December 13, 2022

10 erros cometidos por Tite

 



Diego Garcia

Falta de liderança, escolhas erradas, substituições duvidosas e falsa blindagem ao elenco. Tite encerrou um ciclo de 6 anos na Seleção sendo eliminado duas vezes nas quartas de final de uma Copa do Mundo para países pequenos no cenário do futebol. Perder para a Croácia ficará marcado na história como um dos grandes fiascos do time brasileiro.

A seguir, veja 10 erros cometidos por Tite que podem ajudar a explicar o fiasco.


1- Daniel Alves
Parece claro que o primeiro erro de Tite foi convocar o quase aposentado Daniel Alves. O lateral direito titular Danilo se machucou na partida de estreia, o reserva imediato da esquerda Alex Telles foi cortado no no meio da Copa e o titular da posição foi para o banco também por lesão.

O gol que eliminou o Brasil, a 4 minutos do fim da prorrogação, saiu por uma jogada na ala direita, quando Danilo - que começou improvisado na esquerda e voltou ao setor original nos 15 minutos finais - estava mancando de exaustão, já tinha um cartão amarelo e não conseguiu parar o contra-ataque.

Tivesse um lateral direito em condições de jogar uma Copa à disposição, que ainda estivesse em atividade (Daniel Alves não atuava em uma partida profissional desde setembro, quando entrou em campo pelo fraco futebol mexicano), o Brasil, provavelmente, estaria agora na semifinal.

2- Convocação
Em uma lista de 26 nomes, Tite levou 9 atacantes. O treinador me parecia obcecado com a derrota diante da Bélgica, em 2018, quando ficou atrás no placar e não tinha opções ofensivas para virar uma partida. Mas não pensou que, na contramão, pudesse ter que, em algum momento, segurar um resultado.

Com um lateral cortado por lesão, dois machucados e o já citado Daniel Alves como o quarto elemento, Tite foi obrigado a improvisar um zagueiro na lateral durante a Copa, incluindo no vexame diante da Croácia, perdendo assim um nome para o setor. Assim, só Bremer estava à disposição no banco. E Fabinho - que deveria ter entrado em vez de Fred.

Com 120 minutos em campo, a Seleção não tinha nenhuma outra opção defensiva no elenco, quando precisava de apenas 15 minutos para se defender de um time que não havia feito o goleiro Alisson fazer nenhuma defesa. Conseguiu tomar o gol.


3- Capitão
Tite passou o ciclo inteiro sem definir um capitão. Decidiu fazê-lo nesta Copa. Será que acertou? A 5 minutos do fim da prorrogação contra a Croácia, os dois volantes se lançam ao ataque. A Seleção vencia por 1 a 0. Foi quando, com sete homens no campo ofensivo, tomou o contra-ataque. E não tinha ninguém dentro de campo para perceber e orientar o time em um momento de desespero.

O capitão da Seleção era Thiago Silva, escolhido por Tite na véspera da Copa por sua experiência. Mas até quem não entende de futebol sabe que o zagueiro - um dos melhores do mundo em sua posição - não tem condição de ser capitão de um time. Talvez, ninguém no elenco tivesse esse perfil. Poderia então ser um líder técnico, como Casemiro.

Mas quem chora antes de uma disputa de pênaltis jamais pode ser um líder técnico e tático dentro de campo, e Thiago Silva fez isso há mais de 8 anos, no Brasil, contra o Chile, quando já tinha 30 anos. Já no Qatar, os capitães de Croácia (Modric), Argentina (Messi) e Holanda (Van Djik), acertando ou errando, chamaram a responsabilidade nas disputas de pênalti desta sexta-feira (10).


4- Psicólogo
Tite abriu mão de um psicólogo na Seleção. Aparentemente, existe um preconceito velado de alguns grandes nomes do futebol brasileiro contra esse tipo de profissional. Faltou um em 2014, faltou em 2018 e faltou novamente em 2022. Em uma era de haters e pressão insana das redes sociais, a saúde mental tem que ser priorizada.

Mas o agora ex-técnico da Seleção, aparentemente, se considerou qualificado o bastante para incentivar os jogadores apenas com seu poder de oratória. Decorou o CT com frases motivacionais e imagens de ídolos do passado.

Tite não tinha ninguém em sua imensa equipe para lhe dizer que, nos dias de hoje, é necessário ter o mínimo de um acompanhamento profissional psicológico, de alguém realmente diplomado e qualificado para isso?

Não deu outra: a Seleção desabou após tomar o gol de empate da Croácia, com jogadores atirados ao chão do gramado com uma disputa de pênaltis pela frente. Rodrygo perdeu o primeiro, Marquinhos o último e o Brasil deu adeus ao sonho do Hexa.

5- Reservas
Tite poupou todo o time titular contra Camarões no terceiro jogo da Seleção Brasileira na Copa. Contra um freguês histórico, que não vencia um jogo de Mundial há 20 anos. Conseguiu perder. E o Brasil nem estava classificado em primeiro ainda! Por que não jogou ao menos um time misto?

Em um torneio de tiro curto, com apenas 7 jogos em um mês, qual é o sentido de poupar toda a equipe em uma partida que ainda valia no mata-mata? A Seleção não ficou com a segunda colocação da chave por um gol. E só precisava de um empate! Pressão psicológica desnecessária em um time, como já citado, sem psicólogo.

As críticas vieram de todos os lados em um momento que o time vivia lua de mel com o país. Então, poupados, os jogadores entraram voando contra a Coreia e atropelaram no primeiro tempo. Mas foi mais reflexo da superioridade brasileira ou da fragilidade coreana? Afinal, contra a Croácia, a Seleção fez seus piores 45 minutos de toda a Copa.

A derrota com os reservas é também uma amostra da soberba da comissão técnica, talvez acreditando em uma falsa crença de que o Brasil tem à disposição 2 times capazes de vencer a Copa. Tanto não tem que perdeu para Camarões. E para a Croácia.

6- Vinicius Júnior

A substituição de Vinicius Júnior, a maior revelação do futebol brasileiro depois de Neymar, aos 18 minutos do segundo tempo de uma partida de quartas de final de Copa do Mundo é inexplicável.

A partida estava 0 a 0. O Brasil crescendo. E o técnico me saca um talento de 22 anos com pelo menos 30 minutos em jogo no tempo normal e possíveis mais 30 na prorrogação? O que se passou na cabeça de Tite? É claro que Rodrygo deveria ter entrado, mas não na vaga do companheiro de Real Madrid.

Não que Vinicius Júnior seja insubstituível. Estava apagado em campo, anulado por uma forte marcação croata. Mas era um jogo em que o Brasil precisava de um gol e de todos os seus talentos em campo o máximo de tempo possível, o que torna a substituição injustificável.


7- Militão
O time tinha acabado de fazer um gol antológico nos acréscimos do primeiro tempo da prorrogação quando o técnico substituiu o zagueiro que estava improvisado na direita e segurava bem o setor. Colocou um lateral esquerdo machucado e mandou o direito - com dores e amarelado - de volta à posição.

Tite diz que Militão estava com dores. Mas Danilo também não estava? E Alex Sandro voltando de lesão? Por que não existiam outras opções?

