ANA CLARA COSTA
No terceiro dia do Gilmarpalooza,
o jocoso apelido do evento
promovido pelo ministro
Gilmar Mendes em Lisboa, o
governador de São Paulo, Tarcísio
de Freitas, deu duas palestras – uma
sobre política externa, outra sobre segurança
pública. As duas ocorreram no
principal auditório da Faculdade de Direito
da Universidade de Lisboa e contaram
com audiência ilustre dos mundos
jurídico e empresarial, incluindo o próprio
Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal
Federal. Na abertura de uma delas,
Tarcísio foi apresentado pelo mediador
Raul Jungmann, ex-ministro da Defesa,
como um “inequívoco presidenciável”.
A plateia, composta quase totalmente de
brasileiros, aplaudiu. Tarcísio sorriu com
ar calculadamente envergonhado.
Em sua fala, o governador abordou
temas nacionais, como vinha fazendo
com certa frequência, para desgosto de
seu padrinho político, Jair Bolsonaro,
que se incomoda ao vê-lo por aí calçando
sapatos de presidenciável. Também
falou sobre geopolítica e multilateralismo.
A certa altura, afirmou que, diante
das incertezas globais, sempre haverá
necessidade de segurança alimentar –
e o Brasil, grande produtor agrícola,
certamente se beneficiará disso. “Se o
mundo precisa de um parceiro confiável
em segurança alimentar, nós estamos
aqui”, disse.
Em 9 de julho, cinco dias depois do
tour em Lisboa, Tarcísio jogou o “parceiro
confiável” na fogueira. Quando
Donald Trump anunciou o tarifaço de
50% sobre as exportações brasileiras
para os Estados Unidos, um meteoro
atingiu em cheio a agricultura e toda a
cadeia industrial paulista – e levou o
governador de arrasto. Como Trump
anunciou que seu objetivo era punir o
Brasil em razão da “caça às bruxas” que
o país estaria promovendo contra Bolsonaro
por sua maquinação golpista, Tarcísio
achou que havia uma escolha a
fazer: defender publicamente o ex-chefe
ou a economia do país – em especial
a de São Paulo, principal exportadora
para o mercado americano. Tarcísio,
que já se deixou fotografar vestindo o
boné do Maga, o movimento da direita
trumpista, não titubeou e, em vez de
criticar o presidente dos Estados Unidos,
criticou o do Brasil:
– Lula colocou sua ideologia acima
da economia, e esse é o resultado – postou
nas suas redes sociais. – A responsabilidade
é de quem governa. Narrativas
não resolverão o problema.
Estava seguindo uma ordem de
cima. Assim que a carta de Trump foi
divulgada, Bolsonaro se consultou
com aliados e decidiu que a posição do
seu grupo político seria responsabilizar
a política externa de Lula e a reunião
de cúpula do Brics pela imposição
da tarifa. Com 473 palavras, a carta de
Trump não mencionava nenhum desses
argumentos, mas Tarcísio obedeceu
à ordem sem pestanejar. Em seu
post, não disse nada em favor da economia
nacional e ainda acusou o governo
brasileiro de ter agredido “o maior investidor
direto do Brasil”, o que colocou
Trump como autor de um ataque
justificado contra o país, quase um ato
de legítima defesa. E, achando que narrativas
resolverão o problema, escreveu
que “não adianta se esconder atrás
de Bolsonaro”, rebatendo o próprio
Trump que atribuiu o tarifaço à defesa
do ex-presidente.
A agricultura e a indústria de São
Paulo – de onde saem mais de 13 bilhões
de dólares em exportações anuais para
os Estados Unidos, onde estão localizadas
potências como a Embraer, a Suzano
e a Cosan, onde se produz o suco de
laranja que abastece 50% do mercado
americano – ficaram órfãs de defensores
em casa. O prefeito de São Paulo,
Ricardo Nunes, um político do mdb
que vive bajulando Tarcísio para obter
seu apoio a uma eventual candidatura
ao governo estadual em 2026, cerrou
fileiras ao ataque contra o Brasil. Sobre
o post de Tarcísio, comentou: “Pontual.
Preciso.” Guilherme Piai Filizzola, o secretário
de Agricultura e Abastecimento
do Estado, também alinhou-se à posição
do governador e atribuiu a tarifa à
“ditadura” brasileira. “Viver em ditadura
custa caro. E a fatura chegou.”
Ainda antes da publicação do post de
Tarcísio, um editorial de O Estado de S.
Paulo, jornal insuspeito de apoio ao presidente
petista, demonstrou o incômodo
do pib paulista com a subserviência do
governador ao trumpismo. Escreveu:
“Vestir o boné de Trump, hoje, significa
alinhar-se a um troglodita que pode
causar imensos danos à economia brasileira.
Caso Trump leve adiante sua
ameaça, Tarcísio e outros políticos embevecidos
com o presidente americano
terão dificuldade para se explicar com
os setores produtivos afetados. Eis aí o
mal que faz ao Brasil um irresponsável
como Bolsonaro, com a ajuda de todos
que lhe dão sustentação política com
vista a herdar seu patrimônio eleitoral.”
Depois da divulgação do post do governador,
o coro das críticas subiu de
tom. Em novo editorial, comentando a
reação ao ataque de Trump, o Estadão
classificou de “ultrajante” a complacência
de Tarcísio, do mineiro Romeu Zema
e do goiano Ronaldo Caiado, todos governadores
da direita ávidos pelo espólio
eleitoral do ex-presidente. “As reações
públicas dos três serviram para expor a
miséria moral e intelectual de uma parcela
da direita que se diz moderna, mas
que continua a gravitar em torno de um
ideário retrógrado, personalista, francamente
antinacional e falido como é o
bolsonarismo.” Até o colunista do jornal
O Globo, Merval Pereira, cujo currículo
não contém deslizes esquerdistas, escreveu
que a atitude submissa de Tarcísio
demonstrava sua “falta de autonomia
para se colocar a favor dos interesses nacionais”
e acusou o governador de se
comportar “como um direitista radical,
não um político de direita com propensão
ao diálogo”.
Um advogado que conhece Tarcísio
há vinte anos assistiu a sua palestra no
Gilmarpalooza em Lisboa e, depois, testemunhou
o efeito do tarifaço em São
Paulo. Ele conta a mudança dos ventos.
“Em Portugal, quando o Tarcísio terminou
de falar, ficou muito tempo ainda ali
recebendo os cumprimentos das pessoas.
Todos encantados. Era como se houvesse
um fluxo inexorável de apoio a ele.
Um movimento meio avassalador, desses
que acontecem na política e ninguém
consegue parar”, diz. A cena remete a
outro ex-governador paulista, o tucano
José Serra, que um ano antes da eleição
de 2002, já era tratado como virtual presidente
do país. Perdeu para Lula.
Em Lisboa, entre os encantados por
Tarcísio, havia velhos amigos de Lula,
como o empresário Marcos Molina, da
Marfrig, gigante da exportação de carne
que, assim como a concorrente jbs,
seria alvo do tarifaço mais adiante. Depois,
em São Paulo, a romaria era outra.
“Há uma frustração meio geral”,
diz o advogado. “A verdade é que Tarcísio
não consegue ser tudo o que as
pessoas querem que ele seja. Gestor e
estadista ao mesmo tempo. Democrata,
bolsonarista e tucano. Ele tem uma
visão tática, não tem visão estratégica.
