JOSÉ ROBERTO TORERO 
CARO EX-PRESIDENTE da República e atual presidente do Senado José Sarney, é possível  que nos próximos dias o senhor perca seu cargo. Acho isso difícil, já que  os seus companheiros são muito, digamos, compreensivos com os erros  alheios. De qualquer forma, pode ser  útil já ir pensando num novo trabalho, e é por isso que lhe escrevo. O  desemprego é uma coisa triste e não  o desejo a ninguém. Ficar em casa  vendo TV seria muito ruim para  uma pessoa tão ativa. E escrever seria pior ainda. Para todos.
Por isso, examinei atentamente  sua história recente e me pus a pensar qual profissão seria mais indicada a Vossa Excelência. Cheguei a  uma interessante conclusão: a saída  é tornar-se presidente de um clube  de futebol.
As vantagens são imensas. A primeira e mais óbvia é continuar a ser  chamado de "presidente". É um termo que afaga o ego, que satisfaz a  vaidade, que vicia. Afinal, o presidente é aquele que está acima de todos, que manda em tudo, é aquele  que tem o poder.
Mas há outras coisas boas. Por  exemplo, não há que prestar contas  a ninguém. Sim, às vezes existe  um conselho fiscal, um grupo de diretores ou coisa assim, mas é muito  raro que eles criem problemas.
Geralmente são do seu próprio grupo. No futebol, o fato de Vossa Excelência receber irregularmente um  auxílio-moradia de R$ 3.800 seria  deixado de lado.
Para algumas das tarefas do presidente do clube, o senhor estaria  mais que gabaritado. Eles adoram,  por exemplo, mudar os estatutos  para poderem governar por mais  tempo. E não podemos esquecer  que Vossa Excelência, quando  mandatário máximo do país, conseguiu prorrogar seu mandato em  mais um ano.
Muitos presidentes também adoram misturar suas coisas particulares com as do clube. Às vezes, o  dinheiro, às vezes os funcionários.
Assim, por exemplo, não haveria  problema em que o mordomo da casa da sua filha Roseana fosse pago  pelo Senado.
As prestações de contas dos clubes  também são um tanto obscuras e  imprecisas. Assim sendo, os boletins  administrativos secretos seriam  uma inovação muito bem-vinda ao  futebol. Neste caso, a publicação de  coisas como a nomeação de seu neto  João Fernando, de sua sobrinha Vera Portela ou mesmo do namorado  de sua neta para integrar o quadro  de servidores do Senado não causaria problemas.
Mas há mais coincidências entre  os dois empregos, muitas mais. Li  que a Fundação Sarney recebe um  bom dinheiro de empresas estatais  como a Petrobras, que repassou R$  500 mil para patrocinar um projeto  cultural que nunca teria saído do papel. Pois os clubes, mesmo devendo  uma nota preta, recebem uma boa  grana da Timemania.
Também é muito comum entre os  dirigentes esportivos que amigos  tornem-se inimigos e vice-versa.  Ora, Vossa Excelência está mais que  acostumado com isso. Antes, tinha  Lula e Fernando Collor na conta dos  adversários ferrenhos. Hoje, são  fiéis companheiros seus. Nos clubes  e na política, nunca se diz nunca.
Enfim, fica aqui o conselho: caso o  Senado o dispense, sempre há o futebol.
Folha, 11 de agosto de 2009
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1 comment:
CARO ROBERTO TORERO.
Li seu artigo e gostaria de publicar (com sua autorização ) no meu blog. www.betocritica.blogspot.com
betocritica@bol.com.br
abraços e parabéns pelo artigo.
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