A gente precisa vol-
tar a pensar no
mundo real. Nas
pessoas. No povo
de carne e osso.
O povo quer sa-
ber como a vida
pode melhorar de verdade. É só isso.” Em
9 de setembro, estas exatas palavras ar-
rancaram uivos e aplausos de uma plateia
de empresários. Estranho entusiasmo em
um país no qual a elite minimiza as arbi-
trariedades de Jair Bolsonaro e apoia a
destruição do Estado em nome das “re-
formas”. Mais estranho ainda porque o
discurso não saiu da boca de um “populis-
ta de esquerda”, do tipo de gente despre-
zada pelos participantes do convescote.
Quem proclamou a máxima foi o apresen-
tador de tevê Luciano Huck. A claque que
o saudou era composta majoritariamente
de engravatados, convivas em um evento
patrocinado por uma das principais re-
vistas de negócios do País em um hotel ca-
ro na valorizada Zona Oeste de São Paulo.
Esse tipo de contato tem se tornado co-
mum. Ao longo deste ano, Huck estrelou
14 eventos para tratar de política. Falou a
estudantes, empresários, governadores,
publicitários, à comunidade israelita e à
elite financeira internacional.
Acostumado a entreter o público nas
tardes de sábado, o “bom-moço” da te-
vê brasileira não encontra dificuldades
em empolgar a nova plateia. Nos debates
agarra-se a uma bandeira normalmen-
te erguida pelos movimentos progressis-
tas: o combate às desigualdades sociais.
Os discursos repetem um esquema:
o apresentador exibe fotos e vídeos de
personagens que conheceu nas grava-
ções de seu programa Caldeirão do Huck,
na Rede Globo. Cada uma das “histórias
de vida” serve como premissa da defesa
de um novo Brasil. Gosta de citar par-
ticularmente a trajetória de Pelé, pipo-
queiro de Lagoa da Prata, no interior de
Minas Gerais, que teve a casa reformada
pelo apresentador graças a um abaixo-
-assinado com adesão expressiva na pe-
quena cidade. Huck se disse tocado pe-
lo destino do homem negro que, após 45
anos de trabalho e cujos avós foram es-
cravos naquela mesma terra, não conse-
guiu comprar os itens de alvenaria mais
básicos para o próprio lar. A história de
Pelé foi atração da milésima edição do
programa na Globo. Outra menção re-
corrente é à Coreia do Sul, um mito de
progresso sustentado por certos liberais
que se acreditam ilustrados. Segundo o
senso comum, a Coreia superou a pobre-
za em menos de meio século por causa
pura e simples dos altos investimentos
em educação. Quem defende essa versão
esquece de mencionar que os sul-core-
anos foram bafejados pela generosida-
de dos programas dos Estados Unidos
na luta contra o comunismo. Não se sa-
be se a Coreia capitalista teria tanto su-
cesso se não dividisse a mesma penínsu-
la com os temíveis irmãos do Norte. Mas
o que importa, não é mesmo? O sucesso
sul-coreano baseado na meritocracia e
no investimento em ensino emociona e
Huck não iria desperdiçar. Em julho, o
apresentador levou a líder de uma esco-
la beneficente do Rio Grande do Sul para
conhecer o sistema educacional do País,
aventura citada em suas apresentações.
Conforme introduz essas
histórias comoventes,
Huck, ainda sem partido,
mas de antiga ligação com
o tucanato, conjectura so-
bre os caminhos para reunir um país di-
vidido e polarizado. Faz um alerta enfá-
tico sobre o risco de o Brasil “implodir”
sem políticas sociais eficazes. Sobre co-
mo os brancos ricos da Avenida Faria
Lima são ineptos para discutir o racis-
mo e as favelas. E de como é inadmissível
que essas comunidades tenham se torna-
do mera paisagem. Embora faça discur-
so de candidato, ele não assume, porém,
a pretensão de disputar a cadeira prin-
cipal do Palácio do Planalto. Diz que seu
protagonismo no debate apenas atende a
uma “convocação geracional”. Em outra
incoerência, rasga elogios à agenda eco-
nômica do ministro Paulo Guedes, cujo
resultado será o aprofundamento das de-
sigualdades que tanto critica.
O desgaste de um governo que parece
existir há décadas, e não meses, foi capaz
de adiantar as especulações a respeito de
2022. Desde o fim da ditadura, nunca o
debate eleitoral começou tão cedo. Huck e
sua turma não fogem das circunstâncias.
