June 25, 2018

Messi sofre. Cristiano desfruta. E Neymar?


Martín Fernandez



As duas primeiras rodadas da Copa do Mundo deixaram claro o que vieram fazer na Rússia os dois maiores jogadores de futebol destes tempos. Messi veio sofrer. Cristiano Ronaldo está aqui para desfrutar. Tarefa bem mais difícil é decifrar o papel que caberá a Neymar. Retratos perfeitos do que as seleções de Argentina, Portugal e Brasil exibiram até aqui.

Messi está cansado de carregar nas costas as frustrações de um país, as comparações injustas, os vacilos de um técnico incapaz de tomar uma única decisão correta. Ver Messi em campo tem sido uma agonia. Desde que perdeu aquele pênalti contra a Islândia, no sábado passado, o camisa 10 se arrasta pelos gramados russos, angústia pura, enquanto Sampaoli faz uma substituição equivocada atrás da outra em nome de uma doutrina tática condenada ao fracasso.

Todo o contrário com seu rival pelo posto de melhor jogador deste século. O artilheiro da Copa do Mundo já fez gol de cabeça, de pé direito, de pé esquerdo, de falta, de pênalti. Cercado por jogadores menos talentosos, Cristiano Ronaldo não se importa em pagar a conta sozinho, nem de ouvir piada de Fernando Santos, o técnico português, que explicou assim a fase brilhante do craque que ele tem o privilégio de dirigir: “Encontrou um treinador à altura”.

Até nos subterrâneos dos estádios de Moscou é possível notar as diferenças. Após todos os jogos da Copa do Mundo, os atletas são obrigados a percorrer um corredor apinhado de jornalistas desesperados para arrumar alguma declaração dos protagonistas do espetáculo. Só fala quem quer, ninguém é obrigado. Messi se detém ante os microfones, a mesma expressão triste que exibe em campo, o mesmo olhar para o chão. Com um fiapo de voz, usa um verbo que diz tudo: “Dói”.
Cristiano Ronaldo passa rindo e com pressa. Finge falar ao celular, que segura a um palmo de distância da orelha. Ignora os pedidos de entrevista feitos em português, espanhol, inglês, russo, chinês.

Em algum lugar entre esses dois extremos está Neymar. Como sempre, tudo o que envolve o camisa 10 da seleção é enigmático, turvo.

Apenas encerrado o jogo contra a Costa Rica, caiu num choro desses que parecem ser sentidos, profundos. Minutos depois fez um autodesagravo no Twitter: “Na minha vida as coisas nunca foram fáceis, não seria agora né!". Entre o pranto no gramado e desabafo para seus 40 milhões de seguidores, houve tempo para um tuíte patrocinado: um vídeo de 15 segundos no qual um sorridente Neymar em versão desenho animado faz embaixadinhas com uma música russa ao fundo.

Quando ainda defendia o Santos, Neymar decidiu um Mundial de Clubes contra o Barcelona, clube para o qual já estava vendido sem que ninguém soubesse. Como ninguém sabe direito para onde vai depois da Copa do Mundo. Como ninguém sabe do que será capaz no jogo contra a Sérvia, que decide a vida do Brasil no Mundial. Com a mesma habilidade com que dribla zagueiros e anota golaços, Neymar confunde quem tenta entendê-lo.


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