por Reynaldo Aragon
Não
 é por Bolsonaro. Nunca foi. A tarifa de 50% imposta por Donald Trump 
sobre todas as importações brasileiras não é um gesto de solidariedade 
pessoal nem de lealdade ideológica. É um ataque estratégico. É o 
movimento inaugural de uma nova etapa da guerra híbrida declarada contra
 o Brasil, que tem como verdadeiro objetivo impedir a consolidação de um
 projeto nacional soberano em pleno século XXI.
A
 narrativa de retaliação pela “perseguição” ao ex-presidente e seus 
filhos é apenas a camada superficial do conflito. Serve para mobilizar a
 base radicalizada da extrema-direita, tanto nos Estados Unidos quanto 
no Brasil, mas não explica a profundidade geopolítica e econômica da 
ofensiva. A real motivação dessa escalada é outra — e bem mais 
estrutural: a crescente autonomia do Brasil na cena internacional, seu 
protagonismo no BRICS, sua aproximação com a China e o Sul Global, e a 
decisão política de avançar na regulação das plataformas digitais, 
desafiando o poder concentrado das Big Techs norte-americanas.
A
 eleição de Lula e a postura externa de seu governo — altiva, 
multilateral, e voltada para a reconstrução de alianças do hemisfério 
sul — ativaram os alarmes em Washington e no Vale do Silício. A retomada
 de uma política externa soberana e de políticas de enfrentamento à 
desinformação, à captura algorítmica e ao abuso das plataformas digitais
 representam, juntas, uma ameaça sistêmica à hegemonia norte-americana 
no campo econômico, cultural e informacional.
A
 resposta de Trump, embora apresentada como defesa da liberdade de 
expressão ou da “injustiça” cometida contra Bolsonaro, na verdade, é 
parte de uma engenharia de contenção. Uma forma de conter, pelo colapso 
tarifário e pelo caos simbólico, o avanço de um Brasil que ousa querer 
ser mais do que mercado: que quer ser ator, e não apenas território 
ocupado. O nome disso é guerra — uma guerra em que o bolsonarismo serve 
como cortina de fumaça e instrumento de desgaste, mas já não é 
protagonista da história.
*A engrenagem da guerra híbrida: EUA, Big Techs e domínio digital.*
A
 aliança entre o governo dos Estados Unidos e as Big Techs forma o 
núcleo duro do novo imperialismo — um imperialismo de dados, de 
plataformas e de controle cognitivo. O que está em curso no Brasil, 
portanto, não é apenas uma disputa comercial, mas uma operação 
articulada para reverter avanços que ameaçam esse poder.
A
 recente decisão do Supremo Tribunal Federal de responsabilizar 
plataformas pelos conteúdos que divulgam e se recusam a moderar foi 
interpretada, em Washington e na Califórnia, como uma ruptura 
intolerável. O Brasil tornou-se o primeiro grande país do Ocidente a 
declarar que o espaço digital não é uma terra sem lei. A regulação, 
mesmo em estágio inicial, foi suficiente para acionar mecanismos de 
retaliação. Da mesma forma como o petróleo foi o estopim de guerras 
convencionais, a moderação de conteúdo e a responsabilização de 
plataformas se tornaram gatilhos para sanções econômicas e chantagem 
política.
Trump,
 ao alinhar sua retórica à defesa irrestrita das Big Techs, não apenas 
reafirma sua subordinação aos interesses do Vale do Silício como também 
instrumentaliza o caso brasileiro para enviar um recado global: qualquer
 nação que desafiar a supremacia digital norte-americana será punida. 
Não por meio de mísseis, mas por meio de tarifas, manipulação de 
mercados, desestabilização institucional e campanhas de desinformação 
internacional.
Esse
 processo é parte do que muitos já chamam de complexo civil-militar 
informacional — um aparato que funde a lógica de guerra do Pentágono com
 a arquitetura de dados das empresas privadas. As plataformas, longe de 
serem neutras, são agentes ativos na disputa por hegemonia. Elas moldam 
comportamentos, modulam afetos e operam como braços de um sistema de 
dominação silenciosa, mas eficaz. Quando o Brasil ameaça reverter essa 
lógica, torna-se alvo.
O
 governo Lula, ao insistir na regulação democrática do ambiente digital,
 tocou numa das feridas mais sensíveis do capitalismo contemporâneo. Não
 se trata apenas de legislar sobre fake news. Trata-se de afirmar que a 
soberania informacional é um direito do povo e uma condição para a 
existência de qualquer projeto nacional de longo prazo. O tarifaço, 
nesse contexto, deve ser lido como um ato de guerra: um sinal de que a 
autonomia digital passou a ser tratada como insurreição geopolítica.
