma Rousseff foi chamado por seus chefes e obrigado a se desculpar.

Já o engenheiro Garcia permanece convicto de que suas atitudes foram corretas. "Se eles querem que eu peça desculpas, eles não vão conseguir. Eu não sou culpado. Eu jamais vou pedir desculpas, entendeu? Jamais.

FOLHA DE SÃO PAULO, 4 DE OUTUBRO DE 2015

A ameaça das armas

Nossa lei de controle de armas, admirada e copiada no exterior, tem origem popular, como a da Ficha Limpa

por

September 14, 2015

Vão acabar com a feira da Praça XV?


De Claudio Pereira de Mello:

A cidade do Rio de Janeiro acordou nesse 12 de setembro com um sobressalto . Por ordem da Municipalidade, a tradicional Feira da Praça XV nao foi realizada neste sábado. O fato causou imenso descontentamento a milhares de pessoas que sao frequentadores assíduos do maior e mais famoso Mercado de Pulgas no Brasil ... a sua interrupção deixou as pessoas perplexas.
A Feira vende de tudo, de antiguidades, a roupas usadas, quinquilharias, panelas usadas, instrumentos cirúrgicos, livros e toda sorte de produtos novos e usados . Ha quem diga que celulares podem ter sido resultado de furtos, mas para conter isso sabemos que basta uma atuação precisa e cirúrgica da Policia que existe para isso mesmo.
Para os colecionadores, a Praça XV é como um SANTUÁRIO DO COLECIONISMO aonde podem ser encontrados desde selos, moedas, pratos antigos, móveis centenários, pinturas para restauraçao e todas as coisas que foram descartadas pela Sociedade e que acabam sendo adquiridas e protegidas pelos Preservacionistas .
Imagine uma peça grega de 2.300 anos ?
Um tecido Renascentista Italiano?
Um braseiro islâmico de 300 anos ?
Uma taça veneziana de vidro esmaltado de 400 anos ?
Um canapé de jacaranda com estofo de palinha original de 100 anos ?
Um botao de madreperola dos anos 1900 ?
TUDO ISSO VOCE PODE ENCONTRAR NA FEIRA DA PRAÇA XV .
Mas na feira voce tambem pode encontrar porta-retratos de plastico produzidos na China e vendido a 1.99 reais e moedas, selos, discos de vinil ou uma camisa de malha usada (mas nova) por 2 reais
Em suma, a Feira da Praça XV é um PATRIMÔNIO IMATERIAL da Cidade do Rio de Janeiro e um bastião de Memória aonde objetos que fizeram parte das suas diversas sociedades sao comercializados a preços módicos.
Essa fama cruzou fronteiras e hoje a feira é procurada por uma boa parte dos estrangeiros que tem interesse por peças antigas e que algumas vezes veem ao Rio para garimparem peças que podem ser levadas para o exterior e vendidas a preços inacreditáveis . Um amigo nosso Italiano (conhecido de muitos na Feira ) e que mora em Arezzo ( Toscana) vem anualmente ao Rio só para buscar peças como canetas e relógios antigos e depois repassa para amigos que os vendem nas famosas Feiras de Antiguidades de Parma e de Ferrara na Italia . Feiras que atraem gente de todo o mundo.
A história mais inacreditável da Feira, conhecida por todos foi o caso de uma mascara Africana que nos anos 2000 apareceu na Feira e foi comprada por um Americano por 15 reais . Ao voltar a Nova York, ele levou a Sotheby's que acabou vendendo por 250 mil dólares. O fato chegou a ser publicado em jornais e revistas na época.
