August 28, 2018

O ouro dos partidos

Tereza Cruvinel

Foi-se o tempo em que todos os partidos políticos tinham como ambição máxima eleger o presidente da República, além de governadores e senadores. Com o financiamento público das campanhas, a grande meta dos partidos médios é eleger o maior número de deputados federais, pois do tamanho da bancada dependerá a verba que cada um receberá do fundo eleitoral nas próximas eleições. Isso explica, em grande parte, o vai-não-vai na costura das alianças, que aumenta a incerteza sobre a eleição presidencial.

A Presidência e os governos estaduais tornaram-se secundários, a não ser que o partido tenha um ás na manga, um nome com grandes chances de vitória. Caso do PDT com Ciro Gomes, por exemplo. Lançar candidatos com poucas chances a estes cargos tornou-se desperdício. Campanhas majoritárias consomem muito dinheiro e energia política. O MDB só engoliu Meirelles depois que ele resolveu bancar a própria campanha. Pela mesma razão, com a desistência de Joaquim Barbosa o PSB optou por não ter candidato.

O tamanho das bancadas já era importante para garantir o poder de barganha dos partidos com o presidente eleito. Ele determinava também o tempo de televisão e a cota do fundo partidário (financiador da atividade partidária, não das eleições, embora o dinheiro acabe se misturando). Com o financiamento das campanhas pelo fundo eleitoral, o sucesso na eleição de deputados tornou-se questão de sobrevivência. Quem não fizer uma boa bancada agora terá menos dinheiro nas eleições de 2020 (municipais) e 2022 (gerais), podendo entrar em rota de extinção, risco que se agrava com a vigência inicial da cláusula de barreira.

Essa nova prioridade afetou o eixo da disputa e das alianças. Elas estão atrasadas porque os partidos médios vão esperar o quanto puderem por um quadro mais claro. E farão a escolha levando mais em conta os ganhos que teriam na eleição parlamentar do que as afinidades ideológicas com o candidato. Apoiar Lula ou seu candidato, no Nordeste, pode ajudar. Mas no Sul, o efeito seria oposto. É óbvio que os partidos do Centrão se identificam mais com Geraldo Alckmin, mas poderão optar por Ciro Gomes.

O outro impacto será sobre a composição da Câmara. Como os atuais deputados já são conhecidos, já tendo serviços prestados aos eleitores de seus redutos via emendas orçamentárias, levam vantagem na disputa com os estreantes. E para acentuar esta tendência, os partidos reservaram para eles o maior quinhão da cota financeira destinada à eleição parlamentar. Assim a taxa de renovação da Câmara deve ser baixíssima, apesar de tantos encrencados na Lava Jato e do desprezo dos eleitores mais exigentes.





August 26, 2018

Mistérios em torno do sobrenatural e maldito Conde de Lautréamont continuam vivos


Leyla Perrone-Moisés 
 
Em agosto de 1868, foi publicado na França um livreto intitulado "Les Chants de Maldoror (Chant Premier)", assinado por três asteriscos no lugar do nome do autor.
No ano seguinte, os cantos foram publicados na Bélgica, sob o pseudônimo de Conde de Lautréamont. Em 1870, "Poésies" foi editado em Paris, em duas partes, assi
nado por Isidore Ducasse, nome real do autor. Mal distribuídos, os livros demoraram uma década para ser descobertos. E, até agora, continuam cercados de admiração e perplexidade.
Desde a descoberta de sua obra, muitos buscaram informações sobre Isidore Ducasse, e os resultados vieram a conta-gotas. Nenhum autor do século 19 deixou tão poucos rastros de sua passagem: atestado de nascimento (Montevidéu, 1846) de morte (Paris, 1870); registros nos liceus de Pau e de Tarbes (1859-1866); meia dúzia de cartas a um banqueiro e a editores; registro de viagem a Montevidéu (1867); atestados de enterro e de exumação (1870 e 1871).
Tão pouco que uma personagem de Sartre, um pederasta de "Caminhos da Liberdade", convida maliciosamente um jovem para ir à sua casa, onde ele lhe contará a vida de Lautréamont.


Ao longo do século 20, foram escritas biografias do escritor com base em novas informações. Mas mesmo as melhores delas, de François Caradec, de 1975, e de Jacques Lefrère, de 1977, abundam em dados em torno dele e em testemunhos contraditórios de quem o conheceu, como molduras barrocas de um retrato evanescente. Os pontos de interrogação e os "talvez" são comuns nessas biografias.
Alguns enigmas persistem. Por exemplo: nascer e morrer em cidades sitiadas e assoladas pela peste é simples coincidência? Por que as testemunhas que assinaram seu atestado de óbito foram o dono do hotel e um garçom, o que faz supor que não havia em seu domicílio nenhum outro nome de referência, o banqueiro da família, um editor ou um amigo? Quem levou o seu corpo para a igreja Notre-Dame-de-Lorette, onde se realizou um ofício gratuito, e para o cemitério de Montmartre?
Por que, dois meses depois, seus restos foram transferidos para outro lugar, posteriormente aterrado? Quem cuidou dessa transferência? Por que François Ducasse, seu pai, só foi à França três anos mais tarde, para tratar de uma herança em sua província natal e, talvez, para buscar os pertences do filho? Por que esses pertences, herdados por parentes da Argentina, desapareceram?
Todos esses mistérios se prestavam a fabulações, tanto no Uruguai quanto na França. Mescladas às fantasias cruéis e às ameaças ao leitor contidas nos "Cantos de Maldoror", proliferaram as lendas sobre um Conde de Lautréamont sobrenatural e maldito.
É verdade que Isidore Ducasse foi inventor da própria lenda. A única informação que ele quis deixar a seu respeito foi a de ter nascido em Montevidéu, e tudo indica que ele não queria revelar mais nada. Nos "Cantos", podemos ler: "Meu aniquilamento será completo". E nas "Poesias": "Não deixarei memórias".
Na falta de uma biografia, a crítica contribuiu para a criação da lenda, afirmando sucessivamente que se tratava da obra de um louco, de uma brincadeira de mau gosto, de uma farsa de estudante, de um ocultista, de um agitador político et cetera.
É preciso dizer que os surrealistas, André Breton e companhia, ao mesmo tempo que promoveram Lautréamont a patrono e até a "deus" do movimento, contribuíram para o ocultamento de Ducasse.
Apropriaram-se de Lautréamont e se opunham a qualquer pesquisa biográfica e a qualquer reedição ou nova leitura da obra. Convinha-lhes uma visão mítica, suprarreal e mesmo ocultista de seu ídolo. Em 1924, declaravam: "Nós nos opomos, continuamos a nos opor a que Lautréamont entre na história literária".
Nas décadas de 1960 e 1970, os intelectuais do grupo Tel Quel tampouco se interessavam pela vida de Ducasse. Seus integrantes, sob a égide de Roland Barthes, desenvolviam, na época, a "teoria da escritura", que exaltava o "texto" e pregava "a morte do autor".
E quando foi comprovado o bilinguismo de Ducasse, tanto uruguaios como franceses se mostraram ferrenhos nacionalistas, os primeiros revindicando-o como poeta montevideano, e os segundos menosprezando a importância da língua e da cultura espanhola na formação do autor.
No fim dos anos 1980, outro grupo de leitores se formou --a Associação dos Amigos Passados, Presentes e Futuros de Isidore Ducasse. Seu criador, Jacques Lefrère, morto em 2015, era um notável hematologista e pesquisador literário. De 1987 a 2010, a revista da associação, intitulada Cahiers de Lautréamont, publicou centenas de dados novos sobre o autor e a obra.
Aberto a todo tipo de leituras, marcado pelo entusiasmo e pelo senso de humor, o grupo promoveu vários colóquios internacionais e insuflou nova vida aos estudos maldororianos. Há seis anos, a revista passou a ser editada online, e mesmo depois da morte de seu criador o grupo continuou ativo.
Entre as dúvidas persistentes relativas a Ducasse, figura a de sua imagem. Enquanto foram conservadas diversas fotografias de sua família, nunca se encontrou uma autenticada do escritor. Tudo indica que tanto François Ducasse, pai do autor, como seus parentes preferiam ocultar aquela "ovelha negra" que publicara uma "obra licenciosa".
Os pesquisadores uruguaios Álvaro e Gervasio Guillot-Muñoz foram os primeiros a encontrar documentos que confirmavam a breve existência de um Isidore Ducasse independente de sua personagem Lautréamont. Segundo eles, em 1925 conseguiram com uma parente uma fotografia dele, que em 1935 foi apreendida pela polícia argentina.
Primeira pergunta: por que, em dez anos, eles a mostraram só a três ou quatro pessoas e não a publicaram, já que naquela época o interesse pelo autor de "Maldoror" já era grande? Segunda pergunta: por que a polícia pegou só a foto de Ducasse e deixou com eles outras fotos de parentes? Terceira pergunta: por que as descrições e reconstituições gráficas da imagem perdida são tão vagas e divergentes?
Em 1976, Jacques Lefrère encontrou uma fotografia e a publicou em "Le Visage de Lautréamont", de 1977. Essa é, desde então, considerada como autêntica. As probabilidades são grandes, mas falta uma certeza absoluta.
Nenhuma legenda a identificava, mas ela foi achada num álbum da família de seu colega Georges Dazet, junto com uma deste e outra do pai de Ducasse. Esta difere daquela perdida e descrita pelos Guillot-Muñoz, mas corresponde às informações de que ele era alto e moreno.
Agora, expliquem-me a seguinte coincidência. Na falta de imagens de Isidore Ducasse, entre o fim do século 19 e o começo do século 20, foram feitos vários retratos imaginários de Lautréamont, por Salvador Dalí e outros. Entre eles, há um assinado por Félix Valloton e publicado no "Livre des Masques", de Remy de Gourmont, em 1896.
Em carta a André Breton, publicada por este na revista Minotaure, em 1925, o artista negou que tivesse visto qualquer foto ou documento, e reafirmou o caráter imaginário de seu retrato. Satisfeito, Breton estampou o tal retrato sobrepondo, a este, dois grandes traços em forma de "X".
Ora, desde que Lefrère publicou seu achado, intrigou-me a incrível semelhança entre a foto de Ducasse e o retrato imaginário de Valloton.
Invertendo-se no último a posição do rosto, a semelhança é impressionante no contorno e nos pormenores. Acaso objetivo? Teria Valloton psicografado o rosto de Ducasse? Seria, então, o primeiro caso de um retrato imaginário que confirma o retrato autêntico. Em 1914, enviei essas imagens a Lefrère, que respondeu: "É verdade. Eu nunca tinha feito a aproximação".