Não demorou para o técnico Zlatko Dalic colocar Orsic pela esquerda do ataque croata para puxar um contra-ataque em cima justamente de Danilo, que não conseguiu acompanhar pelo desgaste e o cartão amarelo.

O resultado foi o gol de empate da Croácia no único chute a gol da equipe no jogo, a 4 minutos do fim, e posterior eliminação brasileira nos pênaltis.


8- Blindagem
O técnico tentou blindar o ambiente da Seleção de polêmicas, mas não conseguiu. Mesmo antes da Copa, ao pedir que ninguém se envolvesse no ambiente de polarização política que deixava o país dividido e em ambiente péssimo às vésperas da Copa, Tite viu Neymar apoiar publicamente um dos candidatos.

Isso gerou uma publicidade negativa ao craque da Seleção, que foi inundado de críticas de um lado e mensagens de apoio do outro, quando poderia ter permanecido neutro e obtido o apoio total da população. Mas Neymar preferiu fazer campanha por Bolsonaro.

Já no Qatar, o técnico não evitou que os atletas entrassem em desnecessária polêmica com o "bife de ouro", gerando um viés negativo a um elenco que estava aclamado pela crítica popular após vitória na estreia, em um país com mais de 30 milhões de pessoas passando fome.

E não estou entrando no mérito de ser certo ou errado comer o bife dourado. Só no ponto de que todos sabem, inclusive Tite, que, no Brasil, qualquer coisa vira bomba em uma Copa.


9- Pênaltis
Tite determinou que Neymar assumisse o último e decisivo pênalti contra a Croácia. Mas alguém viu o camisa 10 brasileiro batendo pênalti? Pois é. A Croácia acabou com a fatura na quarta cobrança e despachou a Seleção sem que seu astro pudesse encostar na bola na disputa.

Isso mostrou clara falta de discernimento e liderança do treinador, no mesmo dia em que Messi bateu o primeiro pênalti da Argentina e Modric pediu a terceira bola, em um momento crucial da disputa, abrindo 3 a 1 para os croatas. Isso também demonstrou falta de liderança em campo do capitão escolhido por Tite, que não assumiu a responsabilidade nem de bater e nem de mandar Neymar assumir a cobrança inicial.

Era um momento crucial da partida. O Brasil havia tomado um gol de empate minutos antes e vivia momento emocional delicado. Precisava fazer o primeiro arremate para recuperar a confiança, do time e da torcida. Mas aí também faltava aquele lado psicológico em dia já citado anteriormente.

Enfim, só não era um momento de um garoto de 21 anos bater. A Seleção precisava de seu craque e de mais ninguém.

10- Abandono
Após Marquinhos chutar o sonho do Hexa na trave, Tite abandonou o campo e deixou seus atletas chorando atirados no gramado para serem filmados pelas câmeras do mundo inteiro. Quando mais precisaram de seu comandante, os jovens da Seleção não o tiveram. Uma promissora geração foi deixada sozinha às lágrimas.

Foi a última demonstração de como um técnico não estava preparado para uma Copa do Mundo.

UOL 


December 8, 2022

Entenda o que é emenda de relator, como funciona e o que está em jogo no STF

 

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  As emendas de relator, cuja legalidade será julgada pelo Supremo Tribunal Federal a partir desta quarta-feira (7), se tornaram nos últimos anos um instrumento essencial para barganhas políticas entre o Congresso Nacional e o governo federal.

No governo Jair Bolsonaro (PL), elas foram usadas para destinar bilhões de reais em verbas do Orçamento da União para bases eleitorais de deputados e senadores, com pouca transparência e sem critérios claros para distribuição do dinheiro.

Partidos de oposição moveram ações no STF (Supremo Tribunal Federal) com o argumento de que o sistema viola princípios da Constituição. Caberá ao tribunal examinar questões como a falta de transparência das emendas, os critérios usados pelo Congresso e o alcance dos seus poderes.

O que são emendas de relator?

São instrumentos usados pelo relator-geral da Comissão Mista de Orçamento do Congresso para destinar recursos federais a despesas de interesse de deputados e senadores.

A Constituição de 1988 autoriza o Legislativo a participar do processo orçamentário. Ela estabelece limites para atuação de deputados e senadores, mas permite que eles façam emendas na proposta orçamentária anual enviada pelo Executivo.

Cada congressista tem direito a apresentar emendas individuais, dentro de certos limites. Bancadas estaduais e comissões permanentes do Congresso também têm direito a emendas. A Constituição define critérios para essas emendas e obriga o governo a executar as despesas previstas por elas.

As emendas do relator são reguladas por normas internas do Legislativo, alteradas todos os anos. Essas regras ampliaram muito o campo de atuação do relator, autorizando o uso das suas emendas para financiar quase todo tipo de despesa. A execução dessas despesas pelo governo não é obrigatória.

Qual o problema?

Os recursos separados pelo relator no Orçamento são distribuídos durante o ano de acordo com indicações dos parlamentares, sem transparência e sem critérios claros para divisão do dinheiro. Elas têm sido usadas para favorecer deputados e senadores alinhados com o governo e a cúpula do Congresso.

No caso das emendas individuais e das bancadas, a Constituição estabelece limites para aplicação dos recursos, exigindo que a maior parte seja destinada à saúde, e restringe os valores das emendas a uma fatia das receitas federais, para evitar sua expansão sem controle. Não há nada parecido no caso das emendas de relator.

Além disso, hoje o relator do Orçamento continua trabalhando depois que o Orçamento é aprovado pelo Congresso e sancionado pelo presidente da República, interferindo o ano inteiro na execução das despesas ao definir onde os recursos reservados por suas emendas serão gastos, de acordo com as indicações que recebe.

Quando essas emendas foram criadas?

As emendas de relator existem desde que a Constituição de 1988 assegurou a participação do Congresso no processo orçamentário. Seu alcance foi ampliado durante o governo Jair Bolsonaro (PL), por iniciativa dos parlamentares e do Executivo.

Foi nesse período que se criou um código para identificação das emendas de relator na contabilidade oficial, o RP9. O código serve para facilitar o acompanhamento dos recursos destinados às emendas, dando aos congressistas maior controle sobre o fluxo do dinheiro.

Em 2019, Bolsonaro chegou a vetar um dispositivo inserido pelos parlamentares na Lei de Diretrizes Orçamentárias para criar o código RP9, mas três semanas depois enviou novo projeto de lei ao Congresso reintroduzindo o dispositivo

Qual o valor das emendas?

Desde a criação do código RP9, as emendas de relator destinaram R$ 53,5 bilhões a despesas de interesse de deputados e senadores. Como a execução dessas despesas não é obrigatória e está sujeita a negociações com o Executivo, nem todo esse dinheiro foi desembolsado. Até agora, R$ 28,9 bilhões foram pagos.

A proposta do Executivo para o Orçamento de 2023, ainda em discussão, reserva R$ 19,4 bilhões para emendas individuais e de bancadas e mais R$ 19,4 bilhões para as emendas do relator. Uma resolução aprovada pelo Congresso em 2021 limita o valor das emendas do relator à soma das emendas individuais e de bancadas .

Quem questiona a legalidade das emendas no STF?

