October 1, 2020

Um passeio pela confusa mente presidencial


PEDRO DALTRO
 
 

Como diria Marcelo D2 no comecinho do show do Planet Hemp, “e lá vamos nós” para um passeio pela mente presidencial.

“Jair Bolsonaro anda desconfiado de dois integrantes da equipe econômica: os secretários Waldery Rodrigues Junior e Marcelo Guaranys. Influenciado por assessores militares, o presidente acha que alguns auxiliares do ministro Paulo Guedes estão sabotando o governo nos bastidores. Em uma conversa recente com um aliado no Palácio do Planalto, o presidente desabafou: “Esses caras ficam vazando tudo. Esses caras trabalhavam com o PT. O Waldery, o Guaranys… Isso tudo é petista e querem me ferrar”.” [Veja]

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“Marcelo Guaranys, atual secretário-executivo da Economia, trabalhou como diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) durante o governo Dilma Rousseff, enquanto Waldery Rodrigues foi pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e exerceu diversos cargos na área econômica durante os governos anteriores. Ambos são servidores públicos de carreira.

Dizem que a paranóia presidencial é pesada, em seu livro a Thais Oyama relata alguns episódios,

“Durante a campanha, depois de ser transferido para São Paulo após levar a facada em Juiz de Fora (MG), enfatizou que não queria ser internado no hospital Sírio-Libanês, “um hospital de petistas”, segundo ele. Foi conduzido para o Albert Einstein. Também em meio à corrida eleitoral, desistiu de convidar Janaina Paschoal —hoje deputada estadual pelo PSL em São Paulo— para compor sua chapa como vice. “Essa mulher vai pedir meu impeachment”, disse à época, de acordo com Oyama.”

Bem, até aqui Bolsonaro fez o que fez, uma coleção interminável de crimes de responsabilidade, e nada da jurista do impeachment acordar de seu sono profundo. Mas se ela fosse vice, sei não. Fato é que ela teria brigado com a famiglia presidencial ainda na transição.

“Não se tranquilizou, porém, depois de escolher Hamilton Mourão como vice. Ao longo do primeiro ano de governo, sua relação com o general foi marcada pela tensão. O presidente desconfia que o vice cobiça o cargo máximo da República e, por isso, conspira contra ele. “Num fim de semana de outubro, enquanto tomava água de coco na beira da piscina do Alvorada com um amigo, o presidente disse que, apesar do receio que tinha de ser alvo de drones, gostava de conversar ao ar livre porque dificilmente seria grampeado”, escreve Oyama. “Seu temor, confidenciou, era ser espionado por Mourão.”

Imagine que vida miserável tem Bolsonaro, folgo em saber. E vai ver ele nunca ouviu falar em microfone direcional.

E o mais louco é como a paranóia toma conta de todo o governo, a começar pelos generais, nada dessa loucura seria possível sem eles.

“Completou cinco meses que Maurício Valeixo foi demitido por Jair Bolsonaro do comando da PF e a indicação do seu nome para ocupar a vaga de adido na embaixada em Lisboa continua perdida no fundo de alguma gaveta da Casa Civil. Alguns dos auxiliares de Valeixo, no entanto, já foram designados para postos diplomáticos no exterior.” [O Globo]

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O mais espantoso dessa indiscreta vingança presidencial pra cima do ex-diretor da PF é que coube ao general Braga Netto enfiar a indicação do Valeixo na bunda, para delírio do capitão. Tivesse o general alguma dignidade ou assinaria a porra da nomeação ou pediria pra sair.

Enquanto isso a recém-dominada PF se molda à imagem e semelhança do paranóico presidente:

“A Polícia Federal procurou os advogados do pré-candidato a prefeito de São Paulo Guilherme Boulos para intimá-lo a prestar esclarecimentos sobre postagens feitas por ele em que criticava o presidente Jair Bolsonaro.” [Folha]

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A investigação acontece no âmbito de um inquérito aberto no Departamento de Inteligência Policial (DIP). O advogado Alexandre Pacheco Martins, que representa Boulos, vai à PF em Brasília, nesta segunda (28), para entender do que se trata.”

Bolsonaro vê inimigos em todos os lados, mas aquele que deveria ser seu inimigo número 1 desfruta de uma proximidade esquisitíssima:

“Chama atenção nos bastidores do Palácio do Planalto a presença constante de Osmar Terra, médico e deputado federal pelo MDB gaúcho, com o presidente Jair Bolsonaro.” [O Globo]

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“Visto como uma espécie de “ministro informal” desde que foi demitido da pasta da Cidadania, o parlamentar incorporou o discurso bolsonarista contra o isolamento social e em defesa da cloroquina no combate ao coronavírus. Desde que deixou o governo, em fevereiro, o emedebista participou de 15 agendas com Bolsonaro (sem partido) no Planalto, das quais 4 foram encontros reservados entre os dois. De maio até setembro, foram nove compromissos, mesmo número de vezes em que o presidente esteve com Eduardo Pazuello, general que foi efetivado no comando do Ministério da Saúde após quatro meses como interino na função.”

Esse aí é o responsável por um presidente da república ter previsto menos de 800 mortes na pandemia, Bolsonaro não tirou o número de qualquer estudo do governo, até porque Mandetta acertou TODAS as previsões, mas sim soprado em seus ouvidos pelo Osmar Terra. Terra deveria se tornar persona-non-grata no Palácio, mas inacreditavelmente Bolsonaro o acolhe.

