September 25, 2020

A isso dá-se o nome de ataque biológico

MEDO & DELIRIO EM BRASILIA :


Anteontem foi o post de número 500 dessas bandas, e acho que nada me chocou mais até aqui do que essa foto. Plena pandemia, uma pilha de 138 mil mortos e…

“Cumprindo agenda em Manaus, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e membros do Governo Federal dispensaram o uso de máscaras ao visitarem uma aldeia indígena da capital. Uma imagem publicada em rede social mostra todos os presentes sem o uso do acessório que protege contra o novo coronavírus. O uso de máscaras é obrigatório na cidade. Os Bolsonaro cumprem agenda na capital amazonense para fomentar ações do turismo na região, mesmo diante da pandemia de Covid-19.[G1]

Essa deve ser o crime mais espantoso desse governo que ostenta uma vastíssima coleção de crimes de responsabilidade, dava pra jogar os crimes pro alto, escolher um de olhos fechados e certamente teríamos um caso fortíssimo em mãos, em especial depois que a Dilma caiu do jeito que caiu, com as benções de ninguém mais ninguém menos que Eduardo Cunha.

Caminhamos alguns séculos pra trás. Volto a dizer, o governo federal trabalha com afinco desmedido para construir uma condenação contra si mesmo em corte internacional, isso aí deixou de ser atentado à saúde pública, é ATAQUE BIOLÓGICO aos índios. Dizem que as condenaçãoes internacionais se limitam a países que não têm algo que possa ser classificado como sistema jurídico independente, mas sempre tem uma primeira vez. E pelo andar da carruagem é a nossa única esperança.

“Armas biológicas, como os vírus da varíola e do sarampo, foram utilizadas no Brasil no século 19 para exterminar os índios. Pelo menos três casos documentados mostram que o contato dos índios com as doenças dos brancos também ocorreu de forma proposital, com o objetivo deliberado de dizimar tribos hostis. O mais “clássico” deles, segundo o antropólogo Mércio Pereira Gomes, aconteceu em Caxias, no sul do Maranhão, por volta de 1816. A vila estava se transformando em um grande centro de criação de gado, e os fazendeiros queriam se livrar dos índios timbira. “O plano era atrair os índios para a vila, então atacada por uma epidemia de bexiga (varíola). Uma vez ali, as bexigas dariam conta deles”, descreve o antropólogo Darcy Ribeiro no livro “Os Índios e a Civilização”. Os fazendeiros de Caxias “presentearam” um grupo de 50 índios com roupas de moradores da vila que haviam contraído a doença. De volta a suas aldeias, os índios espalharam o vírus.

A epidemia se disseminou rapidamente pelo sertão e atingiu até tribos a 1.800 km de Caxias. Francisco de Paula Ribeiro, na época comandante militar no sul do Maranhão, relatou com detalhes o massacre dos Timbiras. O texto, escrito em 1819, só foi publicado por volta de 1930, na revista do Instituto Geográfico e Histórico Brasileiro. Ele conta: “Não é certamente fácil fazer-se uma idéia de quantos mil desgraçados se evaporaram por semelhante motivo, e ainda muito mais quando sabemos o método extravagante que se pretendiam curar-se, sepultando-se nos rios para suavizar o calor das febres, ou ainda abreviando-se uns aos outros a vida, logo que conheciam com verdadeiros sintomas daquele mal tão cruel, ao que chamavam Pira de Cupé, sarna dos cristãos.”” [Folha]

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Não sei bem porque mas me lembrei disso aqui:

“Os imigrantes alemães se valeram do vírus da varíola na luta contra os índios xokleng e kaiangang, durante a colonização de Santa Catarina e do Paraná, no final do século 19. “Os bugreiros, caçadores de índios contratados pelas companhias de colonização, deixavam nas matas roupas com os vírus da varíola e do sarampo”, disse o antropólogo Gomes. O naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), que viajou pelo Brasil entre 1816 e 1822, fez referências à guerra bacteriológica contra os índios botocudos, no vale do Rio Doce. Ele denunciou na Europa as atrocidades cometidas por portugueses e brasileiros, que entregavam aos índios roupas contaminadas por varíola. “Em breve, nada mais restará dos antigos povos indígenas que habitavam as terras do Brasil”, previu o naturalista, em 1847, no livro “Viagem à Província de Goiás”. Ele estava certo. Em 1500, a população indígena no Brasil ultrapassava 2 milhões de pessoas. Há estimativas que apontam até 6 milhões de índios. Hoje restam apenas 300 mil.”

O que leva o governo federal, um senador da república e um deputado federal a se encontrarem com índios em plena pandemia sem máscara?!