Ele pensa na conjuntura do dia, o que
faz com que as suas mudanças de vento
sejam bruscas. Aí ele perde a consistência
e as pessoas se perguntam: ‘No que
ele acredita, afinal?’”
As reclamações do empresariado começaram
no mesmo dia 9, quando
Trump anunciou a tarifa. Tarcísio farejou
o erro de sua reação inicial e, no
dia seguinte, tentou recuperar terreno.
Embarcou para Brasília, reuniu-se com
Bolsonaro e colocou um novo plano em
prática. Pediu uma reunião com o encarregado
de negócios da Embaixada
dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel
Escobar, na tentativa de mostrar que estava
empenhado na busca de uma solução
negociada. Sem traquejo na
diplomacia, meteu os pés pelas mãos.
Funcionário de quarto escalão, Escobar
foi nomeado pelo ex-presidente Joe Biden
e não tem qualquer interlocução
com a Casa Branca. Só continua em
Brasília em razão da indiferença com
que Trump vinha tratando o país. Escobar
não tem mandato, nem cargo, nem
caneta para interceder a favor do Brasil.
No mesmo dia, Tarcísio teve outra
ideia extravagante. Segundo revelou a
jornalista Mônica Bergamo, da Folha de
S.Paulo, o governador procurou o stf
para pedir a liberação do passaporte de
Bolsonaro. Assim, o ex-presidente poderia
viajar aos Estados Unidos, acompanhando
os presidentes da Câmara e do
Senado, para tentar revogar o tarifaço –
afinal, Trump dissera numa rede social
que Bolsonaro era um “grande negociador
comercial”. Era uma solução estapafúrdia,
já que Bolsonaro não tem mandato,
nem cargo, nem caneta para negociar em
nome do Brasil. Segundo a Folha, alguns
ministros do stf classificaram a saída
como “surpreendente” e “esdrúxula”.
Em uma só tacada, Tarcísio cometeu
um strike nas instituições: pleiteou um
salvo-conduto internacional para o exchefe
junto à Corte que está em vias de
julgá-lo; desqualificou a diplomacia brasileira,
que é um órgão de Estado reconhecido
pela sua competência para
tratar temas comerciais; e aboliu o papel
do presidente da República, que recebeu
votos em 2022 justamente para descascar
esse tipo de abacaxi. Como que para
ampliar seu desrespeito ao stf, Tarcísio
disse a jornalistas que “qualquer candidato
da centro-direita daria um indulto
a Bolsonaro”, caso a Corte venha a condená-
lo, e, dias antes do tarifaço, escreveu
numa rede social que Bolsonaro
devia “ser julgado somente pelo povo
brasileiro”. Tudo isso levou um ministro
do stf a dizer o seguinte à piauí: “Tarcísio
demonstrou ignorância quanto a parâmetros
institucionais básicos.”
O empresário de um dos setores mais
atingidos pelas tarifas, que pediu anonimato
para não aumentar a cizânia, reconhece
a falta de profissionalismo na
atitude do governador, tanto que procurou
o governo estadual para pedir um
ajuste no discurso. Ele pondera que até
a Frente Parlamentar da Agropecuária,
o poderoso lobby da bancada ruralista
no Congresso, mediu as palavras na
hora de se manifestar sobre o tarifaço,
tentando baixar a temperatura e estimular
o diálogo, coisa que Tarcísio não fez.
“Não é a primeira vez que o Tarcísio não
fica atento a certas características do estado
de São Paulo. Às vezes acho que
pesa o fato de ser carioca. E não é bairrismo.
Mas, quando você é paulista,
você cresce com a cultura de que é o
estado da cana, da carne, do suco de laranja.
E isso, no interior, tem muita importância
para as pessoas. Ele não tem a
sensibilidade de pensar que o Brasil é o
maior exportador do mundo de muitas
dessas coisas, e ainda tem a aeronáutica,
o aço... Faltou bom senso, faltou uma
abordagem técnica. Ele sempre foi um
cara técnico e acho que está se perdendo
um pouco na política.”
Comportando-se como uma biruta,
Tarcísio não conseguiu ganhar nem a
gratidão da família do ex-presidente. Ao
contrário. O deputado Eduardo Bolsonaro,
que disputa com o governador o
“dedaço” presidencial de Bolsonaro,
não gostou. “O Tarcísio tem que entender
que o filho do presidente está nos
Estados Unidos e tem acesso à Casa
Branca. Qualquer tentativa de nos dar
bypass será brecada e freada”, disse, em
entrevista à Folha de S.Paulo. Jair Bolsonaro
também malhou o governador
numa entrevista à cnn: “Não adianta
um governador de estado, por mais respeito
que eu tenha por ele, tentar resolver
esse assunto dentro do seu estado,
porque não resolve.”
Tarcísio decidiu então baixar o tom.
Em mais uma mudança de rota, deixou
de ser o governador que politizou o assunto
desde o primeiro minuto, ao acusar
Lula de priorizar a “ideologia”, dizer
que “a reponsabilidade é de quem governa”
e defender “o maior investidor direto
do Brasil”. Em viagem ao interior de São
Paulo no calor dos acontecimentos, parou
de mencionar Bolsonaro e pregou
“união de esforços e sinergia” porque “os
poderes precisam estar de mãos dadas
agora para resolver”. Elogiou a diplomacia
que antes desprezara e redefiniu seu
papel: “Eu sou governador do estado,
existem interesses que precisam ser preservados,
interesses das nossas empresas,
dos nossos produtores, e é isso que a gente
tem que botar em primeiro lugar. Eu
estou falando de empregos, estou falando
de pais de família.”
Na terça-feira, 15, seis dias depois do
anúncio do tarifaço, assim que teve acesso
a números então inéditos da pesquisa
da Quaest, Bolsonaro também recalculou
sua rota. Os números indicavam
que, pela primeira vez desde a intentona
golpista do Oito de Janeiro, a direita
estava batendo cabeça. Nem os bolsonaristas
vinham tocando pela mesma
partitura. Para 48% deles, Trump estava
errado, mas 42% achavam que estava
certo. Pior ainda: 44% culpavam Lula,
como era previsível, mas 36% atribuíam
o tarifaço a outras razões, todas elas ligadas
a Bolsonaro, ao seu filho Eduardo
ou às gigantes da tecnologia, as chamadas
big techs. À noite, Bolsonaro então
deu uma entrevista ao site Poder360.
Elogiou Tarcísio, disse que a direita não
podia se dividir e colocou “uma pedra
em cima desse assunto”. Tarcísio parecia
voltar às águas mansas.
Na manhã do dia 18 de julho, uma
sexta-feira, agentes da Polícia Federal
bateram na porta da casa
de Bolsonaro em Brasília, apreenderam
14 mil dólares em dinheiro vivo, acharam
um pen drive escondido no banheiro e
levaram o ex-presidente para colocar
tornozeleira eletrônica. As suspeitas de
que podia fugir do país e vinha tentando
subverter seu processo judicial levaram
a Procuradoria-Geral da República
a pedir as medidas cautelares. Desde
então, Bolsonaro está proibido de se ausentar
de Brasília, sair de casa à noite,
entrar em contato com outros investigados,
usar as redes sociais e aproximar-se
de embaixadas – inclusive a da Hungria,
onde se homiziou por dois dias em
fevereiro do ano passado.
