May 29, 2025

Operação contra grupo liderado por adolescente de 15 anos que estimulava automutilação de jovens nas redes

 Polícia Civil do Mato Grosso cumpriu mandados judiciais contra adolescentes apontados como líderes de grupo que estimulava automutilação online

 

Uma operação da Polícia Civil do Mato Grosso com o Ministério da Justiça desarticulou um grupo suspeito de violência contra adolescentes e crianças em plataformas de redes sociais, que seria comandado por um jovem de 15 anos apreendido na manhã de ontem. A operação Mão de Ferro 2 cumpriu em 12 estados 16 mandados de busca e apreensão, três prisões preventivas e apreendeu outros seis menores.

Segundo o delegado Gustavo Godoy Alevado, a investigação começou após um alerta de crimes cibernéticos no Mato Grosso levar à identificação da rede, que induzia, instigava e ensinava a automutilação ou mesmo ao suicídio. Outros práticas do grupo, a maior parte de jovens com idades entre 15 e 17, anos eram perseguições, ameaças, produção, armazenamento e compartilhamento de pornografia infantil, apologia ao nazismo e invasão de sistemas informatizados. Eles usavam plataformas como WhatsApp, Telegram e Discord. Somadas, as penas por esses crimes podem chegar a 20 anos de prisão.

O líder dos abusadores foi apreendido em Rondonópolis (MT). De acordo com o delegado, o adolescente havia sido alvo de buscas no ano passado, já na primeira fase da operação. Ele fora detido e liberado em seguida, e foram apreendidos dois celulares que seriam usados nos crimes. Em abril, o jovem de 15 anos foi alvo de outra operação policial.

De classe média, o rapaz estuda em uma escola estadual e, conforme a mãe, teria um diagnóstico de transtorno do espectro autista. Segundo investigadores, ele também é investigado por falsidade ideológica, após ter aberto uma conta bancária, com documentos fraudulentos, para negociar material pornográfico, que era enviado por meio do Telegram. A rede social informou que “aplica uma política rigorosa de tolerância zero” com material de abuso sexual infantil, que é removido por moderadores das partes públicas da plataforma.

Menina apreendida

Outro alvo foi uma moradora de Sinop (MT) de 16 anos identificada como uma das meninas cooptadas para dar instruções às vítimas sobre técnicas de automutilação, para “deixar apenas marcas” ou “machucar menos”, relatou Godoy. A organização também praticava crueldades contra animais e transmitiu ao vivo para 400 pessoas no Discord a execução de um gato.

O grupo é acusado ainda de extorsão a partir do acesso aos dados das vítimas, obtidos em vazamentos de informações de órgãos públicos. Três delas foram identificadas, mas duas não quiseram prestar depoimentos na investigação.

— Eles ganhavam a confiança de adolescentes, conseguiam os chamados nudes e começavam a extorqui-las. Diziam que se não obedecessem iriam expor os casos para a escola ou para os pais. As meninas eram coagidas a se cortar, beber água de vaso sanitário ou comer papéis com o nome dos integrantes do grupo escrito — detalhou o delegado.

Um dos integrantes enviou à mãe de uma vítima, pelo WhatApp, um vídeo com a adolescente. “Eu vou te denunciar e você nunca mais vai falar com a minha filha, vou te bloquear no meu celular e no dela”, respondeu a mãe. O criminoso disse que sabia a idade da mãe, onde ela trabalhava e xingou as duas.

A Meta informou que são banidos usuários no WhatsApp que compartilham conteúdos que colocam crianças em risco. A empresa acrescentou que, em todo o mundo, bane mais de 300 mil contas por mês por suspeitas de compartilhamento de imagens contendo exploração infantil. “Temos políticas, tecnologias e equipes especializadas focadas em eliminar interações abusivas e encorajamos que as pessoas denunciem comportamentos inapropriados às autoridades e também via aplicativo”, afirmou a Meta, que disse estar “à disposição de autoridades para colaborar em investigações”.

GLOBO

 

 

 

Sob Trump, lucros com a presidência são normalizados e rendem milhões à família

 

 O presidente dos EUA, Donald Trump, e a primeira-dama Melania

 

Por , Em The New York Times 
 
 

Quando Hillary Clinton era primeira-dama dos Estados Unidos, surgiu um furor com relatos de que ela havia lucrado US$ 100 mil (R$ 565 mil, na cotação atual) a partir de um investimento de US$ 1 mil (R$ 5,6 mil) em contratos futuros de gado. Mesmo tendo acontecido doze anos antes de seu marido se tornar presidente, o episódio se transformou em um escândalo que durou semanas e forçou a Casa Branca a conduzir uma revisão.

Trinta e um anos depois, após um jantar na propriedade Mar-a-Lago do presidente americano, Donald Trump, Jeff Bezos concordou em financiar um documentário promocional sobre a primeira-dama Melania Trump que, segundo relatos, colocará US$ 28 milhões (R$ 158 milhões) diretamente no bolso dela — 280 vezes o lucro dos Clinton, e vindo de alguém com interesse direto em políticas definidas pelo governo do marido. Escândalo? Comoção? Washington seguiu em frente quase sem dar atenção.

Os Trump não são a primeira família presidencial a lucrar com o tempo no poder, mas fizeram mais para monetizar a presidência do que qualquer outro ocupante da Casa Branca. A escala e o alcance do mercantilismo presidencial são impressionantes. A família Trump e seus parceiros de negócios arrecadaram US$ 320 milhões (R$ 1,8 bilhão) em taxas com uma nova criptomoeda, intermediaram negócios imobiliários bilionários no exterior e estão abrindo um clube exclusivo em Washington chamado Executive Branch, cobrando US$ 500 mil (R$ 2,8 milhões) por adesão — tudo isso apenas nos últimos meses.

Na semana passada, o Catar presenteou Trump com um jato de luxo destinado ao uso não apenas em sua função oficial, mas também a ser incorporado no patrimônio da sua futura biblioteca presidencial. Especialistas estimam que o valor do avião, formalmente doado à Força Aérea, seja de US$ 200 milhões (R$ 1,1 bilhão) — mais do que todos os presentes estrangeiros recebidos por presidentes americanos anteriores somados.

Trump também ofereceu um jantar exclusivo em seu clube na Virgínia para 220 investidores da criptomoeda $TRUMP, lançada dias antes de sua posse em janeiro. O acesso foi vendido abertamente com base no valor investido — não em uma conta de campanha, mas em um negócio que beneficia Trump pessoalmente.

— Estou há 50 anos observando e escrevendo sobre corrupção, e minha cabeça ainda está girando — disse Michael Johnston, professor emérito da Universidade Colgate e autor de diversos livros sobre corrupção nos Estados Unidos.

Ainda assim, um sinal de quanto Trump transformou Washington desde seu retorno ao poder é a normalização de esquemas de enriquecimento que antes gerariam forte reação política, audiências televisionadas, investigações oficiais e ações de contenção. A morte da indignação na era Trump, ou ao menos sua escassez, exemplifica até onde o presidente pressionou os limites do comportamento aceitável na capital.

Trump, o primeiro criminoso condenado eleito presidente, ignorou limites éticos e desmontou os instrumentos de responsabilização que restringiam seus antecessores. Não haverá investigações oficiais porque Trump se certificou disso. Ele demitiu inspetores-gerais do governo e corregedorias, nomeou aliados partidários para dirigir o Departamento de Justiça, o FBI e agências reguladoras, e domina um Congresso controlado pelos republicanos, que se recusa a realizar audiências.

Paul Rosenzweig, ex-conselheiro sênior da investigação do promotor especial Ken Starr sobre Bill Clinton e ex-integrante do governo George W. Bush, disse que a falta de reação às quebras de norma ética de Trump o faz questionar se a crença de que o público deseja um governo honesto era correta.

— Ou o público nunca se importou com isso, ou o público se importava, mas agora não mais — disse ele, concluindo que “em 80% das vezes, o público nunca se importou” e “em 20%, estamos sobrecarregados e exaustos". — A indignação não morreu. Ela sempre foi só uma invenção da elite.

A Casa Branca defendeu as ações de Trump, rebatendo os questionamentos éticos com o argumento de que ele é tão rico que não precisa de mais dinheiro.