“Durante a pandemia e as trocas de ministros, o nome do emedebista figurou mais de uma vez entre os cotados para liderar a pasta —principalmente após as quedas de Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Sem cargo oficial, coube ao congressista atuar nos bastidores e promover diálogo com os médicos “na ponta da linha” —termo frequentemente usado por Bolsonaro. Em pelo menos três oportunidades, Terra intermediou conversas entre Bolsonaro e médicos para debater políticas de saúde e ações de enfrentamento ao coronavírus. O parlamentar não só reuniu e deu papel político a um grupo de profissionais de saúde defensores da cloroquina, batizado “Médicos pela Vida”, como os levou para encontrar Bolsonaro em Brasília. A agenda ocorreu em 8 de setembro. Duas semanas antes, o deputado já havia ajudado a conceber o criticado evento “Brasil vencendo a covid”. Com a presença do “Médicos pela Vida”, a solenidade serviu para que fosse montado no Palácio do Planalto um palanque em apologia ao uso da cloroquina e da hidroxicloroquina —medicamentos que não têm eficiência comprovada no tratamento da covid-19. Naquele dia, o país passou a marca de 115 mil mortes em decorrência da pandemia —hoje já são mais de 140 mil. Pazuello não participou do evento porque estava em viagem oficial ao Ceará.”

Até aqui eu não entendia por que diabos os milicos juraram que Pazuello seria um ministro-tampão, que ele jamais estaria no comando da pasta quando batesse em 100 mil mortos. Bem, Pazuello foi efeitvado e ao que parece os milicos aceitaram pois a única outra opção dada por Bolsonaro era Osmar Terra!

“Interlocutores do presidente dizem que a relação de confiança entre Bolsonaro e Osmar Terra aumentou durante a pandemia pelo fato de o deputado, mesmo depois de ter sido demitido, ter sido um de seus principais aliados na defesa da cloroquina e na crítica a governadores e prefeitos pela adoção de medidas restritivas —como o isolamento social e, em alguns casos, o “lockdown” (interrupção total das atividades). Após ter voltado a cogitar nomear o médico como ministro da Saúde, Bolsonaro teria sido convencido pela ala militar do Planalto a manter Pazuello no cargo.”

Que quadra miserável da história do Exército brasileiro.

E tem uma pessoa no governo que ganha, cada vez mais, a confiança do presidente:

“O vice-almirante Flávio Rocha, secretário de Assuntos Estratégicos e conhecido no Palácio do Planalto como “almirante Rocha”, tem sido cada vez mais ouvido por Jair Bolsonaro.” [O Globo]

Não é a primeira nota dando conta dessa influência de cosplay do Heráclito Fortes (morro de saudades das entrevistas do Heráclito) com farda da Marinha mas nas matérias sobre bastidores do governo seu nome qqase nunca aparece, e vai aqui uma tese para o presidente: se o nome do misterioso almirante não aparece é sinal que ele anda vazando notícias para jornalistas, demite o ardiloso almirante, Bolsonaro, é um ardiloso plano da Marina pra roubar o protgaonismo do Exército nas Forças Armadas!

E a mente presidencial é fruto de décadas. Quando deputado Bolsonaro nunca se preocupou com chatices como ler e formular projetos, discutir problemas nacionais, enfrentar os problemas que afligiam o Rio, o Estado que ele deveria representar. O presidente amado pelos policiais nunca fez nada pela segurança do Rio em 30 anos de câmara. A Bolsonaro só interessava a parte boa: salário, auxílio-moradia, dezenas de cargos para serem preenchidos por pessoas que têm os curiosos hábitos de compartilhar sobrenomes e de sacar dinheiro vivo. Não à toa colocou a família toda no meio, família que curiosamente paga muita coisa em dinheiro vivo. Por que na presidência ele se preocuparia com a ônus? A pica é do aspira.

“Na negociação do programa social que vem por aí, a ordem de Jair Bolsonaro ao seu núcleo político é uma só: as medidas impopulares terão que ser feitas pelo Congresso e não pelo governo. Resume um ministro: “Onde tem maldade, é Congresso”.” [O Globo]

Até imagino o desespero quando o governo abusar da generosidade em suas propostas e o Maia, malandro, falar “taí, gostei, vamos aprovar assim mesmo. mexe em nada não.

À paranóia se soma uma brutal confusão veja o o que Bolsonaro jurou no dia 15 desse mês:

“E a última coisa, para encerrar: até 2022, no meu governo, está proibido falar a palavra Renda Brasil. Vamos continuar com o Bolsa Família e ponto final”

13 dias depois…

“Após negociação com líderes partidários, o governo decidiu fechar uma proposta para o novo programa social que substituirá o Bolsa Família. A informação foi anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), após reunião com ministros, deputados e senadores nesta segunda (28).” [Folha]

Os detalhes sobre essa reviravolta estão em um tópico aí pra baixo.

Por fim, algo que molda a mente presidencial é a admiração por Trump, para desespero dos ruralistas:

“Jair Bolsonaro tuitou na semana passada em tom ufanista, como uma vitória do governo, que o Brasil receberá uma cota adicional para exportar 80 mil toneladas de açúcar para os EUA, com imposto reduzido. A indústria sucroalcooleira e a frente parlamentar do setor avaliam que Bolsonaro foi enganado por assessores. Calculam que esse adicional representa apenas 0,3% da média das exportações brasileiras de etanol. Ou seja, nada significa em termos de comércio — e expuseram as razões numa carta enviada ao presidente.” [O Globo]

E olha que nessa passeio pela mente presidencial eu nem toquei em psicopatia, hein. Estamos muito fodidos, né pouco não. Um presidente vil, paranóico, maluco e errático. A chance de dar certo é nenhuma.

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