Tarcísio então retornou à artilharia
bolsonarista. Em uma nota, protestou
contra as medidas cautelares, defendeu o
ex-chefe, elogiou sua notável “coragem”
e decretou: “Não haverá paz social sem
paz política, sem visão de longo prazo,
sem eleições livres, justas e competitivo."
frase final produziu nova perplexidade:
afinal, no que o governador
acredita? Em março, durante um evento
no Tribunal de Justiça de São Paulo,
Tarcísio fizera elogios à Justiça Eleitoral,
reconhecendo sua competência, rapidez
e confiabilidade. “A gente tem que
fazer o agradecimento à Justiça Eleitoral
por todo esse trabalho, por todo esse
empenho como garantidora da democracia
brasileira”, disse. Agora, quatro meses
depois, Tarcísio afirma que, se o nome
de Bolsonaro não estiver na tela da urna
eletrônica, as eleições não serão nem livres,
nem justas, nem competitivas?
À noite do mesmo dia, Trump despachou
outra sanção. Seu secretário de Estado,
Marco Rubio, anunciou que estava
cancelando o visto do ministro Alexandre
de Moraes, do stf, e “seus aliados na Corte”.
Mais tarde, soube-se que a sanção incluía
o procurador-geral da República,
Paulo Gonet, e sete outros ministros do
tribunal. Poupava apenas Kassio Nunes
Marques e André Mendonça, nomeados
por Bolsonaro, e Luiz Fux, indicado pela
ex-presidente Dilma Rousseff. Tarcísio não
se manifestou. Então, sua sexta-feira terminou
assim: de manhã, com o anúncio de
que Bolsonaro teria que usar uma tornozeleira,
criticou duramente a decisão judicial;
de noite, diante da tentativa de uma
nação estrangeira de intimidar membros
de uma instituição nacional, silenciou.
No labirinto dos acontecimentos, o
caminho que Tarcísio vinha fazendo
para obter o apoio de Bolsonaro à sua
candidatura presidencial se alterou dramaticamente.
As tensões – tarifas escorchantes,
vistos cancelados, ameaças de
novas sanções, tornozeleira eletrônica
– tumultuaram o cenário que antes parecia
claro: o candidato do ex-presidente
em 2026 seria um membro de sua família
ou Tarcísio. Eduardo, o filho mais
interessado em concorrer, enrolou-se de
maneira talvez irreversível ao ameaçar o
Supremo e atentar contra a soberania
nacional. Fez bonito para a base radical
do bolsonarismo, tanto que ganhou terreno
nas pesquisas, mas assustou outros
segmentos com seu destempero.
Apesar da atitude errática, é prematuro
dizer que o governador tenha perdido
o apoio do pib ou do Centrão à sua
candidatura presidencial. Em conversas
privadas, empresários de setores afetados
e dirigentes da Fiesp, a entidade que
reúne os industriais paulistas, têm dito
que, diante da hecatombe, Tarcísio foi
o menor dos problemas – e, para muitos
deles, os negócios são mais importantes
do que a soberania nacional. No
entanto, um termômetro da frustração
do mercado está no comportamento de
Roberto Campos Neto, ex-presidente
do Banco Central. Ele é amigo de Tarcísio,
tanto que seu nome é tratado
como o futuro ministro da Fazenda
caso o governador vire presidente, mas
sua confiança está abalada. Na campanha
presidencial, Campos Neto ajudou
Bolsonaro rodando modelos econométricos
para medir suas chances eleitorais.
Está fazendo o mesmo agora com
Tarcísio. Em junho, seus modelos indicavam
que o governador tinha 80% de
probabilidade de vencer Lula no ano
que vem. Agora, ressabiado, tem dito a
amigos que seria prudente buscar um
outsider para 2026. Parece que Tarcísio
terá de remar um pouco mais para continuar
sendo o plano A.
Desde que foi nomeado ministro da
Infraestrutura do governo de Jair
Bolsonaro, Tarcísio sempre procurou
mostrar ao empresariado, a portas
fechadas, que desaprovava as atitudes
radicais do chefe. Era visto como integrante
do núcleo político que discordava
das críticas à vacina e da agenda
ideológica, e se atritava com o tenentecoronel
Mauro Cid, ajudante de ordens
do presidente que insuflava a ala radical.
Nada disso impediu Tarcísio de
acompanhar Bolsonaro em atos de aglomeração
durante a pandemia e manter-
se indiferente às discussões sobre
“alternativas constitucionais” para segurar
Bolsonaro no poder. Já eleito governador,
condenou a quebradeira do Oito
de Janeiro, mas apareceu na primeira
fila das manifestações pela anistia aos
golpistas. “A pauta da anistia ele sempre
defendeu. Ele esteve em todas as manifestações.
Foi o único governador que
foi em todas”, elogia o deputado Sóstenes
Cavalcante, líder do pl na Câmara.
Quando assumiu o governo paulista,
Tarcísio anistiou por decreto as multas
de quem promoveu aglomeração durante
o isolamento. Com isso, Bolsonaro
recuperou quase 1 milhão de reais
em multas que já haviam sido depositados
em juízo. Outras 11 mil multas foram
anistiadas. O governador também
havia sido autuado por infringir a lei
(três vezes), mas, quando a anistia chegou,
já havia saldado sua dívida. Como
um dos primeiros atos de sua gestão, ele
fez outro aceno ao bolsonarismo: retirou
a obrigatoriedade de comprovantes
de vacinação para entrada em locais
públicos e privados. Ao montar sua
equipe, atendeu a um pedido de Bolsonaro
e seus filhos e entregou a Secretaria
de Segurança Pública a Guilherme
Derrite, um ex-policial acusado de integrar
um grupo de extermínio.
Enquanto fazia concessões ao bolsonarismo,
o governador tentava costurar
alianças do lado oposto, na ilusão de transitar
sem obstáculos entre Berlim e Stalingrado.
Acatou a indicação bolsonarista de
Derrite, mas também aceitou a sugestão
do ministro Alexandre de Moraes, que foi
secretário de Segurança Pública em São
Paulo, segundo a qual deveria nomear um
adjunto experiente no órgão para compensar
os defeitos e as carências de Derrite.
Tarcísio nomeou o delegado Osvaldo
Nico, da Polícia Civil. O governador também
ouviu Moraes na nomeação do
procurador-geral de Justiça. Escolheu
Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, que ficara
em terceiro lugar na votação da lista
tríplice do Ministério Público de São
Paulo, preterindo o primeiro colocado,
José Carlos Cosenzo, que era desafeto do
ministro. Moraes fora advertido que Cosenzo
dizia por aí que ele cometera plágio.
(Em 2017, o ministro foi acusado de
copiar trechos do livro de um ex-juiz espanhol
ao escrever sua obra Direitos humanos
fundamentais. Ele negou o plágio.
A Universidade de São Paulo, sua alma
mater, referendou sua defesa afirmando
que não encontrara evidência de cópia.)
