Raimundo Garrone* Enviado especial
(foto de Gilson Teixeira)
PRESIDENTE SARNEY (MA). Ao ser emancipado em 1997, o povoado de Pimenta, no município de Pinheiro (MA), mudou de nome, mas não atraiu o interesse do homenageado por sua terra natal. Hoje, Presidente Sarney amarga uma das piores posições no Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM).
Dos 5.560 municípios brasileiros, ele está em 5.542º lugar no IFDM, que mede dados de emprego, renda, saúde e educação.
Dos presidentes homenageados no Maranhão (Dutra, Juscelino, Vargas e Médici), Sarney é o pior colocado. Mas a pobreza não se limita ao município que leva o nome do atual presidente do Senado. Das 20 piores colocações no IFDM, sete estão no Maranhão, governado há 40 anos pela família Sarney ou seus aliados, com breves interrupções.
Presidente Sarney não tem abastecimento de água e depende dos poços de algumas casas e do da praça, que é perene. A esperança é a ligação com o Rio Turi, distante nove quilômetros.
— Aqui tem muito cano enterrado.
Os políticos dizem na campanha que vão trazer água, mas ela só chega no inverno — diz Oswaldo de Jesus Souza, de 62.
O lixo é recolhido de tres em tres dias.
(foto de Gilson Teixeira)
Sem saneamento básico, água encanada, emprego e hospital, Presidente Sarney é o retrato do abandono. Porcos, bois, cavalos, cachorros e bodes passeiam pela única avenida da cidade, a Padre Rios, onde também se acumula o lixo, que só é recolhido de três em três dias. A secretária de Saúde do município, Jamily Soares, conta que todas as crianças têm vermes.
A população enfrenta outras doenças da pobreza, como tuberculose e desnutrição. O atendimento é apenas ambulatorial.
Os partos são feitos na cidade vizinha de Pinheiro, e casos graves têm de ir para a capital, São Luís, a mais de 80 quilômetros e ainda 90 minutos de barco.
No quesito emprego e renda, Presidente Sarney tem a pior nota do IFDM: 0,0782. Pela pesquisa, até 0,4 está abaixo da linha de desenvolvimento. Farinha de mandioca e pesca são as principais fontes de renda. Muitos homens partem em busca de trabalho, deixando as famílias.
— Emprego aqui, só na prefeitura e se for aliado do prefeito — diz Oswaldo de Jesus Souza.
Escola funciona em uma antiga estrebaria A falta de perspectiva começa na escola. A única de ensino médio tem 900 vagas e funciona à noite em salas emprestadas pela prefeitura ao governo do estado.
As condições das 54 escolas são precárias. Na comunidade do Pirinã, a 13 quilômetros, os alunos estudam em uma antiga estrebaria, coberta de palha.
— Os pais preferem isso a colocar seus filhos em risco nessas (caminhonetes) D20 que fazem o transporte escolar — explica o líder comunitário Raimundo de Moraes, enquanto as crianças pedem um ônibus.
A Secretaria de Educação do município explica que os recursos para o transporte escolar estão bloqueados no Ministério da Educação porque a administração anterior não prestou contas.
Já a biblioteca pública não tem previsão de funcionamento.
— Fizemos um ofício em março para o gabinete do senador Sarney, pedindo ajuda para conseguir um acervo para nossa biblioteca, e sequer recebemos resposta — lamenta a chefe do gabinete da Secretaria de Educação, que se identificou apenas como Iranilde.
(Raimundo Garrone, especial para O GLOBO)
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