December 11, 2018

Ilha de Paquetá é poupada do vazamento de óleo, retido nas APAs


Os ventos que sopraram ontem na Baía de Guanabara afastaram os riscos do vazamento de um duto de óleo bruto da Transpetro, subsidiária da Petrobras, atingir a Ilha de Paquetá, conforme constatou o analista ambiental e chefe da APA de Guapimirim, Maurício Muniz, em vistoria de barco que fez de manhã. “O problema é que o óleo se acumulou em duas áreas de proteção ambiental importantes, dos manguezais do Rio Estrela e do Parque Municipal Barão de Mauá, e a limpeza desse tipo de ecossistema é bastante complexa. As praias do Ipiranga e de Magé também foram muito impactadas”, disse.

Muniz considera prematura a estimativa da Petrobras de que foram 60 mil litros vazados, “feita só com o sobrevoo da região. Pode ser mais ou pode ser menos, ainda é cedo para avaliar”, completou. Segundo a bióloga do Instituto estadual do Ambiente (Inea) Vânia Ferreira ainda não é possível avaliar nem o volume de óleo despejado pelo vazamento e tampouco o valor da multa que será aplicada contra a empresa petrolífera.
"Barreiras tentam conter o vazamento de óleo na foz do Rio Estrela, mas ele já chegou à Baía de Guanabara. Os mangezais foram bastante atingidos(Foto: Olho Verde/Moscatelli)
A bióloga afirmou que os pescadores impediram os trabalhos de remoção do óleo pela Petrobras durante toda a manhã, para que o estrago pudesse ser melhor estimado pelas autoridades responsáveis e pela mídia, de forma que os trabalhos só foram retomados à tarde. Segundo Eliane Ferreira, da Colônia de Pescadores Artesanais Z-9, que vai de Guapimirim a Duque de Caxias, “eles estão tentando encobrir o problema, jogando um produto para que o óleo afunde. Tem pescadores ajudando na limpeza desde ontem e ainda estamos fazendo um levantamento dos prejuízos”, afirmou.
Conforme Alexandre Anderson, da Associação de Homens e Mulheres da Baía de Guanabara, mais de mil pescadores sofreram prejuízos diretos com o vazamento e mais de dois mil, indiretos. “Fomos os primeiros pescadores a chegar no local, às 9h de domingo. E pela minha experiência, em 30 anos de atuação, posso afirmar que não se tratou de furto”, contestou a justificativa da Transpetro.
O biólogo Mário Moscatelli, que hoje vai em campo para acompanhar de perto o vazamento, detectou, em sobrevoo realizado no domingo, que o desastre ambiental afetou diretamente mais de 80 mil m² de manguezais do fundo da Baía de Guanabara e do Rio Estrela. “Se as árvores morreram intoxicadas, perderão as folhas. O mais grave, porém, é que passamos pelo período reprodutor de caranguejos, que estão ferrados. Um diagnóstico mais preciso, contudo, só será possível em pelo menos 15 dias”, estima. Moscatelli também observou do alto 4 km do Rio Estrela lambidos pelo óleo, “principalmente abaixo do ponto do vazamento. No entanto, a maré alta também conduziu o óleo para áreas acima do vazamento”, completa.

O que o ambientalista não pretende questionar é se o vazamento foi de fato provocado por uma tentativa de furto. “Fui informado por pessoas da região que o vazamento teria começado na sexta-feira. Verdade ou não, a empresa só começou a providenciar as contenções no domingo. Questiono como uma empresa de ponta como a Petrobras não dispõe de um mecanismo para monitorar qualquer tipo de alteração na pressão dos dutos?”

Ações de limpeza

A Transpetro informa que um sobrevoo de helicóptero realizado na manhã de ontem na área da Baía de Guanabara afetada pelo vazamento constatou a presença de vestígios de óleo contidos na foz e nas margens do Rio Estrela. “Cerca de 45 mil litros de óleo (75% do volume vazado) já foram recolhidos pelas equipes de emergência. A companhia continua trabalhando nas ações de limpeza e recuperação da área atingida e instalou uma unidade de atendimento à fauna no local, com atuação de uma médica veterinária e de especialistas em meio ambiente.”
Ainda segundo a empresa, são 413 profissionais mobilizados, 24.600 metros de barreiras absorventes e de contenção, 19 caminhões, 22 embarcações de apoio, uma aeronave e três drones, entre outros recursos. “O duto foi reparado e voltou a operar”, concluiu a nota oficial.

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