Em transição, cartunista da Folha é tema de mostra com desenhos, esboços e charges
Gabo Morales/Folhapress |
Autorretrato de Angeli, em cartaz na mostra |
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A tira só tem um quadrinho. É o desenho de uma cobra com rosto de homem, em pleno processo de troca de couro. Não há balõezinhos nem palavras.
Essa tirinha hipotética bem poderia fazer parte da série "Angeli em Crise", do cartunista da Folha. Afinal, é assim que Angeli, 55, tem se sentido nos últimos três anos: trocando de pele aos olhos dos leitores. Diariamente.
"Tudo o que eu andava fazendo tinha virado uma fórmula. Senti que estava começando a colocar o pé na cova", afirmou o artista em entrevista por telefone.
"Resolvi mudar. Abandonei personagens e fiquei sem nada. Entrei numa crise real, não só na brincadeira do personagem Angeli em Crise."
É nesse momento de transição que o criador (e destruidor) dos anti-heróis mais ácidos dos quadrinhos brasileiros, como Rê Bordosa e Bob Cuspe, ganha a "Ocupação Angeli", em cartaz no Itaú Cultural a partir desta sexta.
Com curadoria da arquiteta e designer Carolina Guaycuru, 35, a mostra conta com mais de 800 obras. Entre elas, 80 são originais.
"Claro que os personagens e as charges políticas estão ali, mas buscamos outro lado, de esboços e desenhos mais gráficos", afirma a curadora, que é companheira de Angeli há mais de 15 anos.
O mote da ocupação é uma estilização do estúdio de criação, onde o cartunista passa 20 horas por dia debruçado sobre a prancheta. Esta, assim como as mapotecas, também faz parte da cenografia da arquiteta Patrícia Rabbat.
Mesmo sem ter um foco retrospectivo, a mostra terá obras do início da carreira de Angeli, que começou aos 14 anos. Um exemplo é o Feijãozinho, sua primeira publicação na Folha, em 1973. "Ele foi inspirado nos personagens do Ziraldo, era um garoto do bem, coisa que não faria hoje", conta ele.
CARTUM 'DO BEM'
Personagens "do bem" nunca fizeram companhia para figuras como a dupla revolucionária Meiaoito e Nanico, o porco chauvinista Bibelô e o guru mulherengo Rhalah Rikota, entre outros tantos desajustados que ganharam fama na revista "Chiclete com Banana", um marco da história dos quadrinhos nos anos 1980. Todas as capas estarão na exposição.
E preparem-se fãs: Angeli e Laerte estão planejando lançar uma nova revista.
Antes ainda dos personagens, Angeli publicava charges políticas desde 1975. "A política brasileira é quase uma ópera bufa. Minha posição é sempre ser duro."
Em suas tiras, que saem todos os dias nesta "Ilustrada", ele passou a usar menos texto e a valorizar mais o desenho. "Às vezes, alguém fala que não entendeu a tira, mas é porque espera algo que eu não faço mais."
Nem mesmo ele sabe como e quando vai terminar essa crise, mas de uma coisa Angeli está seguro: "Busco um humor mais porrada".
RHALAH RIKOTA (desaparecido desde 2006)
Terá o guru mulherengo alcançado o nirvana em algum sex shop?
BIBELÔ (desaparecido desde 2002)
Será que o machão vaga pelos escombros do Bar Riviera?
WOOD E STOCK (desaparecidos desde 2006)
Terão os dois hippies embarcado numa "trip" de LSD sem volta?
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