As deferências a Moraes não passaram
despercebidas ao núcleo do ex-presidente,
e suas demonstrações de fidelidade começaram
a ser vistas como demonstrações de
falsidade. Um aliado de primeira hora
de Bolsonaro diz que não há problema
em Tarcísio dialogar com Moraes. O problema
está no fato de que ele não exerce
qualquer influência sobre o ministro.
“Ele não é o segundo nome mais poderoso
da República, o governador do maior
estado? Tinha que estar continuamente
no pé dos caras, mas ele está engolido
pela Corte”, diz. Para ele, por exemplo,
Tarcísio precisava ter obtido garantias de
que o passaporte de Eduardo Bolsonaro
não seria apreendido. “Mas não teve isso.”
Ainda no governo Bolsonaro, o então
ministro Tarcísio aproximou-se de Alexandre
de Moraes, num movimento que
contou com a ajuda do ex-presidente
Michel Temer. Na época, tanto Temer
quanto Tarcísio faziam parte da turma
dos bombeiros que tentavam apagar os
incêndios que Bolsonaro armava contra
o stf. Recentemente, Tarcísio também
se tornou próximo de Rodrigo Garcia,
ex-governador paulista e um dos amigos
mais íntimos de Alexandre de Moraes.
Neste ano, porém, as relações entre Tarcísio
e Moraes estremeceram depois que
o governador passou a subir em carros de
som na Avenida Paulista em defesa dos
golpistas do Oito de Janeiro. Mesmo milimetrando
seus movimentos – a ponto
de só usar a camiseta azul da Seleção,
em vez da amarela –, Tarcísio não escapou
das críticas do stf, que não engoliu
a defesa da anistia – sobre a qual, aliás, o
governador agiu em termos práticos.
Tarcísio esteve entre os que se empenharam
em recolher assinaturas para
aprovar a urgência da votação do projeto
na Câmara. Em maio, durante conversa
com a piauí, o deputado Sóstenes Caval
cante contou que precisava do apoio de
deputados do Republicanos, mas não conseguira
ajuda do presidente do partido,
Marcos Pereira. Recorreu a Tarcísio. “Eu
tinha a ajuda do Ciro [Nogueira], que é do
Progressistas, tinha a ajuda do [Gilberto]
Kassab, do psd, e tinha ajuda do [Antonio]
Rueda, do União Brasil. Eu não tinha a
ajuda do Marcos Pereira. Nem dele, nem
do líder dele. Aí liguei para o Tarcísio e
falei: ‘Governador, o senhor é do Republicanos.
Eu preciso da sua ajuda para fechar
essas 247 assinaturas’.” Tarcísio entregou
quatro assinaturas de São Paulo. O projeto
nunca foi pautado, mas o líder do pl reconhece
o esforço. “Ele fez o papel de
governador, de aliado de primeira ordem
de Bolsonaro, dentro do limite do cargo
que hoje ele ocupa. E fez bem, na minha
avaliação”, diz Cavalcante.
Entre o cravo e a ferradura, Tarcísio
vem angariando antipatias discretas.
“Ele acha que engana quem?”, desabafou
um ministro do stf numa conversa
com um amigo. “Ele diz que respeita as
instituições, mas fica no carro de som
enquanto o [pastor] Silas Malafaia fala
contra o Alexandre? Não critica o stf,
mas fica no carro?” Um amigo de Moraes,
ouvido pela piauí sob a condição de não
ter seu nome exposto, avalia que, até o
tarifaço, Tarcísio vinha exibindo mais
proximidade com o ministro do stf do
que de fato tem. Era sua forma de vender
a imagem de “direita moderada”.
O mesmo interlocutor observa que, em
seus salamaleques em direção ao stf, Tarcísio
estava pavimentando o caminho de
um acordo para indultar a Bolsonaro sem
causar uma crise institucional, caso fosse
eleito. Em troca do indulto, Tarcísio trabalharia
contra a pauta de impeachment de
ministros do stf no Senado, um risco
que pode crescer com a eleição do ano que
vem, na qual Bolsonaro, mesmo preso,
almeja eleger uma bancada robusta – o pl
diz ser favorito para 32 das 54 vagas, embora
ainda não haja pesquisas que corroborem
essa previsão. Não à toa, Carlos
Bolsonaro disputará a vaga por Santa Catarina
e Michelle Bolsonaro é considerada
vitória certa no Distrito Federal.
Eduardo Bolsonaro, diante do provável
ocaso de sua empreitada presidencial, agora
é cotado para concorrer por São Paulo
– se ainda estiver solto. Não se sabe se o
toma lá dá cá chegou ao ministro Alexandre
de Moraes, mas políticos do Centrão
interessados em viabilizar Tarcísio têm
feito questão de ventilar a proposta nos
bastidores. “Nunca existiu a menor possibilidade
de acordo. O stf cassaria o indulto”,
aposta o amigo de Moraes. Em um
despacho anexado ao processo do golpe,
depois da cassação dos vistos americanos,
Moraes afirmou que a anistia é “inconstitucional”,
sinalizando que o indulto também
não seria aceito pelo tribunal.
A notável maleabilidade das convicções
de Tarcísio é, a um só tempo,
alvo de críticas e elogios. Um de
seus secretários, que falou com a piauí
sob a condição de ficar anônimo, diz que
é um comportamento positivo, tanto
que levou o governador a voltar atrás na
decisão de acabar com as câmeras corporais
dos policiais militares. “Ele disse: ‘Eu
errei.’ Tarcísio achava que a presença da
câmera significava desconfiança do soldado
e depois entendeu que era para a
própria segurança do soldado.” Um excolega
de Esplanada, no entanto, classifica
a flexibilidade do governador como
coisa de “bolsonarista fajuto”, que tenta
se cacifar como aliado fiel de Bolsonaro,
enquanto delega a Gilberto Kassab a
função de fazer política no estado. Para
interlocutores mais ligados à esquerda,
Tarcísio já disse, em outro lance camaleônico,
que só usou o boné do Maga
porque precisa jogar iscas para agradar o
bolsonarismo a cada dois meses.
Donde volta a pergunta: No que o
governador acredita, afinal?
Um influente operador de Brasília,
que conhece Tarcísio bastante bem,
atribui a facilidade com que o governador
altera seu rumo – ora radical, ora
moderado, ora tecnocrata – ao contexto
político atual. “Ele tem o estilo de ficar
agradando todo mundo. E político,
para ter voz, tem que ter lado. A pior
coisa para um político é não ter discurso.
Até agora, ele não precisou ter discurso
porque a eleição caiu no colo
dele. Ele não precisou ter bandeira”,
pondera. Já o economista José Márcio
Camargo, sócio do Banco Genial, em
uma conversa com a piauí em junho,
avalia que Tarcísio é habilidoso e não se
deixará tutelar. “Ele trabalhou para a
Dilma, para o Temer, para o Bolsonaro.
Sempre foi muito independente no sentido
de fazer as coisas que precisavam
ser feitas. Ele tem uma história. Ele não
é servidor do Bolsonaro. Ele tem lealdade,
com toda a razão, pois foi o Bolsonaro
que o indicou para o cargo de
governador. Não dá para jogar isso no
lixo.” Quando voltei a procurá-lo depois
do tarifaço, Camargo disse que sua avaliação
continuava a mesma.
