Adriana Carranca
Reação a governo controverso gera mobilizações positivas em diferentes áreas
Para
 não dizer que não falei das flores, em meio ao cataclismo dos primeiros
 15 dias de Donald Trump na Presidência dos EUA há pelo menos um efeito 
provocado por seu governo até agora que pode ser visto sob uma 
perspectiva um pouco mais positiva. A ver. 
Trump 
conseguiu levar às ruas de Washington e outras 500 cidades americanas um
 número estimado entre 3,3 milhões e 4,6 milhões de pessoas na Women’s 
March, a maior marcha da História dos EUA, mesmo considerando as 
estimativas mais baixas (o cálculo foi possível graças a um grupo de 
cientistas que se voluntariou para analisar dados de satélites, balões 
meteorológicos, fotos e imagens do Google Maps, após a polêmica em torno
 do público presente na cerimônia de posse do presidente). É um marco e 
tanto. Os protestos reuniram mais gente do que as marchas de Selma a 
Montgomery, em 1965, que resultaram em conquistas históricas para o 
movimento de direitos civis americano.
Dois dias 
depois, milhares de estudantes em todo o país esvaziaram as salas de 
aula e se colocaram na frente das universidades em protesto contra “um 
Gabinete bilionário e corrompido movido a combustíveis fósseis”, nas 
palavras dos líderes do movimento. “A juventude está se levantando”, 
disse Greta Neubauer, diretora de um dos grupos universitários que estão
 reavivando o movimento estudantil americano. Vinte e um estudantes 
entraram com uma ação na Justiça contra o governo por incapacidade de 
lidar com os efeitos das mudanças climáticas. “Há 75 milhões de pessoas 
neste país com menos de 18 anos. Nós não tivemos a oportunidade de votar
 nas eleições passadas”, disse um deles ao site EcoWatch, que criou uma 
plataforma chamada TrumpWatch para acompanhar de perto as medidas do 
novo presidente que possam ter impacto no clima. “Nosso direito a um 
futuro justo e sustentável é inegociável.”
Um 
professor de Ética e Filosofia Política da Universidade de Syracuse, 
David Sobel, lançou uma plataforma na internet para que filósofos 
compartilhem ideias de como reagir a Donald Trump. Mais de 40 ganhadores
 do Prêmio Nobel, dezenas de acadêmicos prestigiados, integrantes das 
Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina e milhares de 
professores assinaram uma petição contra o decreto de Trump 
anti-imigração
.
Horas depois de anunciado, advogados 
correram ao Aeroporto Internacional JFK para defender como voluntários 
quem estava sendo barrado e preso. No saguão, milhares de manifestantes 
se amontoavam com cartazes improvisados: “Muslims are welcome here, no 
hate, no fear!” (“Muçulmanos são bem-vindos aqui, sem ódio, sem medo”). 
Um juiz agiu rápido e bloqueou em parte a ordem de Trump. O mesmo 
ocorreu em outros aeroportos.
A comoção incentivou 
doações a organizações como No One Left Behind, de veteranos, que ajuda 
imigrantes afegãos e iraquianos que contribuíram com as tropas 
americanas na guerra a se estabelecerem nos EUA. Numa pequena cidade do 
Texas, judeus entregaram a chave da sinagoga aos vizinhos muçulmanos 
para que tenham um lugar para rezar até ser reconstruída a mesquita 
local, incendiada.
Ex-funcionários públicos criaram o
 site IndivisibleGuide.com, em que revelam as práticas mais eficientes 
para chegar aos congressistas e “bloquear a agenda de Donald Trump”. 
Outro grupo tem ensinado cidadãos a se registrarem para votar à 
distância e a usarem apps como TurboVote, que alerta sobre votações 
locais próximas, e Countable, que rastreia políticas em discussão no 
Congresso.
Também os estão incentivando a reservar ao
 menos uma hora por semana para escrever e telefonar a seus 
representantes no Congresso. Modelos de cartas foram distribuídos. 
Tuítes compartilhando os números diretos, alguns de celular, dos 
senadores se multiplicaram. Nos últimos dias, as ligações congestionaram
 as linhas telefônicas do Senado. Senadores disseram ter mudado de 
opinião sobre a nomeação de Betsy DeVos para a pasta da Educação após 
receberem “um volume pesado de ligações” com denúncias sobre seu 
desconhecimento da área, deixando-a a apenas um senador de ser 
rejeitada.
Os principais jornais dos EUA, entre eles 
“New York Times”, “Washington Post” e o site ProPublica, tiveram aumento
 de assinantes após as eleições, o que muitos acreditam ser uma resposta
 à profusão de notícias falsas pelo presidente, sua equipe e apoiadores. 
Trump seguirá com uma política agressiva. Mas não será sem resistência.
 
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