Edel Rodriguez, o ilustrador cubano que traduz a era Trump em imagens

• por Felipe Taborda, especial para O GLOBO
•  
• Quando se pensa em Donald Trump, com sua explícita política de aversão e desprezo pelos cidadãos do chamado Terceiro Mundo, é uma grande ironia saber que sua imagem vem circulando pelo planeta por criação e obra de um cubano. Quer dizer, não a imagem que o presidente americano gostaria de ver. 
•  Ao criar algumas das ilustrações mais compartilhadas e difundidas em absolutamente todas as mídias dos Estados Unidos — e consequentemente do mundo —, Edel Rodriguez virou o traço crítico da América. Tente se lembrar de uma capa de revista sobre Trump. É enorme a chance de que ela tenha sido desenhada por Edel. Só nesta semana, são quatro: a americana “Time”, a alemã “Der Spiegel”, a inglesa “The New Statesman” e a brasileira “Época”.
  
  
  Esse boom mundial começou em agosto de 2016, quando a campanha do republicano parecia declinar, e a “Time” publicou edições com artigos que previam o derretimento gradual de sua candidatura. Com duas impactantes ilustrações de Edel, que já realizara outros trabalhos para a revista, estas capas se tornaram as mais controversas da história da “Time”. Além disso, viralizaram na internet e foram reproduzidas em TVs de todo o país, popularizando o estilo do cubano.
  
  
  
  
  
  
   Em novembro, quando Trump foi eleito, a “Time” seguiu utilizando seus trabalhos, fazendo de sua arte uma espécie de “tradução visual” dos atos inconsequentes do presidente. Uma dessas capas, de 24 de outubro de 2016, foi eleita a melhor do ano pela American Society of Magazine Editors.
  
  — O que tento fazer nas minhas capas é comunicar uma ideia e atrair a atenção do público para o que está acontecendo no mundo — ele diz. — Muitas vezes, essas ideias e emoções já existem dentro das pessoas, mas elas não sabem como expressar isso.
  
  Para Edel, o mais importante é que qualquer pessoa, “do camponês ao professor universitário”, entenda suas obras:
  
  — Até agora, tem sido assim. Creio que é por isso que minhas capas são tão populares, pois traduzem ideias claras e universais. Com toda a tecnologia que existe, com todo o movimento do mundo, me dá muito prazer que o público se interesse tanto por algo simples como uma capa de revista.
  
  CABELEIRA EM CHAMAS
  
  A “Time” que está nas bancas esta semana tem novamente desenho do ilustrador, no qual Trump aparece com sua indefectível cor laranja e a cabeleira em chamas (ver acima). A arte remete a uma capa fictícia que Edel fez, e reproduziu no Twitter, para “Fire and fury” (“Fogo e fúria”), fenômeno editorial do escritor e jornalista americano Michael Wolff.
  
  “Recebi uma mensagem do diretor criativo, D.W. Pine, querendo uma capa que fizesse referência ao que está acontecendo em torno do livro e ao aniversário de um ano da posse de Trump”, disse Edel à “Time” em reportagem sobre os bastidores da capa. “Vivíamos num país estável, e agora todo dia acordamos e tentamos descobrir onde será o próximo incêndio. É como o presidente, que estão sempre tentando conter, como um incêndio que muda de lugar a todo momento.
  ”
  A “Time” e Trump, aliás, têm uma “história animada”, nas palavras da própria revista. Em uma entrevista coletiva em janeiro de 2017, o presidente chegou a dizer que era o recordista de capas. Não é bem assim. O título, por enquanto, é de Richard Nixon.
  
  
  
  Edel Rodriguez nasceu em 1971 em Havana e cresceu numa zona rural cercada de plantações de tabaco e cana de açúcar. Em 1980, sua família emigrou de barco para os Estados Unidos, como milhares de outros cubanos naquela ocasião. Em Miami, onde se estabeleceram, Edel foi apresentado à arte pop, à cultura da publicidade, às propagandas socialistas e a tudo que fazia parte da vida contemporânea de uma cidade americana, e que segue até hoje sendo parte importante de seu trabalho.
  
  Em 1994, graduou-se em pintura no Pratt Institute de Nova York, e, em 1998, completou seu mestrado em Arte pelo Hunter College, em Manhattan. Atualmente morando em Nova York, é colaborador frequente do “New York Times” e da “New Yorker”, tendo feito mais de cem ilustrações e capas para “Time”, “Der Spiegel”, “Newsweek”, “The Nation”, “Businessweek”, “The New Republic” e “The Village Voice”, além de dezenas de trabalhos para livros das editoras Simon & Schuster e Penguin Random House.
  
  Num mundo de globalização virtual, é surpreendente saber que, além de sua popularidade digital, o trabalho impresso de Edel está neste exato momento nas bancas de vários cantos do mundo, ilustrando as capas de importantes revistas. O que confirma a força e poder de uma boa imagem.
  
  * Felipe Taborda é autor, curador e designer gráfico
  
  
  
  
  CLIQUE NAS IMAGENS PARA VE-LAS EM TAMANHO MAIOR