*O bolsonarismo como instrumento esgotado.*
Durante
 quatro anos, o bolsonarismo foi o agente ideal para a execução da 
agenda imperial no Brasil. Entregou tudo o que lhe foi pedido: desmonte 
de políticas públicas, destruição da soberania ambiental, militarização 
do governo civil, privatizações de infraestrutura estratégica, 
paralisação de mecanismos de integração regional e — o mais importante —
 uma relação de completa subserviência à lógica das plataformas digitais
 e ao eixo geopolítico Washington-Silicon Valley.
Mas
 agora, fora do poder, essa aliança entra em crise. O bolsonarismo já 
não controla ministérios, nem embaixadas, nem orçamento. Não tem como 
romper com o BRICS, nem vetar a regulação da internet, nem entregar 
ativos nacionais. O que resta é sua utilidade residual: servir de massa 
de manobra, de gatilho narrativo, de bucha de canhão. Os filhos de 
Bolsonaro e seus aliados sabem disso. Eles não são mais os operadores da
 máquina — são apenas os provocadores que ainda têm algum valor 
simbólico enquanto conseguirem gerar instabilidade.
A
 reação histérica de Eduardo Bolsonaro — criticando o Itamaraty, 
ameaçando não voltar ao Brasil, apelando por sanções internacionais 
contra juízes brasileiros — não é apenas desespero. É cálculo. Ele sabe 
que Trump não vai salvar sua família. Mas aposta que, ao dobrar a aposta
 na radicalização, poderá criar um ambiente suficientemente caótico para
 interferir nas eleições de 2026. O exílio voluntário é transformado em 
narrativa messiânica. O golpismo fracassado vira martírio estratégico.
Esse
 movimento, porém, carrega uma contradição central: os EUA — e as Big 
Techs — não precisam mais do bolsonarismo para operarem seus interesses.
 O que eles querem é o enfraquecimento do governo Lula, seja com 
Eduardo, com Tarcísio, com o Centrão ou com um avatar novo. O 
bolsonarismo, nesse arranjo, tornou-se um problema tático. Ele é 
instável, ruidoso, exposto. A tática agora é usá-lo para romper o tecido
 institucional brasileiro e, quando não for mais funcional, abandoná-lo à
 própria sorte — como fizeram com tantos “aliados descartáveis” na 
história da geopolítica imperial.
O
 problema, para o Brasil, é que enquanto esse resíduo tóxico da 
extrema-direita continuar operando como força de sabotagem interna, a 
instabilidade será permanente. O bolsonarismo não governa, mas impede 
que o país governe. Não propõe, mas bloqueia. Seu papel hoje não é mais 
ser governo. É ser vírus.
*Eduardo Bolsonaro e a aposta desesperada na escalada internacional.*
Eduardo
 Bolsonaro não é ingênuo. Ele sabe que seu pai não será salvo por Trump.
 Sabe que a anistia não virá do Congresso e que o Supremo não recuará. 
Sabe que os Estados Unidos não moverão uma única engrenagem de seu 
complexo militar-jurídico-informacional por lealdade pessoal à família 
Bolsonaro. Mas mesmo diante desse diagnóstico, Eduardo dobra a aposta. E
 o faz não por convicção, mas por desespero estratégico.
Ao
 abandonar o Brasil e instalar-se no exterior como suposto “refugiado 
político”, Eduardo assume um novo papel: o de operador internacional de 
guerra cultural e sabotagem diplomática. Sua atuação passa a ser 
simbólica e estratégica — ele se converte em instrumento para acionar 
forças externas contra a institucionalidade brasileira. É isso que 
explica suas declarações recentes: o pedido para que Trump sancione 
juízes do STF, a ameaça de renunciar ao mandato, os ataques ao Itamaraty
 e até ao governador Tarcísio de Freitas. Eduardo não está apenas se 
defendendo — está tentando incendiar o cenário institucional brasileiro a
 partir de fora.
Essa
 estratégia carrega a lógica clássica da guerra híbrida: deslegitimar as
 -instituições por dentro e por fora, forçar reações desproporcionais, 
desestabilizar alianças diplomáticas e apresentar o Brasil como uma 
“ditadura disfarçada” que precisa ser corrigida pelos “verdadeiros 
defensores da liberdade”. É a cartilha de Steve Bannon adaptada às 
condições de um país que ousou dizer não ao império.