— O presidente está cumprindo todas as leis de conflito de interesses aplicáveis ao cargo — disse Karoline Leavitt, porta-voz da Casa Branca. — O público americano acha absurdo insinuar que este presidente está lucrando com a presidência. Este presidente teve enorme sucesso antes de abrir mão de tudo para servir ao país.

Mas afirmar que está cumprindo as leis de conflito de interesses aplicáveis ao presidente é irrelevante, já que, como o próprio Trump reconhece há tempos, essas leis não se aplicam ao cargo.

Além disso, ele não abriu mão de tudo. Na prática, continua lucrando com seus interesses empresariais privados, agora administrados por seus filhos, e estimativas independentes indicam que ele não se sacrificou financeiramente ao entrar na política. A revista Forbes estimou seu patrimônio líquido em US$ 5,1 bilhões (R$ 28,8 bilhões) em março — US$ 1,2 bilhão (R$ 6,7 bilhões) a mais que no ano anterior e o mais alto já registrado no seu ranking na publicação.

Seus filhos zombam da ideia de limitar as atividades comerciais, que beneficiam diretamente o pai. Donald Trump Jr. disse que a família se conteve durante o primeiro mandato, mas mesmo assim foi criticada, então não faz sentido se conter agora.

— Vão bater de qualquer jeito — disse ele em um fórum empresarial no Catar. — Então vamos jogar o jogo.

Nos últimos dias, surgiram alguns sinais de reação pública. A doação do jato do Catar pareceu chamar a atenção do público mais do que outros episódios. Uma pesquisa Harvard/CAPS Harris revelou que 62% dos americanos acham que o presente “levanta preocupações éticas sobre corrupção”, e até mesmo figuras proeminentes da extrema direita, como o comentarista Ben Shapiro e a ativista da conspiração Laura Loomer, criticaram o gesto.

Enquanto algumas dezenas de manifestantes protestam em frente ao clube de golfe de Trump, os democratas estão divididos sobre o quanto devem focar nos lucros obtidos por Trump, com alguns preferindo priorizar temas econômicos. O senador Christopher Murphy, de Connecticut, lidera a ala oposta, com discursos denunciando o que chama de “corrupção descarada.”

— É improvável que ele seja responsabilizado por meios tradicionais — disse Murphy. — Não haverá conselhos especiais, o Departamento de Justiça não agirá. Então tudo se resume à mobilização pública e à política. Se os republicanos continuarem perdendo eleições especiais devido à corrupção, talvez repensem sua cumplicidade.

Trump prometeu durante anos “drenar o pântano” de Washington. Quando concorreu pela primeira vez em 2016, atacou os Clinton por aceitarem doações da Arábia Saudita e outros países do Oriente Médio interessados em influenciar um eventual governo de Hillary Clinton. Mas aquele dinheiro foi para a fundação dos Clinton, com fins filantrópicos. Já os valores agora recebidos pela família Trump estão indo direto para contas pessoais, em empreendimentos diversos documentados pelo New York Times.

Johnston afirma que os Trump representam “um caso absolutamente fora da curva, não apenas em termos monetários”, mas também “pelo desprezo descarado” pelas normas anteriores.

— Mesmo com discordâncias políticas, espera-se que o presidente e figuras do Executivo sirvam ao interesse público, não a si mesmos — disse.

Trump até fez menção a esses padrões no primeiro mandato, dizendo que restringiria os negócios da família no exterior. Mas, desde então, foi condenado por 34 acusações criminais por falsificação de registros contábeis e considerado responsável civilmente por fraude, enquanto a Suprema Corte lhe concedeu imunidade por atos oficiais. Agora neste segundo mandato, o republicano abandonou qualquer limite ético autoimposto.

— Ele nem tenta mais parecer que está fazendo a coisa certa — disse Fred Wertheimer, fundador da ONG Democracy 21 e defensor da ética no governo. — Não há nada na história americana que se compare ao uso da presidência para ganho pessoal em escala tão grande. Nada.

Os republicanos do Congresso passaram anos investigando Hunter Biden, filho do presidente Joe Biden, por lucrar com o sobrenome da família, chegando a chamá-los de “Família do Crime Biden.” Mas, embora os ganhos de Hunter sejam uma fração ínfima dos de Donald Trump Jr., Eric Trump e Jared Kushner, os republicanos não demonstram interesse em investigar a atual família presidencial.

— O público americano precisou se acostumar com a corrupção de Donald Trump e sua presidência porque o presidente e seu partido não deram outra escolha — disse J. Michael Luttig, ex-juiz conservador que hoje é crítico de Trump.

Trump não demonstra preocupação com o fato de que pessoas que injetam dinheiro em seus negócios familiares tenham interesses em políticas do governo. Alguns investidores de criptomoedas presentes ao jantar disseram que usaram a oportunidade para pressioná-lo sobre regulamentação do setor. Segundo vídeo obtido pelo Times, ele prometeu que seria mais brando com eles do que o governo Biden.

Um dos convidados no clube Trump em Sterling, Virgínia, foi Justin Sun, bilionário chinês que se tornou um dos maiores detentores da memecoin $TRUMP após investir mais de US$ 40 milhões (R$ 226 milhões), o que lhe rendeu acesso a uma recepção ainda mais exclusiva com o presidente antes do jantar. A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) acusou Sun de fraude em 2023, mas depois que Trump assumiu, o processo foi suspenso enquanto outras investigações sobre criptomoedas foram arquivadas.

Quanto a Bezos e ao Catar, ambos têm motivos para agradar Trump. No primeiro mandato, irritado com a cobertura do Washington Post, de propriedade de Bezos, Trump tentou punir a Amazon aumentando as tarifas postais e negando um contrato do Pentágono. Também chamou o Catar de “financiador do terrorismo” e o isolou diplomaticamente. No segundo mandato, não voltou a atacar nenhum dos dois.

 

May 24, 2025

Elon Musk Thought He Could Break History. Instead It Broke Him.

 An illustration of Elon Musk wearing a DOGE T-shirt and carrying a box labeled “MUSK,” containing a MAGA hat and Diet Cokes, walking away from a seated Donald Trump, who wears a disapproving expression.

 "Mr. Musk is hardly the first wealthy businessman to decamp to Washington: The Gilded Age millionaires, top hats in hand, focused on currying favor with the Senate, where laws were made and tariffs determined. With the collapse of the economy, the New Deal and the coming of a world war, the White House began to play a significantly larger role in directing the economy, and the businessmen paid it more attention. Dozens of them descended on the capital; others joined the cabinet. No matter when or in what position they served, however, they played by Washington’s rules, taking on well-defined, limited responsibilities and, for the most part, staying out of public view.

Mr. Musk broke with that tradition. Nobody was going to shut him up or rein him in. He was in the White House with his 4-year old son on his shoulders, on the stage of a Conservative Political Action Conference rally, promoting his cost-cutting crusade by waving a chain saw. He and his Department of Government Efficiency deputies spread chaos through Washington, locking staffers out of computer systems, gaining access to personal data on private citizens and identifying government employees they deemed expendable."


read analysis by DAVID NASAW

Elon Musk Thought He Could Break History. Instead It Broke Him. – DNyuz

Suddenly Trump Is No Longer Buying What Bibi Has Been Selling

 Benjamin Netanyahu and Donald Trump in the Oval Office amid several paintings of past U.S. presidents.

 "This is not the Trump administration that Mr. Netanyahu had so eagerly anticipated. On almost every significant strategic and geopolitical issue that matters to Israel — from seeking a new nuclear deal with Iran to a cease-fire with the Houthis, from embracing the new Syrian regime to negotiating directly with Hamas on hostage release — Mr. Trump is not only bypassing Israel but also moving in a very different direction from what Mr. Netanyahu would have chosen. The U.S. administration has sidelined Israel again and again. In so doing, Mr. Trump and his team have managed to expose Israel’s policy of destruction and the failings of Israel’s leader, whose lone success has been staying in power through pursuing constant war."

 read artucle by

 

 

May 19, 2025

Ultradireita aposta em líderes mulheres para suavizar imagem e normalizar pautas radicais

 

 Ana Luiza Albuquerque

Partidos da direita radical atraem mais o eleitorado masculino do que o feminino, e suas estruturas, em geral, são controladas por homens. Essa foi, pelo menos até o início do século, a leitura predominante entre cientistas políticos.

Nas últimas décadas, porém, surgiram sinais de que o fenômeno não é intrinsecamente masculino, com a grande projeção alcançada por mulheres como a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni e a líder da ultradireita francesa Marine Le Pen.