Um século e meio depois de sua publicação, Lautréamont não cessa de encontrar novos amigos. Temível amigo, que avisava ao leitor em seus Cantos: "Tens um amigo no vampiro, apesar de tua opinião contrária. Incluindo o ácaro Sarcoptes que produz a sarna, terás dois amigos!". Meter-se com ele é, de fato, procurar muita sarna para se coçar.

Leyla Perrone-Moisés
Doutora em língua e literatura francesa, é autora do livro “Lautréamont Austral”

Edições brasileiras

“Os Cantos de Maldoror, Poesias, Cartas”
trad. Claudio Willer. Ed. Iluminuras. R$ 69 (352 págs.)
“Os Cantos de Maldoror”
trad. Joaquim Brasil Fontes. Ed. Unicamp. R$ 25 (328 págs.)





O Brasil tem seis ex-presidentes vivos. Um deles continua a bater ponto no Planalto.


por Bernardo Mello Franco

Ailton de Freitas 
 
O Brasil tem seis ex-presidentes vivos. Um deles continua a bater ponto no Planalto. Aos 77 anos, Michel Temer vaga pelo palácio como uma alma penada. Rejeitado pelos eleitores, abandonado pelos aliados, ele finge que ainda governa enquanto o sucessor não chega. Agora faltam 128 dias para a posse.

Governantes em fim de mandato costumam reclamar da maldição do café frio. Temer parece conformado com o ostracismo. Neste mês, ele reduziu as aparições públicas e cancelou duas viagens internacionais. Passou a maior parte do tempo no gabinete, cercado por outros políticos enrolados com a Justiça.

Na quinta-feira, sua agenda oficial registrou a visita do mensaleiro Valdemar Costa Neto, o poderoso chefão do PR. Três dias antes, foi a vez do deputado Lúcio Vieira Lima, alvo de um processo de cassação na Câmara. Ele é irmão do ex-ministro Geddel, que escondia R$ 51 milhões em malas e caixas de papelão.

O governo parou, mas as investigações continuam. Na sexta-feira, O GLOBO revelou um novo depoimento do doleiro Lúcio Funaro. Ele disse à Polícia Federal que o ex-deputado Eduardo Cunha repassava propina a Temer desde 2003. Em outra frente, o empresário Marcelo Castanho afirmou ter pingado R$ 1 milhão na empresa do coronel João Baptista Lima, o faz-tudo do presidente.
O governo emitiu os desmentidos de praxe. A procuradora Raquel Dodge não se manifestou. Prestes a festejar o primeiro aniversário no cargo, ela parece sem pressa para denunciar o responsável por sua nomeação. A doutora tem sido mais veloz com outros personagens. No dia 15, levou poucas horas para contestar o registro de Lula no TSE.

A impopularidade obrigou Temer a se esconder da corrida presidencial. Isso não significa que ele tenha sido esquecido. No debate da RedeTV!, os candidatos citaram seu nome 14 vezes. Em 12 delas, para acusá-lo de praticar “atos criminosos”, cortar gastos sociais, entregar o pré-sal e chefiar um governo “sem legitimidade”.

O tucano Geraldo Alckmin o citou outras duas vezes. Em ambas, tentou livrar-se da alcunha de candidato do presidente. O emedebista Henrique Meirelles preferiu não pronunciar o nome do ex-chefe. Teve motivo: de acordo com o Datafolha, 87% rejeitam votar em alguém apoiado por ele.
Sem ter quem o defenda, Temer virou advogado de si mesmo. Na segunda-feira, ele se expôs ao ridículo ao redigir uma carta para Caetano Veloso, que o chamou de “dissimulado” num post de Facebook. O ex-presidente em atividade escreveu 47 linhas empoladas e cheias de autoelogios, apresentados como “um contraponto para sua apreciação”.

O compositor de “Podres Poderes” respondeu com um vídeo debochado. “A última pessoa para quem Temer escreveu uma carta longa foi a Dilma. E a turma dele deu um golpe contra ela. Será que ele vai dar um golpe contra mim? Eu sou difícil de destituir”, disse, aos risos.
 