Mas
 o que Eduardo ignora — ou finge ignorar — é que ele não é mais um 
protagonista necessário. O trumpismo tem outras prioridades. As Big 
Techs também. E se em algum momento ele for considerado um peso, será 
descartado com a mesma frieza com que o Departamento de Estado abandonou
 tantos outros agentes provocadores mundo afora. O exílio simbólico pode
 se transformar em exílio real. E a cruzada que hoje lhe rende manchetes
 poderá, em breve, render silêncio — ou prisão, se decidir voltar ao 
Brasil.
O
 cálculo de Eduardo é claro: ele não quer vencer dentro das regras. Ele 
quer destruir o tabuleiro. E sua aposta é que Trump o ajudará nisso — 
não por lealdade, mas porque a destruição do Brasil como projeto 
soberano interessa ao capital que Trump representa. A questão é: até 
onde Eduardo está disposto a ir para provocar essa ruptura? E o que ele 
arrasta junto consigo?
*O empresariado brasileiro: rachaduras na base da direita.*
Se
 Eduardo Bolsonaro joga no caos, o empresariado brasileiro joga no 
cálculo. E a conta, para quem tem investimentos, cadeia de produção e 
folha de pagamento, não fecha. A radicalização da extrema-direita, longe
 de representar estabilidade ou previsibilidade, virou um risco de 
negócio — um risco político, jurídico, diplomático e agora comercial. A 
tarifa de Trump acendeu o sinal vermelho nos gabinetes da FIESP, da CNI e
 dos fundos de investimento: apoiar aventureiros digitais pode sair 
caro.
A
 reação do setor produtivo não tem sido ruidosa, mas é visível. 
Empresários que até pouco tempo toleravam o bolsonarismo como um “mal 
necessário” para conter a esquerda já não escondem o incômodo. O 
tarifaço imposto por Trump, supostamente para “defender” Bolsonaro, 
prejudica exportações, encarece insumos e ameaça empregos. Mais do que 
isso: torna o Brasil um país imprevisível para o comércio internacional —
 e a instabilidade, como todo capitalista sabe, é o pior dos ambientes 
para o lucro.
Essa
 cisão explica o silêncio de boa parte da elite econômica diante das 
bravatas de Eduardo. Ninguém do setor financeiro, industrial ou do 
agronegócio de médio porte saiu em defesa da família Bolsonaro. Pelo 
contrário, há um movimento gradual de realinhamento com figuras como 
Tarcísio de Freitas, que encarnam o mesmo projeto de subordinação ao 
capital internacional, mas com uma estética mais polida, mais 
tecnocrática, mais vendável. Tarcísio fala inglês, usa terno sim e não 
pede golpe em live de domingo — e isso basta para parte da elite 
econômica que quer seguir entregando o país, mas sem ruído.
No
 entanto, essa aposta também carrega riscos. Tarcísio representa uma 
continuidade da lógica de submissão, da entrega, da alienação do que 
resta do Estado brasileiro. Seu projeto, embora mais silencioso, é 
igualmente hostil à soberania. Ele não repele o bolsonarismo: apenas o 
encapsula numa embalagem aceitável. É a ultradireita de gravata, o 
golpismo por dentro da norma, a captura neoliberal disfarçada de 
eficiência.
O
 empresariado brasileiro, nesse jogo, está dividido entre dois erros: a 
instabilidade alucinada dos Bolsonaro e a tecnocracia colonizada dos 
“liberais racionais”. Nenhum dos dois projetos serve ao país. Ambos 
respondem, em última instância, ao mesmo centro de comando: o capital 
estrangeiro, suas corporações e seus algoritmos.
*BRICS, Sul Global e soberania digital: o que realmente está em jogo.*
O
 tarifaço de Trump é o pavio visível; o barril de pólvora, porém, está 
nas transformações que o Brasil passou a liderar no eixo Sul Global. 
Desde que assumiu a presidência do BRICS em 2025, Brasília deu ao bloco 
um rumo claro: cooperação financeira em moedas locais, integração 
industrial entre América do Sul, África e Ásia e uma agenda de 
governança global centrada na redistribuição de poder hoje concentrado 
no FMI e no Conselho de Segurança da ONU. A Declaração do Rio de alguém 
Janeiro, aprovada há poucos dias, coloca em texto corrido o que 
Washington sempre temeu: “fortalecer mecanismos de financiamento que 
reduzam a dependência do dólar” e “promover padrões regulatórios comuns 
para a economia digital”
*É contra esse enunciado que a Casa Branca dispara tarifas.*
Trump
 reage porque os números já contam a história. Em 2003, os EUA absorviam
 quase um quarto das exportações brasileiras; hoje recebem 12%, enquanto
 a China saltou para 28%.