Na sua ciranda, Tarcísio tem feito testes
com múltiplas máscaras. Em eventos
no exterior, sobretudo aqueles patrocinados
por bancos brasileiros em Nova York,
ele capricha no discurso sobre a pauta
nacional, toma vinho e discute sobre o
“pipeline de projetos” com o mercado
financeiro. Em viagens ao interior de
São Paulo, já arrastou o erre caipira, escondendo
seu carioquismo, e enalteceu
a música sertaneja, ou o “modão”, como
ele costuma dizer em vídeos nas redes
sociais. Quem o conhece desde os governos
petistas lembra que ele jamais mencionara
dois dados de sua biografia que
hoje nunca esquece: seu passado militar
e sua devoção religiosa. Esses traços só
vieram a público quando Tarcísio tornou-
se ministro de Bolsonaro.
Até então, era católico não praticante,
mas agora revela certa destreza no
mundo evangélico. Na última Marcha
para Jesus em São Paulo, embrulhou-se
numa bandeira de Israel e cantou louvores
de olhos cerrados, como se estivesse
em transe. Em abril passado, no aniversário
de 50 anos do empresário Ricardo
Faria, conhecido como Rei do Ovo, comemorado
no Hotel Fasano Boa Vista,
a advogada Guiomar Mendes, mulher
do ministro Gilmar Mendes, puxou um
cântico muito usado no rito católico para
homenagear o aniversariante. Os convidados
vips da festa, entre senadores,
governadores, ministros do stf e banqueiros,
foram puxados ao palco para
cantar junto – e lá estava Tarcísio, entoando
a plenos pulmões o refrão religioso.
Na festa, ao passar por rodas de empresários,
ele ouvia cumprimentos efusivos
e apelos para que os “salvasse”. Salvar,
neste caso, significava candidatar-se à
Presidência da República e ganhar de
Lula em 2026. Uma colunista social do
site Infoverus, especializado em notícias
do agro, registrou a cobertura da noite
em suas redes sociais. Tarcísio, a estrela
do pedaço, aparecia em mais fotos do
que o próprio aniversariante.
Tarcísio Gomes de Freitas tem 50 anos
e é filho de um carregador de caixas
que depois fez carreira no Banco
do Brasil e de uma empregada
doméstica. Em boa parte de sua trajetória,
viveu em condições modestas. Antes
de tornar-se ministro, morava num apartamento
de dois quartos em Águas Claras,
cidade-satélite de Brasília, com
mulher, Cristiane, e um casal de filhos.
De início, ascendeu no governo graças
a suas ligações com o pt. Em 2011, ainda
era apenas um auditor recém-ingressado
na Controladoria-Geral da União,
quando procurou o engenheiro Bernardo
Figueiredo, diretor da Agência Nacional
de Transportes Terrestres (antt).
Apresentou um diagnóstico que traçara
sobre o setor, com especial atenção ao
Dnit, órgão federal que cuida das estradas.
Figueiredo gostou muito do que
viu. Quando quis conter a roubalheira
no Ministério dos Transportes, comandado
pelo pl, a então presidente Dilma
Rousseff pediu a Figueiredo sugestões
técnicas para as diretorias. Figueiredo
indicou Tarcísio, que acabou diretor
executivo do Dnit. Quando batia de
frente com malfeitos da turma de Valdemar
Costa Neto, Tarcísio, quem diria,
procurava o pt em busca de apoio
político. Era atendido.
Enfraquecida politicamente em 2014,
Dilma começou a perder a queda de braço
no Dnit e, quem diria, Costa Neto
conseguiu derrubar Tarcísio. Demitido,
ele fez concurso para consultor da Câmara
dos Deputados, passou em primeiro
lugar e assumiu o cargo em 2015. Durante
o impeachment de Dilma, Tarcísio
criticou os governos petistas em audiências
na Câmara. A oposição cresceu o
olho. Convidou-o para integrar o gover
no de Michel Temer, ocupando cargo na
Secretaria Especial do Programa de Parcerias
de Investimentos (ppi), chefiada
por Moreira Franco. Em entrevista à
piauí em 2022, Moreira Franco contou
que Tarcísio foi uma contratação técnica,
que “nem sabia” de sua proximidade
com o pt e tampouco fora informado
de que tinha formação militar. “Naquele
período ele tinha uma conversa muito
mais tucana do que bolsonarista”, diz
Moreira Franco. Ele se lembra que Tarcísio
trabalhava muito e não demonstrava
inclinação política, nem simpatia
pela extrema direita.
Com a vitória de Bolsonaro, formouse
a equipe de transição entre os governos.
Moreira Franco nomeou outro
membro de sua equipe para compor o
grupo. Mas Tarcísio arrancou uma indicação
por meio de empresários da
soja que conhecera na época do Dnit.
Foi então nomeado auxiliar de Tereza
Cristina, que viria a ser ministra da
Agricultura. Chegou a ser sondado para
chefiar uma das secretarias de Romeu
Zema, governador de Minas Gerais,
mas recusou: queria um cargo de mais
destaque em Brasília. Com ajuda dos
empresários do agro e da própria Tereza
Cristina, ganhou a vaga de ministro da
Infraestrutura. Estava consolidado o
seu voo: de Dilma para Bolsonaro, com
escala em Temer.
Em meados de 2020, quando Bolsonaro
decidiu que Tarcísio seria candidato
ao governo de São Paulo, ele não
botou fé, mas não se opôs. Colocou placas
de porcelana nos dentes, passou a
vestir-se melhor e intensificou sua agenda
com o empresariado paulista. Filiouse
ao Republicanos, ainda magoado com
o tratamento que recebera do pl no
Dnit. Como o eleitorado paulista rejeitava
Bolsonaro no auge da pandemia,
Tarcísio foi aconselhado a moderar o
discurso e migrar para o centro. Nesse
período, chegou a dizer em entrevista ao
site Agência infra que Dilma “era uma
pessoa honesta” e que “pode ter errado
em deixar que a corrupção acontecesse
no governo dela”, mas que ela “não tinha
nada” de corrupta. Bolsonaro, porém,
logo passou a recuperar prestígio entre
os eleitores paulistas, e Tarcísio já não
tinha interesse em distanciar-se dele. Os
filhos do ex-presidente jamais perdoaram
a inflexão oportunista.
Quando Bolsonaro tornou-se inelegível
até 2030, as atenções da direita se voltaram
para o possível sucessor – e Tarcísio
surgiu como nome favorito do “bolsonarismo
sem Bolsonaro”. Era um desafio
contrário ao da mulher de César, que,
além de ser honesta, precisava parecer
honesta. No caso de Tarcísio, a direita
considera até bom que seja um bolsonarista,
mas que não se pareça um. Para o
Centrão, considerando que a Faria Lima
e o empresariado nacional nunca engoliram
o pt, era a solução ideal. O único
obstáculo é que nenhum deles – nem
Centrão, nem Faria Lima, nem empresários
– mobiliza votos e eleitores. Tarcísio
precisaria então dos votos e dos
eleitores de Bolsonaro.