No nosso caso, também nos anos 2000 adquirimos dois vasos gregos que pertenceram a Coleção de um famoso Consul Grego chamado Othon Leonardos (1834-1915) que foi Consul no Brasil por 45 anos. Os vasos, tidos como souvenires, ao serem examinados na Belgica provaram ser do atelier Pintor de Bedram e datam de cerca de 300 AC. Custaram 25 reais os dois !
Pois bem !
Nos cabe aqui evocar a tradição da feira da Praça XV que funciona desde os anos 1970 no formato atual, mas antes se chamava Feira Do Troca .
Antes disso, vemos que a Praça XV era e SEMPRE FOI um local de comercio e com a chegada dos navios no seu pier antigo, ambulantes e lojas disputavam a atençao dos transeuntes, como fica claro nas aquarelas dos pintores viajantes do seculo XIX e em especial Debret e Rugendas .
Portanto, temos que considerar os aspecto tradicional da Feira e procurarmos institucionaliza-la e a primeiro passo seria exatamente o REGISTRO ( como se fosse um Tombamento ) como PATRIMÔNIO IMATERIAL .
Para melhor organiza-la a administração municipal poderá pensar na construção de algum lugar nas proximidades de um Mercado Municipal, tal como existe em praticamente em todas as cidades do MUNDO e isso já seria de grande importância para o fortalecimento da Feira como um lugar do culto pelo ANTIGO, pela manutenção da MEMÓRIA, da transmissão de "historias" e de itens da cultura material do passado dos que nao conseguem mais ter identificação com sua ancestralidade, mas em compensação passam para as mãos de outros que sabem valorizar e preservar a Memoria de suas familias, mas tambem das familias dos outros . Estes chamamos de Preservacionistas que acabam - em todas as partes do mundo - fazendo uma especie de zona de amortecimento ou interface entre o passado e o futuro, uma vez que o Estado nao tem condiçao de preservar tudo que teve importância para as gerações passadas .
FICO A ME PERGUNTAR O QUE VAO FAZER COM O ANTIGO MERGULHAO DA PRAÇA XV ?
O MERGULHAO seria um lugar fantastico para ser ocupado com o nossso mais famoso FLEA MARKET ( Mercado das Pulgas ) que poderia funcionar todos os dias e nao somente aos sábados. Poderia ter stands organizados como quiosques e ter banheiros e area de alimentaçao ... Mais ou menos como vemos em Portobello Road Market, em Londres, O VERNAISON, de Paris, ou o Mercatto delle Pulci em Florença que funcionam a semana toda. Ja as feiras de Bruxelas ( Place du Sablon ) , de Roma ( Porta Portese ), de Florença ( sabados e domingos perto da Fortezza Medice), de Arezzo ( terceiro sabado do mes), Brugge ( sabados) e tantas outras sao feitas em um dia na semana.
E Viva para Sempre a Feira da Praça XV !!! Com mais respeito por sua tradição, mais dignidade para os Preservacionistas, mais organização e com o apoio do Poder Público para manter a memoria da cidade sempre viva e que esses itens da cultura material que nao sao o suficiente bons para estarem nas vitrines dos Museus, estejam nas maos de pessoas que saibam reconhecer seu valor , a representatividade de sua historia e o lugar de cada um na Sociedade .
Contamos com seu retorno no sábado que vem pois a Mui Leal e Heróica Cidade de Sao Sebastiao do Rio de Janeiro nao será a mesma sem a sua Feira da Praça XV !
Para piorar e acabar com a tranquilidade emocional das pessoas que foram ate a Praça XV e nao encontraram a Feira... tinha na Praça uma estrutura que divulgada um evento chamado MEMÓRIA DO FUNK para ser realizado amanha dia 13 .

