Flávia Oliveira
O convescote anual da elite econômica e
financeira planetária elegeu a quarta revolução industrial como tema da vez.
Cerca de três mil participantes, 79% homens, foram à pequena Davos especular sobre processo produtivo, trabalho
e cotidiano que emergirão da era da inteligência artificial, da robótica, da
tecnologia digital. Mirando o mundo dos Alpes Suíços, é fácil fantasiar um
futuro confortável, operado por máquinas ultramodernas e mão de obra megapreparada ocupando vagas que sequer foram
inventadas. Das planícies do Hemisfério Sul — em particular, de um certo gigante
sul-americano — a visão não é tão promissora. A Davos 4.0 contrapõe-se o Brasil 1.0.
Michel Temer foi à reunião do Fórum Econômico Mundial avisar que a crise brasileira acabou. Fazia quatro anos um presidente brasileiro não subia a montanha. A recessão chegou ao fim no ano que passou, a inflação (2,95%) não alcançou o piso da meta, a taxa básica de juros (7%) é a menor da História. Temer e membros da equipe econômica levaram na bagagem a promessa de aprovação da reforma da Previdência, aceno à solvência de longo prazo das contas públicas, e um cardápio de potenciais investimentos para parceiros estrangeiros. Deixaram de contar que, em plena revolução digital, depois de contingenciarem metade dos recursos para ciência e tecnologia em 2017, tesouraram um quarto do orçamento deste ano.
À espreita do futuro promissor concebido pelo mundo desenvolvido, há negligência com a modernidade e uma agenda do século XIX jamais cumprida. Um quarto da população vive com renda de até R$387 por mês, segundo a Síntese de Indicadores Sociais 2017 (IBGE). Quatro em cada dez brasileiros moram em domicílios sem água encanada, rede de esgoto ou fossa séptica e coleta de lixo. A mobilidade urbana é precária. A epidemia da vez é a febre amarela, inserida no rol de doenças negligenciadas.
O Brasil tem 11,8 milhões de analfabetos; só 15% dos adultos completaram o curso superior; sete em dez crianças de até 3 anos não entraram na creche. A escolaridade média de quem tem mais de 25 anos equivale ao ensino fundamental. Não chega a dez anos o nível de instrução dos jovens negros e nordestinos. Um quarto dos habitantes de 16 a 29 anos não estuda nem trabalha, boa parte é formada por meninas que engravidaram precocemente e se dedicam aos afazeres domésticos.
O Brasil chegou ao fim de 2017 com 12,6 milhões de desocupados. É gente que não exerce nenhuma atividade paga e procura vaga. Havia 11,2 milhões de empregados sem carteira assinada e 6,3 milhões de trabalhadores domésticos, postos de baixa remuneração. Outros 23 milhões eram autônomos penando para subsistir sem políticas públicas de capacitação, apoio técnico, acesso a crédito e desburocratização.
É consenso que a economia moderna vai prescindir dos profissionais de baixa qualificação. Em relatório divulgado esta semana, a Organização Internacional do Trabalho alertou que 1,4 bilhão de pessoas no planeta estavam em empregos vulneráveis no ano passado. O contingente será elevado em 35 milhões no biênio 2018-19.
A quarta revolução carrega um risco imenso de ampliar o fosso de desigualdades que separa o Brasil do mundo rico e, internamente, o topo e base da pirâmide. Aqui o 1% mais rico ganha 38 vezes a renda da metade mais pobre da população. Não haverá o bem-estar da quarta revolução, se o país não se ocupar dos que, hoje, já estão para trás. É acelerar ou fracassar.
Michel Temer foi à reunião do Fórum Econômico Mundial avisar que a crise brasileira acabou. Fazia quatro anos um presidente brasileiro não subia a montanha. A recessão chegou ao fim no ano que passou, a inflação (2,95%) não alcançou o piso da meta, a taxa básica de juros (7%) é a menor da História. Temer e membros da equipe econômica levaram na bagagem a promessa de aprovação da reforma da Previdência, aceno à solvência de longo prazo das contas públicas, e um cardápio de potenciais investimentos para parceiros estrangeiros. Deixaram de contar que, em plena revolução digital, depois de contingenciarem metade dos recursos para ciência e tecnologia em 2017, tesouraram um quarto do orçamento deste ano.
À espreita do futuro promissor concebido pelo mundo desenvolvido, há negligência com a modernidade e uma agenda do século XIX jamais cumprida. Um quarto da população vive com renda de até R$387 por mês, segundo a Síntese de Indicadores Sociais 2017 (IBGE). Quatro em cada dez brasileiros moram em domicílios sem água encanada, rede de esgoto ou fossa séptica e coleta de lixo. A mobilidade urbana é precária. A epidemia da vez é a febre amarela, inserida no rol de doenças negligenciadas.
O Brasil tem 11,8 milhões de analfabetos; só 15% dos adultos completaram o curso superior; sete em dez crianças de até 3 anos não entraram na creche. A escolaridade média de quem tem mais de 25 anos equivale ao ensino fundamental. Não chega a dez anos o nível de instrução dos jovens negros e nordestinos. Um quarto dos habitantes de 16 a 29 anos não estuda nem trabalha, boa parte é formada por meninas que engravidaram precocemente e se dedicam aos afazeres domésticos.
O Brasil chegou ao fim de 2017 com 12,6 milhões de desocupados. É gente que não exerce nenhuma atividade paga e procura vaga. Havia 11,2 milhões de empregados sem carteira assinada e 6,3 milhões de trabalhadores domésticos, postos de baixa remuneração. Outros 23 milhões eram autônomos penando para subsistir sem políticas públicas de capacitação, apoio técnico, acesso a crédito e desburocratização.
É consenso que a economia moderna vai prescindir dos profissionais de baixa qualificação. Em relatório divulgado esta semana, a Organização Internacional do Trabalho alertou que 1,4 bilhão de pessoas no planeta estavam em empregos vulneráveis no ano passado. O contingente será elevado em 35 milhões no biênio 2018-19.
A quarta revolução carrega um risco imenso de ampliar o fosso de desigualdades que separa o Brasil do mundo rico e, internamente, o topo e base da pirâmide. Aqui o 1% mais rico ganha 38 vezes a renda da metade mais pobre da população. Não haverá o bem-estar da quarta revolução, se o país não se ocupar dos que, hoje, já estão para trás. É acelerar ou fracassar.
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