No Brasil, também ganharam tração no bolsonarismo figuras como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, presidente do PL Mulher, e a senadora Damares Alves (Republicanos-DF).

Michelle vem sendo citada como possível candidata à Presidência em 2026 para representar o clã Bolsonaro, embora ainda haja resistência a seu nome por parte de alguns aliados do ex-presidente.

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A então primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) ao lado da ex-ministra da Mulher, Damares Alves (Republicanos), em evento antiaborto em São Paulo - Zanone Fraissat - 19.out.22/Folhapress

Pesquisadores que se debruçam sobre o tema apontam ao menos três funções estratégicas desempenhadas pelas mulheres da direita radical.

Primeiro, a de aplicar um verniz de moderação, suavizando a imagem do grupo e normalizando pautas mais extremas. Muitas vezes isso se dá por meio de referências conservadoras ao papel de mãe e esposa, ou a Deus, em países onde a religião é muito presente, como a Itália e o Brasil.

O mantra de Meloni, por exemplo, segue esta linha: "Eu sou Giorgia, eu sou uma mulher, eu sou uma mãe, eu sou italiana, eu sou cristã!". Michelle, por sua vez, tem como biografia no Instagram: "Esposa, mãe, voluntária e serva do Senhor". São constantes estas referências pela ex-primeira-dama, que já disse que "a mulher tem que ser ajudadora do esposo".

Estudo publicado em 2019 por Diana Z. O'Brien, professora de ciência política na Universidade Washington em St. Louis (EUA), mostrou que partidos liderados por mulheres são vistos como mais moderados do que os liderados por homens, independentemente do conteúdo programático. O levantamento se baseou em dados de opinião pública sobre 269 legendas em 35 países, de 1976 a 2016.

"As mulheres têm ganhado mais holofotes na extrema direita por uma estratégia de ‘rebranding’, de limpeza de marca", afirma a cientista política Lilian Sendretti, pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). "A extrema direita sempre foi associada mais aos homens, ao uso da violência política, a uma estética e a um discurso mais virulento."

A segunda função abraçada pelas líderes da direita radical é aproximar o partido do eleitorado feminino. Na eleição presidencial de 2022, por exemplo, Michelle foi considerada essencial para tentar diminuir entre as mulheres a rejeição ao marido.

Uma mulher com um chapéu de palha e óculos escuros segura um cartaz com a imagem de uma mulher sorridente. Ela está em meio a uma multidão, com bandeiras ao fundo. A mulher usa uma blusa listrada e pulseiras. O ambiente parece ser de uma manifestação ou evento público.
Uma eleitora segura uma foto da primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, durante campanha para o Parlamento Europeu - Guglielmo Mangiapane - 1.jun.2024/Reuters

A França é um exemplo de país no qual a estratégia parece ter funcionado. Entre as eleições de 2019 e 2024, o partido de Le Pen (RN) ganhou dez pontos entre o eleitorado feminino, crescendo de 20% para 30%, segundo o instituto de pesquisa Ipsos.

No fim de março, Le Pen foi condenada pela Justiça francesa e ficou impedida de concorrer a cargos públicos por cinco anos, mas não perdeu o mandato de deputada.

Em 2012, a cientista política Nonna Mayer já apontava em artigo publicado na revista Parliamentary Affairs que os votos obtidos pela líder francesa, candidata nas eleições presidenciais daquele ano, poderiam sinalizar a erosão do padrão histórico de menor apoio das mulheres aos partidos e candidaturas da direita radical.

Por fim, com a ascensão das mulheres em seus quadros, partidos dessa linha buscam mais legitimidade para falar sobre temas de gênero e colocar em dúvida o comprometimento da esquerda com a pauta feminista.

No ano passado, após uma ex-namorada ter acusado o filho mais novo do presidente Lula (PT), Luís Cláudio, de agressão, Michelle usou o caso para criticar o petista. "Hoje a gente vê quem é o misógino, que usa as mulheres para subir a rampa e depois fecha a porta na cara delas, que promete e não cumpre", disse ela em evento do PL.

A líder da ultradireita francesa, Marine Le Pen - Julien de Rosa/09.jun.2024//AFP

Damares fez o mesmo em publicação no Instagram: "E o silêncio das esquerdistas e feministas permanece, está ensurdecedor. Fosse qualquer pessoa próxima ou que apoia a direita já viram, né?". O inquérito sobre o caso acabou arquivado pela Polícia Civil, que avaliou não haver provas da acusação.

Na Europa, políticas da ultradireita usam a identidade de mulher para movimentar pautas mais amplas defendidas pelo grupo.

Em nome da proteção das mulheres, líderes como Meloni e Le Pen costumam associar homens estrangeiros e/ou muçulmanos a crimes de assédio sexual, reforçando o discurso anti-imigrante de seus partidos. A francesa também encampa a pauta contra o hijab, véu islâmico, a partir da ideia de autonomia feminina.

Essa estratégia foi cunhada pela socióloga Sara Farris, da Universidade Goldsmiths (Reino Unido), como femonacionalismo. "É o termo que introduzi para descrever tanto a exploração de ideias feministas por partidos nacionalistas de direita em campanhas islamofóbicas quanto o endosso de algumas feministas de agendas anti-Islã em nome dos direitos das mulheres", disse ela à revista Salvage.

No Brasil, onde a direita radical não mobiliza um inimigo externo, a função da liderança feminina se apresenta de forma diferente, afirma a socióloga Esther Solano, coautora do livro "Feminismo em Disputa".

"Nós temos um ecossistema religioso muito capilarizado. A extrema direita nessas questões de gênero se enraíza nesse sistema e utiliza temas e valores que têm a ver com os modelos de família [tradicional]", diz ela.

Solano afirma que a extrema direita tem disputado o feminismo, em vez de assumir uma postura totalmente antifeminista. "Ela se coloca como a legítima guardiã dos valores femininos, como aquela que verdadeiramente procura o empoderamento e a emancipação feminina baseada em valores conservadores."

A cientista política Lilian Sendretti observa que partidos mais à direita têm defendido políticas punitivistas no combate à violência contra a mulher. "No caso do PL, que seria o partido mais à extrema direita na sua Executiva Nacional, inclusive há defesa de políticas de armamento para mulheres", diz.

Ela afirma, assim como Solano, que a presença de mais mulheres nessas legendas também se dá a partir da defesa da família tradicional. "Um dos slogans do PL é que cuidar da saúde da mulher é cuidar da nação. A mulher é um corpo de reprodutibilidade da nação."

Solano afirma que a ex-primeira-dama poderia representar uma base feminina evangélica conservadora. Para ela, uma eventual candidatura de uma mulher da direita radical não escapará do seguinte arquétipo: "A mulher empoderada, independente financeiramente, e ao mesmo tempo dona do lar, da família. Uma mulher de fé".

FOLHA

 

 

 

 

May 14, 2025

'Apaga tudo': as conversas de Cid que a PF não mostrou

 

 

"Zera. Apaga todo o teu celular agora! Todas as mensagens que tu tem que não sejam importantes, tu apaga, beleza? Vou apagar as minhas também. Porra, o Alexandre de Moraes agora soltou uma ordem... Ele vai começar uma devassa no celular de todo mundo."

A mensagem acima era inédita até agora. Ela foi enviada ao tenente-coronel Mauro Cid em 3 de janeiro de 2023 pelo coronel do Exército Bernardo Romão Corrêa Netto, um dos denunciados pela PGR (Procuradoria-Geral da República) ao STF, na acusação sobre tentativa de golpe de Estado.

A série de reportagens que o UOL começa a publicar hoje se baseia em mais de 20 mil arquivos extraídos do telefone celular do tenente-coronel Mauro Cid, apreendido pela Polícia Federal em 3 de maio de 2023 —o que culminou na denúncia da PGR.

Com 77 gigabytes, o material analisado pela reportagem inclui 158 mil mensagens de WhatsApp, tanto de texto como de áudio.

Apenas uma pequena parte dessas informações foi usada pela PF e tornada pública, nas conclusões das investigações das vacinas, joias e do golpe.

O restante ainda está sob sigilo e permanecia inédito até hoje.


'Não combinamos de apagar?'

O material apreendido mostra pedidos frequentes para que mensagens fossem apagadas.