Quatro partidos políticos moveram ações em 2021, sendo eles Cidadania, PSB, PSOL e PV. Segundo as ações, as emendas do relator violam os princípios constitucionais que exigem publicidade, impessoalidade e moralidade na administração pública.

Como será o julgamento?

O julgamento no plenário que reúne os 11 ministros do STF está previsto para começar nesta quarta-feira (7), e todas as quatro ações de inconstitucionalidade serão analisadas conjuntamente.

Uma das possibilidades é que a corte reconheça a legalidade das emendas, mas imponha limitações --por exemplo, determinando mais transparência e critérios mais claros para o uso dos recursos.

O julgamento poderá ser interrompido se um dos ministros pedir vista, para analisar melhor o assunto. Um pedido de vista suspenderia o julgamento por tempo indeterminado, até que o ministro devolvesse o processo ao plenário.

O que o STF já decidiu?

Em 2021, o STF determinou que o Congresso criasse um sistema para divulgação dos patrocinadores e dos beneficiários das emendas do relator. O sistema criado deu mais transparência às emendas, mas ainda oculta muitas informações.

Nas planilhas divulgadas pela Comissão Mista de Orçamento, cerca de um terço dos valores estão associados a "usuários externos", pessoas que são identificadas como responsáveis pelas indicações, mas em geral encobrem o envolvimento de parlamentares na alocação dos recursos.

Há desvios?

As emendas têm sido usadas para barganhas políticas entre o governo e a cúpula do Congresso, favorecendo aliados da base aliada do Planalto. Há suspeitas de fraude na execução das despesas, mas a falta de transparência dificulta o controle.

Boa parte dos recursos manejados pelas emendas foram destinados a obras de pavimentação executadas pela Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), empresa estatal sob o comando do centrão.

Como a Folha revelou, modalidades de licitação simplificadas foram usadas para acelerar a liberação dos recursos, deixando em segundo plano o planejamento, a qualidade e a fiscalização das obras, e abrindo caminho para serviços precários, superfaturamento e corrupção.

 

FOLHA 

 

 

 

 

 

 

 

December 4, 2022

Two Weeks of Chaos: Inside Elon Musk’s Takeover of Twitter

 

 

 

Kate CongerMike IsaacRyan Mac and

On Oct. 28, hours after completing his $44 billion buyout of Twitter the night before, Mr. Musk gathered several human-resource executives in a “war room” in the company’s offices in San Francisco. Prepare for widespread layoffs, he told them, six people with knowledge of the discussion said. Twitter’s work force needed to be slashed immediately, he said, and those who were cut would not receive bonuses that were set to be paid on Nov. 1.

The executives warned their new boss that his plan could violate employment laws and breach contracts with workers, leading to employee lawsuits, the people said. But Mr. Musk’s team said he was used to going to court and paying penalties, and was not worried about the risks. So Twitter’s human-resource, accounting and legal departments scrambled to figure out how to comply with his command.

Two days later, Mr. Musk learned exactly how costly those potential fines and lawsuits could be, three people said. Delays were also piling up as managers haggled over which employees to let go. He decided to wait on cutting jobs until after Nov. 1.

The order for immediate layoffs, the ensuing panic and the about-face reflect the chaos that has engulfed Twitter since Mr. Musk took over the company two weeks ago. The 51-year-old barreled in with ideas about how the social media service should operate, but with no comprehensive plan to execute them. Then he quickly ran into the business, legal and financial complexities of running a platform that has been called a global town square.

The fallout has often been excruciating, according to 36 current and former Twitter employees and people close to the company, as well as internal documents and workplace chat logs. Some top executives were summarily fired by email. One engineering manager, upon being told to cut hundreds of workers, vomited into a trash can. Others slept in the office as they worked grueling schedules to meet Mr. Musk’s orders.

Twitter, which is under financial pressure from debt and a slumping economy, is now unrecognizable compared with what it was a month ago. Last week, Mr. Musk slashed 50 percent of the company’s 7,500 employees. Executive resignations have continued. Misinformation proliferated on the platform during Tuesday’s midterm elections. A key project to expand revenue from subscriptions hit snags. Some advertisers have been aghast.

Mr. Musk, who did not respond to a request for comment, told employees in a meeting on Thursday that Twitter’s situation was grim.

“There’s a massive negative cash flow, and bankruptcy is not out of the question,” he said, according to a recording heard by The New York Times.

Mr. Musk added that they would need to work strenuously to keep the company afloat. “Those who are able to go hard core and play to win, Twitter is a good place,” he said. “And those who are not, totally understand, but then Twitter is not for you.”

ImageElon Musk posted a video of his entrance to Twitter headquarters on Oct. 26.
Credit...Twitter, via Associated Press

Mr. Musk arrived at Twitter’s San Francisco offices on Oct. 26, toting a white porcelain sink through the glass doors of the building. “Let that sink in!” he tweeted at the time, along with a video of his grand entrance.

Leslie Berland, Twitter’s chief marketing officer, encouraged employees to say hi to Mr. Musk and escorted him through the office. He was seen chatting with employees at the company coffee bar.

But the vibe quickly changed. The next day, Parag Agrawal, Twitter’s chief executive, and Ned Segal, the chief financial officer, were in the office, two people familiar with the situation said. Once they knew Mr. Musk’s acquisition of Twitter was closing that afternoon, they left the building, uncertain what the new owner would do.

Mr. Agrawal and Mr. Segal soon received emails saying they had been fired, two people familiar with the situation said. Vijaya Gadde, Twitter’s top legal and policy executive, and Sean Edgett, the general counsel, were also fired. Mr. Edgett, who was in Twitter’s offices at the time, was escorted out.

That evening, Twitter hosted a Halloween party called “Trick or Tweet” for employees and their families. Some workers dressed in costume and tried to keep the mood festive. Others cried and hugged one another.

Mr. Musk had brought his own advisers, many of whom had worked at his other businesses, such as the digital payments company PayPal and the electric carmaker Tesla. They parked themselves in the “war room,” on the second floor of a building attached to Twitter’s headquarters. The area, which Twitter used to fete big-spending advertisers and dignitaries, was stocked with company memorabilia.

The advisers included the venture capitalists David Sacks, Jason Calacanis and Sriram Krishnan; Mr. Musk’s personal lawyer Alex Spiro; his financial manager Jared Birchall; and Antonio Gracias, a former Tesla director. Joining in were engineers and others from Tesla; from Mr. Musk’s brain interface start-up, Neuralink; and from his tunneling company, the Boring Company.

At times, Mr. Musk was spotted with his 2-year-old son, X Æ A-12, at Twitter’s office as he greeted employees.

In meetings with Twitter executives, Mr. Musk was direct. At the Oct. 28 meeting with human-resource executives, he said he wanted to reduce the work force immediately, before a Nov. 1 date when employees would receive regularly scheduled retention bonuses in the form of vested stock. Tech companies often compensate employees with regular share grants, earned over time the longer they stay at the firm.

One Twitter team began creating a financial model to show the cost of the layoffs. Another built a model to demonstrate how much more Mr. Musk might pay in legal fees and fines if he proceeded with the rapid cuts, three people said.