O centro devastado pelas últimas eleições
e os tucanos saudosos dos anos FHC co-
locam as fichas no apresentador. “Dada a
conjuntura, é um movimento inteligen-
te e altamente competitivo. Ele pode ocu-
par e reorganizar esse espaço de centro,
e desarticular um pouco a polarização.
O Huck é um problema para Bolsonaro”,
avalia o editor Carlos Andreazza, inte-
grante da turma que rechaça o lulismo,
o petismo e o campo progressista, mas
tem ojeriza ao bolsonarismo.
Embora tenha intensificado a articu-
lação intra e extramuros, o apresenta-
dor evita perguntas mais diretas. Negou
os pedidos de entrevista para esta re-
portagem, alegando que, embora ‘adore’
a CartaCapital, ‘por ora’ prefere não fa-
lar. Uma de suas últimas entrevistas so-
bre o assunto ocorreu em 2017, à Folha
de S.Paulo. Naquela conversa, Huck re-
petiu sete vezes a palavra ética e três ve-
zes a palavra “renovação”. De lá para cá,
o tom mudou um pouco. Com o crepús-
culo precoce do discurso antipolítica –
diante do constrangimento provocado
pelos outsiders que tomaram conta da
República –, a necessidade de comba-
ter a pobreza e a desigualdade gritantes
tem ganhado mais espaço na agenda do
apresentador. Ele evita, entretanto, as-
sociações diretas com o que se conven-
cionou chamar de esquerda no Brasil.
Seus aliados dizem representar um pro-
jeto “liberal-progressista”.
O ENTORNO DE HUCK DEFENDE UM
PROJETO “LIBERAL-PROGRESSISTA”,
APESAR DAS CONTRADIÇÕES
Esse projeto é acompanhado
de perto por um grupo de
mentores e apoiadores ali-
nhados aos ideais dos “pais
fundadores” do tucanato.
Além do próprio Fernando Henrique
Cardoso, a quem saúda como uma das
cabeças mais modernas do País, Huck é
pajeado pelo economista Arminio Fraga,
presidente do Banco Central no segundo
mandato de FHC, e pelo senador Tasso
Jereissati. Outro conselheiro oriundo
das hostes tucanas é Paulo Hartung, ex-
-governador do Espírito Santo incensa-
do na mídia pela “austeridade fiscal” im-
plantada no último mandato. Os elogios
entusiasmados no eixo Rio-São Paulo
são vistos com ressalvas no estado. Para
muitos economistas, Hartung pesou a
mão no corte de gastos e deixou de lado
o aumento da receita. “Esse desbalanço
trouxe uma percepção de deterioração
dos serviços públicos. Se fosse algo as-
sim tão espetacular, ele teria defendido
esse legado nas eleições de 2018, mas não
se candidatou nem lançou um sucessor”,
avalia o economista Rodrigo Medeiros.
Outro ponto levantado são as difíceis re-
lações com ex-aliados políticos. “Não se
deve confiar em político que nunca per-
deu uma eleição”, ironiza Luiz Paulo
Vellozo Lucas, do Cidadania, ex-prefei-
to de Vitória e ex-aliado de Hartung.
Apesar de militar em campos simpáticos
ao apresentador, ele vê com ressalvas o
movimento em torno de Huck. “Não es-
tou interessado em formar outro mito.”
O papel central de Hartung no plano
é outro contrassenso para quem defende
o combate à desigualdade. A austeridade
no Espírito Santo foi aplicada à custa da
paralisia de obras públicas e resultou na
greve dos policiais e em uma séria crise
na segurança. Ainda assim, Huck costu-
ma chamar o ex-governador de “Senhor
Miyagi”, o lendário mestre de Daniel San
no filme Karate Kid.
