vinicius torres freire
O tamanho e a organização das quadrilhas de suborno das empreiteiras dão o que pensar sobre o alcance das facções criminosas dos presídios.
Não se imaginava que empresários e executivos bandidos comprassem tantos, por tanto dinheiro, por tanto tempo, em tantos lugares. No entanto, não eram clandestinos. Era gente que estava à nossa vista, era eleita "empresário do ano", dava entrevista, saía nas colunas, fazia caridades, discutia "projetos de país", "regulação do mercado".
Enfim, se tratava de integrantes de escol do estamento empresarial-estatal. Talvez ainda se trate, no presente, pois vários devem estar soltos, fazendo "aditivos de contratos", tolerados ou se esgueirando furtivamente por aí, tais quais colaboracionistas na Europa do pós-guerra.
Até onde teriam se infiltrado as facções, bem mais obscuras? É pelo menos uma dúvida angustiante razoável, para ser otimista. As milícias do Rio, por exemplo, são parte evidente da política municipal da Baixada Fluminense. Um vereador hoje pode ser prefeito amanhã, quem sabe político federal pouco mais adiante.
Algumas facções, porém, parecem mais organizadas, eficientes e profissionais do que as milícias.
É óbvio que uma facção criminosa não terá poder caso não possa administrar recursos e oferecer benefícios a seus associados. É óbvio que não terá meios de fazê-lo a não ser que o poder público seja inoperante, por corrupção ou incompetência. Nos presídios, sabe-se que isso é certo. E fora deles? Onde mais as facções operam, por ação ou omissão das autoridades oficiais?
O PCC organizou-se em presídios do interior paulista entre 1993 e 1995, ano em que já era extenso e operacional, chacinando desafetos e organizando motins. Ainda em 1997, o governo tucano paulista negava sua existência. Em 1995, o PCC amotinava um presídio; em 2001, 29. Chacinava policiais. Em 2006, lançou uma onda de ataques terroristas que parou São Paulo.
São histórias sabidas. Menos lembrados são os resultados de inquéritos parlamentares e investigações de policiais, promotores e pesquisadores acadêmicos, da primeira metade da década passada.
Os diversos ramos do crime se esbarravam, se articulavam ou já eram redes, notavam os investigadores. Fazia já tempo, notava-se faz uma década, estavam conectadas ou faziam negócios entre si quadrilhas de narcotráfico, contrabando, lavagem de dinheiro, jogo ilegal (bicho, bingo, caça-níqueis), financiamento de políticos do crime ou agregados, desvio de dinheiro público, corrupção de autoridades.
Uma década depois, as maiores facções são sabidamente nacionais, oligopólios ou conglomerados. Tentativas de monopolização do negócio do tráfico e da administração paralela dos presídios têm causado morticínios desde meados do ano passado, dizem os entendidos.
Dadas a extensão das operações, a quantidade de dinheiro envolvida e os problemas logísticos e político-administrativos da empreitada, é razoável acreditar que as facções contam com a inoperância ou a conivência do Estado apenas nos presídios?
Quando se vai investigar tal desastre? Quando o governo tiver sido comprado pelas facções, tal qual as empreiteiras fizeram? Será pior e tarde demais.
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