September 13, 2015

Devo, não nego


O rombo de R$ 30 bilhões de reais no orçamento poderá ser coberto pela caça à sonegação.


ANDRÉ BARROCAL


clique nos parágrafos para ler o texto num tamanho maior: 





DE CARTA CAPITAL

September 11, 2015


De Bob Fernandes

Amigas, amigos:
Lembram daqueles Revoltados de restaurante 5 estrelas que chamaram o Mantega de "ladrão", "palhaço" e "sem vergonha" há 4 meses? Eram os empresários João Locoselli e Marcelo Melsohn.
Chamados à Justiça para confirmar ou não o que disseram, pediram perdão, como relata Mônica Bergamo.
Um dos Revoltados, Marcelo, disse que agiu "irrefletidamente" e que o ex-ministro é "probo, honesto e digno".
O outro, João, ao assinar o pedido de desculpas, afirmou não saber de nada que possa " desaboná-lo (a Mantega) em sua vida pública".
Fim desse caso.
Lições elementares e que, ampliadas, valem para outros personagens que estão além desse episódio.
Lições que valem para presepeiros em geral, trolls, fakes, valentões orais e fascistas de qualquer latitude ou longitude.
É direito de todos o de considerar Mantega, personagem desse caso, o pior ministro da História etc...
Todos temos o direito da mais dura crítica a quem quer que seja. Mas caluniar, injuriar, ofender, agredir, é crime e como tal deve ser tratado.
Ignorância, truculência e ódio podem até ser armas na Política, e têm sido, mas nem por isso deixam de ser ignorância, truculência e ódio.
Transformar ressentimentos, recalques e frustrações pessoais - ou mesmo só natural boçalidade- em combustível político é fato cada vez mais presente no debate público, nesse infindável e obtuso Tom & Jerry, Frajola e Pi Piu.
É combustível político, mas nem por isso deixa ser, e produzir, os efeitos que produzem a ignorância, o recalque, os ressentimentos, as frustrações e a boçalidade oca.
É preciso saber distinguir o que é o dever de participar, lutar, cobrar, criticar, ser cidadão, do que é apenas o impulso egoico de ser "protagonista".
O dever exige atitudes objetivas.Pede ações práticas para além das palavras, cabe em manifestações nas ruas e em grupos, mas também, ou ainda mais, no dia a dia, no cotidiano.
Quando amparado na beligerância, no ódio, como instrumento para dar vazão a motivações profundas e obscuras, esse impulso do "protagonismo" pede terapias. Ou tarjas.

June 6, 2015

Fifa, CBF e Congresso: tudo a ver

Vivemos uma ofensiva conservadora; sucessão de escândalos e trapaças está longe de ser obra do acaso
 
Acreditar que a Polícia Federal americana esteja interessada em varrer a roubalheira mundial é tão verdadeiro quanto imaginar a Fifa vítima de uma conspiração da Casa Branca. Assistimos, isto sim, a mais um trecho de uma crise que se arrasta desde 2008. Como reconhece o próprio FMI, os efeitos do crash estão longe, muito longe, de terem sido eliminados.

O crescimento medíocre da economia mundial, aberrações como o Estado Islâmico, o cerco militar a imigrantes na Europa, o aperto do garrote sobre a Grécia --tudo caminha sempre na mesma direção. O capitalismo "vencedor" é obrigado a raspar o fundo do tacho para tentar sair da enrascada criada por ele mesmo.

Pensar que um país onde um presidente ganhou eleições numa fraude descarada (Bush x Gore), que patrocinou uma quebradeira mundial e espalha o terror "oficial" planeta afora seja um modelo de Justiça é abusar da credulidade popular. Obama aperta a mão de Raúl Castro. Comemoração geral. Distensão no mundo. Quem propaga esta versão só está jogando para a plateia e sonhando com a volta dos velhos tempos de Fulgêncio Batista.

Preto no branco, Cuba é um mercado que não pode ser desprezado neste período de vacas magras. O castrismo, versão tropical do stalinismo, agradece. A partir de agora, terá como seu aliado a turma de Washington na destruição das poucas conquistas sociais obtidas na ilha caribenha. Entre endurecer e a ternura, Havana decidiu amolecer sem resistir --menos com a oposição interna, bem entendido.

Já a máfia do futebol é tão velha quanto a roda. Que a Fifa, CBF, Uefa, Concacaf e demais siglas sempre ficam com o pão enquanto oferecem o circo é sabido de todos. Vamos falar sério: um presidente da CBF, José Maria Marin, rouba medalhas ao vivo e é homenageado pela elite brasileira. Assina contratos milionários com larápios destacados da mídia doméstica e fica tudo por isso mesmo. Alguma hora um novo escândalo tinha que estourar. Quando um bandido quer ganhar mais do que outro, é impossível abafar o barulho.

Vivemos uma ofensiva conservadora. Internacional, e em todos os campos, de futebol e fora deles. Veja-se o que ocorre no Congresso brasileiro. Sem a menor cerimônia, Eduardo Blatter Cunha tabela com Gilmar Del Nero Mendes e trapaceia o regimento, a Constituição, para garantir o controle do grande capital sobre os destinos do país.