O próprio coronel Corrêa Netto, acusado de pressionar o Alto Comando do Exército a ir em frente com o golpe, já havia falado sobre a importância de deletar as conversas em 29/11/2022, horas depois de enviar a Cid um documento com o texto de uma "carta" pressionando o comandante do Exército.

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O UOL entrou em contato com a defesa de Corrêa Netto, que informou que só se manifestaria nos autos.

Cid também apagou mensagens, por exemplo, na conversa com o tenente-coronel do Exército Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros ("Cavalo", nas mensagens), em que lamentavam o fato de o decreto do Estado de Defesa não ter prosperado.

As mensagens abaixo foram enviadas pelo ajudante de ordens logo depois de Cavaliere compartilhar uma troca de WhatsApp, em que dizia que o almirante Garnier, da Marinha, "tinha tanques prontos".

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Trinta minutos depois, Cid diria, sem apagar, que em "64 não precisou de ninguém assinar nada".

De 2 de outubro de 2022, dia da eleição presidencial, até maio de 2023, quando Cid foi preso, o UOL identificou 217 mensagens recebidas pelo tenente-coronel que foram depois deletadas.

Outras 127 mensagens foram enviadas por Cid e depois apagadas.

A conta acima exclui conversas com familiares. É possível que existam outras trocas de mensagens apagadas que não se mantiveram no registro do celular.

Os interlocutores mais frequentes nesse grupo foram Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secom (Secretaria de Comunicação), com 31 mensagens apagadas, e o próprio ex-presidente Bolsonaro, com 19 conteúdos deletados.


As conversas no Signal

Em 13 mensagens, os interlocutores ou o próprio Cid indicam que a conversa deveria prosseguir pelo Signal, aplicativo de mensagens tido como mais seguro que o WhatsApp.

A Polícia Federal não conseguiu extrair o conteúdo das conversas mantidas por Cid no Signal.

O aplicativo ficou conhecido no caso recente em que assessores do governo Donald Trump incluíram um jornalista por engano num grupo criado dentro da plataforma, onde repassavam informações confidenciais.

Entre os interlocutores que pediram para conversar no Signal estava Corrêa Netto, o suplente de senador Aparecido Portela e o general Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil:

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Procurada, a defesa de Braga Netto não respondeu sobre a mensagem citada na reportagem. Ao STF, a defesa negou o envolvimento do general nas articulações golpistas.
Descobertas se concentram nos meses que antecedem a prisão

Preocupado com o avanço das investigações da Polícia Federal, Cid costumava dizer às pessoas próximas que era alvo de perseguição política pela PF e pelo ministro Alexandre de Moraes.

Seu maior receio naquele período era que, diante dessas notícias negativas, o Exército desistisse de nomeá-lo para chefiar o 1º Batalhão de Ações e Comandos, em Goiânia.

Por isso, o tenente-coronel passou a buscar apoio para o cargo, que estava prometido desde o fim do governo Bolsonaro.

Cid já tinha acertado caminhão de mudança e até matriculado as filhas em uma escola em Goiânia, mas viu seus planos afundarem no governo Lula. A nomeação acabou sendo revogada pelo comandante do Exército, Tomás Paiva.

Em 23 de janeiro de 2023, ele mandou uma mensagem ao secretário-geral do Exército, perguntando se deveria suspender a mudança para Goiânia. Cid, então, foi convocado para conversar pessoalmente sobre o assunto.
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Depois, ele diz a interlocutores que foi convencido a aceitar o adiamento da sua nomeação. A promessa era que ele seria nomeado no ano seguinte, depois que as investigações se encerrassem. Cid desabafa que era um sonho de infância.


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Lealdade ao ex-presidente


Nas conversas, Mauro Cid se mantinha leal a Jair Bolsonaro, mesmo quando diversos crimes passaram a ser jogados em sua conta.

Cid nunca fazia críticas ao ex-presidente em conversas com interlocutores —até mesmo em assuntos considerados desastrosos pelos seus aliados, como a demora na compra da vacina contra a covid-19.

Quando, por exemplo, o influenciador Paulo Figueiredo chamou Bolsonaro de "bom e fraco", em uma conversa com Cid, o tenente-coronel atribuiu as falhas à suposta "falta de experiência" de Bolsonaro.


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Apesar dessas demonstrações de lealdade, Cid virou a chave após ter sido preso pela PF, em 3 de maio de 2023.

Sentindo-se abandonado por Bolsonaro, que dizia que Cid havia agido por conta própria em casos como a venda de joias no exterior, o ex-ajudante de ordens decidiu fazer um acordo de delação premiada.

Com o acordo, também blindava seus familiares das investigações em curso.

Cid deixou a prisão em 9 de setembro de 2023, depois de ter a delação homologada pelo ministro Alexandre de Moraes.

Os bastidores de como um militar leal resolveu fazer uma delação premiada contra seu ex-chefe foram contados em detalhes no podcast "Cid: A Sombra de Bolsonaro", do UOL Prime, disponível no site do UOL, no YouTube e nas principais plataformas de podcast.

Ele segue cumprindo medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica e o recolhimento domiciliar noturno, à espera do julgamento do processo do golpe no STF.

A defesa de Mauro Cid afirmou que não vai se manifestar sobre os diálogos porque não teve acesso ao conteúdo integral do seu aparelho celular.

UOL



May 7, 2025

O papa estadista

 

 ALDO FORNAZIERI

 O papa Francisco foi o maior líder
do século XXI, nessas três
primeiras décadas. Se projetarmos
um olhar para a frente, não se
vislumbra no médio prazo alguém que
possa suplantá-lo. Francisco foi o maior
líder político, religioso e moral. Era, de
fato, uma figura multifuncional.


Ele foi o maior líder religioso não porque
era o papa, mas pela forma como
exerceu seu pontificado. No âmbito da
Igreja Católica, despertou os fiéis adormecidos
e os colocou em movimento,
principalmente os mais jovens. Fez sacudir
o mofo e o pó das paróquias, obrigando-
as a se abrirem para os dilemas sociais
e os problemas do mundo.


Francisco foi respeitado e benquisto
por seguidores de outras religiões, dos
muçulmanos aos cristãos ortodoxos. Foi
o papa mais respeitado, admirado e amado
pelos agnósticos e ateus. Seus principais
opositores estavam, paradoxalmente,
dentro de sua própria igreja.


O papa foi o maior líder político não
pela sua condição de chefe do Estado do
Vaticano, mas porque assumiu causas universais
e as espargiu pelo mundo como nenhum
outro chefe de Estado o fez. Barack
Obama, que presidiu os EUA entre 2009
e 2017 é, certamente, o maior líder norte-
-americano deste século. Ele venceu na
onda de grandes esperanças, mas também
terminou seu mandato rodeado por muitas
frustrações, pois as expectativas que projetou
não produziram os frutos que muitos

esperavam em termos de justiça, democracia

igualdade e afirmação de direitos.
Angela Merkel também é, até agora,
a maior líder da Europa neste século.
Ficou à frente do governo alemão de
2005 a 2021. Decidiu encerrar a carreira
política num momento em que gozava
de alta popularidade e com a maioria
significativa de alemães querendo que
ela continuasse no comando do governo.


Mesmo sendo de centro-direita, não
permitiu que o neoliberalismo fizesse
terra arrasada dos direitos na Alemanha.
Xi Jinping é um grande líder global,
mas não busca uma influência simbólica
e moral como a que o papa exerceu. De
Putin, basta dizer que ele foi condenado
por crimes de guerra pelo Tribunal Penal
Internacional. Nem Obama nem Merkel
nem Xi Jinping adquiriram a magnitude
da liderança alcançada por Francisco no
plano político.


Na história, os grandes líderes políticos
projetam sua reputação por três meios
principais: 1. Pelas guerras, conquistas
de libertação ou fundação de Estados. 2.
Pela realização de obras extraordinárias.
3. Pela exemplaridade moral. Para
Maquiavel, os fundadores de religiões ou
de Estados são os heróis que alcançaram
as maiores glórias.


Francisco era jesuíta e, portanto, projetava
a liderança estrategicamente, não
como técnica, mas fundada nos valores
da autoconsciência, da inventividade, do
amor e do heroísmo. Adotou como ponto
de partida o fundamento que caracteriza
a liderança autêntica: ficar ao lado dos
aflitos e assumir suas causas.