Desde que deixou a Presidência da
República, Jair Bolsonaro comanda
uma disputa velada pelo seu
espólio que, segundo os cálculos da
Quaest, chega a 11% do eleitorado – ou
34%, se incluídos aí os bolsonaristas menos
sólidos. Depois que se tornou inelegível
por decisão do Tribunal Superior
Eleitoral, em junho de 2023, a dispu
ganhou maior tração, mas Bolsonaro
faz questão de adiar a sua escolha o
quanto pode. Tarcísio até pode acabar
sendo o escolhido, mas o ex-presidente
já disse a aliados mais próximos que sua
escolha só recairá sobre o governador
se não tiver nenhuma outra opção dentro
da sua família.
No vácuo da indecisão, a família se
insinuou: Eduardo, o Zero Três, reunia as
melhores chances devido à ausência de
rolos com a Justiça – até tropeçar nas tarifas
contra o Brasil. Michelle, a ex-primeira-
dama, corre por fora. “A Michelle
reúne mulheres, evangélicos, bolsonaristas
e a direita”, diz o pastor Silas Malafaia,
ao listar as razões pelas quais
considera a ex-primeira-dama um nome
imbatível. Mas Michelle, embora carregue
o sobrenome Bolsonaro, tem duas
fragilidades: ela não desfruta da confiança
dos filhos do ex-presidente, e o casamento
com alguma frequência bate
pelas tabelas. Quando Bolsonaro partiu
para a Flórida, às vésperas da tentativa
de golpe, aliados tiveram que insistir
para que a ex-primeira-dama o acompanhasse.
Caso contrário, Bolsonaro, além
de derrotado nas urnas, também ficaria
com a pecha de marido abandonado.
Com o cenário assim configurado,
os maiores adversários de Tarcísio estão
dentro da própria família Bolsonaro,
num processo autofágico que o cientista
político Antonio Lavareda chamou
de “primárias da direita”. O tarifaço de
Trump acabou expondo uma cisão em
cujas profundezas encontra-se um fato
singular: os filhos e a mulher acreditam
que, além deles próprios, ninguém
é tão bolsonarista a ponto de merecer a
distinção de levar o balaio dos votos de
Bolsonaro. Nem Tarcísio, é claro.
No primeiro semestre deste ano, o
mercado financeiro lançou especulações
de que o ex-presidente havia tomado a
decisão de apoiar Tarcísio. A máquina
bolsonarista, sob o comando dos filhos,
entrou em ação. Começaram a circular
nas redes sociais vídeos feitos por inteligência
artificial em que pessoas vestidas
de verde-amarelo criticavam o governador.
Em um deles, um patriota atacava:
“Esse vendido amigo do Xandão só é
governador para o Centrão, para a Faria
Lima e para o stf.” Em grupos de Whats-
App, apareceu um dossiê, sob o título
São Paulo na engrenagem verde, que denunciava
Tarcísio pelo pecado de implementar
uma “agenda climática” no
estado. Na última manifestação na Avenida
Paulista, enquanto Tarcísio discursava
a favor da anistia, o canal no
YouTube da AuriVerde Brasil, hoje o
maior reduto de bolsonaristas raiz, exibia
mensagens depreciativas ao governador.
O jogo de pressões e intrigas – a Faria
Lima empurrando numa direção,
os filhos empurrando em outra – contaminou
Bolsonaro. Ele chegou a se
indispor com Tarcísio, alegando que
seu pupilo nunca desmentia com veemência
rumores de que era candidato.
Bolsonaro disse publicamente que o
governador não era “excepcional” e que
era “um bom político, como tem outros
nomes pelo Brasil”. Um interlocutor do
Centrão, hoje mais próximo do governador
do que do ex-presidente, conta:
“O Bolsonaro chegou a chamar o Tarcísio
de lado e dizer que ele mesmo ia
ser candidato e que o Tarcísio sairia por
São Paulo.” Em razão desse aviso, Tarcísio
disse mais tarde, durante um evento
de bancos brasileiros em Nova York,
que não havia “direita sem Bolsonaro”.
As leituras, embaladas nos interesses
de cada um, se multiplicam. Ainda em
Nova York, um empresário se reuniu
com Tarcísio e saiu com a impressão de
que, entre todos os presidenciáveis, ele
era o que menos aparentava a intenção
de concorrer. O círculo mais próximo de
Tarcísio explica que, naquela altura, ele
andava irritado com as demonstrações
de desprezo por parte de Bolsonaro. Mas
continuava engolindo sapo, bajulando o
ex-presidente e batalhando para fazê-lo
ver que não tinha intenção de sabotálo
mais adiante. Um entusiasta de sua
candidatura, também em Nova York, viu
tudo e aconselhou Tarcísio a ter cuidado
em sua relação com Bolsonaro, que era
manipulador e conduziria a situação de
tal modo que Tarcísio ainda sairia como
traidor, e não como vítima.
Na conversa que tivemos em maio,
Sóstenes Cavalcante, o líder do pl, cravou
a razão de Bolsonaro cozinhar sua
sucessão em banho-maria. “No dia em
que ele anunciar que o candidato é o Tarcísio,
ele perde todo o capital político,
né? E transfere isso para uma outra pessoa
num momento em que ele está fragilizado,
com um processo nas costas.
Então ele não pode”, afirma. Quando
seria o momento ideal? Há quem sugira
que Bolsonaro defina seu candidato antes
de ser condenado e preso. Assim, teria
mais força para emplacar um filho ou
Michelle como vice de chapa, além de
negociar um indulto e indicações para
ministérios. Mas outros avaliam que esticar
a corda até o último minuto pode
aumentar o valor de seu passe, sobretudo
se ele mantiver acesa a dúvida sobre lançar
ou não o filho ou a mulher ao cargo.
Mas tudo isso fazia mais sentido até
o dia 9 de julho, quando Trump tarifou
o Brasil em nome de Bolsonaro – e
Bolsonaro passou a acreditar que o
presidente americano vai acabar com a
“caça às bruxas”, possivelmente evitando
sua prisão e restituindo seus direitos
políticos. O cenário, então, entrou em
convulsão. Um punhado de aliados
afirmam que o ex-presidente está ainda
mais radicalizado e disposto a partir
para o tudo ou nada. Os sintomas apareceram
em uma entrevista à cnn, na
qual reincorporou a figura do desequilibrado.
Aos berros, disse: “Porra, que
golpe? Que golpe é esse? Sem tropa?
Sem Forças Armadas? Sem nada?”
Depois, disse que “eleição sem oposição
é golpe”, deixando claro que só
ele, ninguém mais, pode representar o
campo da oposição.
Tarcísio, por sua vez, além de tropeçar
nas próprias pernas, está mais fragilizado
porque o tarifaço atiçou apetites alheios.
Os governadores Romeu Zema, de Minas,
e Ronaldo Caiado, de Goiás, que andavam
meio apagados diante da força de
Tarcísio, correram para avisar ao público
que fariam de tudo para indultar Bolsonaro,
caso se elegessem. Outro que voltou a
levantar a cabeça é o governador Ratinho
Junior, do Paraná, embora seu discurso
seja mais comedido, tanto nas promessas
ao bolsonarismo, quanto nas expectativas
para 2026. Em rodas de empresários paulistas,
o paranaense já disse que “perder do
Lula é quase uma vitória, porque meu
nome ficaria nacional”. Depois, em 2030,
sem Lula nem Bolsonaro na jogada, Ratinho
calcula que poderia ser a sua vez.
