January 6, 2010

Vigor presente tanto no jazz cubano quanto no rock de novos e veteranos

Num ano sem grandes revelações, a experiência foi fator fundamental




“AKOKAN”: Pianista e compositor cubano, inicialmente, Roberto Fonseca impressionou as plateias brasileiras atuando nos grupos de dois veteranos cantores de seu país, Ibrahim Ferrer e Omara Portuondo. Seu novo disco solo, “Akokan”, confirma o vigor e a inventividade desse músico, seja em recriações para clássicos de Cuba (como “Drume negrita”) ou em composições originais (como “Lento y despacio” e “Pequeños viajes”).

“WORLD PAINTED BLOOD”: Depois da volta à boa forma do Metallica, em 2008, com “Death magnetic”, no ano que chega hoje ao fim outro monstro do thrash metal, o Slayer, lançou um CD de acordo com sua reputação. Com “World painted blood”, o quarteto californiano mostrou que sua fúria segue intacta, ao contrário da competência técnica dos músicos, cada vez maior. Destaque absoluto para o inacreditável baterista Dave Lombardo.

“LIVE IN LONDON”: Em julho de 2008, o veterano cantor e compositor canadense Leonard Cohen, então com 74 anos, emocionou o público que lotou a O2 Arena, em Londres, num recital que reuniu clássicos como “Suzanne”, “Bird on the wire” e “Hallelujah”. Baladas que servem de veículo para a forte poesia desse mestre zen do pop.

“TONIGHT”: Com o seu terceiro disco, a banda escocesa Franz Ferdinand deu uma leve guinada no som, saindo do dance rock fácil para um tipo de som mais psicodélico e denso. Foram ousados neste sentido, nos dando músicas que demoram mais a colar do que as dos trabalhos anteriores, mas ricas em texturas. Como “Lucid dreams”, a faixa mais ambiciosa que já gravaram. Ponto para eles.

“LIVE FROM THE MADISON SQUARE GARDEN”: Dois sobreviventes do melhor rock produzido nos anos 1960 (e 70, 80...), Eric Clapton e Stevie Winwood juntaram forças nesse vibrante CD e DVD ao vivo. Entre os trunfos do repertório no show em Nova York estão cinco das seis faixas que eles lançaram no único disco do efêmero supergrupo Blind Faith, que criaram em 1969, e ainda a homenagem a Jimi Hendrix, na versão de “Voodoo Chile”.

“REALITY KILLED THE VIDEO STAR”: Os quase três anos de silêncio e depressão, após o fracasso comercial e artístico de “Rudebox”, acabaram fazendo bem a Robbie Williams. O cantor inglês retomou seu pop abrangente em “Reality killed the video star”, com referências que vão de Beatles a Elton John, em canções como “You know me”, “Last days of disco” e “Bodies”.


“PHRAZES FOR THE YOUNG”: A estreia solo de Julian Casablancas, vocalista dos Strokes, cumpriu as expectativas. Com sonoridade que mergulha no pop de sintetizadores dos anos 1980 com uma postura punk, o artista se aproxima do som de sua banda, mas com inovação em vez de pastiche. Retrô e contemporâneo, o primeiro single “11th dimension” dá mostras da força do CD.

“LIVE AT READING”: Quase 20 anos depois, chega o DVD do registro de uma acachapante apresentação do Nirvana no festival inglês de Reading, de 1991, quando eles mal haviam aparecido nas paradas de sucesso com o disco “Nevermind”. E o que se vê é o Nirvana no auge do sucesso, ainda surpresos por tocarem para grandes multidões. Histórico.

“IT ’S BLITZ ”: Os Yeah Yeah Yeahs, liderados pela exótica cantora Karen O, surpreenderam com o seu terceiro trabalho, trocando a maioria das guitarras por versões simuladas do instrumento e puxando o som para uma espécie de dark dance, pesado, mas com mais detalhes eletrônicos e climas.

“THE RESISTANCE”: É preciso um bocado de coragem para, em pleno século XXI, lançar um disco de rock progressivo parecido com aqueles que se faziam em meados dos anos 1970 e não soar como piada. Mas o inglês Muse foi lá e fez, um disco grandioso e imponente, sem medo de soar ridículo, carregado de temas impressionantes, corinhos vocais à la Queen, solos de piano, fanfarras e tudo a que se tem direito numa obra desse tipo (até a capa, meio sci-fi). Matt Bellamy (voz, guitarra, piano e letras) e seus asseclas meteram a cara e não se deram mal. Ligue o seu aparelho quadrafônico e viaje no som.

O Globo, 31 de dezembro de 2009

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