Os aflitos do nosso tempo são os pobres,
os famintos, os imigrantes, os deserdados,
os desesperançados, as mulheres,
as crianças, aqueles que são vítimas
de violência e discriminações, os
palestinos, os ucranianos, os africanos,
os latino-americanos que cruzam fronteiras.
Todos querem direitos e os direitos
são o fundamento da igualdade, da liberdade
e da justiça, valores interdependentes
que são a expressão da universalidade.


Mas a luta pelo universalismo precisa enraizar-
se nas causas da aflição dos aflitos.
Por isso, Francisco fundiu Inácio de
Loyola e São Francisco de Assis. Ele buscou
viver nas fronteiras, ampliando suas conquistas
com o amor e o acolhimento. Sua
expansão não visava aniquilar os outros,
apossar-se de riquezas, mas conquistar
mentes e corações e comungar com os diferentes,
com os muçulmanos, com os ortodoxos,
com os hindus, com os agnósticos…


A humildade, a simplicidade, o despojamento
e a frugalidade eram condutas
de um republicanismo laico-religioso do
dever de lutar com abnegação e desprendimento.
Francisco não se colocou acima
dos outros, mas buscou conviver com
eles, ouvindo-os com atenção, mas também
dando seu exemplo de um cristianismo
original e humanizado.


Ele não deixou de interferir nas estruturas
da Igreja Católica. Fez mudanças
profundas na Cúria Romana, desburocratizando-
a, simplificando-a, colocando-
a para servir à evangelização nas
fronteiras e comunidades, e não para satisfazer
o poder papal ou a aristocracia
que comanda o Vaticano.


Francisco reformou o papado sem aniquilar
as estruturas, apenas as colocou para
servir, em vez de serem servidas. Servir
sem arrogância de presunções sacras,
sem as investiduras monárquicas das altas
hierarquias. O alargamento do colégio
de cardeais para várias partes do mundo
tem esse mesmo sentido democratizador
e de expansão das fronteiras para servir.•

CARTA CAPITAL

 

 

May 4, 2025

Duo Siqueira Lima - Primavera Porteña | Astor Piazzolla

TRABALHO INSANO

 

 





O ADOECIMENTO MENTAL DOS
TRABALHADORES BRASILEIROS
ATINGE CONTORNOS EPIDÊMICOS

p o r   FA BÍOL A M ENDONÇA 

Já se tornou de domínio
público a clássica
expressão “o trabalho
dignifica o homem”,
usada pelo sociólogo
Max Weber na obra
A Ética Protestante e
o Espírito do Capitalismo. No início do
século XX, o pensador alemão observou
que a vida laboral não era apenas uma necessidade
para a sobrevivência, mas também
um elemento essencial para a dignificação
humana e para a construção
de uma sociedade mais organizada e racional.


Mais de um século depois, a frase
perdeu o sentido para uma grande massa
de trabalhadores. Em vez de promover
dignidade, o trabalho tem provocado
o adoecimento mental de milhões de assalariados
ao redor do mundo. No Brasil,
em particular, o fenômeno tem ganhado
contornos epidêmicos.


Dados do Ministério da Previdência
Social mostram que o número de concessões
de benefícios por transtornos mentais
e comportamentais mais que dobrou
no País nos últimos dez anos, saltando de
221,7 mil, em 2014, para 472,3 mil, em
2024. As queixas vão de estresse, ansiedade
e depressão – cada vez mais frequentes
na sociedade – a patologias mais
graves, como esquizofrenia, bipolaridade
e dependência química. A realidade é,
porém, ainda mais preocupante do que
os números indicam. Além da histórica
subnotificação de distúrbios mentais
no País, os dados do governo referem-se
apenas aos trabalhadores formais, com
registro em carteira e direitos garantidos,
sem considerar o enorme contingente
de brasileiros jogados na informalidade,
resultado da acentuada precarização
do mundo do trabalho.


Esse quadro de adoecimento coletivo
é reflexo do que estudiosos chamam
de “sociedade do desempenho”. Nela, o
indivíduo é colocado no centro da força
laboral, tornando-se uma espécie
de “carrasco de si próprio”, como define
Tiago Ranieri, procurador do Trabalho
e diretor legislativo da Associação
Nacional dos Procuradores do Trabalho
(ANPT). “O capital, no atual estágio

do neoliberalismo, mercantiliza corpos,
vende a ideia fictícia de que o trabalhador
é empreendedor de si mesmo e cobra
dele uma performance cada vez mais
exigente. Isso traz sérias consequências
para a vida da pessoa, porque o desempenho
exacerbado gera, naturalmente,
o esgotamento”, explica.


Ana Maria, como pediu para ser identificada
nesta reportagem, trabalhou durante
17 anos em um banco privado. Começou
como aprendiz e chegou a gerente-
geral de agência. Cobranças excessivas,
assédios recorrentes por parte
das chefias, perseguições, humilhações
diante de colegas e até de clientes
a empurraram para um processo crescente
de adoecimento físico e mental. Há
dez anos ela é acompanhada por um psiquiatra.
Segundo a ex-bancária, os gestores
da instituição não tinham aptidão
para os cargos que ocupavam, tampouco
maturidade ou habilidades para liderar
pessoas. Foram promovidos por desempenho,
não por capacidade de liderança.


“Eles não sabem lidar com as pressões
que recebem dos seus superiores e
acabam descontando nos subordinados”,
avalia. “Desenvolvi três crises depressivas
por conta do trabalho e depois fui demitida.
Foram muitos anos de sobrecarga,
de jornadas extensas, que contribuíram
para o meu adoecimento mental.”


Nessas quase duas décadas
de banco, Ana Maria
precisou afastar-se algumas
vezes para tratar
a depressão. Ela lembra
que, ao retornar, era recebida com desconfiança
por seus superiores – um gatilho
que agravava ainda mais o seu quadro
clínico. Muitas vezes preferiu continuar
trabalhando doente a adiar o pedido
de licença, com receio de sofrer retaliações.
“Existe muito preconceito quando
o trabalhador se afasta por doença mental.

A empresa acha que ele nunca mais
vai ser engajado, e isso impede, muitas
vezes, que o profissional dê uma pausa
para se tratar de forma adequada. Muitos
colegas que se afastaram por um tempo
maior nunca mais recuperaram a posição
que tinham, foram excluídos”, diz.


“Cheguei a sofrer um assalto dentro da
agência quando já estava tratando a depressão,
o que agravou os sintomas, mas, 

por medo do preconceito e de me sentir
escanteada, continuei trabalhando.”


De acordo com o neuropsiquiatra José
Waldo Câmara, professor do curso de
Medicina da Universidade Católica de
Pernambuco, é comum que trabalhadores
com algum tipo de transtorno mental
sejam estigmatizados no ambiente profissional.


“No começo, muitos preferem
trabalhar doentes, porque temem perder
o emprego. Continuam sofrendo, com
desempenho inferior, mas seguem. Chega
uma hora que não dá mais. Aí começam
a faltar, depois entram com licença
e, quando voltam, vão para a ‘sala de castigo’”,
afirma o médico, referindo-se ao
setor para onde muitos são transferidos
após o retorno. “O profissional assume
uma função insignificante, fica subutilizado
durante o período de estabilidade
previsto em lei, que é de um ano. Passado
esse tempo, acaba sendo demitido.” Segundo
ele, os diagnósticos mais frequen-

tes em seu consultório são de depressão,
ansiedade e transtorno pós-traumático,
geralmente causados por assaltos ou acidentes
de trabalho, além do estresse ocupacional,
ligado à carga excessiva, assédio,
metas inalcançáveis e más condições
de trabalho, fatores que podem desencadear
a Síndrome de Burnout.


Segundo dados do Observatório
de Segurança e Saúde no
Trabalho, entre as ocupações
mais afetadas pelo afastamento
por doenças mentais
relacionadas a acidentes de trabalho, a
profissão de motorista de ônibus urbano
é a mais impactada. Nos últimos 12
anos, mais de 6 mil profissionais foram
afastados de suas funções devido a essa
causa. Também é alarmante o número
de licenças por doenças mentais não acidentárias
entre vendedores do comércio
varejista: 69,4 mil entre 2012 e 2024. A
Norma Regulamentadora nº 1 (NR1), que
exige das empresas a adoção de medidas
para garantir a saúde mental no ambiente
de trabalho e que entraria em vigor em
maio deste ano, foi adiada para 2026. O
governo federal cedeu às pressões dos
empresários e anunciou que a norma
será implementada de forma educativa
e orientativa por um ano, entrando em
vigor de fato em 26 de maio do ano que
vem. Ao informar o adiamento da NR1, o
Ministério do Trabalho anunciou a criação
da Comissão Nacional Tripartite
Temática, formada por representantes
do governo, entidades sindicais e do setor
empresarial, para acompanhar a implementação
da medida.