August 21, 2018

O último baile de Cabral


JAN THEOPHILO

Em seu livro “A Farra dos Guardanapos – o último baile da Era Cabral”, o jornalista Silvio Barsetti encontrou duas versões para um mistério que há tempos inquieta os cariocas: quem foi afinal de contas que vazou as famosas fotos da festa para a imprensa. Na primeira, a arquiteta Garna Kfuri, irmã de Jordana e Fernanda, mortas no famoso episódio da queda do helicóptero que ajudou a tornar públicas as relações entre Sérgio Cabral e Fernando Cavendish, refuta a hipótese de que, traumatizada pela tragédia, a família teria dado publicidade às fotos. “Com isso ganhariam mais forças as declarações de Garotinho de que as fotos foram copiadas do computador de Jordana Kfouri, mulher de Cavendish, por um amigo dela, que estudava na mesma faculdade de um funcionário do programa de rádio do Garotinho na rádio Manchete. Quando ele abriu os arquivos, mal acreditou”, conta Sílvio. O livro é recheado de detalhes saborosos, como o menu do jantar com raviólis de lagosta e as quantidades pantagruélicas de garrafas servidas na festa de Barca Velha (um dos grandes vinhos portugueses que sai a partir de R$ 2.500 a garrafa). Silvio revela ainda que o constrangedor trenzinho mostrado nas fotos, servia para os secretários e empresários pararem na frente de Sérgio e saudá-los aos gritos de “Presidente”. Sobre o mistério do vazamento, Sílvio não se diz convencido por nenhuma as versões. “Pra mim essa parte ainda está em aberto”.

Segue o baile

Sílvio revela no livro que Eduardo Paes tentou a todo custo evitar o rega- -bofe. Mas Sérgio Cabral insistiu tanto que ele não teve como não ir. Acabou não saindo tanto assim no prejuízo. Só foi fotografado uma vez, rodando o guardanapo sobre a cabeça tal qual uma Janaína Paschoal.

Why do people bend to the tyrannical pressures of social media? Let's get real




Instagrammability is now the No 1 consideration for millennials when deciding where to go on holiday. When did everyone lose touch with reality?

I once interviewed a pop star who earnestly told me that he had stopped smoking weed and that, ever since, he had a clearer mind and more focus on his music. Five minutes later, while we were still talking, he lit up one of the biggest spliffs I have ever seen.

We know that celebrities are different people in private than in public; that someone reading out the birthday cards on CBeebies could be racking up lines in a club on their night off. But what happens now that social media makes nanoscopic celebrities out of us all? Who are we being real with and who are we performing for?

It’s a question I ask myself when I hear research revealing that, for millennials, Instagrammability is now the No 1 consideration when deciding where to holiday. Or the news last week that half of cosmetic surgeons in the US say that people are asking for procedures to look better in selfies, and that there is a disconcerting increase in the number of people asking for procedures to make them look more like how they do in Snapchat filters: enhanced cheekbones and digitally smooth skin.
Those holiday Instagrams are not for the benefit of the friends who were there – who know that one lagoon Instagram involved a €150, 30-minute-long boat trip and was preceded by a three-hour-long, airless journey in a car where burnt, bare thighs were sweat-sealed to the upholstery. This isn’t old-fashioned peer pressure, which mostly dissipates as you get older and realise that your friends’ lives are bogged down in their own struggles. It’s a new kind of pressure from another group: the people who only get to see the celebrity version of you. This is the group we watch the daily machinations and monologues of, but would never call and say: “Do you fancy a drink this evening?” When my close friends talk to me about relationships, jobs, mental health and loneliness – the oldest topics of conversation in the world – I feel as if they are now soundtracked by the sound of sorta-mate Instagram stories, always laughing, always on a beach; people who seem to have it all figured out only because we don’t know them.

This blurring of the line between friendship and infatuation, between our online and offline realities, only becomes more complicated when more of our genuine social interaction becomes mediated through technology. Recently, there was a story of a mother who paid for someone to tutor her son in the video game Fortnite so that his friends at school didn’t mock him for being bad at it. Can anyone draw a neat line of reality in that child’s life?

The danger is that we become snobby; that we think these problems are just for people who have applied to be on Love Island or are still in year 9. But the power of our not-really-friends looms large over even those of us who think they’re savvy to fakery, not least because we unwittingly perpetuate the same illusion, posting the moments we are doing something exciting, so, somewhere, someone we once went on a course with thinks everything is going better for us than it is for them.




August 19, 2018

Aretha Franklin, Indomitable ‘Queen of Soul,’ Dies at 76


  • By Jon Pareles, www.nytimes.com
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  • Aretha Franklin, universally acclaimed as the “Queen of Soul” and one of America’s greatest singers in any style, died on Thursday at her home in Detroit. She was 76.
    The cause was advanced pancreatic cancer of the neuroendocrine type, her publicist, Gwendolyn Quinn, said.
    In her indelible late-1960s hits, Ms. Franklin brought the righteous fervor of gospel music to secular songs that were about much more than romance. Hits like “Do Right Woman — Do Right Man,” “Think,” “(You Make Me Feel Like) A Natural Woman” and “Chain of Fools” defined a modern female archetype: sensual and strong, long-suffering but ultimately indomitable, loving but not to be taken for granted.
    When Ms. Franklin sang “Respect,” the Otis Redding song that became her signature, it was never just about how a woman wanted to be greeted by a spouse coming home from work. It was a demand for equality and freedom and a harbinger of feminism, carried by a voice that would accept nothing less.

    [Read our appraisal of Aretha Franklin here.]
    Ms. Franklin singing “My Country ’Tis of Thee” at President Barack Obama’s inauguration in 2009.Foto de: Damon Winter/The New York Times
    Ms. Franklin had a grandly celebrated career. She placed more than 100 singles in the Billboard charts, including 17 Top 10 pop singles and 20 No. 1 R&B hits. She received 18 competitive Grammy Awards, along with a lifetime achievement award in 1994. She was the first woman inducted into the Rock & Roll Hall of Fame, in 1987, its second year. She sang at the inauguration of Barack Obama in 2009, at pre-inauguration concerts for Jimmy Carter in 1977 and Bill Clinton in 1993, and at both the Democratic National Convention and the Rev. Dr. Martin Luther King Jr.’s funeral in 1968.
    Succeeding generations of R&B singers, among them Natalie Cole, Whitney Houston, Mariah Carey and Alicia Keys, openly emulated her. When Rolling Stone magazine put Ms. Franklin at the top of its 2010 list of the “100 Greatest Singers of All Time,” Mary J. Blige paid tribute:
    “Aretha is a gift from God. When it comes to expressing yourself through song, there is no one who can touch her. She is the reason why women want to sing.”

    Ms. Franklin in an undated photo. Her musical roots were in gospel, but that was only part of her vocabulary, which also drew on jazz, the blues, rock and, later, opera.Foto de: Express Newspapers/Getty Images
     
    Ms. Franklin’s airborne, constantly improvisatory vocals had their roots in gospel. It was the music she grew up on in the Baptist churches where her father, the Rev. Clarence LaVaughn Franklin, known as C. L., preached. She began singing in the choir of her father’s New Bethel Baptist Church in Detroit, and soon became a star soloist.
    Gospel shaped her quivering swoops, her pointed rasps, her galvanizing buildups and her percussive exhortations; it also shaped her piano playing and the call-and-response vocal arrangements she shared with her backup singers. Through her career in pop, soul and R&B, Ms. Franklin periodically recharged herself with gospel albums: “Amazing Grace” in 1972 and “One Lord, One Faith, One Baptism,” recorded at the New Bethel church, in 1987.
    But gospel was only part of her vocabulary. The playfulness and harmonic sophistication of jazz, the ache and sensuality of the blues, the vehemence of rock and, later, the sustained emotionality of opera were all hers to command.
    Ms. Franklin did not read music, but she was a consummate American singer, connecting everywhere. In an interview with The New York Times in 2007, she said her father had told her that she “would sing for kings and queens.”
    “Fortunately I’ve had the good fortune to do so,” she added. “And presidents.”
    For all the admiration Ms. Franklin earned, her commercial fortunes were uneven, as her recordings moved in and out of sync with the tastes of the pop market.
    After her late-1960s soul breakthroughs and a string of pop hits in the early 1970s, the disco era sidelined her. But Ms. Franklin had a resurgence in the 1980s with her album “Who’s Zoomin’ Who” and its Grammy-winning single, “Freeway of Love,” and she followed through in the next decades as a kind of soul singer emeritus: an indomitable diva and a duet partner conferring authenticity on collaborators like George Michael and Annie Lennox. Her latter-day producers included stars like Luther Vandross and Lauryn Hill, who had grown up as her fans. Onstage, Ms. Franklin proved herself night after night, forever keeping audiences guessing about what she would do next and marveling at how many ways her voice could move.

