Enquanto Elon Musk se tornava um dos aliados mais próximos de Donald Trump no ano passado, liderando comícios agitados e doando cerca de US$ 275 milhões (mais de R$ 1,5 bilhão) para ajudá-lo a ganhar a Presidência dos Estados Unidos, ele também passava a usar drogas de forma muito mais intensa do que se sabia anteriormente, segundo pessoas familiarizadas com sua vida pessoal.
O consumo de drogas do bilionário foi muito além do uso ocasional. Ele disse a pessoas que estava tomando tanta cetamina, um anestésico potente, que estava afetando sua bexiga, um efeito conhecido do uso crônico. Ele também tomava Ecstasy e cogumelos psicodélicos, além de viajar com uma caixa de medicação diária que continha cerca de 20 pílulas, incluindo algumas com as marcações do estimulante Adderall, de acordo com uma foto da caixa e pessoas que a viram.
Não está claro se Musk, 53, estava usando drogas quando se tornou presença constante na Casa Branca este ano e recebeu o poder de reduzir a burocracia federal. Mas ele tem exibido um comportamento errático, insultando membros do Gabinete, fazendo gestos nazistas e confundindo suas respostas em uma entrevista.
Ao mesmo tempo, a vida familiar de Musk se tornou cada vez mais tumultuada enquanto ele organizava relacionamentos românticos sobrepostos e lidava com batalhas legais privadas envolvendo seu crescente número de filhos, segundo documentos e entrevistas.
Na última quarta-feira (28), o empresário anunciou que estava encerrando sua passagem pelo governo após lamentar quanto tempo havia dedicado à política no lugar de seus negócios.
Musk e seu advogado não responderam aos pedidos de comentários desta semana sobre seu uso de drogas e vida pessoal. Anteriormente, porém, ele disse ter recebido a prescrição de tomar cetamina a cada duas semanas, aproximadamente, para sua depressão. E disse ao seu biógrafo: "Eu realmente não gosto de usar drogas ilegais".
A Casa Branca não respondeu se havia pedido a Musk para fazer testes de drogas. Como grande contratante do governo, a empresa aeroespacial do bilionário, a SpaceX, deve garantir que sua força de trabalho não use drogas, e por isso administra testes aleatórios em seus funcionários. Musk, no entanto, recebeu avisos antecipados dos testes, segundo pessoas próximas ao processo. A companhia não respondeu a perguntas sobre esses avisos.
Após a publicação da reportagem, porém, o vice-chefe de gabinete da Casa Branca, Stephen Miller, foi questionado sobre o assunto, mas se esquivou da pergunta. Ele disse a jornalistas que as drogas com as quais estão preocupados são "as que atravessam a fronteira sul", ou seja, com o México.
O bilionário, que se juntou ao círculo íntimo do presidente depois de fazer uma vasta fortuna com carros, satélites e foguetes, há muito é conhecido por declarações grandiosas e uma personalidade instável. Apoiadores o veem como um gênio excêntrico cujo estilo de gestão agressivo é fundamental para seu sucesso.
Mas, no ano passado, quando ele entrou na arena política, algumas pessoas que o conheciam se preocuparam com o uso frequente de drogas, as oscilações de humor e a fixação em ter mais filhos. Este relato de seu comportamento é baseado em mensagens privadas obtidas pelo jornal americano The New York Times, bem como em entrevistas com mais de uma dúzia de pessoas que o conheceram ou trabalharam com ele.
Este ano, alguns amigos de longa data do bilionário o criticaram, apontando para sua conduta pública. "Elon tem ultrapassado cada vez mais os limites de seu mau comportamento", disse Philip Low, um neurocientista que o criticou por seu gesto nazista em um comício.
Além disso, algumas mulheres estão desafiando Musk pelo controle de seus filhos. Uma de suas ex-parceiras, Claire Boucher, a musicista conhecida como Grimes, tem lutado com Musk por causa de seu filho de 5 anos, conhecido como X. Musk é extremamente apegado ao menino e até já o levou ao Salão Oval, na Casa Branca, e a reuniões de alto perfil que são transmitidas ao redor do mundo.
Claire reclama em particular que as aparições violam um acordo de custódia no qual ela e o bilionário concordaram em tentar manter seus filhos longe dos olhos do público, segundo pessoas familiarizadas com a questão. Ela costuma dizer que se preocupa com a segurança do menino, e que viagens frequentes e privação de sono estão prejudicando sua saúde.
Outra mulher, a escritora de tendência conservadora Ashley St. Clair, revelou em fevereiro que teve um relacionamento secreto com Musk e deu à luz seu 14º filho conhecido. Musk ofereceu a ela um grande acordo para manter sua paternidade oculta, mas ela recusou. Ele ainda buscou uma ordem de silêncio em Nova York para forçar Ashley a parar de falar publicamente, disse a escritora em uma entrevista.
Um hábito de cetamina
Musk já descreveu alguns de seus problemas de saúde mental em entrevistas e redes sociais, dizendo em uma publicação que sentiu "grandes altos, baixos terríveis e estresse implacável". Ele também criticou a terapia tradicional e os antidepressivos.