O sociólogo Ricardo Antunes, professor
da Unicamp e com vasto repertório
de pesquisas sobre o mercado laboral,
identifica a plataformização do trabalho
como um agravante para o adoecimento
dos assalariados. Segundo Antunes,
esse novo modelo invisibiliza o trabalhador,
que, desterritorializado de um
ambiente físico de trabalho, como existia
no passado, se vê cada vez mais isola- 

do. O especialista refere-se, aqui, aos profissionais
que trabalham remotamente,
no home office, aos que foram transformados
em pessoas jurídicas, os chamados
“pejotas”, e ainda àqueles que se entregaram
à lógica dos algoritmos, muitas
vezes como última alternativa de trabalho,
apesar da ilusão de estarem se tornando
“empreendedores”.


“Não é mais o cronômetro
de Taylor que
comanda o tempo
de trabalho, aquele
em que o operário
cumpria sua carga horária na fábrica
e ia embora para casa. Agora, o que
rege o sistema é a meta”, observa o pesquisador,
destacando que, com a mudança,
o capital tem a oferecer à classe
trabalhadora – seja ela masculina, feminina,
branca, negra, LGBT, indíge-
na ou imigrante – um novo paradigma.


“O resultado disso é que, além da perda
de dedos e mãos, o trabalho escravo, e
mortes nas indústrias, temos também o
adoecimento mental. O sistema de metas
passa a ser o objetivo do trabalho. Se
minha meta foi 100 hoje, não posso voltar
para os 80 amanhã, preciso ir para 110. E
isso me adoece, pois me dedico ao limite,
sentindo que estou sempre aquém. Em
algum momento, vou me exaurir. Aos
adoecimentos físicos se somam os psíquicos,
e aí vêm a depressão, a angústia
e, em alguns casos, os suicídios.”


Adriana Marcolino, diretora-técnica
do Dieese, aponta que parte do problema
está ligada à desregulamentação
da legislação trabalhista ocorrida nos
últimos anos, especialmente após a reforma
promovida no governo de Michel
Temer. Ela também destaca a subnotificação
dos casos. “Muitos não procuram
tratamento e, por isso, não são diagnosticados.


Quando chegam ao psiquiatra,
por vezes não se analisa a trajetória ocupacional
daqueles trabalhadores. Nesse
cenário de precarização e de fragilização
dos instrumentos que poderiam conter
esse retrocesso, a saúde do trabalhador
acaba sendo comprometida”, afirma. Não
bastasse, há ainda a insegurança de renda
dos informais. Estes, emenda a socióloga,
precisam submeter-se a longas jor-

nadas de trabalho para garantir uma remuneração
mínima para sobreviver.


Uma pesquisa da ONG Ação da Cidadania
sobre o perfil de entregadores de aplicativo,
divulgada no início de abril, revela
que mais de 40% desses trabalhadores
já sofreram acidentes, mas poucos conseguiram
afastar-se. Isso porque a maioria
(72%) não contribui com a Previdência
Social. Realizado no Rio de Janeiro e em
São Paulo, o levantamento mostra ainda
que mais de 90% têm essa atividade como
principal fonte de renda, e 56,7% trabalham
a semana inteira, com jornadas
superiores a nove horas diárias.


A jornada extenuante é apontada como
um dos principais fatores de adoecimento
dos trabalhadores, mas o debate
sobre a redução da carga horária ou o fim
da escala 6x1 ainda engatinha no Brasil,
a despeito das exitosas experiências internacionais
(leia mais no quadro abaixo).


“Parece que nos transformaram em pe-

ças de uma engrenagem antiquada e enferrujada,
girando em sistemas de consumo
e de relações de poder, sem respeito
aos tempos individuais e coletivos”, observa
o arteterapeuta Cleto Campos. “As
instituições, empresas e toda a sociedade
precisam se repensar, se refazer na direção
do autocuidado. Isso requer abrir-
-se para a vulnerabilidade, para o tempo
precioso do ócio criativo – o tempo para
si e para o outro.”


Aescalada dos casos de doenças
mentais também
tem relação com a pandemia
de Covid–19. Muitas
empresas mantêm o trabalho
remoto, que tem as suas vantagens,
mas também pode representar
um fator adicional de adoecimento em
razão do isolamento social. “O trabalho
é um dispositivo central nas relações
sociais. E, dentro dessa estrutura
capitalista neoliberal, compromete não
só os empregos formais, mas também
atravessa trabalhadores autônomos,
microempreendedores e pejotizados,
os chamados empresários de si mesmos”,
diz Ranieri. “Na sociedade do desempenho,
a disciplina e o controle são exercidos
pelo próprio trabalhador, que precisa
provar que é capaz de produzir e atingir
metas – uma realidade potencializada
pela nova morfologia do mundo do trabalho,
marcada pela digitalização dos empregos,
em que se constrói um sujeito de
direitos com viés individualista e mais
afastado das relações sociais.”


O Tribunal Superior do Trabalho tem
acompanhado de perto o avanço das doenças
mentais entre os trabalhadores e
deve lançar em breve um monitor com estatísticas
sobre o tema. Na avaliação do
ministro Alberto Barros Balazeiro, responsável
pelo Programa Trabalho Seguro
do TST, o empregado precisa de um
ambiente salutar e seguro para desempenhar
bem suas funções – o que inclui
uma jornada digna. “Com menos direitos
e maior precarização, esse trabalhador
está muito mais exposto ao adoecimento
mental. E, se não tiver proteção previdenciária,
vai acabar trabalhando doente.” •

CARTA CAPITAL 


 



Inside Trump’s Rushed Effort to Deport 238 Migrants

 

 


Julie TurkewitzJazmine UlloaIsayen HerreraHamed Aleaziz and

 Nathali Sánchez last heard from her husband on March 14, when he called from a Texas detention center to say he was being deported back to Venezuela. Later that night, he texted her through a government messaging app for detainees.

“I love you,” he wrote, “soon we will be together forever.”

Her husband, Arturo Suárez Trejo, 33, a musician, had been in American custody for a month, calling every few days to assure his family that he was OK, his relatives said. Now, the couple believed they would reunite and he would finally meet his daughter, Nahiara, who had been born during his brief stint as a migrant in the United States.

But less than a day later, Mr. Suárez was shackled, loaded onto a plane and sent to a maximum-security prison in El Salvador, according to an internal government list of detainees obtained by The New York Times. Around the time Mr. Suárez was texting his wife, the Trump administration was quietly invoking the Alien Enemies Act, a sweeping wartime power that allows the government to swiftly deport citizens of an invading nation.

Mr. Suárez and 237 others, the Trump administration argued after the order became public, were all members of a Venezuelan gang called Tren de Aragua, which was “aligned with” the Venezuelan government and was “perpetrating” an invasion of the United States.

ImageA woman holds a picture of her husband, who is shown squatting.
Ms. Sánchez with a photo of her husband, Mr. Suárez.Credit...Cristobal Olivares for The New York Times
Image
Two hands hold a phone with messages in Spanish displayed.
Ms. Sánchez showing the last messages Mr. Suárez sent before she lost contact with him. “I love you with my life,” he wrote.Credit...Cristobal Olivares for The New York Times

It was an extraordinary move: The act has only been invoked three times in American history, experts say — most recently in World War II, when it was used to detain German, Italian and Japanese people.

And in this case, the Venezuelan men were declared “alien enemies” and shipped to a prison with little or no opportunity to contest the allegations against them, according to migrants, their lawyers, court testimony, judges and interviews with dozens of prisoners’ families conducted by The New York Times.

The government’s public declaration of the act was made on March 15 at 3:53 p.m., according to court records. The migrants were all on flights to El Salvador by 7:36 p.m.

Yet most of the men do not have criminal records in the United States or elsewhere in the region, beyond immigration offenses, a New York Times investigation has found. And very few of them appear to have any clear, documented links to the Venezuelan gang.