No PSDB, a candidatura de Huck só
entusiasma o entorno de FHC. Em pri-
meiro lugar, o partido é hoje dominado
pelo governador paulista João Doria,
postulante ao Palácio do Planalto. “Não
deve haver um movimento formal pró-
-Huck tão cedo, talvez em 2020”, avalia
uma liderança do partido. O apresenta-
dor também tem boa interlocução com o
DEM. O presidente da Câmara, Rodrigo
Maia, não perde uma oportunidade de
elogiar o global. No campo partidário,
o maior entusiasta de uma futura can-
didatura Huck é o ex-ministro Roberto
Freire, filiado ao antigo PPS. As conver-
sas com Freire começaram ainda no ano
passado, embora Huck tenha declinado
da filiação. Para atrair de uma vez por
todas o apresentador, o partido abriu
as portas aos movimentos de renovação
apoiados por ele. Trocou até de nome,
mais ao gosto das startups: Cidadania. E
aprovou, em junho deste ano, um estatu-
to que prevê, entre outras mudanças, um
extenso normativo de compliance. Freire
tem intensificado as conversas com o
grupo mais próximo do global. Uma fi-
liação, entretanto, só deve sair do papel
às vésperas da eleição. Até mesmo para
evitar um desgaste antecipado.
Huck tem tentado lustrar
a imagem de playboy e
ensaia uma aproxima-
ção com o campo popu-
lar. Essa virada, segun-
do fontes próximas à família, em muito
se deve às conversas com o irmão caçula,
o cineasta Fernando Grostein Andrade.
Benquisto entre os setores progressis-
tas, Andrade é diretor do documentário
Quebrando o Tabu, cujas páginas homô-
nimas no Facebook, Twitter e YouTube
alcançam 11 milhões de fãs com conteúdo
em defesa dos direitos humanos. O en-
torno do apresentador avalia que, des-
de o assassinato da vereadora Marielle
Franco, houve um ponto de virada na
percepção pública sobre a questão. De
assunto para “esquerdistas” e “defen-
sores de bandidos”, o tema passou a
sustentáculo da oposição a Bolsonaro.
O diálogo também se dá entre os políti-
cos. Huck testa uma aproximação com
Flávio Dino. Nos últimos tempos, o apre-
sentador e o governador do Maranhão
conversaram ao menos três vezes, sem-
pre a pedido do primeiro. Um desses en-
contros ocorreu em julho, pouco depois
de Bolsonaro ter tentado ofender Dino
com a expressão “paraíba”.
O entourage concluiu ainda que a fa-
mília Huck está cercada por “celebri-
dades coxinhas”. O círculo de amigos
mais próximos do apresentador inclui
Ivete Sangalo, Márcio Garcia, Juliana
Paes, Neymar e Preta Gil, nenhum dos
quais famoso por erguer a voz em defe-
sa dos mais pobres. Ao contrário. A uma
outra amiga mais engajada, a apresenta-
dora Paula Lavigne, mulher de Caetano
Veloso, Huck abriu o jogo sobre a ambi-
ção. Uma das principais articuladoras
políticas na classe artística – em 2018, o
apartamento no Rio de Janeiro no qual
vive com o cantor foi palco de animados
jantares com Guilherme Boulos, Ciro
Gomes e Fernando Haddad –, a empre-
sária exerce influência sobre uma par-
cela de estrelas cuja adesão a um even-
tual projeto Huck é incerta. “Muito cha-
to ouvir as pessoas pirando, falando que
Luciano é de direita, as pessoas deliram”,
reclama. Desde a primeira incursão do
apresentador, ela o aconselha a desis-
tir da ideia. “Eu digo que ele não mere-
ce essa chateação.” Não seria o momento
oportuno para um candidato como ele?,
pergunto. “Como amiga sou contra, co-
mo cidadã sou a favor.”
Na busca por um eleito-
rado mais amplo, Huck
foi aconselhado a bai-
xar o tom nos ataques
a Lula e ao PT. Críticas
muito abertas, avaliam interlocutores,
poderiam minar o apoio do petismo
em um eventual segundo turno con-
tra Bolsonaro ou outro nome da mes-
ma cepa. O apresentador esforça-se co-
mo pode. Os elogios são pontuais e sem-
pre acompanhados de um contraponto.
Há cerca de dois meses, Huck percor-
reu os grotões do Piauí ao lado do hu-
morista Whindersson Nunes, cujo ca-
nal no YouTube reúne 37,4 milhões de
fãs. A dupla visitou a cidade natal do jo-
vem, a paupérrima Bom Jesus do Piauí.
