Há dias a CNN mostrou uma mãe americana chorando, preocupada com o que iria acontecer com seus filhos. E o que iria acontecer com seus filhos era terem que ouvir pela TV um discurso do presidente Barack Obama dirigido a estudantes do ensino básico de todo o país, no primeiro dia do ano escolar. Barack recomendaria a todos que fossem bons alunos e tomassem o seu leite, mas a direita histérica criou a expectativa de que ele aproveitaria a oportunidade para doutrinar as crianças sobre os seus programas nazicomunistas, talvez até recorrendo à hipnose. Muitas escolas se recusaram a mostrar a preleção presidencial. A mãe entrevistada pela CNN estava apavorada com o que o demônio negro de fala mansa poderia fazer com a mente dos seus filhos.
A demonização do Obama se deve em grande parte à sua intenção de criar um sistema universal de saúde pública como os que já existem em todos os países civilizados do mundo (e mesmo semicivilizados, não vamos citar nomes), para garantir assistência médica aos mais de 50 milhões de americanos que hoje não têm proteção alguma. As seguradoras, indústrias farmacêuticas e empresas hospitalares que já tinham liquidado com um plano similar do Clinton mobilizaram-se de novo, com a colaboração da imprensa conservadora, de políticos reacionários e de almas simples como a mãe apavorada, e transformaram a ameaça aos seus lucros numa guerra ideológica. Ainda é incerto se o Baraca conseguirá ver seu plano, ou uma versão chocha do mesmo, aprovado. Ou se chegará ao fim do seu mandato, nesse clima.
Dias depois da mãe chorosa a mesma CNN mostrou um pastor do Sul dos Estados Unidos declarando que rezava para Obama morrer de câncer e ir para o Inferno. E a congregação dizendo "Amém!".
o Globo, 17 de setembro de 2009
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