    Mother Sang Gospel

    Aretha Louise Franklin was born in Memphis on March 25, 1942. Her mother, Barbara Siggers Franklin, was a gospel singer and pianist. Her parents separated when Aretha was 6, leaving her in her father’s care. Her mother died four years later after a heart attack.
    C. L. Franklin’s career as a pastor led the family from Memphis to Buffalo and then to Detroit, where he joined the New Bethel Baptist Church in 1946. With his dynamic sermons broadcast nationwide and recorded, he became known as “the man with the golden voice.”
    The Franklin household was filled with music. Mr. Franklin welcomed visiting gospel and secular musicians: the jazz pianist Art Tatum, the singer Dinah Washington, and gospel figures like the young Sam Cooke (before his turn to pop), Clara Ward, Mahalia Jackson and James Cleveland, who became Ms. Franklin’s mentors.
    Future Motown artists like Smokey Robinson and Diana Ross lived nearby. Aretha’s sisters, Erma and Carolyn, also sang and wrote songs, among them “Piece of My Heart,” a song Erma Franklin recorded before Janis Joplin did, and Carolyn Franklin’s “Ain’t No Way,” a hit for Aretha. The sisters also provided backup vocals for Ms. Franklin on songs like “Respect.” From 1968 until his death in 1989, her brother Cecil was her manager.
    Ms. Franklin started teaching herself to play the piano — there were two in the house — before she was 10, picking up songs from the radio and from Ms. Ward’s gospel records. Around the same time, she stood on a chair and sang her first solos in church. In David Ritz’s biography “Respect,” Cecil Franklin recalled that his sister could hear a song once and immediately sing and play it. “Her ear was infallible,” he said.
    At 12, Ms. Franklin joined her father on tour, sharing concert bills with Ms. Ward and other leading gospel performers. Recordings of a 14-year-old Ms. Franklin performing in churches — playing piano and belting gospel standards to ecstatic congregations — were released in 1956. Her voice was already spectacular.

    Ms. Franklin during a recording session at Columbia Studios in New York in 1962.Foto de: Donaldson Collection/Michael Ochs Archives, via Getty Images
     
    But Ms. Franklin became pregnant, dropped out of high school and had a child two months before her 13th birthday. Soon after that she had a second child by a different father. (She never revealed publicly who fathered them, but Mr. Ritz’s book quotes Cecil as saying the father of the first was “just a guy she knew from school.”)
    Those sons, Clarence and Edward Franklin, survive her, along with two others, Ted White Jr. and KeCalf Franklin (her son with Ken Cunningham, a boyfriend during the 1970s), and four grandchildren.
    In the late 1950s, following the example of Sam Cooke — who left the gospel group the Soul Stirrers and started a solo career with “You Send Me” in 1957 — Ms. Franklin decided to build a career in secular music. Leaving her children with family in Detroit, she moved to New York City. John Hammond, the Columbia Records executive who had championed Billie Holiday and would also bring Bob Dylan and Bruce Springsteen to the label, signed the 18-year-old Ms. Franklin in 1960.
    Mr. Hammond saw Ms. Franklin as a jazz singer tinged with blues and gospel. He recorded her with the pianist Ray Bryant’s small groups in 1960 and 1961 for her first studio album, “Aretha,” which sent two singles to the R&B Top 10: “Today I Sing the Blues” and “Won’t Be Long.” The annual critics’ poll in the jazz magazine DownBeat named her the new female vocal star of the year.
    Her next album, “The Electrifying Aretha Franklin,” featured jazz standards and used big-band orchestrations; it gave her a Top 40 pop single in 1961 with “Rock-a-Bye Your Baby With a Dixie Melody.”

    Ms. Franklin headlined at the Apollo in New York in 1971.Foto de: Tyrone Dukes/The New York Times
     
    Her later Columbia albums were scattershot, veering in and out of jazz, pop and R&B. Ms. Franklin met and married Ted White in 1961 and made him her manager; he shares credit on some of the songs Ms. Franklin wrote in the 1960s, including “Dr. Feelgood.” In 1964 they had a son, Ted White Jr., who would lead his mother’s band decades later. (She divorced Mr. White, after a turbulent marriage, in 1969.)

    Mr. White later said his strategy was for Ms. Franklin to switch styles from album to album, to reach a variety of audiences, but the results — a Dinah Washington tribute, jazz standards with strings, remakes of recent pop and soul hits — left radio stations and audiences confused. When her Columbia contract expired in 1966, Ms. Franklin signed with Atlantic Records, which specialized in rhythm and blues.

    Pivot Point in Muscle Shoals

    Jerry Wexler, the producer who brought Ms. Franklin to Atlantic, persuaded her to record in the South. Ms. Franklin spent one night in January 1967 at Fame Studios in Muscle Shoals, Ala., recording with the Muscle Shoals rhythm section, the backup band behind dozens of 1960s soul hits. Ms. Franklin shaped the arrangements and played piano herself, as she had rarely done in the studio since her first gospel recordings.
    The new songs were rooted in blues and gospel. And the combination finally ignited the passion in Ms. Franklin’s voice, the spirit that was only glimpsed in many of her Columbia recordings.
    The Muscle Shoals session broke down, with just one song complete and another half-finished, in a drunken dispute between a trumpet player and Mr. White. He and Ms. Franklin returned to New York. Yet when the song completed in that session, “I Never Loved a Man (the Way I Love You),” was released as a single, it reached No. 1 on the R&B charts and No. 9 on the pop charts, eventually selling more than a million copies.
    Some of the Muscle Shoals musicians came north to complete the album in New York. And with that album, “I Never Loved a Man the Way I Love You,” the supper-club singer of Ms. Franklin’s Columbia years made way for the “Queen of Soul.”

    Ms. Franklin backstage at the Apollo in 1971.Foto de: Tyrone Dukes/The New York Times
     
    “We were simply trying to compose real music from my heart,” Ms. Franklin said in her autobiography, “Aretha: From These Roots,” written with Mr. Ritz and published in 1999.
    “Respect,” recorded on Valentine’s Day 1967 and released in April, was a bluesy demand for dignity, as well as an instruction to “give it to me when you get home” and “take care of T.C.B.” (The letters stood for “taking care of business.”) Her version of the song resonated beyond individual relationships to the civil rights, counterculture and feminism movements.
    “It was the need of the nation, the need of the average man and woman in the street, the businessman, the mother, the fireman, the teacher — everyone wanted respect,” she wrote in her autobiography.
    “Respect” surged to No. 1 and would bring Ms. Franklin her first two Grammy Awards, for best R&B recording and best solo female R&B performance (an award she won each succeeding year through 1975). By the end of 1968, she had made three more albums for Atlantic and had seven more Top 10 pop hits, including “Baby I Love You,” “Chain of Fools,” “Think” (written by Ms. Franklin and Mr. White) and “I Say a Little Prayer.”

