August 12, 2018

50 tons de maluco





MARCELO RUBENS PAIVA

O primeiro debate presidencial 2018, transmitido ontem, 9 de agosto, pela Band, parecia papo de maluco.
Cabo Daciolo (Patriota) foi apresentado à Nação. O candidato nanico, que terá oito segundos na propaganda eleitoral, falava como se desse instruções à tropa. Dados do Google Trends indicam que o deputado fluminense foi o participante que mais cresceu nas buscas na internet.
Daciolo lembra aqueles zaps de fake news, com teorias da conspiração apocalípticas.
Pediu ajuda a Jesus para combater o comunismo, confundiu Ciro Gomes como fundador do Fórum de São Paulo, atrapalhou-se quando foi acusado de liderar greves ilegais (dos Bombeiros).
O jornalista Fernando Rodrigues tuitou: “Cabo Daciolo é, de longe, a melhor diversão do #DebateBand. Ele pergunta e acaba o tédio #semnoção.”
O mais paradoxal é que o candidato religioso foi do PSOL e expulso em 2015 não pelo discurso delirante, paranoico, greves e agitações que tumultuaram o Rio de Janeiro, mas por propôr mudar a Constituição de “todo poder emana do povo” para “todo poder emana de Deus”. PSOL é laico.
Álvaro Dias (Podemos) surpreendeu a fazer uma dobradinha com seu concorrente, Jair Bolsonaro, com quem disputa votos no Sul, e ao anunciar que chamará Sérgio Moro para ser ministro da Justiça.
Dias foi sem gravata, vestido como o juiz de Curitiba: camisa preta sob terno preto.
Geraldo Alckmin (PSDB), mais tarimbado, veterano em eleição presidencial, falava pausadamente, com o plural e os pronomes bem colocados, como um professor da Unesp.
Por vezes, parecia palestrar para empresários do mercado: usava termos como “spread” e “player”, desconhecidos pela maioria do eleitor.
Defendia suas propostas de governo, sem se tocar de que é governo há décadas, e a aliança com “Blocão”, costurada por partidos sem identificação ideológica, mas fisiológica.
As propostas de Jair Bolsonaro lembram a redação de um estudante do Ensino Fundamental buscando soluções para os problemas brasileiros.
Para combater a violência, propõe armar a população. Para combater a violência contra mulheres, propõe castração química voluntária. O problema da educação é resolvido com disciplina e escolas militares. A deficitária infraestrutura para logística brasileira será resolvida se acabar a “corrupição” do setor.
Cabo Daciolo e Jair Bolsonaro focaram na “corrupição”. Deve ser um costume militar acrescentar letra onde não tem.
Bolsonaro arrancou aplausos da plateia, quando olhou para a câmera e disse: “Você sabe o nome do ministro da Educação? E da Saúde?”
Defendia a tese da falta de meritocracia nos governos atuais.
Mas, espera lá. Não é ele quem vai chamar apenas militares para o ministério?
Meirelles (MDB) fala como milionário, seu tom de voz é de um milionário, e como um milionário se irritava e reclamava da desinformação dos candidatos.
Não falou como representante do Governo Temer. Ao contrário, fez questão de lembrar que foi ministro de Lula, procurando colar na imagem do ausente líder das pesquisas.
Marina Silva (Rede) colocava-se na posição de vítima e de que não tem nada a ver com o cenário atual. Alguém deveria lembrar-lhe de que defendeu o impeachment.
Falou em lobo mau e fugiu da resposta sobre descriminalização do aborto, ao dizer que faria um plebiscito. Ela é contra, e não declarou seu voto.
O melhor da noite ficou com Boulos (PSOL).
Começou mal, atacando Bolsonaro, que na réplica reclamou que estava ali para falar de propostas de governo.
Mas finalizou com o melhor da noite: “Aqui tem 50 tons de Temer. Até quem está propondo o novo, estava ano passado aprovando tudo do Temer”.
Daciolo continuou delirante. O grande problema da população não é o desemprego, educação, saúde, violência, desigualdade social, falta de moradia e saneamento. “O grande problema da população é falta de amor”, declarou confuso.
O que levou Ciro Gomes a falar das delícias da democracia.
O candidato do PDT foi isolado propositalmente. Poucos o perguntavam.
O @sensacionalista postou: “Ciro fica dois segundos sem falar pela primeira vez na vida.”
Conseguiu irritar Bolsonaro, ao lembrar do polêmico apoio do deputado, que defendia liberar a pílula de combate ao câncer sem aval da Anvisa.
Foi a única demonstração do descontrole do candidato de pavio curto do PSL.
Restou o choro do PT, ausente no debate.
Mas o que pretendia o partido ao lançar um candidato na prisão?
Estará, sim, ausente nos debates, nos programa de televisão, como Roda Viva e as entrevistas da Globo News.

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