Cada
 ponto percentual que o Brasil desloca para o mercado asiático é uma 
fissura na arquitetura unipolar que sustenta o poder norte-americano. E 
não se trata apenas de soja ou minério: falamos de semicondutores 
produzidos em parceria com a Índia, cabos de dados submarinos conectando
 Fortaleza a Luanda, satélites geoestacionários cofinanciados pelo Novo 
Banco de Desenvolvimento. A tarifa, nesse jogo, não busca proteger 
empregos em Ohio; ela tenta conter a geometria de um mundo em que o 
Atlântico deixa de ser o meridiano definitivo do comércio e da cultura.
No
 plano doméstico, Lula apoiou outro movimento que irrita Silicon Valley:
 a responsabilização legal das plataformas digitais. Em 26 de junho, o 
Supremo Tribunal Federal declarou parcialmente inconstitucional o artigo
 19 do Marco Civil da Internet, exigindo pronta remoção de conteúdos 
ilícitos e estabelecendo dever de cuidado algorítmico
A
 decisão converte o Brasil em laboratório jurídico para qualquer país 
que pretenda quebrar a imunidade das Big Techs. Se a sentença se 
consolidar, cria-se jurisprudência capaz de atravessar oceanos. A 
tarifa, portanto, é mensagem cifrada: “regulem e pagarão”.
A
 convergência de soberania econômica (BRICS) e soberania informacional 
(regulação das plataformas) compõe o coração estratégico do conflito. Ao
 articular-se com Pequim, Joanesburgo e New Delhi para monetizar 
comércio em moedas locais, o Brasil desafia o privilégio exorbitante do 
dólar. Ao impor barreiras jurídicas ao poder algorítmico, desafia a 
renda de monopólio dos conglomerados digitais que sustentam a máquina de
 inteligência dos EUA. Essa dupla audácia altera o centro de gravidade 
do sistema-mundo: já não basta controlar portos e minas — é preciso 
submeter cabos de fibra e leis de dados.
Trump,
 estrategista do choque, escolheu a arma tarifária porque é rápida, 
concentrada e fácil de vender a um eleitorado protegido por slogans 
nacionalistas. Mas o alvo real não está nos contêineres que deixam 
Santos; está no cabo óptico que liga Santos a Xiamen, nos pilotos de IA 
que rodam em nuvem brasileira sem intermediação da Califórnia, no 
estatuto jurídico que pode obrigar o Facebook a contratar moderadores em
 Recife ao invés de automatizar censura em Boston.
Por
 isso o conflito de 2025 é qualitativamente distinto das guerras 
tarifárias dos séculos passados. É disputa sobre quem define as regras 
do tráfego de bits, sobre quem captura excedentes cognitivos, sobre quem
 registra a contabilidade em qual moeda. E, nesse xadrez, o Brasil 
tornou-se, num mesmo lance, peça-chave e peça-alvo: se conseguir manter a
 rota BRICS e consolidar a regulação digital, abre precedente para todo o
 Sul Global; se recuar, reforça a tese de que nenhuma potência 
periférica pode ousar reformar o sistema sem sofrer retaliação exemplar.
*Cenários até 2026: o confronto inevitável entre soberania e submissão.*
Até
 outubro de 2026, o Brasil enfrentará uma encruzilhada histórica. O que 
está em jogo não é apenas a reeleição de um presidente ou a 
sobrevivência política de um grupo extremista. Está em jogo a 
possibilidade — talvez a última em décadas — de consolidar um projeto de
 país soberano em meio a uma ofensiva global coordenada que combina 
guerra comercial, sabotagem informacional e chantagem diplomática.
A
 máquina de guerra híbrida já está em operação. A tarifa de 50% imposta 
por Trump é apenas o início. Fontes próximas ao Departamento de Comércio
 dos EUA falam em ativar a seção 301 para iniciar investigações formais 
contra o Brasil por “restrições à liberdade de expressão e ao livre 
mercado digital” — linguagem fabricada sob medida para proteger os 
interesses das Big Techs. A Meta, o Google, a Amazon e o X, cada uma à 
sua maneira, vêm pressionando parlamentares brasileiros, ameaçando 
suspender serviços, alegando insegurança jurídica, enquanto injetam 
recursos em campanhas de desinformação e manipulação do debate público.