    Ms. Franklin with her Grammy Award in 1975. She won the Grammy for best female R&B performance every year from 1968 through 1975, and in her career she received 18 competitive Grammys, as well as a lifetime achievement award in 1994.Foto de: Associated Press
     
    But amid the success, Ms. Franklin’s personal life was in upheaval. Songs like “Think,” “Chain of Fools” and “The House That Jack Built” hinted at marital woes that she kept private. She fought with her husband and manager, Mr. White, who had roughed her up in public, a 1968 Time magazine cover story noted, and whose musical decisions had grown increasingly counterproductive. Before their divorce in 1969, she dropped him as manager and eventually filed restraining orders against him. She also went through a period of heavy drinking before getting sober in the 1970s.
    Her early 1970s pop hits, like her own “Day Dreaming” and the Stevie Wonder composition “Until You Come Back to Me (That’s What I’m Gonna Do),” took a lighter, more lilting tone, a contrast to her rip-roaring 1972 gospel album, “Amazing Grace,” which sold more than two million copies, making it one of the best-selling gospel albums of all time. Ms. Franklin recorded steadily through the 1970s and continued to have rhythm-and-blues hits like “Angel,” a No. 1 R&B single in 1973 written by her sister Carolyn.
    But her pop presence waned in the disco era, and her 1976 album, “Sparkle,” written and produced by Curtis Mayfield, was her last gold album of the decade. It included “Something He Can Feel,” a No. 1 R&B single. When Ms. Franklin made a showstopping appearance as a waitress in the 1980 movie “The Blues Brothers,” she revived an oldie: her 1968 song “Think.”
    Ms. Franklin was married to the actor Glynn Turman from 1978 to 1984, and the divorce was amicable enough for her to sing the title song for the television series “A Different World” when Mr. Turman joined its cast in 1988.

    Ms. Franklin and the actor Glynn Turman at their wedding reception in 1978. With her is her son KeCalf.Foto de: Doug Pizac/Associated Press
     
    Ms. Franklin’s father was shot during a break-in at his home in 1979 and stayed in a coma until his death in 1984. During those years Ms. Franklin shuttled monthly between her home in California and Detroit. As her marriage to Mr. Turman was ending, she moved back to Detroit in 1982.
    Ms. Franklin was deeply traumatized in 1983 by a ride through turbulence in a two-engine plane that was “dipsy-doodling all over the place,” she recalled. She gave up flying, traveling instead by bus to her shows, and ended all international performances. In recent years she had hoped to desensitize herself and fly again, “even if it’s just one more time,” she said in 2007.

    Divas and Duets

    Ms. Franklin changed labels in 1980, to Arista. There, her albums mingled remakes of 1960s and ’70s hits — “Jumpin’ Jack Flash,” “Everyday People,” “Hold On, I’m Comin’,” “What a Fool Believes” — with contemporary songs.
    Luther Vandross’s production of her 1982 album, “Jump to It,” restored her to the R&B charts, where it reached No. 1. But Ms. Franklin did not reconquer the pop charts until 1985, with the million-selling, synthesizer-driven album “Who’s Zoomin’ Who?” The singles “Freeway of Love” and “Who’s Zoomin’ Who?,” both produced by Narada Michael Walden, placed Ms. Franklin back in the pop Top 10, and a collaboration with Eurythmics, “Sisters Are Doin’ It for Themselves,” reached No. 18.
    Ms. Franklin had her last No. 1 pop hit with “I Knew You Were Waiting (For Me),” a duet with George Michael from her 1986 album, “Aretha.” Her 1987 gospel album, “One Lord, One Faith, One Baptism,” featured performances with her sisters Carolyn and Erma, and with Mavis Staples of the Staple Singers, as well as preaching from the Rev. Jesse Jackson and the Rev. Cecil Franklin.

    Ms. Franklin with James Brown in performance in Detroit in 1987.Foto de: Joe Kennedy/Associated Press
     
    Ms. Franklin recorded more duets (with Elton John, Whitney Houston and James Brown) on “Through the Storm” in 1989, and she made another attempt to connect with youth culture on “What You See Is What You Sweat” in 1991. She released only a few songs — singles and soundtrack material — through the mid-1990s.
    But she rallied in 1998 with televised triumphs. She made a noteworthy appearance at the 1998 Grammy Awards, substituting at the last minute for the ailing Luciano Pavarotti by singing a Puccini aria, “Nessun dorma,” to overwhelming effect. On “Divas Live,” for VH1, she steamrollered her fellow stars in duets, among them Mariah Carey and Celine Dion. In the meantime, she had been working with younger producers again for her 1998 album, “A Rose Is Still a Rose”; the title track, produced by Lauryn Hill, reached No. 26 on the pop chart. After her 2003 album, “So Damn Happy,” Ms. Franklin left Arista, saying she would record independently.
    Arista released the collection “Jewels in the Crown: All-Star Duets With the Queen” in 2007, including a previously unreleased song with the “American Idol” winner Fantasia. Ms. Franklin said in 2007 that she had completed an album to be called “Aretha: A Woman Falling Out of Love,” with songs she had written and produced herself, but it was not released until 2011, on her own Aretha’s Records label. In 2008 she released a holiday album, “This Christmas.”

    Ms. Franklin receiving the Presidential Medal of Freedom, the nation’s highest civilian award, from President George W. Bush in 2005.Foto de: Evan Vucci/Associated Press
     
    Ms. Franklin stayed musically ambitious. She repeatedly announced plans to study classical piano and finally learn to sight-read music at the Juilliard School, but she never enrolled. She received several honorary degrees, including from Yale, Princeton and Harvard.
    In 2014, Ms. Franklin returned to a major label, RCA Records, with her executive producer from her Arista years, Clive Davis. “Aretha Franklin Sings the Great Diva Classics” presented her remakes of proven material: songs that had been hits for Adele, Alicia Keys, Chaka Khan, Gloria Gaynor, Barbra Streisand and Sinead O’Connor. It reached No. 13 on the Billboard album chart and No. 1 on the R&B chart.
    She had five decades of recordings behind her, but listeners still thrilled to her voice.

    Ms. Franklin at the opening of the Tribeca Film Festival in 2017 at Radio City Music Hall.Foto de: Rebecca Smeyne for The New York Times
     

August 17, 2018

O dinheiro na campanha


TEREZA CRUVINEL

O ex-deputado Jofran Frejat (PR) era o candidato melhor posicionado ao governo do Distrito Federal, com chances reais de derrotar o atual governador Rodrigo Rollemberg. Ele acaba de informar aos aliados e ao presidente do PR, Valdemar Costa Neto, o homem do Centrão, que desistiu de concorrer. Valdemar não gostou e os aliados ainda não entenderam. Em abril, o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), bem avaliado e com bom desempenho nas pesquisas, desistiu da candidatura a governador. Aos aliados espantados disse que seguia o coração. O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (MDB), tendo todas as condições de se reeleger, também desistiu de concorrer. “Hora de passar o bastão”, justificou.

Desistências assim, de políticos profissionais (não estou falando em aspirantes como Joaquim Barbosa, Luciano Huck ou Datena), fazem parte das estranhezas desta eleição, que tem muitas perguntas sem respostas. Há quem vincule as desistências à mudança no financiamento das campanhas, pois ninguém está convencido de que elas serão bancadas apenas com os recursos do Fundo Eleitoral, das doações de pessoas físicas e das vaquinhas pela Internet. Por outro lado, depois que a Lava Jato converteu doações via caixa dois em propina, é preciso ser muito destemido ou sem juízo para receber ajuda empresarial por baixo do pano. Frejat deu uma pista neste sentido ao dizer um “não venderei a alma ao diabo” no meio de outras explicações.

Desistências à parte, a primeira experiência brasileira com o financiamento público de campanhas está merecendo pouca atenção – do TSE, do MPE, da mídia. Os candidatos a presidente poderão gastar, no máximo, R$ 70 milhões e todos estimaram gastar bem menos que isso. Mesmo sendo a campanha mais curta este ano, a redução é muito desproporcional aos custos da campanha de 2014. Só os dois candidatos que foram ao segundo turno gastaram mais de R$ 700 milhões. Dilma declarou gastos de R$ 438 milhões e Aécio Neves de R$ 279 milhões. Sim, já sabemos que havia uma farra eleitoral com dinheiro das empreiteiras, sugado do Estado via corrupção dos políticos. Mesmo assim, paira a suspeita de que as campanhas custarão mais que o garantido pelo Fundo Eleitoral. Seus recursos, sendo públicos, exigem ainda mais atenção e fiscalização.

