RICARDO COSTA
Tenho pensado muito na igualdade, a despeito de sermos tão diferentes.
Há dias morreu um amigo e fui visitá-lo pela última vez. Nas capelas
vizinhas havia muita gente, mas todos choravam seus mortos com a mesma
dor. Vi nascer também uma criança, única, especial e amada. Entretanto,
as enfermeiras puseram nela uma pulseira para que não a confundissem com
outra qualquer.
2016 foi um ano de desigualdades. Percepções desiguais, verdades parciais, atitudes absolutas, desrespeitosas. Fragilizaram-se as certezas e os afetos, deixando nossa sociedade fragmentada, presa fácil para os urubus.
É hora de refazer laços. Degelar as águas; deixá-las fluir de novo para recriar uma corrente caudalosa. Que bom que chegou o carnaval! Para nos mostrar a realidade exatamente como ela é (ou deve ser). Sim, coberto de fantasias, sonhos e diversidade, o carnaval nos traz a realidade necessária. Nos blocos, brincar livre e sem medo com gente de todas as cores, credos, orientações sexuais e lugares. O tambor precisa bater de novo, achar o ritmo. É preciso cantar aos ventos essa festa de liberdade, esperança e generosidade.
Sempre gostei do carnaval de rua. Queria ter mais dele dentro de mim. Alegro-me ao ver que somos parte dessa história que trouxe de volta ao Rio tantos encontros singelos na dura “cidade partida”. Pois não é que o Escravos da Mauá, bloco que fundei com amigos queridos, fez seu 25º desfile? Um quarto de século, não dá para acreditar.
2016 foi um ano de desigualdades. Percepções desiguais, verdades parciais, atitudes absolutas, desrespeitosas. Fragilizaram-se as certezas e os afetos, deixando nossa sociedade fragmentada, presa fácil para os urubus.
É hora de refazer laços. Degelar as águas; deixá-las fluir de novo para recriar uma corrente caudalosa. Que bom que chegou o carnaval! Para nos mostrar a realidade exatamente como ela é (ou deve ser). Sim, coberto de fantasias, sonhos e diversidade, o carnaval nos traz a realidade necessária. Nos blocos, brincar livre e sem medo com gente de todas as cores, credos, orientações sexuais e lugares. O tambor precisa bater de novo, achar o ritmo. É preciso cantar aos ventos essa festa de liberdade, esperança e generosidade.
Sempre gostei do carnaval de rua. Queria ter mais dele dentro de mim. Alegro-me ao ver que somos parte dessa história que trouxe de volta ao Rio tantos encontros singelos na dura “cidade partida”. Pois não é que o Escravos da Mauá, bloco que fundei com amigos queridos, fez seu 25º desfile? Um quarto de século, não dá para acreditar.
A gênese do Escravos (como a de outros blocos irmãos) foi marcada
pela amizade e a cooperação. Os fundadores tinham entre si uma conexão
geracional e espacial. Mas ligavam-se centralmente por laços de afeto
numa rede que mostrou força e resistência para sobreviver, crescer e se
relacionar com o entorno de forma inovadora.
Essa força produziu-se instintivamente amalgamando pessoas de origens sociais diversas, moradores de diferentes cantos da cidade em torno de música, festa e patrimônio cultural. Os fundadores convidaram os amigos que se encantaram e passaram adiante a experiência para seus próprios amigos. Já estes convidaram outros. E depois os amigos dos nossos amigos seguiram nessa rota compondo assim uma trama de novos nós em progressão geométrica, até que se formou esta rede robusta de afetos em que todos são legítimos autores.
Não houve um plano estratégico deliberado. Tudo se organizou fora da esfera oficial, colaborativamente, das pontas para o centro. Reverberando sentimentos geracionais, aprendendo com o território, sintonizando vontades de participação, nutridos por um acervo poético e musical, fizeram-se os nós, depois a rede de afetos, o tecido de sentimentos e com ele a mais linda fantasia!
Neste carnaval, não se deixe abater pela desesperança. Venha para a rua, por um futuro onde brilhem a democracia, a liberdade, a igualdade e o respeito. Como diz um dos nossos sambas: no Rio, a esperança não cansa jamais, na praça a alegria é a guia da paz.
Essa força produziu-se instintivamente amalgamando pessoas de origens sociais diversas, moradores de diferentes cantos da cidade em torno de música, festa e patrimônio cultural. Os fundadores convidaram os amigos que se encantaram e passaram adiante a experiência para seus próprios amigos. Já estes convidaram outros. E depois os amigos dos nossos amigos seguiram nessa rota compondo assim uma trama de novos nós em progressão geométrica, até que se formou esta rede robusta de afetos em que todos são legítimos autores.
Não houve um plano estratégico deliberado. Tudo se organizou fora da esfera oficial, colaborativamente, das pontas para o centro. Reverberando sentimentos geracionais, aprendendo com o território, sintonizando vontades de participação, nutridos por um acervo poético e musical, fizeram-se os nós, depois a rede de afetos, o tecido de sentimentos e com ele a mais linda fantasia!
Neste carnaval, não se deixe abater pela desesperança. Venha para a rua, por um futuro onde brilhem a democracia, a liberdade, a igualdade e o respeito. Como diz um dos nossos sambas: no Rio, a esperança não cansa jamais, na praça a alegria é a guia da paz.
O GLOBO, 26 DE FEVEREIRO
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