On Oct. 30, Mr. Musk received word that the rapid approach could cost millions of dollars more than laying people off with their scheduled bonuses. He agreed to delay, four people said.

But he had a condition. Before paying the bonuses, Mr. Musk insisted on a payroll audit to confirm that Twitter’s employees were “real humans.” He voiced concerns that “ghost employees” who should not receive the money lingered in Twitter’s systems.

Mr. Musk tapped Robert Kaiden, Twitter’s chief accounting officer, to conduct the audit. Mr. Kaiden asked managers to verify that they knew certain employees and could confirm that they were human, according to three people and an internal document seen by The Times.

The Nov. 1 bonus date came and went with no mass layoffs. Mr. Kaiden was fired the next day and marched out of the building, five people with knowledge of the situation said.

As Twitter managers compiled lists for layoffs, Mr. Musk flew to New York to meet with advertisers, who provide the bulk of Twitter’s revenue.

In some advertiser meetings, Mr. Musk proposed a system for Twitter users to choose the kind of content that the service exposed them to — akin to G to NC-17 movie ratings — implying that brands could then target their advertising on the platform better. He also committed to product improvements and more personalization for users and ads, two people with knowledge of the discussions said.

But his outreach was undercut by the departures of two New York-based Twitter executives — Ms. Berland and JP Maheu, a vice president in charge of advertising. They were well known in the advertising community.

Those Twitter executives “had great relationships with the senior-most people at the Fortune 500 — they were incredibly transparent and inclusive,” said Lou Paskalis, a longtime advertising executive. “Those things engender tremendous trust, and those things are now in question.”

Brands including Volkswagen Group, General Motors and United Airlines have said they will pause advertising on Twitter as they evaluate Mr. Musk’s ownership of the platform.

Mr. Musk elevated some managers at Twitter. He tapped Esther Crawford, a product manager, to revamp a subscription service called Twitter Blue. Mr. Musk wanted a new version of the service, which would cost $8 a month and include premium features and the verification check mark that was previously assigned for free to the accounts of celebrities, journalists and politicians to convey their authenticity.

He laid down a deadline: The team must finish Twitter Blue’s changes by Nov. 7 or its members would be fired.

Last week, Ms. Crawford shared a photo of herself sleeping at Twitter’s San Francisco offices in a sleeping bag and an eye mask, with the hashtag #SleepWhereYouWork.

Her message rubbed some colleagues the wrong way. They wondered in private chats why they should commit long working hours to a man who could fire them, according to five people and messages seen by The Times. On Twitter, Ms. Crawford responded to what she called “hecklers” by saying she had received supportive messages from other entrepreneurs and “builders of all types.”

The scope of layoffs was a moving target. Twitter managers were initially told to cut 25 percent of the work force, three people said. But Tesla engineers who reviewed Twitter’s code proposed deeper cuts to the engineering teams. Executives overseeing other parts of Twitter were told to expand their layoff lists.

Twitter executives also suggested assessing the lists for diversity and inclusion issues so the cuts would not hit people of color disproportionately and to avoid legal trouble. Mr. Musk’s team brushed aside the suggestion, two people said.

On Nov. 2, employees stumbled upon an open channel in the internal Slack messaging system where human resources and legal teams were discussing the layoffs. In a message seen by The Times, one employee said 3,738 workers could be laid off, or about half the work force. The message was widely shared internally.

That evening, Mr. Musk met with some advisers to settle on the reduction, according to a calendar invitation seen by The Times. They were joined by employees from Twitter’s human resources and staff from his other companies.

Anticipating the cuts, employees began bidding farewell to their colleagues, trading phone numbers and connecting on LinkedIn. They also pulled together documents and internal resources to help workers who survived the layoffs.

One engineering manager was approached by Mr. Musk’s advisers — or “goons,” as Twitter employees called them — with a list of hundreds of people he had to let go. He vomited into a trash can near his feet.

Late on Nov. 3, an email landed in employees’ inboxes. “In an effort to place Twitter on a healthy path, we will go through the difficult process of reducing our global work force,” the email, signed “Twitter,” said.

Pandemonium followed. While the note said employees would receive a follow-up email the next morning about whether they still had jobs, many found themselves locked out of email or Slack that night, an indication they had been laid off. Those who remained in Slack posted saluting emojis en masse as a send-off for co-workers.

The cuts were enormous. In Redbird, Twitter’s platform and infrastructure organization, Mr. Musk shed numerous managers. The unit also lost about 80 percent of its engineering staff, raising internal concerns about the company’s ability to keep its site up and running.

In Bluebird, Twitter’s consumer division, dozens of product managers were laid off, leaving just over a dozen of them. The new ratio of engineers to managers was 70 to 1, according to one estimate.

As layoffs unfolded, tech recruiters sensed opportunity. Top managers at rival companies such as Meta and Google sent messages to some of the employees being let go from Twitter, said two people who received the notes.

Most of Mr. Musk’s subordinates remained quiet throughout the process. But Mr. Calacanis, the venture capitalist, had been active on Twitter responding to product suggestions and concerns.

Last week, Mr. Musk dispatched a lieutenant to the “war room” to ask Mr. Calacanis, who was there, to cool it on Twitter and stop acting as if he were leading product development or policy, people familiar with the exchange said.

“To be clear, Elon is the product manager and CEO,” Mr. Calacanis later tweeted. “As a power user (and that’s all I am!) I’m really excited.”

By last Saturday, Mr. Musk’s advisers realized that the cuts may have been too deep, four people said. Some asked laid-off engineers, designers and product managers to return to their old jobs, three people familiar with the conversations said. The tech newsletter Platformer earlier reported the outreach.

At Goldbird, Twitter’s revenue division, the company had to bring back those who ran key money-generating products that “no one else knows how to operate,” people with knowledge of the business said. One manager agreed to try rehiring some laid-off workers, but expressed concerns that they were “weak, lazy, unmotivated and they may even be against an Elon Twitter,” two people familiar with the matter said.

On Monday, some Twitter employees arrived at work to find that certain systems they had relied on no longer worked. In San Francisco, an engineer discovered that some contracts with vendors that provide software for managing user data had been put on hold or had expired, and that the managers and executives who could fix the problem had been laid off or resigned.

On Wednesday, workers in Twitter’s New York office were unable to use the Wi-Fi after a server room overheated and knocked it offline, two people said.

Mr. Musk plans to begin making employees pay for lunch — which had been free — at the company cafeteria, two people said.

 

 

 

 

 

Inside Twitter, some employees have clashed with Mr. Musk’s advisers.

This week, security executives disagreed with Mr. Musk’s team over how Twitter should meet its obligations to the Federal Trade Commission. Twitter had agreed to a settlement with the F.T.C. in 2011 over privacy violations, which requires the company to submit regular reports about its privacy practices and open its doors to audits.

On Wednesday, a day before a deadline for Twitter to submit a report to the F.T.C., Twitter’s chief information security officer, Lea Kissner; chief privacy officer, Damien Kieran; and chief compliance officer, Marianne Fogarty, resigned.

In internal messages later that day, an employee wrote about the resignations and suggested that internal privacy reviews of Twitter’s products were not proceeding as they should under the F.T.C. settlement.