Há outras esquisitices nesta área. Até agora os partidos ainda não apresentaram ao TSE a regra de divisão interna da cota que cada um receberá do Fundo. Não há prazo, mas isso já devia ter sido feito. Deixar que os dirigentes, vale dizer, os caciques partidários, decidam sobre a divisão interna do dinheiro foi um erro da lei que o TSE poderia ter corrigido. A única regra sobre a partilha, por sinal fixada pelo TSE, é a de que 30% dos recursos devem ser destinados candidatas mulheres. Pelo que está escrito, poderão os caciques escolher quantas e quais destas candidatas receberão os recursos. Nada impede que partidos fisiológicos, como os do Centrão, destinem quase toda a verba à eleição de deputados, privilegiando os atuais. É com este ativo que, ganhe quem ganhar, eles estarão no governo. Contrariando quem previu grande renovação da Câmara, ela será baixíssima.

Mas a grande excrescência é a possibilidade de um candidato rico bancar toda a sua campanha, como fará Henrique Meirelles. Na eleição parlamentar, isso pode significar a eleição de bancadas que só representam o andar de cima da sociedade, os brancos e os rico

August 15, 2018

Shinobu Hashimoto, Writer of Towering Kurosawa Films, Is Dead at 100



By Margalit Fox

Shinobu Hashimoto, a screenwriter whose first film, “Rashomon,” became a touchstone of world cinema, and who went on to collaborate with its director, Akira Kurosawa, on celebrated pictures like “Ikiru” and “Seven Samurai,” died on Thursday at his home in Tokyo. He was 100.
His death, of pneumonia, was confirmed by Tomo Tran of Vertical Inc., the United States publisher of his memoir, “Compound Cinematics: Akira Kurosawa and I.”
Mr. Hashimoto, who had previously worked as an accountant, was the last living member of the cadre of screenwriters around Kurosawa (1910-98). Because Kurosawa liked his screenplays to be written collaboratively, all of Mr. Hashimoto’s work for him was done with others, including Hideo Oguni, Ryuzo Kikushima and Kurosawa himself.
Of the writers in Kurosawa’s stable, Mr. Hashimoto was among the longest-serving, contributing to eight screenplays from 1950 to 1970. Their other pictures together include “Throne of Blood” (1957), a reworking of “Macbeth” set in feudal Japan; “The Hidden Fortress” (1958), an adventure film about a princess escorted in disguise through enemy territory; and “Dodes’ka-den” (1970), about the residents of a Tokyo slum.
Mr. Hashimoto’s foremost films were widely known outside Japan and inspired several Hollywood pictures.
“Seven Samurai” (1954), the story of farmers who hire a band of master swordsmen to rout the bandits tormenting their village, was remade in 1960 by John Sturges as “The Magnificent Seven,” an acclaimed western starring Yul Brynner, Eli Wallach, Steve McQueen and Charles Bronson.
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“The Magnificent Seven” was itself remade in 2016, directed by Antoine Fuqua and starring Denzel Washington and Ethan Hawke.
“The Hidden Fortress” was acknowledged by the director George Lucas as having helped inspire his 1977 blockbuster, “Star Wars.”
Perhaps no film of Mr. Hashimoto’s has had more enduring influence than “Rashomon.” Set in medieval Japan, it recounts the story of the murder of a samurai and the rape of his wife from four utterly different perspectives: that of a bandit (played by Toshiro Mifune), the wife (Machiko Kyo), the spirit of the dead samurai, and a passing woodcutter.
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Mr. Hashimoto in a recent interview about the 1962 film “Harakiri,” for which he wrote the screenplay.
A philosophical exploration of the malleable nature of truth, “Rashomon” was the first Japanese film to gain wide international acclaim and is today considered one of the finest motion pictures ever made. It won the Golden Lion at the 1951 Venice Film Festival and that year received what was then called the honorary foreign-language film award at the Oscars.
The generic term “Rashomon” has persisted in the English lexicon, describing an event characterized by conflicting accounts.
Mr. Hashimoto was born on April 18, 1918, in the Hyogo Prefecture in west central Japan. He enlisted in the army in 1938 but contracted tuberculosis during his training and spent the next four years in a veterans’ sanitarium.
A fellow patient there happened to lend him a film magazine, and Mr. Hashimoto became fascinated by the craft of screenwriting. He began work on a screenplay about his army experience, a project that took three years.
After he was discharged from the sanitarium, Mr. Hashimoto went to work as an accountant for a munitions company, writing on the train to and from the office. His fellow patient had told him that the most eminent screenwriter in Japan was Mansaku Itami, and with the naïve bravado of youth, Mr. Hashimoto sent Mr. Itami his screenplay.
Mr. Itami became his mentor, tutoring him in the screenwriter’s art until his death in 1946.
In the late 1940s, Mr. Hashimoto began work on the screenplay that would become “Rashomon.” His script was an adaptation of a short story, “In a Grove,” by the distinguished early-20th-century writer Ryunosuke Akutagawa, in which different narrators offer conflicting accounts of a samurai’s death.
With perhaps even greater bravado, Mr. Hashimoto sent his screenplay, titled “Shiyu” (“Male and Female”), to Kurosawa.
Meeting with Mr. Hashimoto for the first time in 1949, Kurosawa told him that he wanted to film the script but that it was too short. In a panic, Mr. Hashimoto blurted out that he could graft another Akutagawa story, “Rashomon,” onto the narrative.
The two stories seemed eminently incompatible (“Rashomon,” as it came from Mr. Akutagawa’s pen, explored the desperate lives of thieves in medieval Kyoto), and for weeks afterward Mr. Hashimoto cursed his folly.
But Kurosawa — possessed, in Mr. Hashimoto’s words, of a “perfectionism that exceeded rationalism” — took his rewritten screenplay and rewrote it yet again.
The finished script, running 88 minutes and credited to both men, elegantly fuses the plot of “In a Grove” with the setting and title of “Rashomon,” whose name denotes a historic Kyoto gate.
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Mr. Mifune, left, and Machiko Kyo in “Rashomon” (1950), the first Hashimoto-Kurosawa collaboration.CreditEverett Collection
With his career as a screenwriter underway, Mr. Hashimoto quit his job at the munitions company.
The idea for his next collaboration with Kurosawa originated, tantalizingly, with Kurosawa. One day in the early 1950s, he handed Mr. Hashimoto a sheet of paper on which he had written a single, enigmatic phrase:
“A man with only 75 days left to live.”
Mr. Hashimoto’s critically acclaimed result, “Ikiru” (“To Live”), was released in 1952. It centered on a career civil servant (played by Takashi Shimura) who, on learning he has terminal cancer, defies protocol by arranging for a patch of municipal swampland to be transformed into a public park.
And so Mr. Hashimoto’s collaborations with Kurosawa went. They also included “I Live in Fear” (1955), about the nuclear threat, and “The Bad Sleep Well” (1960), a modern-day revenge drama.
As Mr. Hashimoto recalled in his memoir, translated by Lori Hitchcock Morimoto and published in English in 2015, Kurosawa, like the foreman of a sequestered jury, sometimes holed up with his screenwriters in an out-of-the-way inn until a script was complete.
Mr. Hashimoto started his own production company, Hashimoto Pro, in 1974. His other screenplays include “Harakiri” (1962) and “Samurai Rebellion” (1967), both directed by Masaki Kobayashi, and “The Castle of Sand” (1974) and “Village of Eight Gravestones” (1977), both directed by Yoshitaro Nomura.
He also directed three of his own screenplays, including the war-crimes drama “I Want to Be a Shellfish” (1959).
He is survived by two daughters, Aya Hashimoto and Ito Imai, as well as two granddaughters, a grandson and a great-grandson. His son, Shingo, died before him.
Among Mr. Hashimoto’s laurels is the Jean Renoir Award, presented by the Writers Guild of America for outstanding contributions to international screenwriting.
One of the most striking scenes in his memoir is his account of his fateful first meeting with Kurosawa, in 1949. The young, nervous Mr. Hashimoto traveled by train to Kurosawa’s home in Komae, a western municipality of Tokyo, where they discussed Mr. Hashimoto’s fledgling script for “Rashomon.”
“Our first meeting ended so simply that it didn’t feel complete,” Mr. Hashimoto recalled. “We spoke for only one or two minutes, and then I put my manuscript in my bag.”
Kurosawa recalled their meeting in his own memoir, “Something Like an Autobiography” (1982, translated by Audie E. Bock), this way:
“This Hashimoto visited my home, and I talked with him for hours. He seemed to have substance.”
Conflicting accounts? There’s a name for that.

