March 27, 2017

Uma cronica visual de 300 desenhos: IMS inaugura exposição sobre J. Carlos


Mostra traz obras do caricaturista que comentou costumes e fatos no país

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Desenho publicado na revista “Para Todos” em maio de 1931: traço único e técnica impecável do artista sobreviveram ao período de quase 50 anos em que atuou na imprensa - Divulgação


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RIO — Na primeira metade do século XX, com a fotografia ainda parcamente utilizada na imprensa, e geralmente muitas vezes com borrões imprecisos, caricaturistas e chargistas cumpriam o papel de traduzirem com seus traços fatos e costumes da época. José Carlos de Brito Cunha (1884-1950), o J. Carlos, foi um dos maiores deles — em 49 anos de atividade, iniciada em 1902, quando publicou no “Tagarela”, semanário de Raul Pederneiras. Caricaturista histórico, produziu mais de 50 mil desenhos, vistos em revistas como “Careta”, “O Malho” e “Para Todos”. Através deles, comentou temas tão diversos, desde trânsito no Rio em vias de virar metrópole às guerras que assolavam a Europa — sem falar nos desenhos dirigidos a crianças. Uma parte reduzida, mas ainda assim bastante expressiva desse material, pode ser vista a partir de hoje no Instituto Moreira Salles na exposição “J. Carlos: originais”.

A mostra traz um panorama da produção do artista dividida em quatro seções: a primeira delas exibe as suas pesquisas estéticas, com capitulares, vinhetas, lay-outs de páginas (ele chegou a ser diretor artístico de dez revistas simultaneamente, quando trabalhava para a empresa O Malho S.A., editora da revista de mesmo nome e também de publicações como “O Tico-Tico”, “Cinearte”, “Ilustração Brasileira” e “Leitura Para Todos”, entre outras).

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A seção Brasil reúne desenhos que fazem a crônica da vida urbana e doméstica no país, além de um pequeno período (1945-50) na “Careta”, em que registrou acontecimentos políticos. No segmento Segunda Guerra traz traço e olhar afiados de um atento comentarista internacional: Churchill, Mussolini, Stálin, Hitler e Roosevelt, nenhum protagonista do conflito esteve imune à sua pena.
— Esse monstro trabalhou quase 49 anos. Fez bem acima de 50 mil desenhos em menos de 18 mil dias. Nesse painel gigantesco, tudo o que aconteceu no Rio de Janeiro, no Brasil e no mundo nesses 50 anos foi tema para ele. Era um cronista fabuloso — diz Cássio Loredano, colaborador do GLOBO e curador da exposição ao lado de Paulo Roberto Pires e de Julia Kovensky.




A quarta parte da mostra é dedicada a seus desenhos para crianças. Ele publicou principalmente no semanário “O Tico-Tico”, dirigida ao público infantil. A exposição reúne vários exemplos de seus trabalhos, como sete dos oitos desenhos produzidos como aberturas de capítulos para o único livro que escreveu, o infantil “Minha babá”, que seriam reproduzidos nas capas da revista; e as histórias em quadrinhos com os personagens Goiabada, Lamparina, Jujuba e Carrapicho, que ocupavam a contracapa da revista, nas quais chama a atenção o arroubo gráfico.

Os quase 300 desenhos exibidos fazem parte da coleção Eduardo Augusto de Brito e Cunha, filho do artista, formada por mil originais e ainda toda a coleção encadernada das muitas revistas onde publicou. Loredano teve acesso a ela quando, em 1995, ganhou uma bolsa de pesquisa da Rioarte, instituto da prefeitura do Rio, para inventariar a obra do caricaturista. O trabalho de um ano estendeu-se, como diz, por 22 anos e, desde então, além de três exposições (incluindo a atual), já rendeu seis livros organizados por ele, entre os quais “O Rio de J. Carlos” (1998), com texto de Zuenir Ventura, “Lábaro estrelado” (2000), com texto de Luciano Trigo — uma reunião de desenhos que exaltam os símbolos nacionais, numa afirmação da República contra os saudosistas do Império —, e “J. Carlos contra a guerra” (2000), com texto de Arthur Dapieve — além da Segunda Guerra, ele comentou, em cartuns e charges, outros três conflitos: a Primeira Guerra, a Guerra Civil Espanhola e o início da Guerra Fria.

A pesquisa incansável de Loredano acabou trazendo à tona o trabalho de um artista, que, apesar de ser muito associado à Belle Époque do Rio (são notáveis as suas melindrosas, refletindo seu mergulho nos estilos art-nouveu e no art-déco), não se restringiu ao período em que esteve presente na mídia.

— São poucos os caricaturistas que têm uma presença permanente, geralmente são conhecidos durante o período em que estão atuando — observa Julia. — O J. Carlos, não. As pessoas podem não saber o seu nome, onde trabalhou, mas quando veem um desenho seu, reconhecem o traço. É uma particularidade sua, essa personalidade tão forte.


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Os quase 300 desenhos exibidos fazem parte da coleção Eduardo Augusto de Brito e Cunha, filho do artista, formada por mil originais e ainda toda a coleção encadernada das muitas revistas onde publicou. Loredano teve acesso a ela quando, em 1995, ganhou uma bolsa de pesquisa da Rioarte, instituto da prefeitura do Rio, para inventariar a obra do caricaturista. O trabalho de um ano estendeu-se, como diz, por 22 anos e, desde então, além de três exposições (incluindo a atual), já rendeu seis livros organizados por ele, entre os quais “O Rio de J. Carlos” (1998), com texto de Zuenir Ventura, “Lábaro estrelado” (2000), com texto de Luciano Trigo — uma reunião de desenhos que exaltam os símbolos nacionais, numa afirmação da República contra os saudosistas do Império —, e “J. Carlos contra a guerra” (2000), com texto de Arthur Dapieve — além da Segunda Guerra, ele comentou, em cartuns e charges, outros três conflitos: a Primeira Guerra, a Guerra Civil Espanhola e o início da Guerra Fria.
A pesquisa incansável de Loredano acabou trazendo à tona o trabalho de um artista, que, apesar de ser muito associado à Belle Époque do Rio (são notáveis as suas melindrosas, refletindo seu mergulho nos estilos art-nouveu e no art-déco), não se restringiu ao período em que esteve presente na mídia.
— São poucos os caricaturistas que têm uma presença permanente, geralmente são conhecidos durante o período em que estão atuando — observa Julia. — O J. Carlos, não. As pessoas podem não saber o seu nome, onde trabalhou, mas quando veem um desenho seu, reconhecem o traço. É uma particularidade sua, essa personalidade tão forte.

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