DA SUCURSAL DO RIO 
O processo contra Wilson  Simonal foi a primeira  ação penal em que atuou  um jovem promotor que  chegava aos 30 anos, o  hoje deputado Antônio Carlos Biscaia  (PT-RJ).
Ele conta que, conhecida a sentença  em 1974, o telefone de sua casa não  parou de tocar: "Ligavam xingando.  Eram fãs do Simonal".
Biscaia relata ter sido alvo de pressões para pedir a absolvição dos cinco  réus -em vez disso, acusou-os. Três  foram condenados.
"Em duas oportunidades, veio um  cidadão, cujo nome eu não recordo, ao  meu gabinete e disse que era assessor  jurídico do comando do 1º Exército."
O antigo promotor diz ter ouvido:  "As Forças de Segurança têm interesse nesse processo. O senhor tem que  examinar com todo o cuidado".
"Respondi: "Vou examinar com todo  o cuidado, como examino tudo". Ele  disse: "Mas eu estou dizendo que as  pessoas aqui são ligadas às forças de  sustentação do governo revolucionário". Ele começou a tentar justificar  esse ponto de vista e de alguma maneira também me intimidar."
Biscaia caracteriza como "absolutamente insuspeito" o juiz João de Deus  Lacerda Menna Barreto, que condenou três réus a cinco anos e quatro  meses de reclusão. "Ele é de família de  militares."
"Naquela época tinha muito juiz  acovardado", emenda o ex-professor  de Processo Penal da Universidade  Federal do Rio de Janeiro Jorge Alberto Romeiro Jr. "Menna Barreto,  que era um homem conservador, fez  boa Justiça. É um homem de bem."
Sem arrependimento
Representando Raphael Viviani, vítima de tortura no Dops, Romeiro foi  assistente de acusação. Trabalhou  praticamente de graça, inconformado  com "uma coisa horrorosa, covarde. A  tortura é repugnante. O pessoal do  Dops não ia fazer isso se o Simonal não  fosse um colaborador".
Romeiro tornou-se desembargador,  aposentou-se por iniciativa própria e  voltou a advogar. Lamentou o acórdão  que em 1976 resultou na redução da  pena para três meses.
Filho de um ex-ministro do STM  (Superior Tribunal Militar), afirma  que certa feita indagou a outro antigo  ministro da corte, o general Siseno  Sarmento, sobre gestões no Tribunal  de Justiça do RJ.
De 1968 a 71, o oficial comandou o 1º  Exército, no Rio.
"Perguntei: "O senhor não teve interferência ali?". Ele deu uma risada.  "Claro que tive." "Então o senhor procurou algum desembargador?" "Procurei. Pedi para ele e tal"."
Os dois desembargadores autores  do acórdão em que a sessão de tortura  foi tipificada como crime de constrangimento ilegal já morreram.
Menna Barreto é neto de um dos  três membros da junta que governou o  Brasil por pouco mais de uma semana  em 1930. De juiz ele passaria a desembargador. Hoje é consultor jurídico.
Defende sua sentença em primeira  instância: "Arrependimento? Nenhum. Julguei de acordo com a prova  que estava nos autos".
Ele afirma não ter sofrido pressões  -"Eu jamais aceitaria". Destaca que  inexistiu no processo divergência sobre a colaboração de Simonal com o  governo. "E há o depoimento de um  tenente-coronel afirmando isso."  (MM)
Folha, 21 de junho de 2009
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