O empresário joga videogames por horas a fio, luta contra a compulsão alimentar, segundo pessoas familiarizadas com seus hábitos, toma medicamentos para perda de peso e posta dia e noite em sua rede social, o X. No ano passado, o The Wall Street Journal relatou que Musk tem um histórico de uso recreativo de drogas.
Alguns membros do conselho da Tesla, sua empresa de veículos elétricos, se preocuparam com seu uso de drogas, incluindo Ambien, um medicamento para dormir.
Em uma entrevista em março de 2024, o jornalista Don Lemon o pressionou sobre o assunto. Musk disse que tomava apenas "uma pequena quantidade" de cetamina, cerca de uma vez a cada duas semanas, como tratamento prescrito para humores negativos.
"Se você usa cetamina demais, não consegue realmente trabalhar, e eu tenho muito trabalho", disse ele. Na verdade, ele havia desenvolvido um hábito muito mais sério, conforme descobriu o The New York Times.
Musk estava usando cetamina com frequência, às vezes diariamente, e misturando-a com outras drogas, segundo pessoas familiarizadas com seu consumo. A linha entre uso médico e recreativo era tênue, preocupando algumas pessoas próximas a ele. O bilionário também tomou Ecstasy e cogumelos psicodélicos em reuniões privadas nos EUA e em pelo menos outro país, segundo pessoas que participaram desses eventos.
A FDA, agência que regulamenta e fiscaliza alimentos e remédios nos EUA, aprovou formalmente o uso de cetamina apenas como anestésico em procedimentos médicos. Médicos com licença especial podem prescrevê-la para transtornos psiquiátricos como depressão, mas o órgão alertou sobre seus riscos, que ficaram em evidência após a morte do ator americano Matthew Perry. A droga tem propriedades psicodélicas e pode causar dissociação da realidade, e seu uso crônico pode levar ao vício e a problemas de dor e controle da bexiga.
No ano passado, Musk intensificou as críticas ao então presidente americano, o democrata Joe Biden, particularmente suas políticas sobre imigração ilegal e iniciativas de diversidade. Mas o bilionário também enfrentava investigações federais sobre seus negócios —reguladores estavam apurando acidentes com carros autônomos da Tesla e alegações de racismo em suas fábricas, entre outras queixas.
"Existem pelo menos meia dúzia de iniciativas significativas para me derrubar", escreveu ele em uma mensagem de texto para uma pessoa próxima em maio passado. "O governo Biden me vê como a ameaça nº 2 depois de Trump", afirmou. "Eu não posso ser presidente, mas posso ajudar Trump a derrotar Biden, e vou ajudar", acrescentou.
Ele endossou publicamente Trump em julho.
Por volta dessa época, Musk disse a pessoas próximas que seu uso de cetamina estava causando problemas na bexiga, segundo pessoas familiarizadas com as conversas.
Em 5 de outubro, ele apareceu com o republicano em um comício pela primeira vez, pulando ao redor do candidato. Naquela noite, Musk compartilhou seu entusiasmo com uma pessoa próxima a ele. "Estou me sentindo mais otimista depois de hoje à noite", escreveu em uma mensagem de texto. "Amanhã vamos liberar uma anomalia na matrix."
"Isso não é algo no tabuleiro de xadrez, então eles ficarão bastante surpresos", acrescentou cerca de uma hora depois. "'Lasers' do espaço."
Depois que Trump venceu, Musk alugou uma casa em Mar-a-Lago, o resort do presidente eleito na Flórida, para ajudar na transição. O empresário participou de reuniões e telefonemas com líderes estrangeiros e elaborou planos para reformular o governo federal sob o novo Departamento de Eficiência Governamental, o Doge.
Segredos familiares
Musk também tem administrado as consequências confusas de seus esforços para ter mais filhos.
Até 2022, o empresário, que se casou e divorciou três vezes, havia gerado seis filhos em seu primeiro casamento (incluindo um que morreu na infância), além de dois com Boucher, que disse a pessoas próximas que acreditava estar em um relacionamento monogâmico e construindo uma família.
Mas enquanto uma barriga de aluguel estava grávida de seu terceiro filho, Boucher ficou furiosa ao descobrir que Musk havia recentemente tido gêmeos com Shivon Zilis, uma executiva de sua empresa de implantes cerebrais, a Neuralink, segundo pessoas familiarizadas com a situação.
A essa altura, temeroso de que as taxas de natalidade em declínio no mundo levassem ao fim da civilização, o bilionário encorajava publicamente as pessoas a terem filhos e doava US$ 10 milhões para uma iniciativa de pesquisa sobre crescimento populacional.
Ele também estava passando tempo com Simone e Malcolm Collins, figuras proeminentes no emergente movimento pronatalista, e incentivava seus amigos ricos a terem o maior número possível de filhos. Musk acreditava que o mundo precisava de mais pessoas inteligentes, segundo pessoas cientes das conversas.