Some engineers could be required to “self-certify” that their projects complied with the settlement, rather than relying on reviews from lawyers and executives, a shift that could lead to “major incidents,” the employee wrote.

“Elon has shown that his only priority with Twitter users is how to monetize them,” the person wrote in the message, which was viewed by The Times.

The employee added that Mr. Spiro, Mr. Musk’s lawyer, had said the billionaire was willing to take risks. Mr. Spiro, the employee said, told workers that “Elon puts rockets into space — he’s not afraid of the F.T.C.”

The F.T.C. said that it was tracking the developments at Twitter with “deep concern” and that “no C.E.O. or company is above the law.” Mr. Musk later sent employees an email saying Twitter will adhere to the F.T.C. settlement.

On Thursday, more Twitter executives resigned, including Kathleen Pacini, a human-resource leader, and Yoel Roth, the head of trust and safety.

At the meeting with employees that day, Mr. Musk tried to sound a note of optimism about Twitter’s future.

“Twitter can form an incredibly valuable service to the world and be the public town square,” he said, noting it should be a “battleground of ideas” where debate could “take the place of violence in a lot of cases.”

Reporting was contributed by Kevin Roose, Lauren Hirsch, Kitty Bennett and David McCabe.

NEW YORK TIMES 

November 25, 2022

Guia de protesto para a Copa do Mundo no Qatar

 

 Jogadores alemães posam para foto tampando a boca com a mão

 Sandro Macedo

Qatar foi escolhido em dezembro de 2010 pela Fifa para sediar a Copa. Naquela época, o país já tinha sérias questões relacionadas a violações dos direitos humanos. Mas isso não era, e não é, problema da Fifa.

Afinal, a Fifa está mais para um banco mundial do que para a ONU, portanto, gostam de dinheiro, não de gente. A não ser que seja gente com dinheiro. Aliás, a minissérie documental "Esquemas da Fifa", da Netflix, mostra em quatro episódios o tipo de gente que a Fifa curte.

Talvez imaginava-se que o país-sede da Copa fosse pisar no freio, pelo menos durante o Mundial. Até pisaram, mas beeeem devagarinho. E depois aceleraram de novo. Já teve torcedor barrado com chapéu de arco-íris, jornalista barrado de restaurante com camisa de arco-íris e até bronca com bandeira de Pernambuco.

Às questões do país de perseguição à comunidade LGBTQIA+, somam-se as críticas às condições dadas aos trabalhadores, muitos deles imigrantes, que estiveram em ação na construção dos estádios e na melhora da infraestrutura para a Copa. De acordo com a Anistia Internacional, a conta de mortos foi na casa dos milhares.

Portanto, não faltam motivos para protestos. Aliás, sobram. Então, vamos protestar na Copa. Problema: a Fifa, que não gosta de gente, também não gosta de protesto no seu quintal.

Sete federações europeias queriam manifestar apoio aos grupos LGBTQIA+ com braçadeiras —o que significa que seis federações europeias não estavam nem aí; e nem vamos falar das sul-americanas. Como a Fifa sabe que multa não é um problema para os europeus, ameaçou dar cartão amarelo para os capitães. E ganhou a queda de braço.

Mas dá para protestar, minha gente, de várias formas. Está faltando criatividade aos atletas, tão espertinhos no TikTok. Os alemães já deram a deixa, com a mão tampando a boca na foto do jogo, para dizer que foram calados.

Mas vamos a algumas outras sugestões.

Cabelo. Tudo é permitido com o cabelo desde que Ronaldo, o nosso, fez o ridículo corte Cascão na fase final da Copa de 2002 —imitado por muitas crianças na época, fato pelo qual o Fenômeno já pediu desculpas. Assim, os jogadores que apoiam a causa LGBT poderiam pintar o arco-íris na cabeça. A Fifa nunca puniu cor de cabelo antes.

Não quer mexer no penteado? Não tem problema. Que tal as chuteiras? Foi-se o tempo em que todos os jogadores usavam chuteiras pretas (sim, sou viúvo da Copa de 1982). Todo mundo usa uma cor diferente no pisante, às vezes duas, outro dia vi uma chuteira furta-cor.

Por que não uma chuteira arco-íris? E fabricantes do calçado ganhariam um marketing positivo grátis. Em 2018, o suíço Shaqiri usou chuteira com a bandeira de Kosovo. Teve multa, mas não lembro de cartão amarelo por uso de chuteira.

Imagem com close nas chuteiras mostra uma delas com a bandeira de Kosovo e outra com a bandeira da Suíça

Dá também para usar a regra a favor. Agora são cinco alterações no time, e são 26 jogadores no elenco, com três goleiros. Na prática, isso significa que uns seis caras de cada seleção não vão entrar em campo nunca, certeza.

Dica: trocar um jogador útil por um inútil nos acréscimos de confrontos decididos e colocar a tal braçadeira proibida. Exemplo, imagine que uma partida entre Inglaterra e Irã esteja… sei lá… 6 a 2, aos 45 minutos do segundo tempo. Então você saca o goleiro titular Pickford (que nem é grande coisa) e coloca no lugar o terceiro goleiro, Ramsdale (que é melhor que o titular, mas deixa para lá). O que aconteceria? Ramsdale entraria com a braçadeira LGBTQIA+, com a inscrição "One Love", o juiz veria aquela atrocidade e daria um cartão amarelo. E pronto, protesto feito. No próximo jogo, volta o intrépido Pickford.

Última sugestão, e essa deixaria Fifa e qatarianos doidos: um selinho de comemoração. Jogadores se beijam o tempo todo nas substituições, se abraçam, se apalpam. Já pensou um dinamarquês fazendo gol e, na hora de celebrar, dar um selinho no amiguinho de uns cinco segundos? Gianni Infantino —que sabe o que é bullying com LGBT porque foi ruivo— ia cair do camarote direto no gramado.

FOLHA

 

 

 

 

November 24, 2022

Carta a Gianni Infantino

 

 

Mordaça: Jogadores da Alemanha entram para história do esporte
Jamil Chade

Jamil Chade

Prezado Sr. Gianni Infantino,

Quero te contar uma história. Em dezembro de 2010, numa noite fria em Zurique, estávamos todos esperando pelo anúncio do resultado da votação sobre onde seriam as Copas de 2018 e 2022. Minutos antes de o evento começar, encontrei um lugar ao lado de um colega escocês e, por coincidência, na fileira de trás de uma parte da delegação do Qatar.

Diante de mim, um dos spin doctors mais polêmicos e eficientes do mundo estava sentado. Mike Lee, que já faleceu, trabalhava pela campanha do Qatar, país que tinha sido classificado no relatório técnico da Fifa como o pior entre todas as candidaturas para sediar a Copa. Tirou a nota mínima e só não foi retirado do processo por uma decisão política.

Era a candidatura de um país que jamais tinha ido para um Mundial, que falava no absurdo de ar condicionado em estádios e que tinha sido humilhado no COI (Comitê Olímpico Internacional), anos antes, ao tentar sediar os Jogos Olímpicos.

Contra o minúsculo país estavam a sedução da Austrália, a tecnologia do Japão e a influência política e econômica dos EUA. Bill Clinton, de fato, estava também na sala.