As they were being expelled, the detainees repeatedly begged officials to explain why they were being deported, and where they were being taken, one of their lawyers told the courts. At no point, the lawyer said, did officers indicate that the men were being sent to El Salvador or that they were removed under the Alien Enemies Act.

The Alien Enemies Act gives the U.S. government broad powers to detain people during times of war, but Supreme Court rulings make clear that detainees have a right to challenge the government, and are entitled to a hearing, before their removal.

Last month, an appeals court judge criticized the lack of due process under the Trump administration. “Nazis got better treatment under the Alien Enemy Act,” said Judge Patricia Millett.

Then, last week, all nine Supreme Court justices said that targeted individuals must be given time to contest their removal before they’re expelled — and demanded that the Trump administration provide that opportunity going forward.

In court, the administration has argued that the men can still challenge their incarceration — but that will be difficult, if not impossible, because they are already in El Salvador, out of reach of the American justice system, with little access to lawyers or even their family members.

“They should stay there for the rest of their lives,” Kristi Noem, the homeland security secretary, said last week.

Then on Monday, President Nayib Bukele of El Salvador forcefully backed the administration during a visit to the White House. He flatly rejected the idea of returning a Maryland man who had been wrongfully deported to El Salvador, despite the Supreme Court’s instructions that the United States take steps to bring back the migrant.

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A woman in a white shirt and wearing a blue cap stands in front of shirtless imprisoned men who are wearing big tattoos.
Kristi Noem, the homeland security secretary, during a tour last month of the prison in El Salvador where deported migrants accused of being gang members are being held.Credit...Pool photo by Alex Brandon
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A woman holding a poster during a demonstration, as others hold signs calling for liberty and justice for detained relatives.
Family members of Venezuelans deported to El Salvador protested in Caracas last month, demanding the release of their loved ones. “Migration is not a crime!” some shouted.Credit...Adriana Loureiro Fernandez for The New York Times

The Trump administration claims that all of the 238 Venezuelan men now imprisoned in El Salvador are members of Tren de Aragua, a transnational gang born in Venezuela. Their expulsion, the administration argues, is part of its plan to deport the worst migrant offenders.

Officials say they used criminal records, social media, surveillance data, interviews with migrants and other information, like tattoos, to make their accusations.

But a Times investigation found little evidence of any criminal background — or any association with the gang — for most of the men. In fact, the prosecutors, law enforcement officials, court documents and media reports that The Times uncovered or spoke to in multiple countries suggested that only a few of the detainees might have had any connection to Tren de Aragua.

Seeking to provide a fuller picture of who was imprisoned, a team of Times reporters and researchers ran the 238 names through three U.S. public records databases, checked backgrounds in Venezuela, Colombia, Peru, Ecuador and Chile, scoured court documents and news articles, spoke to dozens of family members and interviewed experts on Tren de Aragua.

The findings are not comprehensive — there is no global public database to search for every accusation, and the U.S. government did not share its evidence against the detainees. But The Times’s investigation provides a snapshot of who the United States sent to El Salvador.

Some of the prisoners do appear to have committed grave crimes. At least 32 of the men sent to El Salvador have faced serious criminal accusations or convictions in the United States or abroad, including a man accused of participating in an assault in Chicago, another convicted of trying to smuggle arms out of the United States and others accused of theft, strangulation, domestic battery or harboring undocumented immigrants.

One has a homicide conviction in Venezuela, according to court documents. Another man was accused in Chile of kidnapping, drugging and raping a woman during a four-day rage.

Chilean prosecutors also believe the man is a member of Tren de Aragua, according to court documents. Investigators say they found his name and messages in the phones of other gang members.

Beyond that, The Times found that another two dozen of the men locked up in El Salvador had been accused or found guilty of lower-level offenses in the United States or elsewhere, including trespassing, speeding in a school zone and driving an improperly registered vehicle.

But for the others, including Mr. Suárez, the musician, The Times found no evidence of a criminal background, beyond offenses related to being unauthorized migrants. Mr. Suárez’s family presented official certificates from Venezuela, Colombia and Chile — where he lived in the past — saying he had no convictions in those nations.

All 238 men will spend at least a year in El Salvador’s Terrorism Confinement Center, a sprawling complex of concrete and barbed wire built by President Nayib Bukele, who has called himself “a dictator” and promoted the prison as a holding pen for his country’s worst criminals.

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A sprawling complex of long rectangular gray buildings is surrounded by fields and mountains.
The Terrorism Confinement Center in Tecoluca, El Salvador.Credit...Salvador Melendez/Associated Press
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Soldiers stand guard outside a prison along a tall concrete wall with barbed wire at the top.
Guards outside the prison where the migrants are being held.Credit...Pool photo by Alex Brandon

The United States is paying the government of El Salvador to incarcerate the Venezuelan prisoners. On X, the Salvadoran leader called the yearlong sentence “renewable.”

The U.S. government’s use of the alien act is now the subject of an intense court battle between the administration and civil rights groups, including the American Civil Liberties Union, whose lawyers say the government has not met the standard to invoke the measure: a war with or invasion by Venezuela.

The groups also argue the government has violated the migrants’ rights to contest the accusation that they are members of Tren de Aragua and therefore “alien enemies.”

In court, the government has said that it has broad powers to determine what constitutes a war or invasion, as well as to decide who is a member of the gang, which the administration recently designated a foreign terrorist organization.

This week, the Supreme Court said the Trump administration could continue deporting people using the Alien Enemies Act while the legal fight plays out in the courts — as long as detainees have a chance to challenge their expulsions.

In a related case, the Supreme Court this month also ordered the Trump administration to take steps to return the Maryland man, Kilmar Armando Abrego Garcia, whom the government conceded it had sent to El Salvador in error.

In that case, a judge found that the government had decided Mr. Abrego Garcia was a member of another notorious gang, MS-13, on the basis of flimsy evidence.

As for the prisoners accused of belonging to Tren de Aragua, a spokeswoman for the Department of Homeland Security, Tricia McLaughlin, said that all the men sent to El Salvador are “actually terrorists, human rights abusers, gangsters and more; they just don’t have a rap sheet in the U.S.”

“We are confident in our law enforcement’s intelligence,” she added. “We have a stringent law enforcement assessment in place that abides by due process.”

The raids targeting Venezuelan migrants began just after Mr. Trump took office.

Officials from Immigration and Customs Enforcement seized Neri Alvarado, 25, a former psychology student, in a parking lot as he headed to work at a Dallas bakery, said his sister and his boss. Authorities picked up Francisco García Casique, 24, a barber, at his home in Austin, Texas, his family said. They grabbed Gustavo Aguilera Agüero, 27, an Uber driver, while he was working on his car in a driveway outside Dallas, according to his mother.

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A woman in dark pink outfit stands in a dark room near a television.
Izaida Alvarado in the room she used to share with her brother, Neri Alvarado, in Yaritagua, Venezuela.Credit...Adriana Loureiro Fernandez for The New York Times
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A sad-looking woman sits on a bed looking toward a window.
Neri Alvarado’s mother, Yelitza Borges, at home in Yaritagua, Venezuela.Credit...Adriana Loureiro Fernandez for The New York Times

Mr. Suárez, the musician, came from a once middle-class family in Venezuela, the second oldest of seven siblings. His mother was an educator, his father a bricklayer. In 2014, he joined mass protests against the country’s authoritarian government, said his older brother, Nelson Suárez, 35, who now lives in the United States.

But when the country’s autocratic leader, Nicolás Maduro, tightened his grip and the Venezuelan economy spiraled into crisis, leaving millions hungry, the younger Mr. Suárez left for Colombia, then Chile.

“Many times we had to run for our lives,” said the older Mr. Suárez, “until we decided to leave.”

In Chile, the younger Mr. Suárez installed refrigerators and began building a following as a singer, mixing rap, hip-hop and reggaeton.

“There’s no sin here; there’s no sentence,” he sang in one song, about a woman who works the streets to escape poverty.

He met his wife, Ms. Sánchez, at a music event.

In the United States, Mr. Suárez believed he could advance his music career, said his brother, and make money to send back to his growing family.

He entered the United States on Sept. 3 using a Biden-era application that allowed people to present themselves at the border and ask for entry, according to documents reviewed by The Times. Officials allowed him in with an order to appear in court on March 6, where he would have the opportunity to fight removal.

In North Carolina, he worked in landscaping, said his brother Nelson.