Nesse
 ambiente, o bolsonarismo seguirá operando como força de sabotagem. Sem 
poder institucional, funcionará como milícia digital, como rede paralela
 de influência e como elo informal entre os interesses do trumpismo, da 
extrema-direita europeia e dos grupos que operam nas sombras do capital 
financeiro e tecnológico. Não se trata de disputar eleições para vencer —
 trata-se de inviabilizar o processo eleitoral, esgarçar a credibilidade
 das instituições, plantar a dúvida, esticar a corda.
A
 aposta de Eduardo Bolsonaro é clara: transformar 2026 em um plebiscito 
entre “a ditadura do STF” e “a liberdade”, entre “o comunismo do BRICS” e
 “o Ocidente cristão”, entre “a censura petista” e “a verdade do povo”. 
Trata-se de um roteiro pronto para ser executado em plataformas 
controladas por interesses estrangeiros, operado com inteligência 
artificial generativa, redes de bots, influenciadores pagos e o apoio 
silencioso — mas ativo — de think tanks, fundações e setores do próprio 
empresariado internacional.
Mas
 essa narrativa não encontrará terreno fértil com a mesma facilidade de 
2018. O cenário mudou. A pandemia desnudou o custo da 
irresponsabilidade. O 8 de janeiro revelou os limites do golpismo. E o 
tarifaço de Trump expôs a fratura entre os interesses do povo brasileiro
 e os da extrema-direita internacional. O empresariado está dividido. O 
eleitorado está mais desconfiado. E o campo democrático aprendeu a 
reconhecer que as eleições já não são apenas disputa de votos — são 
guerra de percepção.
Do
 lado do governo, o desafio é enorme: manter a estabilidade 
institucional, ampliar a frente de defesa da soberania, comunicar com 
clareza o que está em jogo e resistir à tentação de responder no mesmo 
tom da provocação. Lula sabe que não basta vencer. É preciso vencer com 
legitimidade inquestionável, com mobilização popular, com articulação 
internacional — e com um novo pacto nacional que não inclua golpistas 
nem neoliberais envernizados.
Se
 o Brasil resistir até 2026, terá vencido não apenas uma eleição, mas 
uma guerra. Uma guerra contra o projeto de recolonização digital e 
financeira, contra a tentativa de transformar o país numa filial 
algorítmica da política externa norte-americana. E essa vitória — se 
acontecer — não será de Lula apenas, mas do povo brasileiro e de todas 
as nações que ousam desafiar a ordem imperial.
*A hora de nomear a guerra e decidir o lado da História.*
A
 tarifa de Trump não é sobre Bolsonaro. É sobre o Brasil. É sobre 
impedir que um país do Sul Global alcance maturidade geopolítica, 
autonomia digital e protagonismo internacional fora da órbita imperial. 
Bolsonaro é apenas o biombo — uma figura útil enquanto servia para 
desmontar o Estado por dentro, hoje reciclada como peça de agitação 
simbólica na guerra informacional travada contra a soberania.
Estamos
 diante de uma operação coordenada que articula governo dos Estados 
Unidos, Big Techs e setores do capital financeiro internacional para 
reverter um ciclo que ameaça escapar do controle do centro. O Brasil do 
BRICS, da regulação digital, das parcerias sul-sul, da desdolarização e 
da reconstrução do Estado não pode ser permitido. Não porque seja 
radical — mas porque é exemplo.
Nesse
 contexto, o bolsonarismo é o vírus e o vetor, mas não é o cérebro. É o 
agente do caos, mas não o autor da ofensiva. Eduardo sabe disso. Por 
isso radicaliza. Por isso se exila. Porque o que está em disputa não é 
mais o destino de sua família, mas o futuro da própria arquitetura de 
poder que sua família serviu. E se ele tiver que incendiar o país para 
voltar ao jogo, ele o fará.
Do
 outro lado, o Brasil tem uma chance histórica. Mas não pode errar a 
leitura. O que se desenha até 2026 não é apenas uma eleição. É um campo 
de batalha entre dois projetos antagônicos: soberania ou submissão. 
Multipolaridade ou dependência. Civilização ou colônia digital.
É
 preciso nomear a guerra. E é preciso decidir, sem ambiguidade, de que 
lado da História o Brasil quer estar. Não haverá mais neutralidade 
possível. A guerra já começou — e ela não é pelo Bolsonaro. Ela é contra
 o Brasil.
 
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