Faltavam cerca de trinta minutos para Joseph Blatter subir ao palco com o envelope ao qual, supostamente, ninguém tinha acesso. Ali estaria o nome do vencedor de um evento que movimenta US$ 5 bilhões.

Lee, então, se vira para mim e, com as mãos, faz um sinal de que o Qatar tinha sido escolhido. E pisca, abrindo um enorme sorriso de satisfação. Ao lado do escocês, minha reação foi de deboche. Mas, em silêncio, pensei: "será que eles terão coragem de fazer isso? O futebol está mesmo à venda?"

Instantes depois, quando Blatter abre o envelope e a palavra "Qatar" explode nas manchetes de todo o mundo, Lee se volta para nós e confirma de novo com as mãos uma mensagem clara: "eu avisei".

Senhor presidente,

A Copa de 2022 é uma aberração. Não existiam motivos técnicos que a justificassem.

A Copa de 2022 é um projeto político de uma elite no poder que, com o futebol, comprou sua inserção no mundo.

A Copa de 2022 é imoral e uma afronta aos defensores de direitos humanos, ativistas e ambientalistas.

A Copa de 2022 é erguida sobre o sangue, lágrimas e a destruição da dignidade de operários que, sem pausa de verão, trabalharam em condições de semiescravidão.

A Copa de 2022 é um deboche aos torcedores de todo o mundo, incapazes de sonhar com a possibilidade de ter recursos para bancar uma estadia em Doha.

A Copa de 2022 é um insulto às mulheres e aos homossexuais, enquanto influenciadores postam nas redes sociais as maravilhas das torneiras douradas dos estádios.

Sempre que coloquei essa minha visão, ouvi duas respostas:

1. A Copa vai ajudar a abrir o Qatar ao mundo.

Minha resposta: a história mostra que isso é uma grande mentira. Em 2008, o COI usou o mesmo argumento para falar do impacto que a Olimpíada teria para a China. E a tal da abertura jamais chegou.

2. A Copa não pode ser o privilégio de apenas alguns poucos países do mundo.

Minha resposta; óbvio que não pode. Mas tampouco pode ser o privilégio de regimes violadores de direitos humanos que usam o evento para mostrar um rosto moderado e aceitável ao mundo.

Caro Infantino,

Quando o senhor estiver sentado nas confortáveis e luxuosas poltronas dos estádios no Qatar e sentir um incômodo, não se surpreenda. Pode ser que seja o deserto, que rende a todos nessa parte do mundo. Ou talvez sejam os espíritos que, já com seus passaportes devolvidos pelos empregadores na forma de caixão, agora podem circular finalmente de forma livre pelo país.

"Sabían de la muerte, lo duro que es el pan", cantaria Victor Jara. "Venían del desierto, de los cerros y del mar".

Quando, nestas lindas arquibancadas o senhor gritar gol, não tenha ilusão. Ele será incapaz de abafar o berro que já ecoa por cada corredor desses estádios. O grito do desespero de uma parte da humanidade invisível.

Saudações tricolores,

Jamil

****

UOL 

 

November 20, 2022

Verde e amarelo

 

 


 UM ROTEIRO SOBRE A CRIAÇÃO
DA CAMISETA DA SELEÇÃO, SEU
SEQUESTRO PELO GOLPISMO E O
DESTINO DE UM BRASIL FRATURADO

p o r A N D R É C O S T A N T I N * 


Este é o roteiro de um filme
inacabado sobre um ícone do
Brasil. O enredo é um crime
político: o sequestro da cami-
sa da Seleção brasileira de fu-
tebol. A mística camisa ama-
rela vaga pelo seu inferno
simbólico, nesta quadra his-
tórica em que o País, saído de uma trau-
mática eleição para presidente, ensaia seu
retorno à luz. Nação e símbolo desencan-
taram-se, o corpo procura sua alma.
Nestes dias alucinantes, o drama desta
história toca o ápice, em busca de desen-
lace. O Brasil entra em campo na Copa do
Mundo do Catar, renovando a gasta espe-
rança do hexa. Nas ruas, a camisa do Bra-
sil derrama seu amarelo-ouro
nas multidões que acampam
às portas de quartéis, do Sul
ao Norte, e pedem “interven-
ção” militar. Traços de ficção
atravessam a realidade.

 
Cena/Sequência 1 (Cami-
sa em Transe): Dia de Finados,
novembro de 2022. Parentes visi-
tam seus mortos em uma cidade indus-
trial do Sul do Brasil. Depois saem às
ruas, de amarelo, em grupos. Passaram-
-se três dias da eleição presidencial. Os
jornais ainda noticiam a vitória de Lu-
la. Estou diante da ilha de edição de um
filme, mas não há concentração possível
com a estranha vibração que vem da rua.

Vou para casa. Tro-
co o carro pela moto.
Dirijo-me ao encontro
da multidão, até onde é
possível. Depois, sigo a
pé. Penetro a agitação
verde-amarela, de ca-
pacete, gravo com um
Iphone. “Deus, pátria,
família”, o lema estam-
pa as camisas amarelas,
em múltiplas variações,
entre os fanáticos abduzidos
pelos smartphones. Em planos-
-sequência, filmo famílias intei-
ras, de avós a bebês, que se movem ao
centro do teatro: o portão de um grupa-
mento do Exército. Na maioria, brancos
como eu. Parecem saídos da missa das
10 da Igreja dos Capuchinhos, nas cer-
canias do quartel. Uma carreata ruido-
sa tangencia a manifestação.

 
Entro pelo núcleo central, onde a massa
se adensa e se move por inércia, bloquean-
do a avenida. Animadores discursam no
alto de um caminhão de som. Toca o Hi-
no Nacional. Depois todos cantam o Hi-
no da República Rio-Grandense: Sirvam
nossas façanhas de modelo a toda a Terra...
Vendedores de camisas da Seleção,
dispostas em araras, faturam sem pa-
rar. Todos querem a de Neymar Jr. Só

ha do Neymar – o camisa 10 bolsona-
rista. Um rapaz assa churrasco de cos-
tela gorda na caçamba de uma picape. O
orador, outro camisa 10, pede que todos
se ajoelhem no asfalto, para juntos reza-
rem um Pai-Nosso. Pela pátria.

 
Corte/Camisas e bandeiras em profu-
são: ignoram, estas milhares de almas,
amalgamadas nas redes sociais, a gênese
da camisa que hoje veste seus devaneios
em praça pública. Concebida nas lonjuras
do extremo Sul do Brasil, a camisa da Se-
leção é a criação de um brasileiro da fron-
teira, ferrenho amante e defensor da de-
mocracia e das autênticas liberdades: o es-
critor Aldyr Garcia Schlee, com quem via-
jamos em busca de uma biografia da ca-
misa brasileira, para contar esta história.
Este senhor do Pampa, forma-
do na linha tênue entre Brasil
e Uruguai, inventou a camisa
da Seleção brasileira de futebol
no ano de 1953. Aos 17 anos, fez
surgir em papel e guache a ca-
misa-síntese do Brasil, para dar luz e no-
vo espírito nacional ao opaco uniforme
dos jogadores brasileiros nos estádios do
mundo. Schlee criou um símbolo tão bri-
lhante e vitorioso que se tornou a repre-
sentação oficial de todos os esportes na-
cionais. Mais: virou ícone da brasilida-

e, do jogo bonito, uma ideia de Brasil. A
camisa do rei Pelé e outros seres mági-
cos, mais vista, mais sonhada e mais re-
conhecida aqui e no mundo do que a pró-
pria bandeira nacional.

