vinicius torres freire
O governo está entre bêbado e equilibrista. Tropeça na política, talvez sobreviva na Justiça apoiado em um acordão precário e, a fim de evitar a queda, dá saltos adiante, com a promessa de mais e imediatas reformas.O anúncio de reforma trabalhista talvez por decreto é um desses pulos. Michel Temer procura manter o apoio de parte relevante da elite econômica, que o "elegeu" com base no programa "Ponte para o Futuro".
O desânimo com o crescimento que não vem, no que, aliás, Temer não tem culpa alguma, ao contrário, aumentou a impaciência com o que gente de peso considera "lerdeza" nas reformas. A mudança na Previdência teria sido protelada demais; na trabalhista, teria havia recuo, por exemplo.
Temer é um vetor das reformas, para os donos do dinheiro grosso. É um anteparo para quem quer assumir governo e país "saneados" em 2019, o PSDB, por exemplo, eminência parda do governo, com pretensões de ficar colorida.
O destino do presidente parece cada vez mais depender de um arranjo, de um acordo tácito entre gente dos três Poderes e de poderes de fora de Brasília. Talvez fique para meados de 2017 o julgamento da chapa Dilma-Temer 2014, no TSE.
Acelera-se ou retarda-se seu processo de cassação de acordo com a conveniência da sua sobrevida, assim como se atenuam outros conflitos no Planalto a fim de tranquilizar o ambiente, evitar tiroteios e balas perdidas que possam pôr a perder o governo de modo descontrolado.
Temer reage. Veio um pacote de medidas microeconômicas, razoáveis, mas pura abstração para quase o povo inteiro e de efeito algum no crescimento de curto prazo –nem era essa a intenção dos economistas que as propuseram.
Não importa. É preciso mais. Temer acelera de modo imprudente a reforma trabalhista, que não estava nos planos dos economistas da Fazenda para tão cedo. Pelo menos até sexta-feira passada, não estava. Mesmo nesta quarta-feira (21), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, dizia que a reforma estava sendo "estudada intensamente".
Temer cavou ainda medida "popular", o saque do FGTS, que, no entanto, não era popular entre "técnicos". Mas é preciso reagir.
Os amigos de Michel Temer tomam tiros de delações, a maioria da população quer eleger logo um novo presidente, prevê-se que a economia não crescerá em 2017; o governo agora tropeça mesmo no Congresso.
Temer reage, pelo menos no discurso, ao dizer que a dura e difícil reforma da Previdência será aprovada até meados do ano. Disse ainda que o Congresso, na maioria aliado, não derrotou o governo ao depenar o acordo da renegociação da dívida com os governadores, que ficou pelado de quase qualquer exigência de conserto do desastre das contas estaduais.
O que se passou então? Um acordão Planalto-Congresso, parte da tentativa de pacificar a coalizão indócil e ora algo desordenada, dadas as disputas da eleição para o comando da Câmara e a fragilidade do governo? Ao custo do sacrifício de uma medida elaborada a duras penas pela área econômica?
Temer dará um pulo no vazio da popularidade, carregando nas costas as reformas da Previdência e das leis do trabalho, que não o tornarão mais simpático, ainda mais no quarto ano de crise econômica horrenda.
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