Passo ao Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia em 21 de junho deste ano maldito:

“Segundo o estudo, a taxa de mortalidade pelo coronavírus entre indígenas (o número de óbitos por 100 mil habitantes) é 150% mais alta do que a média brasileira, e 20% mais alta do que a registrada somente na região Norte – a mais elevada entre as cinco regiões do país. Igualmente preocupante é a taxa de letalidade, ou seja, quantas pessoas infectadas pela doença morreram: entre os indígenas, o índice é de 6,8%, enquanto a média para o Brasil é de 5% e, para a região Norte, de 4,5%. Já a taxa de infecção pela doença por 100 mil habitantes entre os indígenas é 84% mais alta se comparada com a média do Brasil. Ela não é maior do que o índice de toda a região Norte, mas demonstra uma inclinação da curva mais aguda. “Nesta análise, traduzimos em números aquilo que tem sido mostrado e falado pelos povos indígenas desde o início da pandemia: esta é uma população extremamente vulnerável ao novo coronavírus e, como tal, precisa receber um tratamento diferenciado”, diz a diretora de Ciência do IPAM, Ane Alencar.” [IPAM]

E o governo sabe muito bem disso. Reparou que na foto tem crianças e jovens? Pois bem:

“A morte de um bebê de 45 dias encobriu o futuro das etnias do Parque Nacional do Xingu. Foi a primeira vítima fatal da reserva indígena do Mato Grosso provocada pelo coronavírus, que vem se alastrando rapidamente pelos territórios protegidos da Amazônia Legal. Mas não foi a única criança indígena a tombar pela doença. A pedido da National Geographic Brasil, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Abip) contabilizou 18 mortes de pessoas com até 19 anos. Dessas, 13 eram recém-nascidas. Isso representa 4,6% do total de óbitos entre indígenas até o dia 30 de junho. A entidade monitora os casos de forma independente uma vez que questiona a subnotificação oficial. Enquanto, na última semana, a Apib divulgava 389 mortes, o Ministério da Saúde somava 156 no mesmo período. No mundo, as mortes pela covid-19 entre jovens são raras. Eles representam menos de 1% do total de óbitos em Itália, Espanha, EUA e até mesmo no Brasil. Em todo o Reino Unido, cinco pessoas abaixo de 18 anos morreram pelo vírus.” [National Geographic]

Mas voltemos ao ataque biológico de ontem:

“A foto em que ninguém usava máscaras foi publicada na segunda-feira (21) no perfil do presidente da Embratur. Ao G1, a Embratur confirmou a visita do presidente no Amazonas para “participar de um evento realizado pelo governo estadual para anunciar novidades relativas à promoção da retomada turística do estado” e disse que “todos cuidados contra o coronavírus, como o uso de máscara, foram tomados”. Sobre a imagem, a agência disse: “a foto em questão foi feita durante o momento de uma refeição típica, com formigas e peixes, oferecida aos visitantes pelo Cacique Dyakuru, também conhecido como Zé Maria”. O uso de máscaras passou a ser obrigatório em Manaus, tanto em espaços públicos quanto privados, desde o final de julho e a medida prevê multa para quem descumprir. A capital, que sofreu colapso no sistema de saúde e enterrou caixões empilhados e em valas comuns na pandemia, voltou a apresentar aumento de casos e internações. O G1 tenta contato com o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro sobre a situação.”

E é um padrão desse governo:

“O coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Fundação Nacional do Índio (Funai), Ricardo Lopes Dias, tentou quebrar a quarentena da base de proteção na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas, durante uma missão promovida pela Funai à região, na última semana de agosto, afirma a chefe substituta da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari, Idnilda Obando, em ofício enviado ao Ministério Público Federal (MPF) e à Diretoria de Proteção Territorial da Funai, a quem Dias está subordinado. Ele também é acusado de indicar missionários para trabalhar na evangelização de índios korubo, grupo recém-contatado que habita a região. O GLOBO teve acesso às quatro páginas do ofício 43/2020 no qual Idnilda, que está há 34 anos na Funai, relata situação de constrangimento e assédio moral durante três reuniões com Dias, em Tabatinga (AM), ao tentar convencê-lo a não ingressar com sua comitiva na terra indígena sem o cumprimento de quarentena e, assim, expor os índios à contaminação de doenças, além dos profissionais que lidam diretamente com eles.

No documento, a servidora cobra da diretoria da Funai medidas contra o coordenador a quem chama de “ameaça à política pública do não contato aos índios isolados” e o acusa de “proselitismo religioso junto aos indígenas recém-contatados”. A servidora conta no ofício que após uma rodada de duas reuniões com Ricardo Dias e o coordenador titular da Frente Etnoambiental do Vale do Javari, Jaime Mayoruna, não conseguiu impedi-los de seguir com o plano, que só foi abortado depois de o MPF recomendar à presidência da Funai que cancelasse a entrada em terra indígena do coordenador sem o cumprimento da quarentena. A chegada da comitiva liderada por Dias em aeronaves do Exército e aparato militar com soldados armados de fuzis, no último dia 26 de agosto, causou espanto nos servidores da frente de proteção de Tabatinga, que não sabiam da missão organizada pela própria Funai. A cena se repetiu também em Atalaia do Norte (AM) dois dias depois, de onde pretendia sair a expedição.” [O Globo]

Vale ler a matéria na íntegra.

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