A dita situação, ou oposição, ajuda. Deixou para discursos reservados a plataforma de uma Constituinte sobre a reforma política. Que diabo é esse de financiamento público de campanhas? Partido que é partido sério é sustentado pelos que acreditam nas suas ideias, no seu programa. Ou então se contenta em parasitar a "democracia estatal" ou viver da grana do tubaronato.

Até onde é possível enxergar, o que está ruim promete piorar. Quando parlamentares de um partido que se reivindica dos trabalhadores votam a favor do corte de direitos sociais dá para avaliar o tamanho do impasse.

Cabe avisar que os detentores de privilégios não costumam entregar os pontos sem combate. Nem sempre precisam de tanques. Por vias às vezes tortuosas, boa parte do PIB nacional está colocada contra a parede. Empreiteiras, bancos, ministros, chefes do Parlamento, magnatas da mídia, arrivistas dos mais variados ""todos aparecem misturados no liquidificador de falcatruas.

"Um governo moderno é tão somente um comitê que administra os negócios comuns de toda a classe burguesa". A frase é de 1848, do Manifesto do Partido Comunista. Nunca foi tão atual. Esperemos o desfecho.

Ricardo Melo  
Folha de São Paulo, 1 de junho de 2015 

May 28, 2015

They found these papers scattered on Cersei's desk

 FROM THE DESK OF CERSEI LANNISTER, QUEEN REGENT QUEEN MOTHER QUEEN OF THE SEVEN KINGDOMS:



read it here

Depósito de Textos do Blog0news: They found these papers scattered on Cersei's desk:



They found these papers scattered on Cersei's desk


FROM THE DESK OF CERSEI LANNISTER, QUEEN REGENT QUEEN MOTHER QUEEN OF THE SEVEN KINGDOMS:
Agenda
  • Wake-up wine
  • Meeting w/Littlefinger
  • Power wine
  • Meeting w/Lady Olenna (pretend to be busy)
  • Lunch (w/wine) and latest severed dwarf-head inspection
  • Loras’s inquest (☺)
  • Winding-down wine
  • Pre-sleep scheming/self-satisfied smirking
  • Nightcap
Things to Think About
  • Torturing Tyrells
  • Ways to make small council smaller
  • Decrees to tell Tommen to sign
  • Worst Warden of the North: Ned Stark or Roose Bolton?
  • Best-tressed monarch: Me or Margaery?
Things Not to Think About
  • Maggy the Frog’s prophecy
  • Feeding the poor
  • Paying back the Iron Bank of Braavos
  • Littlefinger’s loyalty
  • How the High Sparrow feels about adultery/incest/kingslaying/slaughtering Baratheon bastards
Action Items
Eligible Male Lannisters
  • Jaime — On a sensitive diplomatic mission; kind of over him.
  • Tyrion — Trying to kill him.
  • Lancel — Gave up incest for Lent.
  • Tyrek/Gerion — Missing, probably dead.
  • Stafford/Martyn/Willem — Definitely dead.
  • Tommen — Ew, even for me.
  • Daven – Giant beard, but probably my only option at this point. Invite him to visit.
Other Ways to Get Wine if Jaime’s Diplomatic Mission Makes Martells Mad and Dorne Cuts Off King’s Landing

  • Get grapes instead. Make servant stomp on them. Then … wait a while? Not totally sure how wine works. Ask Qyburn.
  • Convince High Sparrow to say storing wine is a sin; send Faith Militant to confiscate casks.
  •  Marry into House Redwyne. Pros: Unlimited Arbor Gold; like the sound of “Cersei Redwyne.” Cons: Would be related to Lady Olenna.
  • Declare war on Dorne. He who controls the wine, controls the universe.
  • Join the Night’s Watch. Cold and uncomfortable, but they make mulled wine.
Day in Review
Low point: Tie between Roose Bolton’s betrayal and Lady Olenna not noticing that my line about veiled threats was a joke about the veil she’s always wearing.



Ben Lindbergh
 

May 24, 2015

Everyone asks, “Where’s Gendry?”


This is a popular question! Gendry, as you will recall, is perhaps the last living bastard of the late King Robert Baratheon. After being taken to Dragonstone and used by Melisandre for his king-positive bodily fluids, Gendry was rescued from the dungeons by Davos, who placed the young blacksmith in a rowboat. Davos gave Gendry a pack with bread and water, advised him not to stop at Rook’s Rest or fall out of the boat, and told him the general direction that would, if the Seven be good, bring him back to King’s Landing after a journey of several days.