Ao rememorar aquela aventura no pal-
co de um encontro com empresários em
São Paulo, em 25 de outubro, fez menção
a Lula. “Quando você vai para os vilare-
jos ali, você entende, com todo o respei-
to, o Lula é muito respeitado ali. Quando
você chega em Bom Jesus do Piauí, você
chega na casa do seu João e tem um fio
que veio de longe pra caramba, uma ge-
ladeira que ele não tinha, uma cisterna
que custou 3 mil reais e trouxe água que
ele não tinha também, a família tem 180
reais do Bolsa Família porque não tinha
renda nenhuma. Bem ou mal é o Estado
e a política pública que chega na pon-
ta.” Mas contemporizou: “Obviamente,
muito da política que veio da dona Ruth
(Cardoso). Tem uma herança de dois go-
vernos que trabalharam de forma con-
tínua em projetos de proteção social.”
Para entender os anseios da popula-
ção negra e pobre, Huck escora-se no jor-
nalista Rene Silva, morador do Morro
do Adeus, no Rio de Janeiro, e criador
do Voz das Comunidades, principal veí-
culo de comunicação das favelas cario-
cas. A proximidade da celebridade com
a desigualdade e seus temas correlatos
é mesmo recente. Fizeram a cabeça do
apresentador um tucano e um petista: o
advogado Beto Vasconcelos, ex- secretá-
rio de Justiça na gestão Dilma Rousseff,
e Humberto Laudares, cientista políti-
co ligado ao PSDB, ambos integrantes do
Agora!, movimento cívico do qual Huck é
doador. As primeiras conversas começa-
ram em 2017. “Ele parecia muito distan-
te do tema, mas genuinamente disposto a
entender”, lembra Vasconcelos, que dei-
xou o grupo pouco depois de a coordena-
ção do Agora! impedir que o grupo mar-
casse posição contra Bolsonaro no se-
gundo turno. Uma reportagem da épo-
ca atribuiu a jogada ao global.
O APRESENTADOR RENEGA
A IMAGEM DE PLAYBOY E FLERTA
COM MOVIMENTOS SOCIAIS
Os movimentos da “nova
política” seriam os pila-
res de um Plano Huck
em 2022. O Agora! ofe-
rece o suporte técnico e
intelectual ao apresentador. Seus fun-
dadores, a especialista em seguran-
ça pública Ilona Szabó, o cientista po-
lítico Leandro Machado e o advoga-
do Ronaldo Lemos, compõem a linha
de frente do apoio à candidatura de
Huck. O núcleo mais alinhado ao apre-
sentador, aliás, tem ganhado espaço.
Recentemente, Fraga e Hartung foram
incorporados ao conselho consultivo.
Ao RenovaBR caberia o esteio polí-
tico. O movimento fundado pelo em-
presário Eduardo Mufarej opera como
uma “fábrica de políticos”: fornece bol-
sa e educação a novatos que queiram mi-
grar para a vida pública. Neste ano, for-
mará 1,4 mil possíveis candidatos em
445 cidades diferentes, dez vezes mais
que em 2018. Quando Huck desistiu de
disputar a eleição que elegeu Bolsonaro,
pesou a falta de uma estrutura robusta
o bastante para dar sustentação à can-
didatura. O desempenho dos forman-
dos do movimento nas disputas muni-
cipais de 2020 será o grande termôme-
tro de sua viabilidade eleitoral.
O figurino de renovação não cai, no
entanto, bem ao apresentador. Em 2002,
Huck fez parte de um grupo que elabo-
rou uma “agenda jovem” e propostas de
governo para José Serra. Em 2007, ví-
tima de um assalto à mão armada que
lhe custou um Rolex, escreveu um tex-
to para a Folha de S.Paulo no qual evo-
cava o Capitão Nascimento, truculento
protagonista do filme Tropa de Elite, em
defesa de uma solução dura para a vio-
lência urbana. Seu amigo mais próximo
no PSDB era Aécio Neves, para quem
fez campanha aberta em 2014. Naquela
época, Huck votou vestindo uma cami-
seta azul estampada com o mote da cam-
panha do peessedebista, “Muda Brasil”.
Com um adesivo do número 45 gruda-
do no pulôver, acompanhou ao lado de
Aécio a apuração do segundo turno (e o
desencanto com a derrota). Em 2016, no
calor dos protestos pelo impeachment,
foi vaiado durante uma partida de vôlei
no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro. À
época, atribuiu o ocorrido ao clima polí-
tico do País. A relação entre Huck e Aécio
esfriou depois de o hoje deputado ter sido
alvejado pela Operação Lava Jato. Huck
apagou as fotos que tinha com o ex-amigo
na internet. Repetiu a tática com Joesley
Batista e, mais recentemente, com o
ministro Sérgio Moro, cuja moral tem
minguado conforme ficam claros sua co-
nivência com os excessos de Bolsonaro e
sua parcialidade no julgamento de Lula,
conforme as revelações da Vaza Jato.