On Dec. 2, his daughter was born in Chile.

On Jan. 20, Mr. Trump became president.

On Feb. 8, Mr. Suárez arrived at a house in Raleigh to record a music video. But U.S. immigration agents showed up and hauled him away, according to the brother.

Soon, Mr. Suárez was in detention in Georgia, where he told his brother that an official had done a background check and reviewed his YouTube channel. Mr. Suárez told his brother that officials didn’t seem to believe he was guilty of anything more than being a migrant.

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Protesters, including a young girl, hold up signs in Spanish seeking freedom for a detained migrant who is pictured.
Relatives of Mr. Suárez protesting his deportation to El Salvador in Caracas, Venezuela. Credit...Adriana Loureiro Fernandez for The New York Times
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A woman, her legs crossed, sits in front of a mural picturing a detained immigrant.
Paola Paiva-Trejo in front of a mural honoring some of the Venezuelans deported to El Salvador, including her brother, Arturo Suárez.Credit...Adriana Loureiro Fernandez for The New York Times

“If this had been another moment, they would have let him go,” the brother said Mr. Suárez told him. “But since we are in this madness he was going to stay in the hands of ICE”

In dozens of interviews, family members said that once the men were detained, U.S. officials focused on their tattoos.

Mr. García, the barber, had the word “peace” written on his neck, accompanied by a crown, and had the names of his mother, grandmother and sisters on his body, said his family.

Mr. Aguilera, the Uber driver, had the name of his oldest son, Santiago, also accompanied by a crown, a star, a skull with flowers and the infinity symbol, according to his mother.

Mr. Alvarado, the former psychology student, had come to the United States to earn money to help his younger brother, who has autism, other disabilities and health problems, his family said.

Before leaving, Mr. Alvarado had inked on his leg a rainbow ribbon associated with autism awareness. His sister said it went with Mr. Alvarado’s other tattoos, which read: “brothers,” “family” and “self love.”

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A tattoo is seen on a man’s arm.
Mr. Alvarado arrived in the United States with an autism awareness tattoo, which his family believes was used to tag him as a member of Tren de Aragua.
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A boy sits on a bed, looking at his phone.
Mr. Alvarado’s little brother, Neryelson, in Venezuela.Credit...Adriana Loureiro Fernandez for The New York Times

In an interview, Mr. Trump’s border czar, Tom Homan, said tattoos were just one factor used to determine if an individual was a member of Tren de Aragua.

“I don’t say it’s a major factor,” he said, “it’s one of many.”

But an internal government document made public in court filings indicates how much weight is given to tattoos.

The document, called the “Alien Enemy Validation Guide,” instructs immigration officials to use a point system to identify members of Tren de Aragua. Eight points makes someone a “validated” member of the group. Having tattoos associated with the gang is worth four points.

Wearing clothing associated with the gang is worth another four.

A second government document indicates that the administration considers a crown tattoo — much like the one worn by soccer star Lionel Messi — and the “Jump Man” symbol, popularized by Michael Jordan, to be Tren de Aragua symbols.

Clothing associated with the gang includes “high-end urban street wear.”

In interviews, five Venezuelan experts on Tren de Aragua — two police officials, two scholars and a journalist — told The Times that while some transnational gangs use tattoos as indicators of membership, the Venezuelan group did not.

“In the case of the Tren de Aragua,” said Luis Izquiel, a professor of criminology at Venezuela’s Central University, “there is no common pattern of similar tattoos among its members.”

While many Tren de Aragua members have tattoos, experts said, so do many young Venezuelan men.

Of the 30 men whose family members or lawyers spoke to the Times, at least 27 have tattoos.

Mr. Suárez has 33, said his family, reflecting his urban music aesthetic. They include one of his signature phrases, they said: “The future is bright.”

The Trump administration began to move dozens of detained Venezuelan men to facilities in Texas roughly two weeks before invoking the Alien Enemies Act.

On March 14 and 15, the men called their families to say that Americans officials had told them they were being deported back to Venezuela, according to dozens of interviews.

In Aragua state, in Venezuela, Mirelis Casique, the mother of Mr. García, the barber, rushed to fix up his room, applying new paint and hanging new curtains.

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A sad-looking woman standing by a window looks down at the floor.
Mirelis Casique, the mother of Mr. García, in the room that was to be his upon his return to Venezuela. “I would put my hands in fire for my son, I know he’s not a criminal,” she said.Credit...Adriana Loureiro Fernandez for The New York Times
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The hands of a woman hold a cellphone picture of her son, who is seen smiling in. the photo and wearing sunglasses.
Ms. Casique with a photo of Mr. García.Credit...Adriana Loureiro Fernandez for The New York Times

But by March 16, the wife of Mr. Suárez, the musician, had still not heard from him.

Her anxiety rising, she turned to Google.

“Deportation to Venezuela,” she typed into the search box.

By now, three flights carrying the 238 men had arrived in El Salvador, despite a judge’s order that the Trump administration turn them around.

That morning, Mr. Bukele had posted a video showing the new prisoners shackled and gripped by guards in riot gear being led into the prison.

“We removed terrorists,” Mr. Homan, the U.S. border czar, said from Washington. “That should be a celebration in this country.”

Online, Mr. Suárez’s wife pulled up an image of a sea of shaved, cuffed men in Salvadoran prison. She recognized one: It was her husband.

Holding her newborn, she sat down and cried.

Later, she logged in to an online ICE search page that had allowed her to track her husband’s whereabouts in the United States.

Mr. Suárez had suddenly disappeared from the system.

Never before, legal analysts say, has the Alien Enemies Act been used with such little due process.

During World War II, the Department of Justice established civilian hearing boards in which “registered aliens” of German, Italian and Japanese descent arrested by the government could argue they were not a danger to the nation, legal scholars said.

Many scholars have criticized that process as deeply flawed; detainees were not afforded lawyers and could still be held based on hearsay and bias or racial discrimination.

But Eric L. Muller, a professor at the University of North Carolina School of Law, said they nevertheless provided “a check” on the government, adding that the majority of people who obtained a hearing under the civilian boards were released.

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A woman in a dark room holds a baby above her.
Ms. Sánchez with her daughter, Nahiara, in Santiago. “This is no longer a dream,” Mr. Sánchez’s brother, Nelson, said of the musician’s incarceration. “I feel that am living the American nightmare.”Credit...Cristobal Olivares for The New York Times
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A woman holds a sign picturing two detained migrants and calling in Spanish for their liberty.
Yuransi Gonzalez during a protest against the deportation of Venezuelans to El Salvador. Her son Anyelo Sarabia, 19, is among those imprisoned in the terrorism center. Credit...Adriana Loureiro Fernandez for The New York Times

In Venezuela, families have gathered for marches calling for the release of loved ones. Many have tried contacting American and Salvadoran officials, but say their messages have gone unanswered.

The governments of Mr. Trump and Mr. Bukele have refused to release a list of the men confined in the terrorism center or to confirm to families who is there.

For this article, The Times obtained an internal government list of names. CBS News previously reported the names.

The White House has said that 137 of the men were deported under the Alien Enemies Act, while 101 others were expelled under normal immigration proceedings. All are accused of being gang members, and all are in prison in El Salvador.

In recent weeks, Venezuela’s autocratic leader has accused the Trump administration of engaging in a violation with a long grim history in Latin America: a large-scale “forced disappearance.”

The United Nations defines the practice as the deprivation of liberty “followed by a refusal to disclose the fate or whereabouts of the persons concerned.”

In a rare moment of agreement, Human Rights Watch has come to the same conclusion as the Venezuelan leader.

Mr. Suárez’s brother says his biggest fear is that “tomorrow I get my brother back — in a wooden box.”

An uncle of Mr. Suárez’s, Edgar Trejo, said the family had been struggling not only to understand how the musician ended up in a faraway prison, but also the turn of events in “a country as organized and as just” as the United States.

Once upon a time, said Mr. Trejo, a pastor in Caracas, he believed that the United States was “God’s policeman on earth.”

In Caracas, the family had become accustomed to people being carted away with no trial.

Now, he said, “what we have seen here,” in Venezuela “we are also seeing there.”

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Protesters, three of whom appear to be crying, hold signs while kneeling at a protest.
In Caracas, women protest the deportations to El Salvador. On sign reads: “Freedom for our kidnapped sons.”Credit...Adriana Loureiro Fernandez for The New York Times