Collins recusou-se a comentar sobre seu relacionamento com Musk, mas disse que o empresário "é uma das pessoas que leva essa causa a sério".
Mesmo enquanto gerava mais filhos, o blionário favorecia seu filho X. No final de 2022, durante um período em que Musk e Boucher estavam separados, ele começou a viajar com o menino por dias seguidos, muitas vezes sem aviso prévio, segundo pessoas familiarizadas com suas ações.
Boucher se reconciliou com Musk apenas para ter outra surpresa desagradável. Em agosto de 2023, ela soube que Zilis estava esperando um terceiro filho com Musk via barriga de aluguel e estava grávida do quarto.
Boucher e Musk iniciaram uma contenciosa batalha pela custódia, durante a qual Musk manteve X por meses. Por fim, eles assinaram um acordo de custódia conjunta que especificava manter seus filhos longe dos holofotes.
Em meados de 2023, sem o conhecimento de Boucher ou Zilis, Musk havia iniciado um relacionamento romântico com Ashley, a escritora, que vive na cidade de Nova York.
Ashley disse em uma entrevista que, no início, Musk lhe disse que não estava namorando mais ninguém. Mas quando ela estava com cerca de seis meses de gravidez, ele assumiu que estava romanticamente envolvido com Zilis, que se tornou uma figura mais visível na vida de Musk.
Ashley disse que o empresário lhe contou que havia gerado filhos ao redor do mundo, incluindo um com uma estrela pop japonesa, e disse que estaria disposto a doar seu esperma para qualquer pessoa que quisesse ter um filho. "Ele fez parecer que era apenas sobre seu altruísmo e que realmente acreditava que essas pessoas deveriam simplesmente ter filhos", disse ela.
Segundo Ashley, em setembro, quando ela estava na sala de parto dando à luz, Musk lhe disse por mensagens que desapareciam no Signal que ele queria manter a paternidade e o relacionamento deles em segredo.
Na noite da eleição, por exemplo, ambos foram a Mar-a-Lago para celebrar a vitória de Trump, mas ela teve que fingir que mal o conhecia, diz a escritora.
Em troca do silêncio de Ashley, Musk ofereceu a ela US$ 15 milhões de uma vez e US$ 100 mil por mês até que o filho deles completasse 21 anos, de acordo com documentos analisados pelo The New York Times e reportados primeiramente pelo The Wall Street Journal. Mas ela não queria que a paternidade de seu filho fosse escondida.
Depois de tornar o caso público em fevereiro, ela processou Musk para que ele reconhecesse a paternidade e, posteriormente, para obter pensão alimentícia emergencial. O bilionário então buscou uma ordem de silêncio, alegando que qualquer publicidade envolvendo a criança ou comentários de Ashley sobre sua experiência seria um risco de segurança para o menino.
'Nenhuma simpatia por este comportamento'
Alguns dos antigos amigos de Musk expressaram preocupações sobre o que consideravam um comportamento público tóxico.
Em um boletim informativo de janeiro explicando por que a amizade deles havia terminado, Sam Harris, um intelectual público, escreveu que Musk havia usado sua rede social para difamar pessoas e promover mentiras. "Há algo seriamente errado com sua bússola moral, se não com sua percepção da realidade", escreveu Harris.
Mais tarde naquele mês, na posse de Trump, Musk bateu no peito e estendeu a mão diagonalmente para cima, um gesto semelhante a uma saudação fascista. "Meu coração está com vocês", disse ele à multidão. "É graças a vocês que o futuro da civilização está assegurado."
Musk descartou a indignação pública que veio na sequência, dizendo que havia feito um "gesto positivo".
Low, que é diretor executivo da NeuroVigil, uma empresa de neurotecnologia, ficou indignado com a atitude. Ele escreveu um email contundente a Musk, compartilhado com o The New York Times, criticando-o por "fazer a saudação nazista".
Quando Musk não respondeu à mensagem, Low publicou suas preocupações nas redes sociais. "Não tenho simpatia por esse comportamento", escreveu no Facebook, referindo-se ao gesto e a outras atitudes. "Em algum momento, depois de tê-lo confrontado repetidamente em privado, acredito que a coisa ética a fazer é falar abertamente, com força e sem desculpas."
No mês seguinte, Musk mais uma vez se viu sob escrutínio, desta vez por uma aparição na CPAC (Conferência de Ação Política Conservadora, na sigla em inglês), nos arredores de Washington.
Ao subir ao palco, ele recebeu uma motosserra de um de seus aliados políticos, o presidente da Argentina, Javier Milei. "Esta é a motosserra para a burocracia!", gritou Musk para a multidão que o aplaudia.
Alguns organizadores da conferência disseram ao The New York Times que não notaram nada fora do comum sobre seu comportamento nos bastidores. Mas, durante uma entrevista no palco, ele falou em surtos desconexos de gagueira e risos, usando óculos escuros. Clipes disso se tornaram virais enquanto muitos espectadores especulavam sobre possível uso de drogas.
FOLHA
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