Feitas as contas, a aparente unidade
da direita se quebrou e, entre todos os
nomes na berlinda, Tarcísio tem uma
peculiaridade que não o ajuda: ele é o
mais dependente da boa vontade do expresidente.
A avaliação é de Aldo Rebelo,
o conselheiro de Bolsonaro que já foi
comunista e ministro de Lula e Dilma:
“Ao contrário do Caiado, do Ratinho e
do Zema, que construíram uma história
própria em seus estados, Tarcísio em
São Paulo é uma criação de Bolsonaro.
Com o apoio de Bolsonaro, é um forte
candidato. Sem ele, é inviável.” Sua
opinião não mudou com o tarifaço
Não se sabe o que o governador Tarcísio
de Freitas sentiu às 17h17 do
dia 9 de julho, quando Trump
postou na sua rede, a Truth Social, o
aviso do tarifaço. Mas, considerando-se
sua primeira reação pública, é fácil concluir
que Tarcísio não entendeu nada
– e, portanto, não deve ter pressentido
que a muralha de certezas do Centrão
que o cercava até então estava começando
a ruir. E eram muitas certezas.
O senador Ciro Nogueira (pp-pi) era
um dos mais otimistas em relação às
chances eleitorais da direita. Ignorando
o fato de que Bolsonaro está inelegível,
chegou a garantir ao ex-presidente que
tanto ele quanto Michelle derrotariam
Lula. Os irmãos Eduardo e Flávio, na
avaliação de Ciro Nogueira, também
poderiam derrotar o petista, embora
não fossem favoritos. E Tarcísio, então,
era um tiro tão certo que, provavelmente,
Lula até deixaria de concorrer
à reeleição, assustado com o apoio massacrante
ao rival. Tudo isso porque, para
o senador, Tarcísio tem o potencial de
Bolsonaro, mas sem sua rejeição.
Gilberto Kassab, o homem do psd, fazia
projeções menos espetaculares, mas
ainda positivas. Segundo os trackings que
acessava, Lula ganharia de todos os outros,
mas ficaria quatro pontos percentuais atrás
de Tarcísio. Era pouco, mas o suficiente
para que Kassab abandonasse seus instinpré
tos anfíbios e encarasse o projeto de lançar
Tarcísio. Até o final de 2024, Kassab era
peremptório sobre o futuro político do governador:
a reeleição. A partir do início
deste ano, virou a chave e passou a dizer
publicamente que, se Tarcísio concorresse
à Presidência, o psd estaria do seu lado.
Era um recado inusitadamente sólido para
um partido de gelatina. Na única vez em
que conduziu uma operação sem ter um
pé em cada canoa, Kassab se deu bem.
Desembarcou do governo de Dilma, abraçou
o impeachment e embarcou no governo
de Temer. Agora, fechado com Tarcísio,
Kassab vinha repetindo a mesma estratégia
até que Trump apareceu. Resgatando
as inclinações anfíbias, Kassab se absteve
de entrar na briga retórica do tarifaço. E as
canoas voltaram para onde sempre estiveram,
à espera de um pé qualquer.
Antonio Rueda, presidente do União
Brasil, partido que detém três ministérios
no governo, tem dito que a candidatura
que levará o apoio da sigla será “do
centro para a direita”. Apoiar Lula, desde
já, não é uma opção. Mas ele tampouco
se refere a Tarcísio como uma
aposta concreta. “O esforço é para que
tenha um nome único do centro [é
como ele se refere ao Centrão]. O União
Brasil tem hoje um pré-candidato, que
é o Caiado. Eu vou tentar trabalhar pelo
Caiado. Mas isso só vai ser definido no
ano que vem. Tarcísio não se anunciou
pré-candidato. Desses todos, é o que
está melhor, mas não é pré-candidato”.
Enquanto isso, o fato é que Lula voltou
ao jogo – pelo menos por enquanto.
A mais recente pesquisa da Quaest, póstarifaço,
mostra que o presidente ganharia
de todos: de Michelle, de Eduardo,
de Bolsonaro e do próprio Tarcísio,
embora, neste caso, com apenas quatro
pontos à frente, o que fica dentro da
margem de erro. O quadro deixa Tarcísio
mais uma vez na corda bamba.
É improvável que o governador agora
comece a se distanciar do padrinho, mas
o custo de se associar a ele aumentou.
“Hoje, 44% dos eleitores têm medo de
Bolsonaro voltar ao poder. E 41% temem
a vitória de Lula. A direita está se organizando
para ter os benefícios do apoio do
Bolsonaro. Mas ninguém está olhando
para os problemas associados a isso”, diz
Felipe Nunes, sócio do Quaest, referindo-
se à alta rejeição.
Na política, a perda de combustível
tem efeito dominó. A candidatura presidencial
de Tarcísio e a sua sucessão no
governo de São Paulo pareciam encaminhadas,
mas agora nem isso está garantido.
Neste cenário, Tarcísio também se
comporta com a dubiedade que lhe é
característica. O prefeito de São Paulo,
Ricardo Nunes, do mdb, quer concorrer
ao governo do estado. Gilberto Kassab,
do psd, também almeja o mesmo cargo
Guilherme Derrite, o acusado de atuar
em grupo de extermínio, é outro que
articula para se candidatar ao Executivo
paulista. Em público, Tarcísio não fala
nada. Em privado, diz que Ricardo Nunes
não tem estatura para ser governador,
que Kassab é “pesado demais” para
carregar numa campanha e que o problema
de Derrite não é o excesso de
sangue, mas o fato de não ser “um bom
gestor”. No retrato de hoje, o bolsonarista
André do Prado (pl), presidente da
Assembleia Legislativa de São Paulo,
seria a sua aposta para a sucessão.
No final de maio, o banqueiro André
Esteves, dono do btg Pactual,
reuniu cerca de trinta clientes importantes
na sede do seu banco, no Rio
de Janeiro, e fez uma declaração sem
margem para dúvidas. Estava mais do
que na hora de Bolsonaro anunciar
Tarcísio como candidato ao Palácio do
Planalto para salvar o Brasil. Lula, disse
ele, não tinha mais saída. No mês seguinte,
em um evento para agentes autônomos
em Mendoza, na Argentina,
Guilherme Benchimol, da xp Inc., seguiu
na mesma linha: era Tarcísio na
cabeça e Lula na aposentadoria. Antes
disso, no Carnaval passado, até o empresário
Luciano Hang, o Véio da Havan,
que chegou a perseguir seus funcionários
para forçá-los a votar em Bolsonaro,
não escondia de seus amigos e interlocutores
que estava ao lado de Tarcísio.
A parada parecia ganha.
Esse clima de certezas festivas se
evaporou, mas Tarcísio continua sendo
– de longe – o nome preferido do mercado
financeiro, da Faria Lima, do empresariado,
das elites industriais, dos
banqueiros. E Roberto Campos Neto,
que irritou a Faria Lima em razão da
negligência com que tratou as denúncias
sobre o Banco Master durante sua
passagem pelo Banco Central, segue
sendo o candidato do coração para ministro
da Fazenda em um eventual
governo Tarcísio, ainda que esteja recomendando
a busca por um outsider.
