Pedro Guimarães é um arquétipo clássico do governo Bolsonaro: em casa, é um homem de bem que defende a “família tradicional” e os bons costumes. No trabalho, usa o poder do próprio cargo para fazer propostas de cunho sexual às mulheres ao seu redor
POR GUILHERME BOULOS
Acuse-os do que você mesmo é. Esta é a síntese mais contundente do modus operandi bolsonarista desde 2018, quando os milicianos usaram e abusaram de fake news para chegar ao Palácio do Planalto. O exemplo mais recente foi o escândalo que levou à demissão de Pedro Guimarães, agora ex-presidente da Caixa Econômica Federal.
Denunciado por assédio sexual por dezenas de funcionárias da instituição, Guimarães é um arquétipo clássico do governo Bolsonaro: em casa, é um homem de bem que defende a “família tradicional” e os bons costumes. No trabalho, usa o poder do próprio cargo para fazer propostas de cunho sexual às mulheres ao seu redor. Longe de ser exceção, a atitude de Guimarães é a regra que habita as mentes de um governo perverso não só em suas políticas, mas na sua própria essência. Não faltam exemplos desse mundo invertido, e ele precisa ser chamado pelo que é: hipócrita.
De que outra maneira descrever um presidente que diz defender a vida, mas se negou a comprar vacinas e riu da morte de mais de 600 mil brasileiros por Covid-19? Hipócrita.
Como não descrever assim um governo que diz defender as crianças, mas tem entre seus adeptos mais notórios um parlamentar carioca acusado de pedofilia? Hipócrita.
É possível descrever de outro jeito um governo que diz que “bandido bom é bandido morto”, mas que registrou a apreensão de mais de 50 quilos de cocaína em um avião da Presidência da República, até hoje sem explicação satisfatória? Hipócrita.
Qual outro adjetivo poderia ser utilizado para qualificar um deputado federal – por acaso, filho do presidente – que chama de “vagabundos” os trabalhadores sem-teto, mas cujo único emprego na vida foi mamar nas tetas do papai?
Enfim, a lista é longa. Dizem amar o Brasil, mas batem continência para a bandeira dos Estados Unidos. Acusam a esquerda de violência, mas são responsáveis pelo maior boom armamentista da história do País e, pior, por uma escalada sem precedentes nas execuções policiais de negros e pobres nas periferias. Vencem eleições por meio da urna eletrônica, para depois afirmar que essa mesma urna não é confiável. Dizem ser contra a corrupção, mas são batedores de carteira responsáveis pelo orçamento secreto, pela rachadinha e pela Wal do Açaí.
A psicanálise tem um conceito específico para esse fenômeno: projeção. Trata-se de um mecanismo de defesa, no qual o indivíduo atribui a outro seus próprios pensamentos inconscientes e desejos recalcados. Claro, todos os seres humanos carregam consigo algum grau de contradição. Somos seres complexos, mas há uma diferença crucial quando analisamos a falsa moral bolsonarista.
A mesma vontade hipócrita que proclama “liberdade” quando pratica “destruição” tem efeitos concretos nefastos na vida de todo o País. A pandemia deixou isso cristalino para mais de 220 milhões de brasileiros.
A solução para um governo de hipócritas não está, porém, no divã. Está nas ruas e no voto. O bolsonarismo aniquilou a economia brasileira e produziu uma tragédia humanitária com 33 milhões de famintos. O bolsonarismo entregou a Petrobras para investidores estrangeiros. O bolsonarismo não é patriota, mas uma seita de vira-latas que odeia tudo que o Brasil tem de mais brasileiro. O bolsonarismo corroeu a democracia, conquistada com sangue e tortura de toda uma geração. A solução está em dizer a verdade sem medo.
Neste processo eleitoral não disputaremos apenas votos. Disputaremos mentes e corações, expondo a hipocrisia bolsonarista e apresentando um projeto que possa recuperar a esperança de um povo. Os brasileiros estão cansados de viver em um país onde o diabo lê a Bíblia. •
CARTA CAPITAL
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