 
Pode ser apenas um novo balão de ensaio, mas ontem o cheiro de pizza 
invadiu o ar dos lugares em que a crise é acompanhada e debatida. A 
articulação em torno do nome de Rodrigo Maia (DEM-RJ),
 com o beneplácito do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), para ocupar a 
Presidência até o final de 2018 ganhou o necessário espaço midiático de 
modo a ser testada. O experimento redondo carrega dois sabores.
O primeiro destina-se a agradar o capital. Nesse sentido, a manchete do 
"Valor" (7/7) era mais do que expressiva: "Temer perde apoio e Maia já 
se articula com mercado". O texto dava conta que o presidente da Câmara 
teria intensificado "contatos no mercado financeiro". Não consta da 
notícia a reação dos contatados, mas continha o recado preciso: o 
deputado procuraria mostrar nos encontros que está "preparado para 
assumir a função, com a manutenção de equipe econômica e das reformas".
É do conhecimento geral que Maia tem pouca base e experiência para 
assumir o principal posto político do país. Então, é necessário 
assegurar que as duas principais metas do mercado estariam garantidas em
 suas mãos. De um lado, a manutenção da política econômica. De outro, a 
aprovação de duas mudanças contra os assalariados: a reforma 
antitrabalhista e a da Previdência.
Aqui entra a outra metade do acordão em cozimento. Para aprovar as 
"deformas", com diz um amigo ligado aos sindicatos, e blindar a 
economia, é preciso garantir uma grande base congressual. E o que 
desejam os parlamentares, entre eles o próprio Maia, um investigado?
Que a Lava Jato pare. Desde esse ponto de vista, não poderia ser mais conveniente a informação, também em todos os jornais, 
de que a Polícia Federal encerrou as atividades do grupo dedicado à operação em Curitiba. Convém lembrar, igualmente, que diversos processos foram tirados do juiz Sergio Moro nas últimas semanas.
Em outras palavras, pela primeira vez há sinais de arrefecimento do 
núcleo paranaense que lidera as investigações desde 2014, o que deve 
soar como música aos ouvidos dos congressistas. No entanto, a ofensiva 
contra Michel Temer precisaria seguir, para legitimar o último e 
decisivo ato da Mãos Limpas brasileira: condenar Lula a tempo dele 
perder a condição de candidato em 2018.
Para resolver o problema de excluir o lulismo da urna eletrônica, muitos
 interesses talvez se reúnam em torno de mais uma aventura presidencial.
 A primeira foi a do próprio Michel Temer, sabidamente parte de um grupo
 que seria alvo privilegiado da Lava Jato. Agora o forno foi ligado 
outra vez, mas só o tempo dirá se essa massa vai dar liga.
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