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So, where’s Gendry? Possible answers:
1. He drowned. Gendry had never been in a boat before Davos placed him in one, and he cannot swim. He is being asked to make a multiday solo rowboat journey. There’s a really excellent chance he’s down below with the Drowned God right about now.


2. He made it to King’s Landing. Assuming the weather held out and Gendry knew where he was going, we’re talking about a journey that would take three days and nights,1 give or take, of ROWING. Straight-up rowing all day and night FOR THREE DAYS. For Gendry to actually make it back to King’s Landing, he’d need good weather, he’d need his bag of bread and water to last him, and he’d need to not get tired/confused/fall asleep. I think it’s a long shot that he made it to King’s Landing.

3. He’s on Driftmark. It’s the closest land to Dragonstone, so you have to consider it. Problem: Driftmark is the seat of House Velaryon, who are vassals to Stannis. If he had landed here, we’d likely have heard about it.

4. He landed somewhere between the dotted lines on the Crownlands coast. Say you’re in a boat for the first time ever. You’ve been pulling at the oars like a deck slave for 48 straight hours. Your hands are raw blisters interspersed with fingers. Your arms are quivering bundles of pain with the tensile strength of cooked ramen noodles. As a first-time sailor, not used to the discipline that solo sea journeys require, maybe you drank all your water on the first day. You’ve been warned not to stop at Rook’s Rest, but you’re past there now and though you’re not sure exactly where you are, you’re tired and thirsty and you see land stretched out behind you and you really want to get out of this boat.


From Volantis to Meereen: A Travel Plan

Ben Lindbergh: Let’s say, hypothetically, that you had to transport a critically tannin-deprived prisoner from Volantis to Meereen, where your unrequited queen-crush awaits. Which way would you go? (Asking for an exiled friend.)

Map

There are three routes available, all of them dangerous for different reasons. We’ll measure their distances in lengths of the Wall, each of which represents a span of 300 miles and looks like this:

wallunit

Shortest Route: The Demon Road 

DemonRoad‘The Lands of Ice and Fire’

Distance: 3.5 Walls
Travel Advisory From the Essos Tourism Board: “We will lose half the company to desertion if we attempt that march and bury half of those who remain beside the road.”
This is the shortest path between the two points, a little more than a thousand miles as the raven flies. That’s the appealing part. The unappealing part is that the raven will probably be flying to tell your friends and family that you died on the demon road. It’s not clear why the demon road gets such low slaver satisfaction scores — probably because of brigands, the tragic termination of the Valyrians’ Adopt-a-Highway program, and the terrible things the dry desert air does to delicate complexions — but everyone in Essos agrees that roadwise, it’s pretty much the pits. We can’t rule out the possibility that the road is getting a bad rap: Maybe one guy had a demonic experience and the nickname stuck. All I know is that this is the nicest sentence ever spoken about the demon road: “[It] might be it’s not as perilous as men say.” And here’s an example of something men say: “The demon road is death.” So, going this way might not mean guaranteed death — that’s the demon road’s upside.
Moreover, Meereen, unlike death, won’t come quickly. This is an overland route, so while it’s direct, it’s also slow. And there won’t be any way to hide a famous face, particularly one attached to Westeros’s most wanted dwarf.

Fastest Route: The Smoking Sea
SmokingSea‘The Lands of Ice and Fire’

Distance: 6 Walls
Travel Advisory From the Essos Tourism Board: “No free man would willingly sign aboard a ship whose captain spoke openly of his intent to sail into the Smoking Sea.”
Lannister family fun fact: The Casterly Rockers and the Smoking Sea have a history, and it hasn’t been a happy one. Tywin’s brother Gerion had all of the apathy toward politics, sense of humor, and affection for Tyrion that the head of the house lacked. Sadly, when Tyrion was 18, his cool uncle left to look for Lannister trinkets in Valyria. Half of Gerion’s crew deserted in Volantis, so he replaced them with slaves and set course for the Smoking Sea. He hasn’t been seen since, unless it was with late-stage greyscale, in which case it would have been kind of hard to tell.
Even if the sea isn’t actually smoking, the migrating dragons don’t stop to dine, and the Doom was a onetime thing, Valyria is still stone men central. On the other hand, the scenery is nice if you’re into overgrown ruins, and since no one else is stupid enough to sail anywhere near here, you won’t run into traffic.


