February 3, 2017

Dados de Marisa no WhatsApp mostram que ódio venceu ética médica

cláudia collucci

É um escândalo e merece severa punição a divulgação de dados sigilosos do diagnóstico da ex-primeira dama Marisa Letícia em um grupo médico no WhatsApp.

Segundo reportagem do jornal "O Globo", horas depois da internação de Marisa no Hospital Sírio-Libanês, uma médica reumatologista que atuava no hospital enviou mensagens a um grupo de WhatsApp de antigos colegas de faculdade, confirmando que dona Marisa estava no pronto-socorro com diagnóstico de AVC (Acidente Vascular Cerebral) hemorrágico de nível 4 na escala Fisher (um dos mais graves).

A mensagem foi compartilhada no grupo "MED IX" e se espalhou em outros grupos de WhatsApp. O boletim médico divulgado horas depois pelo hospital falava em hemorragia cerebral por ruptura de um aneurisma, mas não dava detalhes técnicos a respeito da gravidade do diagnóstico.

Neste mesmo dia, um outro médico de fora do Sírio-Libanês postou no grupo imagens de uma tomografia atribuída a dona Marisa Letícia, acompanhada de detalhes que foram confirmados, em seguida, pela médica reumatologista.

As informações foram compartilhadas em outro grupo de médicos, intitulado "PS Engenho 3", e atribuídas a um cardiologista. Os comentários que acompanham a troca de mensagens são assustadores.

Quando a médica diz que Marisa ainda não tinha sido levada para a UTI, um colega residente em urologia dispara: "Ainda bem!". A médica responde com risadas.

Outro médico do grupo, um neurocirurgião, também ironizou o quadro de dona Marisa:
"Esses fdp vão embolizar ainda por cima", escreveu –o procedimento de embolização provoca o fechamento de um vaso sanguíneo para diminuir o fluxo de sangue em determinado local. "Tem que romper no procedimento. Daí já abre pupila. E o capeta abraça ela", escreveu o médico.

Em nota, a direção do Sírio-Libanês informa que "tomou as medidas disciplinares cabíveis em relação à médica, assim que teve conhecimento da troca de mensagens". Segundo uma fonte de dentro do Sírio, a médica foi demitida.

O Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) já investigava o vazamento de imagem de um exame de tomografia de Marisa, realizado logo após o AVC, e que divulgado em redes sociais nos últimos dias.

O que isso tudo mostra? Que o juramento de Hipócrates, de nunca causar dano ou mal a alguém, foi vencido pelo ódio partidário, mais precisamente pelo ódio ao PT. Que esses médicos que compartilharam dados sigilosos ou mensagens de ódio perderam qualquer noção de ética médica. E que nós, pacientes, estamos sob sério risco de virar objeto de chacota entre profissionais médicos inescrupulosos.
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FOLHA DE SAO PAULO, 2 DE FEVEREIRO DE 2017




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