Os ventos que sopraram ontem na Baía de Guanabara afastaram os riscos do vazamento de um duto de óleo bruto da Transpetro, subsidiária da Petrobras, atingir a Ilha de Paquetá, conforme constatou o analista ambiental e chefe da APA de Guapimirim, Maurício Muniz, em vistoria de barco que fez de manhã. “O problema é que o óleo se acumulou em duas áreas de proteção ambiental importantes, dos manguezais do Rio Estrela e do Parque Municipal Barão de Mauá, e a limpeza desse tipo de ecossistema é bastante complexa. As praias do Ipiranga e de Magé também foram muito impactadas”, disse.
Muniz considera prematura a estimativa da Petrobras de que foram 60 mil litros vazados, “feita só com o sobrevoo da região. Pode ser mais ou pode ser menos, ainda é cedo para avaliar”, completou. Segundo a bióloga do Instituto estadual do Ambiente (Inea) Vânia Ferreira ainda não é possível avaliar nem o volume de óleo despejado pelo vazamento e tampouco o valor da multa que será aplicada contra a empresa petrolífera.
A bióloga afirmou que os pescadores impediram os trabalhos de remoção do óleo pela Petrobras durante toda a manhã, para que o estrago pudesse ser melhor estimado pelas autoridades responsáveis e pela mídia, de forma que os trabalhos só foram retomados à tarde. Segundo Eliane Ferreira, da Colônia de Pescadores Artesanais Z-9, que vai de Guapimirim a Duque de Caxias, “eles estão tentando encobrir o problema, jogando um produto para que o óleo afunde. Tem pescadores ajudando na limpeza desde ontem e ainda estamos fazendo um levantamento dos prejuízos”, afirmou.
Conforme Alexandre Anderson, da Associação de Homens e Mulheres da Baía de Guanabara, mais de mil pescadores sofreram prejuízos diretos com o vazamento e mais de dois mil, indiretos. “Fomos os primeiros pescadores a chegar no local, às 9h de domingo. E pela minha experiência, em 30 anos de atuação, posso afirmar que não se tratou de furto”, contestou a justificativa da Transpetro.
O biólogo Mário Moscatelli, que hoje vai em campo para acompanhar de perto o vazamento, detectou, em sobrevoo realizado no domingo, que o desastre ambiental afetou diretamente mais de 80 mil m² de manguezais do fundo da Baía de Guanabara e do Rio Estrela. “Se as árvores morreram intoxicadas, perderão as folhas. O mais grave, porém, é que passamos pelo período reprodutor de caranguejos, que estão ferrados. Um diagnóstico mais preciso, contudo, só será possível em pelo menos 15 dias”, estima. Moscatelli também observou do alto 4 km do Rio Estrela lambidos pelo óleo, “principalmente abaixo do ponto do vazamento. No entanto, a maré alta também conduziu o óleo para áreas acima do vazamento”, completa.
O que o ambientalista não pretende questionar é se o vazamento foi de fato provocado por uma tentativa de furto. “Fui informado por pessoas da região que o vazamento teria começado na sexta-feira. Verdade ou não, a empresa só começou a providenciar as contenções no domingo. Questiono como uma empresa de ponta como a Petrobras não dispõe de um mecanismo para monitorar qualquer tipo de alteração na pressão dos dutos?”
Ações de limpeza
A Transpetro informa que um sobrevoo de helicóptero realizado na manhã de ontem na área da Baía de Guanabara afetada pelo vazamento constatou a presença de vestígios de óleo contidos na foz e nas margens do Rio Estrela. “Cerca de 45 mil litros de óleo (75% do volume vazado) já foram recolhidos pelas equipes de emergência. A companhia continua trabalhando nas ações de limpeza e recuperação da área atingida e instalou uma unidade de atendimento à fauna no local, com atuação de uma médica veterinária e de especialistas em meio ambiente.”
Ainda segundo a empresa, são 413 profissionais mobilizados, 24.600 metros de barreiras absorventes e de contenção, 19 caminhões, 22 embarcações de apoio, uma aeronave e três drones, entre outros recursos. “O duto foi reparado e voltou a operar”, concluiu a nota oficial.
No comments:
Post a Comment