Safest Route: The Summer Sea
SummerSea‘The Lands of Ice and Fire’

Distance: 8 Walls
Travel Advisory From the Essos Tourism Board: “Corsairs and pirates hunt the southern route. … The next storm could sink or scatter us, a kraken could pull us under … or we might find ourselves becalmed again, and die of thirst as we wait for the wind to rise.”
You will have to pass through the Gulf of Grief, which sort of spoils the Summer Sea’s nonthreatening name, but the long way around is the safest possible path. Even so, there’s an excellent chance that you won’t make it to Meereen unmolested. Remember to buy a money belt before you knock out the nearest fisherman, steal his boat, and set sail.
This itinerary’s slightly decreased risk of death does come with a trade-off: 2,400 miles is a long way to sail, especially while you’re wondering whether your heart’s desire is still single, whether you’ll find her in a merciful mood or a murderous one, and whether you’ve seen the last of that hot hand-on-cheek action. No, come on, focus — you can’t think like that. She might be playing hard to get, but it’s not like she’s going to marry someone else while you’re on the way. Just take this trip one mile at a time.


April 24, 2015

What is Danerys Stormborn worse at?


Mallory “Mother of Dragons” Rubin: Another week, another slew of baffling decisions from our girl, Daenerys Stormborn. For someone who’s got most of the grown men in Westeros and Essos soiling their underthings in fear, Dany has made her share of questionable calls, most recently publicly executing a freed slave who defied her orders. She sparked a riot in the process, reminding us that as good as she is at some things (like looking smokin’ hot and feeding CGI dragons), she’s bad at plenty of others. But what is she worst at? Glad you asked!

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You’d think someone sporting the moniker “Mother of Dragons” would be the poster girl for parenting, but you’d be wrong. Though Dany has collected children (in human and critter form) by the thousands, her maternal instincts have proven to be deviously unreliable. After losing her human baby due to a botched blood magic bargain, she let her dragons go on an open-air feeding frenzy, trying so hard to be the cool mom who lets her kids sneak a beer or two in the backyard that she accidentally allowed Drogon to barbecue a human child. Then, she overcompensated by chaining Rhaegal and Viserion in the catacombs of Meereen; she couldn’t lock up Drogon because he was on the lam, cruising the skies of Slaver’s Bay, looking for another score. Now, Dany’s hordes of adopted offspring have stopped lovingly shouting “Mhysa” (Ghiscari for “Mother”) and started hissing in horror at her beheading betrayal. For those counting at home, that’s death, imprisonment,
abandonment, and abuse.

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Dany has proven that her military game is on point, assembling a lethal and loyal army and expertly conquering cities where unsavory acts occur. She’s also the envy of countless sad sacks like Viserys, who know she has what they never will: the love of her people. Unfortunately, she kind of blows at every other aspect of governance. She lost the bulk of her khalasar because they sensed weakness. She led her remaining subjects into dehydration and despair, then “rescued” them by leading them to eventual mass slaughter inside the gates of Qarth (where she also allowed a creepy warlock with blue lips to steal her dragons). She failed to install a system for maintaining the new order in Yunkai, which reverted back to a chaotic terror state as soon as she skipped town. And now she can’t keep the peace in Meereen, despite actually staying there after dropping her badass “I will do what queens do; I will rule” line in Season 4.
Also, she really needs to beef up her background checks: Jorah ratted her out to King Robert; Doreah betrayed her in Qarth; and now her three most trusted advisers are a freed slave, a sellsword, and the former lord commander of Robert’s Kingsguard. Worse, she’s giving John Kerry a run for his money in the flip-flopping department, succumbing to the whims of the moment, failing to maintain consistency with her policy, diplomacy, and even her own personal goals. Wasn’t she supposed to be, you know, heading to Westeros to reclaim her rightful throne? Jorah was right when he told Dany she has a gentle heart; the question now is whether the thing that helped her win some thrones will cost her a chance at the only one that matters.