Huck, não se pode negar, fez fama e
fortuna explorando as agruras do Brasil
abandonado pelo Estado. Depois de uma
passagem por colunas sociais e agências
de publicidade, estreou como apresenta-
dor nos anos 1990, cercado de assisten-
tes de palco seminuas. Estreou na Globo
em 2000 com o Caldeirão do Huck, pro-
grama que comanda até hoje e cujo ei-
xo central reproduz o que há de mais ve-
lho na tevê. O apresentador reforma car-
ros e casas, turbina pequenos negócios,
ajuda parentes a se reencontrarem, or-
ganiza casamentos e oferece dinheiro.
Sempre com o patrocínio de marcas.
Chega a visitar três estados por semana
atrás de histórias e personagens. Mais
recentemente, essas andanças têm si-
do festejadas como a oportunidade de
mostrar “um Brasil profundo” e inspi-
rar cidadãos a mudar essa realidade. No
balanço das mil edições de seu progra-
ma, festejou a chance de conhecer “um
outro Brasil, um Brasil profundo, um
Brasil bem diferente daquele que a gen-
te conhecia” e de usar o alcance da tevê
aberta no Brasil para “inspirar as pes-
soas”. Soou como campanha eleitoral.
A Globo sustenta que, ca-
so o funcionário venha
mesmo a disputar votos,
as portas da casa se fe-
charão definitivamen-
te. O mesmo valeria para Angélica, can-
didata a “primeira-dama”. O futuro de-
la na emissora é incerto. Os preparativos
para um novo programa estão em ponto
morto até que se esclareçam as intenções
do marido na política. Sem espaço na gra-
de desde o ano passado, Angélica tem feito
participação especial na novela das 21 ho-
ras como apresentadora de um programa
culinário. O casal vai mesmo se arriscar?
Decida ou não ser candidato, Huck é
quem mais habilmente tem mobilizado
o próprio capital político. O PT ainda es-
pera por Lula. Flávio Dino é
um nome promissor, mas com muitos
obstáculos pela frente, a começar pelas
limitações do PCdoB. Guilherme Bou-
los continua no páreo, embora esteja
ciente da longa estrada pela frente. Ci-
ro Gomes optou por uma caminho dis-
tante do petismo, na expectativa de con-
quistar um eleitor que recusa tanto o lu-
lismo quanto o bolsonarismo. O presi-
denciável do PDT tem sido o único a vol-
tar suas baterias em direção ao apresen-
tador. Segundo ele, Huck é “estagiário”,
sem experiência na política, apesar de
bem assessorado. Ironizou ainda a in-
coerência entre a defesa do combate à
desigualdade e os elogios a Paulo Gue-
des. “Toda declaração ele fala assim: ‘A
política econômica está correta’. Depois
começa a falar que o País tem desigual-
dade, como se a desigualdade não fosse
produto daquilo que ele defende.”
Em um país cuja metade da popula-
ção vive com pouco mais de 400 reais por
mês, a tevê dá a Huck um palanque sem
comparação. A socióloga Esther Solano,
professora da Universidade Federal de
São Paulo e colunista de CartaCapital,
tem entrevistado bolsonaristas arrepen-
didos e ex-eleitores de Lula. E destaca a
simpatia a Huck, especialmente entre
os mais pobres. O apresentador, conta, é
visto como um outsider que coleciona su-
cesso nos negócios e na vida pessoal. No
momento em que a fatia mais vulnerável
amarga os efeitos da crise e das políticas
de Bolsonaro, outro fator tem se sobres-
saído. “Uma ideia que aparece muito é a
de que ele se preocupa com os mais po-
bres, que é bonzinho, realiza os sonhos
deles.” A programação da Globo alcança
todos os dias 100 milhões de brasileiros.
Seria o bastante para ocupar o espaço no
imaginário nacional? “O potencial sim-
bólico, político e afetivo de Lula é enor-
me, mas ele consegue dialogar com es-
se público que Lula conquistou”, obser-
va Solano. Loucura, loucura, loucura! •
Z
THAIS REIS OLIVEIRA