 
Marca identitária de um país do futu-
ro, feita manto e escudo de heróis míti-
cos, a camisa dita “Canarinho” teria de
cumprir, por força do destino, a sua jor-
nada dantesca, entre o Céu e o Inferno.
Para além dos estádios e das transmis-
sões de tevê, também revestiu os fantas-
mas de um velho Brasil: o reacionarismo
atávico, o autoritarismo.

 
Na companhia não do poeta Virgílio
– como no périplo de A Divina Comédia,
de Dante Alighieri –, mas de um sombrio
Messias emanado da nossa pior tradição
política, a camisa desceu aos círculos do
Inferno e vestiu na última década legiões
de brasileiros aprisionados ao Brasil ar-
caico, violento e ressentido.

 
Hoje, nas ruas e nos corações da nação,
entre os que se agitam na histeria golpis-
ta e os que silenciam no exílio simbólico
da cor amarela, a camisa do Brasil vive
seu maior transe. Podemos ouvir a voz do
narrador global, onipresente: “A pergunta
de milhões, haverá redenção da camisa?”
Cena/Sequência 2 (A Camisa Seques-
trada): O carro cruza a fronteira e mer-
gulha no Uruguai. Schlee, o pai da cami-
sa da Seleção, está com 83 anos. Tem os

olhos fixos na paisagem que escolheu co-
mo sua, brasileiro ao Sul do próprio País,
no território imaginário que viveu, rein-
ventou e escreveu, transbordando limi-
tes de terras reais e abstratas: o Pampa.

 
Nosso destino é Montevidéu, onde Bra-
sil e Uruguai entrarão em campo pelas eli-
minatórias da Copa da Rússia. Estamos
em março de 2017, átrio do inferno bolso-
narista, em cujo portal imaginário o con-
de Temer recita Dante: “Deixai cada es-
perança, vós que entrais”. Embora o hori-
zonte anunciasse as cinzas amazônicas e
as nuvens da nossa necrofilia política, ía-
mos em busca de um sentido original, de
uma possível redenção da camisa brasilei-
ra. Schlee sabe, sem o dizer: é a sua últi-
ma travessia Uruguai adentro, o reencon-
tro com a sua maior criação, quase renega-
da, ao fim da vida. De ícone de uma dese-
jada nação da alegria e da ginga, a camisa
da Seleção retrocedeu à condição da nos-
sa decantada vira-latice. Foi colada à cor-
rupção da cartolagem, ao futebol mone-
tário, até chegar ao sinistro 7 a 1. E, desde
então, viajou por inenarráveis subterrâ-
neos. O novo sentido da camisa foi anun-
ciado na onda dos protestos de 2013. Mul-
tidões gritavam que o gigante acordava.
Aos poucos, a cor amarela associava-se ao
patriotismo, na vazão do expurgo coleti-
vo, sem direção – e outros ismos: naciona-
lismo, militarismo, lavajatismo, golpismo,
até o abismo bolsonarista.

 
Schlee mira o deserto do Pampa, fala
de seu desencanto amarelo. “O que me
deixa profundamente triste, que me faz
ficar de mal com a minha criação, é o fa-
to de a camisa ter se tornado um símbo-
lo popular do golpe que tirou uma presi-
denta do País democraticamente eleita.
O uso político da camisa da Seleção é al-
go que precisa ser revisto.”

DE ÍCONE DE UMA
DESEJADA NAÇÃO
DA ALEGRIA E DA
GINGA, A CAMISA
DA SELEÇÃO
RETROCEDEU À
CONDIÇÃO DA
NOSSA DECANTADA
VIRALATICE

 
Cena/Sequência 3 (A Camisa de San-
gue): Ainda nos ares de 2013, um oculto
sentimento ou ser, inominado, fermen-
tava nos intestinos da nação. Era até en-
tão um ser opaco, cronicamente inviável.
Movia-se há 30 anos pelos submundos do
Exército e da política. O Messias envia-
do, com a arma e a Bíblia nas mãos, so-
bre quem recaiu tamanha energia acu-
mulada, ganhou um nome. Um certo Jair
– com o erre de pronúncia caipira, masti-
gado pela ancestralidade italiana do in-
terior paulista. Jair Messias Bolsonaro.
Em um toque de tragédia grega,
de repente, às vésperas da elei-
ção de 2018, uma faca atraves-
sa a camisa amarela do Messias,
carregado por mitômanos em
Juiz de Fora – roteiro de um
filme B, sangue e ketchup a vazar da te-
la. Fez-se o mito no quintal do mundo.
O poder refestelou-se na camisa da Se-
leção. A camisa amarela nele encarna o
modelo de um fascismo à brasileira, ana-
crônico, messiânico, histérico e melan-
cólico a um só tempo. De amarelo agita-
vam-se os manifestantes que, ao míni-
mo sinal do Messias às portas do palá-
cio, saíam às ruas para exigir a interven-
ção militar, o fechamento do Congresso
e do Supremo – o cabo e o soldado no ji-
pe, generais de óculos escuros a sobrevo-
ar a Praça dos Poderes.

 
Recaída, a camisa da Seleção de certo
modo regurgita o passado. No tricampeo-
nato da Copa do México, em 1970, ela ser-
viu ao clichê da pátria de chuteiras, in-
flada pela ditadura iniciada em 1964.
Rivellino, Gérson, Tostão, Jairzinho e
Pelé embalavam o “esquadrão de ou-
ro” do Prá Frente Brasil, canção-tema
da propaganda ufanista daqueles anos.
Passados quase 50 anos, tendo o País
atravessado a ponte da ditadura, a ca-
misa amarela volta ao olho do furacão,
transformada em farda civil, quase mili-
tar. Talvez a camiseta Canarinho tenha,
enfim, ajustado o figurino ao corpo e à al-
ma que realmente somos: um Brasil du-
ro, perna-de-pau, movido por esse ódio
cíclico que nutrimos por nós mesmos.
Não mais aquela fantasia que imaginá-
vamos e desejávamos ser, a caminho do
futuro, longe, mas promissor.
Cena 4/Corte (O Carro de Som):
8 de novembro de 2022, pas-
saram-se nove dias da eleição
de Lula. O técnico Tite anun-
cia os convocados da Seleção.
Um carro de som circula lá
fora, com um mantra de mil decibéis:
“Patriotas, a nossa pátria sofreu um du-
ro golpe contra a democracia. A eleição foi
fraudada. Não respeitaram a vontade do
povo. Por isso convidamos todos vocês a
se juntarem a nós e ir até os portões dos
quartéis. Pela nossa pátria, pelas nossas
famílias, pelos nossos filho e netos”.

