July 17, 2017

Temer, o triunfo da manobra



Zuenir Ventura, O Globo

Pior do que a vitória em si, foi a sua comemoração, se fosse o caso de separar as duas coisas.
Temer poderia ter permanecido discreto, recebendo com humildade o resultado, mas, não, preferiu afrontar a opinião pública elogiando o triunfo de uma manobra que garantiu a rejeição do relatório que o acusava na Comissão de Constituição e Justiça, da Câmara.

Ao conseguir a substituição de 13 titulares da comissão pelos que votaram a seu favor, ele obteve o escore de 40 a 25. Celebrar essa operação troca-troca como “vitória da democracia e do Direito”, classificando-a como “coragem cívica dos aliados”, é optar definitivamente pela chamada “razão cínica”, aquele comportamento que mistura no mesmo pacote mentira, hipocrisia e, sobretudo, cinismo.

Escrúpulos éticos à parte, pode ter sido um feito politicamente esperto. Mas para quê, se não vai permitir que ele, chefe da Nação, possa ir a um teatro, a um jogo de futebol ou a um restaurante, sem ouvir aquele grito que o perseguiu até na Noruega, o “Fora Temer”?

Ele já demonstrou preocupação com a posteridade, falando com otimismo das supostas realizações e legado de seu governo.

Lembrei aqui outro dia que o melhor seria inspirar-se no exemplo de Itamar Franco, também ex-vice, que implantou o mais bem-sucedido plano econômico da Nova República. O “presidente do Real” saiu com tanta popularidade do governo (40% de aprovação) que ajudou a eleger um ex-ministro, Fernando Henrique Cardoso.

Já Michel Temer é um dos presidentes brasileiros mais rejeitados da História. Investigado por organização criminosa e obstrução à Justiça, está a caminho de um melancólico fim de governo, em que corre o risco de ser recordado não pelo que gostaria, mas por ter sido o primeiro presidente brasileiro a ser denunciado ao Supremo Tribunal Federal por corrupção passiva no exercício de mandato.


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