August 14, 2018

O ódio dos jovens brancos tem explicação?



Marcelo Zorzanelli 
 
No próximo sábado, 11 de agosto, milhares de jovens vão se reunir numa praça próxima à Casa Branca para um evento chamado “Unite the Right” [unir a direita].
Infelizmente, eles não estarão lá para pedir menos impostos e mais privatizações. Da direita civilizada, usam apenas o nome. É um grupo homens brancos entre 20 e 30 anos que canta hinos nazistas e, alguns empunhando metralhadoras, marcha pela expulsão de imigrantes latinos e muçulmanos, pela segregação dos negros, contra direitos iguais para a mulher e contra qualquer forma de miscigenação racial (que eles chamam de “genocídio branco”).
Da última vez, há um ano, um deles atropelou e matou uma ativista que protestava contra o movimento deles.
Tem gente lá (e cada vez mais aqui) que acha isso bonito. Afinal, são patriotas, nacionalistas. Defendem seu chão. Outras, como o sociólogo americano Michael Kimmel, acha tudo muito feio. Talvez o nome do livro que ele acaba de lançar já dê o recado: “Homens Brancos Raivosos: A Masculinidade Americana no Fim de uma Era”.
De acordo com Kimmel, os homens brancos, membros históricos de um grupo dominante, reagiram ao aumento da igualdade social e à perda de vantagens econômicas inatas (preferência na hora de conseguir emprego, maiores salários) com ódio e violência. Além da óbvia frustração que a mudança de status provoca, homens não são criados para expressar seus sentimentos de forma saudável e são muito competitivos.
“Vergonha e humilhação estão por trás de praticamente todo tipo de violência”, disse Kimmel ao jornal The Guardian. “Se eu estou me sentindo pequeno, preciso fazer você se sentir menor.”
Há algum tempo ouvi num programa de rádio pública americana um programa que tentava explicar o que pode estar ocorrendo na mente de se alinhou à onda de xenofobia e racismo. O psicólogo (o nome me falha) falava sobre como uma crise econômica serve de gatilho para o pior no sexo masculino. Ele dizia algo na linha de que quando um grupo marginalizado começa a receber atenção do Estado, a sensação do homem branco que está desempregado é a de que estas pessoas furaram a fila. Programas estatais de inclusão de minorias são vistos como uma ofensa pessoal.
Não é raro que esta frustração se transforme em violência física contra o alvo do ódio. O que faz alguém cruzar esta linha? Há psicólogos nos EUA que tentam há mais de 30 anos caracterizar preconceitos extremos como o racismo e a xenofobia em um tipo de doença mental.
O psiquiatra americano Alvin Poussaint, da escola de medicina de Harvard, foi o primeiro a tentar incluir o racismo extremo no DSM (manual de diagnóstico de doenças mentais americano). Ele classificaria o racismo como um transtorno da ordem dos delírios, como o delírio de grandeza, a mania de perseguição, o ciúme patológico etc.
“Como psiquiatra, tratei diversos pacientes que projetavam seus próprios comportamentos inaceitáveis e medos em minorias, usando-as como bode expiatório para os problemas da sociedade”, escreveu Poussaint, ele mesmo um negro criado no Sul dos EUA, num artigo científico de 2002 em que defende o status de transtorno mental para preconceitos extremos. “Seus sentimentos racistas, que estavam ligados a crenças impossíveis de serem desafiadas, eram sintomas de graves problemas mentais.”
Mais de uma vez, a Associação Americana de Psiquiatria, que edita o manual, rejeitou a proposta. A desculpa de sempre: os diagnósticos seriam muito amplos. Ou seja, caso o preconceito extremo fosse considerado um transtorno, do dia para a noite, milhões de pessoas seriam oficialmente doentes.
(Um parêntese: este tipo de projeção já é identificada na psicologia clássica há um século. Carl Jung criou o conceito de sombra: a parte do nosso inconsciente onde ficam reprimidos os instintos dos quais mais temos vergonha. Nos sonhos do próprio Jung, sua sombra se apresentava como um “homem de pele escura”. Segundo ele, nos sonhos dos europeus, era comum que o mal assumisse a forma de um homem assim. É humano ter este impulso. Mas não é civilizado.)
O importante é ressaltar que esse tipo de transtorno é tratável. Com ajuda de psicólogos e psiquiatras, pessoas que são dominadas por estas ideias podem ser tratadas.
Esta é uma coluna que se propõe a fazer humor, mas há assuntos em que sou fraco demais para conseguir mostrar alguma graça. Acho que olhando o noticiário dos últimos anos temos muita razão para acreditar que o homem branco brasileiro está passando por um processo parecido ao descrito acima.
O que é pior: como lá, figuras públicas estão manipulando este medo irracional para transformá-lo em plataforma política.
Chamar xenofobia, racismo e misoginia de “querer Estado mínimo” não vai colar.
Conservadores são necessários para o bom funcionamento de uma sociedade. Da mesma forma que os progressistas também o são. O equilíbrio é sinal de saúde da democracia. A sociedade muda, avança e se adapta. Sem violência.
Não é aceitável que um lado queira eliminar o outro. E não se pode ignorar que o descaso com a saúde mental tem um enorme papel neste caso. Há alternativas, e elas demandam cuidado, diálogo, compaixão com quem está dominado por estes conflitos. Temos que fazer algo. Não dá para já ir se acostumando.

Abraçando Bolsonaro


TEREZA CRUVINEL

Na eleição de 1989, não se falava nesse deus oculto chamado mercado. Quem representava o olimpo econômico eram os “empresários”. E estes, inicialmente, evitavam explicitar apoio a Fernando Collor de Mello, embora vendo nele quem poderia evitar a eleição de Brizola ou de Lula, fantasmas da esquerda. Collor era útil mas tinha seus poréns.

Até que, em algum momento, surgiu o verbo collorir. E dizer que ‘fulano colloriu’ deixou de ter sentido negativo, passando a significar escolha natural e até ousada. Pode estar ocorrendo, neste momento, algo parecido em relação ao pré-candidato Jair Bolsonaro, dez vezes aplaudido anteontem por empresários, na CNI, sem apresentar uma só proposta para as crises do Brasil.

Ontem a agência Infomoney divulgou pesquisa da consultoria XP que mostra o avanço das apostas do mercado em Bolsonaro. Segundo a pesquisa, realizada junto a investidores entre os dias 2 e 3 passados, 49% acreditam que ele será o próximo presidente do Brasil. Eles eram apenas 26% em abril. O capitão já estava em segundo lugar, mas a grande aposta (48%) ainda era na eleição de Geraldo Alckmin, crença que hoje só anima 26% neste universo.