A boa relação do governador com o
empresariado começou ainda no Dnit,
nos anos 2010, quando se aproximou da
turma do agro. No início, via com ressalvas
as relações entre gestores públicos
e o setor privado. Com o tempo, habituou-
se à nova realidade e passou a fazer
parcerias com empreiteiros e produtores
rurais, interessados em escoar sua produção
por estradas melhores. Nesse período,
um de seus principais aliados era
o empresário Eraí Maggi, primo do exsenador
Blairo Maggi, um gigante da
soja. Num acidente em que seu carro
capotou oito vezes, Tarcísio foi socorrido
por Eraí. Ficaram amigos, e Eraí
acabou sendo fundamental para que
Tarcísio virasse ministro de Bolsonaro.
Quando já estava fora do governo
Dilma, depôs numa cpi sobre a Funai e
o Incra, e teve que responder a dois questionamentos
do pt: o privilégio que
dava a produtores rurais, em detrimento
do bem-estar de comunidades indígenas,
e as caronas que pegava em jatinhos
de um empresário com negócios
no Dnit. Não defendeu, nem negou, a
prioridade aos ruralistas, mas disse que,
se Lula podia voar de carona com empresários,
ele também podia. No governo
Temer, ao tocar as parcerias públicoprivadas,
ampliou contatos com o setor
de infraestrutura, deixando boa impressão
entre os empresários da área e se
cacifando para integrar o governo Bolsonaro
“Isso não me surpreendeu”, diz
um interlocutor do mercado que o conheceu
na época em que Tarcísio dava
expediente na Câmara. “Ele de fato colocou
de pé o projeto das parcerias. É um
cara afável, simpático, explica com paciência.
Mas é um malandro. Nunca tinha
comentado que era militar. É um carreirista,
né? Um sobrevivente em Brasília.”
A fonte, note-se, usa “malandro” e “carreirista”
como elogio.
Como ministro de Bolsonaro, não
atraiu mais atenção porque os contatos
com o meio empresarial eram monopolizados
pelo chefe da Economia, Paulo
Guedes. Por isso, só passou a ser observado
no detalhe quando se tornou candidato
ao governo de São Paulo – e foi
rapidamente assimilado. Antes mesmo
de vencer nas urnas, já circulava com
naturalidade entre os principais nomes
do pib paulista. Ao assumir, lançou um
plano de ajuste fiscal prevendo cortes
de gasto de custeio e desonerações de
icms para empresas – a mesma ideia
de Fernando Haddad, mas aplicada aos
impostos estaduais.
Em sua gestão, cortou 84 benefícios
fiscais e revisou 17, mas, em razão da
concessão de novas isenções e estimativas
incorretas sobre o desempenho
da economia e da inflação, a projeção
de gastos acabou subindo quase 20%
para o ano que vem. Na prática, seguiu
uma política tucana de controle fiscal.
Um ex-secretário da Fazenda reclama
que o governador costuma fazer o que
políticos fazem: colocar-se como autor
de todas as coisas boas, quando, na verdade,
está seguindo o que foi planejado
em governos anteriores. “Parece
que quando ele assumiu não tinha
nada. Parece que ele começou a fazer
o metrô e todo o resto”, diz. “Não há
nada de extraordinário no que ele faz,
mas a Faria Lima se empolga por causa
do antipetismo evidente.” Um empresário
paulista que integra a escassa
fauna que vota no pt diz que, nos
eventos empresariais, Tarcísio é especialista
em expor pilhas de estatísticas
que ninguém entende direito. “Mas
como ele fala tudo o que o mercado
quer, tratam ele como rei, né? Isso é
bom para o Brasil. Não acho ruim,
não. Mas governar não é só isso.”
Nos eventos com empresários, Tarcísio
nunca é questionado sobre políticas sociais,
a matança policial que beira o descontrole,
os assaltos crescentes. O analista
político Lucas de Aragão, da consultoria
Arko Advice, cuja clientela inclui empresas
e fundos nacionais e estrangeiros,
atribuiu o comportamento ao “pragmatismo
dos agentes econômicos”. Diz ele:
“É um jeito de pensar o Brasil que o
mercado enxerga como o mais adequado.
Previsibilidade de gastos públicos,
privatizações, atração de investimento,
proximidade com o mercado. Como
existe um cansaço, uma falta de esperança
e uma visão negativa sobre o governo
atual, o andar de cima da economia naturalmente
vê o Tarcísio como o candidato
ideal. Até porque eles não se sentem
confortáveis com a retórica do Bolsonaro
e de sua família.”
A vassalagem que Tarcísio tem prestado
a Bolsonaro, inclusive ecoando seu
discurso, realmente machuca as coroas
do pib, mas nada que um Melhoral não
resolva. Os modelos matemáticos que o
mercado tem rodado – à semelhança do
que faz Campos Neto – ajudam a manter
o empresariado ao lado do governador.
Segundo os dados que circulam
nas mesas de operação, Lula tinha, em
março passado, 44% de probabilidade
de se reeleger. Em junho, caiu para
41%. Agora em julho, depois do estouro
do tarifaço, oscilou para cima e chegou
a 43%. Para o mercado, trata-se
de uma variação muito pequena diante
de tanto barulho. E ninguém ali tem
muito interesse em saber no que Tarcísio
realmente acredita, contanto que
suas ideias econômicas continuem no
mesmo diapasão.
A piauí procurou o governador para
esclarecer algumas de suas opiniões.
Como ele não quis dar uma entrevista
presencial ou virtual, a revista enviou
dez perguntas por escrito. Perguntou se
ele acreditava que os participantes do
golpe de Oito de Janeiro deveriam ser
anistiados e se ele estava determinado a
conceder indulto a Bolsonaro caso fosse
eleito. A respeito do golpe em si, a revista
queria saber se o governador achava
que “alternativas constitucionais” ou
“estado de sítio e de defesa” eram medidas
legítimas para alterar o resultado de
uma eleição. Sobre o stf, a piauí perguntou
se Tarcísio considerava que a
Corte estava sendo injusta com Bolsonaro
e se concordava com a afirmação
do senador Flávio Bolsonaro de que
talvez fosse preciso usar a força contra o
tribunal. Por fim, a piauí perguntou sobre
arrependimentos: ele se arrependia
de ter politizado o tarifaço e de já ter
usado do boné do Maga?
Tarcísio não respondeu a nenhuma
das perguntas.
Em 21 de julho, ao comparecer a
um evento em Bebedouro, região do
interior paulista onde se concentram os
maiores produtores de suco de laranja
do país, Tarcísio voltou a falar. Em seu
discurso, insinuou que o governo brasileiro
não estava cumprindo seu papel
de baixar a temperatura da crise, e não
fez menção ao maior causador das tensões
– Bolsonaro. Até o fechamento
desta edição, Tarcísio não havia feito
uma única crítica à conduta de Bolsonaro
ou do filho Eduardo. Terminou
seu discurso em Bebedouro afirmando
o seguinte: “Quem fala em nome do
Brasil tem que ter essa compreensão,
tem que trabalhar para distensionar as
relações, tem que trabalhar para pacificar
[...], entender que o Brasil não
ganha nada ao se alinhar a determinados
blocos em detrimentos de outros.”
Foi aplaudido. Ninguém lhe perguntou
se quem apoia o Maga, com boné
e tudo, tem essa compreensão.
PIAUI
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