 
Cena/Sequência 5 (Ao Sul da Camisa):
Retornamos à estrada. O pertencimento
da camisa é uma viagem alucinante, com
destino incerto. O Pampa aprofunda-se
até Jaguarão, 152 quilômetros ao sul de
Pelotas. A cidade ainda é quase toda um
sítio histórico, com fachadas portuguesas.
A camisa brasileira não deixa de ser
uma refração dessa faixa de fronteira,
que divide, mas também revela o que es-
tá à nossa frente. É onde Schlee nasceu e
viveu até a adolescência, o território real
e imaginário de sua vida e obra literária,
em dezenas de contos, novelas e roman-
ces – vários traduzidos e adaptados, en-
tre eles os contos de O Dia em Que o Pa-
pa Foi a Melo (1991/Uruguai; 1999/Bra-
sil), que virou o filme O Banheiro do Pa-
pa, de César Charlone, em 2007.

 
Aos 7 anos, Schlee era iniciado no fute-
bol pelo tio Oscar Garcia, goleiro de fama
em Jaguarão. Nos vestiários de tábuas,
fedendo a urina, o menino ficava quieto
nos cantos, diminuído, vendo aqueles ho-
mens de falas portuguesas e castelhanas,
nus, dizendo palavrões. Pegou paixão pe-
la “Celeste” uruguaia. Inspirado na crô-
nica esportiva das revistas El Grafico e
Mundo Deportivo, de Montevidéu, pas-
sou a reproduzir os gols que ouvia em de-
senhos e esquemas gráficos. Surgia o cro-
nista e o artista.

 
Paramos às margens do Jaguarão pa-
ra gravar. Ao fundo está a ponte em arcos,
fortificada, que liga o Brasil ao Uruguai.
Voltamos à lembrança da Copa do Mundo
de 1950. O Brasil foi abatido pelo Uruguai
no Maracanã, no episódio que entrou pa-
ra a história como Maracanazzo – e para
a crônica sociológica do “complexo de vi-
ra-latas”, de Nelson Rodrigues.

 
No dia daquela final, Schlee tinha cru-
zado a ponte. Estava no cinema, do lado
uruguaio, quando o filme foi interrom-
pido. Acenderam-se as luzes e o locutor
anunciou que o Uruguai se sagrava cam-
peão do mundo no Brasil. Delírio geral.
“Eu chorava copiosamente, mas não sa-
bia se era de tristeza ou de alegria.”

 
Até o trauma do Maracanã, a Sele-
ção brasileira jogava de camisas bran-
cas. Na iminência da Copa de 1954, sur-
ge um movimento para criar a nova ca-
misa. “Era a velha forma de mudar algu-
ma coisa para manter tudo igual”, afir-
ma Schlee. A Confederação Brasileira

e Desportos (CBD), ancestral da CBF,
associada ao jornal Diário da Manhã, do
Rio de Janeiro, lança um concurso nacio-
nal. Schlee nem acreditava quando saí-
ram rumores da escolha. Era ele o gran-
de vencedor, entre mais de 300 artis-
tas do País. Além do prêmio em dinhei-
ro, ganhou um ano de estágio como ilus-
trador no Correio da Manhã. Participa-
ria dos eventos e jogos oficiais do novo
uniforme, conheceria os ídolos que de-
senhava na adolescência.

 
A jornada do rapaz de Jaguarão, na
efervescência do Rio nos anos 1950, da-
ria a ele, em igual medida, o fascínio pe-
lo futebol e o olhar crítico àquele uni-
verso, aspectos que marcariam sua vi-
da e obra até o fim, inclusive na relação
com a sua maior invenção: a camisa Ca-
narinho. Expressão que, aliás, o fazia rir.
“Não sei quem inventou essa história de
camisa Canarinho, o amarelo da camisa
não tem nada a ver com canarinho, mas
o apelido pegou.”
Nos mais de 500 quilômetros de
Pampa que nos deixariam na
boca de Montevidéu, Schlee
manteve irredutível seu pal-
pite de 4 a 0 para o Uruguai.

 
Subimos as escadarias do
Estádio Centenário, anel superior-oes-
te, fila 5, assento 13. Em campo, as sele-
ções Celeste e Canarinho, enfileiradas,
para os ritos oficiais. “A camisa azul-ce-
leste é perfeita, mas a amarela também é
linda”, disse, antes de chorar copiosamen-
te durante o coro uníssono do hino uru-
guaio, entoado por 50 mil vozes.
Pênalti para o Uruguai: gol de Cava-
ni. Depois veio a virada, 4 a 1 para o Bra-
sil. Fim de jogo. O estádio esvaziava, em
silêncio, a massa celeste. Um torcedor
espalhava a notícia de que ali estava o
pai da camisa do Brasil. Descemos até
o gramado, segurando o corpo exausto
de Schlee. Ele caminhou até o centro do
campo, vazio. Levava nas mãos uma ca-
misa, réplica do modelo de 1962. Pedi a
ele que a assinasse. Dei-lhe os ombros,
de apoio. Senti nas minhas costas a gra-
fia trêmula daquele instante.

 
Dois dias depois reentramos pela fron-
teira. No portão da casa de campo, nas
cercanias de Pelotas, Schlee nos guiou
pela ampla biblioteca. Abriu pastas e cai-
xas com os álbuns e os desenhos originais
da camisa eleita, guardados por seis dé-
cadas. Algo maior nos esperava. O artis-
ta entrou a revirar as gavetas da escriva-
ninha, aflito, até encontrar um estojo me-
tálico de tinta guache, com 12 cores. “Aqui
está, essa é a tinta que usei.” Com um pin-
cel de ponta fina, verteu três gotas d’água
no amarelo mais denso da cartela, quase
todo gasto. O pigmento ganhou vida, len-
tamente. Sobre uma cópia do desenho de
1953, começou a pintar. “Bah! Que bom
que eu achei isso. De repente, a gente pin-
ta a camisa de novo, tanto tempo depois.”

 
Viajamos ao encontro de Schlee ain-
da uma vez. No apartamento em Pelo-
tas, o filmamos durante o jogo entre Bra-
sil e Bélgica, em julho de 2018, quando
a Seleção foi eliminada da Copa da Rús-
sia. “Nossa seleção tem um craque com
os pés de barro”, dizia, enquanto anota-
va os gols, jogadores e lances da partida.
Desenharia o último álbum das Copas.
Os tempos não eram nada bons, em ou-
tubro venceria o Messias.

 
O artista saiu de campo às vésperas
do amistoso internacional entre Brasil
e Uruguai, em Londres – aqui, dia da Re-
pública. A 16 de novembro de 2018, fez-
-se o minuto de silêncio no estádio do
Arsenal, com as seleções dos dois países
perfiladas, em homenagem ao homem da
fronteira, de coração híbrido, brasileiro e
uruguaio. No mesmo dia do jogo, em Pe-
lotas, cumpria-se o adeus a Schlee: o cai-
xão nu, sem bandeira ou camisa amarela.

 
Cena Final (A Camisa no Exílio): Ob-
servo a camisa amarela, pendurada nas
travessas do sótão da casa, assinada no
quadrante do coração por Aldyr Schlee,
naquela noite em Montevidéu. Guardo
o desejo de, um dia, poder vesti-la no-
vamente.
 

CARTA CAPITAL