Em junho, 45% dos investidores consultados acreditavam que o segundo turno seria entre Bolsonaro e Ciro Gomes. Agora, a dupla em que mais apostam é Bolsonaro e Marina (32%), seguida de Bolsonaro e Alckmin (21%) e de Bolsonaro e Fernando Haddad (16%). É quase certo dizer que uma das vagas do segundo turno será de Bolsonaro, estando a outra em disputa. Mas apostar hoje em sua vitória não parece derivar de uma análise, mas de uma torcida, uma fé, ou algo mais que isso.

Na medida em que nem o tucano nem os outros candidatos de centro-direita deslancharam, ganhou força a hipótese de que a segunda vaga do segundo turno será da esquerda (do candidato do PT ou de Ciro Gomes). Diante dela, a elite econômica (investidores e empresários produtivos também) parece estar ensaiando um abraço no candidato da extrema-direita. Não pelo que ele diz, pois só diz chistes ideológicos, mas pelo que ouvem de seu assessor econômico Paulo Guedes. A Bolsonaro, basta dizer que concorda em tudo com o economista.

Tal como em 1989, a elite parece estar fazendo um movimento pragmático. Bolsonaro é troglodita, misógino, homofóbico, xenófobo, defensor da tortura e da ditadura. Confessa sua ignorância em economia e sua escassa compreensão dos problemas nacionais. “Não gosto de falar sobre assuntos que não domino”, disse algumas vezes na CNI. Mas e daí, podem estar se dizendo os senhores do mercado e da produção. Se ele ganhar e fizer o que é preciso, monitorado por Guedes, é com ele que vamos. E temos que começar a tratar isso com naturalidade.

Os aplausos no evento da CNI foram precedidos de um encontro de Bolsonaro com pesos-pesados do PIB na terça-feira. Organizado pelo empresário Abílio Diniz reuniu nomes como Cândido Bracher (Itaú), David Feffer (Suzano), José Roberto Ermírio de Morais (Votorantim), Marcelo Martins (Cosan), entre outros. Ali também o candidato fez promessas genéricas, como cortar o gasto público, privatizar, reduzir impostos, sem detalhamento e sem receita para a maioria parlamentar.

Só o pragmatismo eleitoral mais rasteiro pode levar empresários da indústria, bem formados e informados, a aplaudir com entusiasmo um candidato que confessa suas vastas ignorâncias e não apresenta propostas. Ciro Gomes foi incivilizadamente vaiado por dizer que, se eleito, e não tendo poderes imperiais, proporá sim, ao Congresso, a revisão dos aspectos mais selvagens da reforma trabalhista. Já Bolsonaro disse que em seu governo os trabalhadores terão que aceitar menos direitos para ter emprego, e isso deve ter soado como música. Em 1989, Collor prometia matar a inflação com um tiro só. O tiro acertou a própria economia, que entrou em recessão. Pragmatismo, como a esperteza, quando é demais pode engolir o dono.

August 12, 2018

50 tons de maluco





MARCELO RUBENS PAIVA

O primeiro debate presidencial 2018, transmitido ontem, 9 de agosto, pela Band, parecia papo de maluco.
Cabo Daciolo (Patriota) foi apresentado à Nação. O candidato nanico, que terá oito segundos na propaganda eleitoral, falava como se desse instruções à tropa. Dados do Google Trends indicam que o deputado fluminense foi o participante que mais cresceu nas buscas na internet.
Daciolo lembra aqueles zaps de fake news, com teorias da conspiração apocalípticas.
Pediu ajuda a Jesus para combater o comunismo, confundiu Ciro Gomes como fundador do Fórum de São Paulo, atrapalhou-se quando foi acusado de liderar greves ilegais (dos Bombeiros).
O jornalista Fernando Rodrigues tuitou: “Cabo Daciolo é, de longe, a melhor diversão do #DebateBand. Ele pergunta e acaba o tédio #semnoção.”
O mais paradoxal é que o candidato religioso foi do PSOL e expulso em 2015 não pelo discurso delirante, paranoico, greves e agitações que tumultuaram o Rio de Janeiro, mas por propôr mudar a Constituição de “todo poder emana do povo” para “todo poder emana de Deus”. PSOL é laico.
Álvaro Dias (Podemos) surpreendeu a fazer uma dobradinha com seu concorrente, Jair Bolsonaro, com quem disputa votos no Sul, e ao anunciar que chamará Sérgio Moro para ser ministro da Justiça.
Dias foi sem gravata, vestido como o juiz de Curitiba: camisa preta sob terno preto.
Geraldo Alckmin (PSDB), mais tarimbado, veterano em eleição presidencial, falava pausadamente, com o plural e os pronomes bem colocados, como um professor da Unesp.
Por vezes, parecia palestrar para empresários do mercado: usava termos como “spread” e “player”, desconhecidos pela maioria do eleitor.
Defendia suas propostas de governo, sem se tocar de que é governo há décadas, e a aliança com “Blocão”, costurada por partidos sem identificação ideológica, mas fisiológica.
As propostas de Jair Bolsonaro lembram a redação de um estudante do Ensino Fundamental buscando soluções para os problemas brasileiros.
Para combater a violência, propõe armar a população. Para combater a violência contra mulheres, propõe castração química voluntária. O problema da educação é resolvido com disciplina e escolas militares. A deficitária infraestrutura para logística brasileira será resolvida se acabar a “corrupição” do setor.
Cabo Daciolo e Jair Bolsonaro focaram na “corrupição”. Deve ser um costume militar acrescentar letra onde não tem.
Bolsonaro arrancou aplausos da plateia, quando olhou para a câmera e disse: “Você sabe o nome do ministro da Educação? E da Saúde?”
Defendia a tese da falta de meritocracia nos governos atuais.
Mas, espera lá. Não é ele quem vai chamar apenas militares para o ministério?
Meirelles (MDB) fala como milionário, seu tom de voz é de um milionário, e como um milionário se irritava e reclamava da desinformação dos candidatos.
Não falou como representante do Governo Temer. Ao contrário, fez questão de lembrar que foi ministro de Lula, procurando colar na imagem do ausente líder das pesquisas.
Marina Silva (Rede) colocava-se na posição de vítima e de que não tem nada a ver com o cenário atual. Alguém deveria lembrar-lhe de que defendeu o impeachment.
Falou em lobo mau e fugiu da resposta sobre descriminalização do aborto, ao dizer que faria um plebiscito. Ela é contra, e não declarou seu voto.
O melhor da noite ficou com Boulos (PSOL).
Começou mal, atacando Bolsonaro, que na réplica reclamou que estava ali para falar de propostas de governo.
Mas finalizou com o melhor da noite: “Aqui tem 50 tons de Temer. Até quem está propondo o novo, estava ano passado aprovando tudo do Temer”.
Daciolo continuou delirante. O grande problema da população não é o desemprego, educação, saúde, violência, desigualdade social, falta de moradia e saneamento. “O grande problema da população é falta de amor”, declarou confuso.
O que levou Ciro Gomes a falar das delícias da democracia.
O candidato do PDT foi isolado propositalmente. Poucos o perguntavam.
O @sensacionalista postou: “Ciro fica dois segundos sem falar pela primeira vez na vida.”
Conseguiu irritar Bolsonaro, ao lembrar do polêmico apoio do deputado, que defendia liberar a pílula de combate ao câncer sem aval da Anvisa.
Foi a única demonstração do descontrole do candidato de pavio curto do PSL.
Restou o choro do PT, ausente no debate.
Mas o que pretendia o partido ao lançar um candidato na prisão?
Estará, sim, ausente nos debates, nos programa de televisão, como Roda Viva e as entrevistas da Globo News.