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Dany. Girl. Can we have some real-talk time? About that hot piece of knighted hunkery who’s been waiting for you to liberate him from friend-zone purgatory for lo these many moons? When George R.R. Martin told your tale on the printed page, he made Ser Jorah Mormont a hideous ogre so that you would be less tempted to let him handle your dragon eggs (if you know what I’m saying, and I think you do). When Sers Benioff and Weiss brought your journey to the small screen, however, they cast Iain Glen, who has a jaw like an anvil, inflects like a Siren, and would have surely made sweet love to you all across the Red Waste. But you spurned his delicate advances, opting instead for that rogue Daario, who is admittedly quite dreamy, and who says awesome things like “a man cannot make love to property,” but who is not, you know, a suave middle-aged Scottish man who’s so committed to you that he passed up a royal pardon granting his return to Westeros so that he could continue gawking adoringly at you during your desert camping trip. Think on it. And please, let him return from exile. He’s sorry!

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To be fair: Dany’s love life was going just fine, thank you very much, until Drogo’s pectoral wound morphed from “a scratch” into a stinking, festering harbinger of death. And to be fair once more: Dany’s heart was in the right place when she asked Mirri Maz Duur to treat her ailing Sun and Stars. Still, the Khaleesi’s good intentions can’t erase the foolishness of putting the Maegi who’d just been raped and captured by the Dothraki in position to do their Khal harm, nor the unrivaled idiocy of letting the same witch use blood magic to attempt to “save” the man she’d just tried to surreptitiously kill. If only Dany hadn’t been traveling during her Obamacare open-enrollment period!

The flip side, of course, is that if Dany had used some Essos-brand Neosporin and Band-Aids instead, Drogo wouldn’t have died, Dany and her eggs wouldn’t have wound up cooking in the Khal’s funeral pyre fire, and this story wouldn’t have any dragons. And then where would we be?

from GRANTLAND

Daenerys needs a publicist


Dany, Get Thee to a Flacker-y

John Lopez: Oh, Dany. Doing right is hard enough when it’s just you, a darkened antechamber, and both the Old Gods and the New; but doing right on the stage of public opinion — or in your case, the Executioner’s Platform — that’s a whole new level of statecraft. Watching Veep after, it hit me that someone needs to introduce Dany to Bill Ericsson, Selina Meyer’s new cold-blooded director of communications, because Dany’s got a real optics problem. I mean, how do you lift an entire nation out of servitude one day and then find yourself running from a granite hailstorm the next?

Sure, Drogon’s nightly catcalls over Meereen probably served to remind the restive populace there’s some serious dragon’s fire coming their way if they get too out of hand. But how long’ll that keep a lid on class warfare? Dany et al. are making the U.S. Army’s hearts-and-minds campaigns in Iraq look positively brilliant by comparison. I hate to say it, because hiring a publicist is only slightly less damning than hiring an attorney, but Dany needs some serious flack right now.

A couple of rules any publicist worth their weight will tell you: Do not lift a former slave into a high-profile position of authority on your inner council and then mete out highly visible cold justice to him when he goes a little overboard. That’s what endless tribunals are for: Bore the populace to tears so they forget this kid’s the living symbol of everything they love about you before you “do the right thing.”

Second, if you absolutely must execute him, try not to be onstage when the ax comes down. Go on a vacation; take the dragons out for a stroll. Let a subordinate handle it. Ser Barristan was all high on the Mad King’s arbitrary lawgiving. Let him take the credit for this one. At best, watch from the 110th-floor portico of your pyramid.


Worst of all, this was a lost opportunity. You need to punish Mossador, but he’s way too popular … Yunkai wants its beloved gladiatorial death matches reinstated? Kill two birds with one stone: Open the games and let Mossador fight it out with a Son of the Harpy. The masters get to cheer, the freed slaves get to jeer. You make a little money off admissions. It worked for Ridley Scott! See, the Romans knew the two things actually necessary to maintain a stable, multiethnic society and they weren’t objective justice or a uniform code of law: Panem et Circenses, Dany. And by circenses, we mean brutal bloodsport. Or hockey. Take your pick.

from GRANTLAND