Documentário da HBO retrata preconceito racial a partir de formatura de negros e brancos no Mississipi
JANAINA LAGE
DE NOVA YORK
No ano em que os EUA elegeram o primeiro presidente negro da história do país, uma escola de segundo grau de uma pequena cidade do Mississipi se prepara para ter o primeiro baile de formatura reunindo alunos brancos e negros. Essa é a história do documentário "Prom Night in Mississippi" (baile de formatura no Mississipi, em tradução livre), que estreou neste mês na HBO americana, após exibição em Sundance -ainda não há previsão de lançamento no Brasil.
Desde 1954, a Suprema Corte determinou a integração entre brancos e negros em salas de aula. Na escola secundária de Charleston, município com menos de 3.000 habitantes, os negros só passaram a fazer parte dos alunos em 1970.
Até o ano passado, eles não tinham direito de participar do baile de formatura com os brancos, apesar de representarem 70% dos alunos. Na prática, a escola tinha dois bailes de formatura, um de brancos e outro de negros, cada um com seus respectivos reis e rainhas.
Morador de Charleston, o ator Morgan Freeman, de filmes como "Um Sonho de Liberdade", decidiu intervir. Em 1997, se ofereceu para pagar pela formatura desde que os alunos aceitassem ter um baile integrado. A oferta foi recusada.
No ano passado, ele voltou a apresentar a proposta. Os preparativos para a festa são a base do filme, que acompanha as tensões, esperanças e receios dos formandos e dos pais. Muitos se dividem entre atender a orientação dos pais e o receio de serem hostilizados pela comunidade branca da região.
Questionada sobre relações interraciais, por exemplo, uma aluna branca afirma: "Fui criada para só namorar com a minha própria raça, não quero decepcionar minha família". Outra relata ter sido descartada em entrevistas de emprego por andar com brancos e negros.
Charleston é uma cidade pobre. Mais de 34% da população vive abaixo da linha de pobreza, mas, de acordo com o documentário, é um lugar apegado a tradições. Na ida para o baile, os estudantes aguardam na frente de casas simples a chegada de uma limusine para levá-los à festa. O "apego às tradições" foi a justificativa empregada por parte dos pais de alunos brancos que resolveram manter um pequeno baile em separado. Eles evitam a palavra racismo.
Segundo o diretor canadense Paul Saltzman, Charleston parece uma cidade perdida no tempo. "O curioso é que o baile integrado transcorreu tranquilamente, enquanto no baile dos brancos dois garotos se envolveram numa briga", disse.
Ainda é cedo para dizer se a integração é para valer. Neste ano, um novo baile misto foi realizado, mas um grupo de pais de alunos brancos insistiu em fazer festa em separado.
Folha, 26 de julho de 2009
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