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Juliana Dal Piva e Juliana Castro
Desde que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro quebrou o sigilo
fiscal e bancário de 86 pessoas, entre elas assessores de Flávio
Bolsonaro (PSL-RJ) no período em que ele ocupava uma vaga na Assembleia
Legislativa fluminense, a advogada Ana Cristina Siqueira Valle, de 52
anos, vê impotente e calada a
investigação avançar sobre nove de seus familiares incluídos nesse grupo
. O Ministério Público apura se os funcionários devolviam parte de seus
salários ou seu valor integral para os parlamentares, a chamada
“rachadinha”, uma suspeita que surgiu depois de constatada a
movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta de
Fabrício Queiroz, o ex-chefe de segurança do hoje senador
.
Ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, Ana Cristina Valle conheceu o
então deputado federal em Brasília, no início dos anos 90, quando ambos
participavam de uma manifestação de mulheres de militares que pediam
aumento nos salários da caserna. Tempos depois se envolveram e, em 1998,
passaram a viver juntos, o que durou uma década. Desde o ano em que Ana
Cristina Valle e Bolsonaro se tornaram marido e mulher, os parentes
dela começaram a aparecer nas listas de funcionários do gabinete do
deputado federal — então o único da família com mandato. Ao todo, seis
familiares de Ana Cristina Valle foram nomeados por Bolsonaro para seu
gabinete até 2008. A lista inclui seus ex-sogros (José Procópio Valle e
Henriqueta Siqueira Valle), dois irmãos (Andrea Siqueira Valle e André
Siqueira Valle) e dois primos (André Siqueira Hudson e Juliana Siqueira
Vargas).
A partir de 2003, Flávio Bolsonaro assumiu mandato na Assembleia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) e também preencheu
as vagas de seus assessores com nove familiares da madrasta.
José Procópio Valle, Juliana Siqueira Vargas e Andrea Siqueira Valle
deixaram formalmente seus cargos na Câmara dos Deputados e passaram a
surgir nas listas de funcionários da Alerj. Também integravam o grupo de
nomeados, até o ano passado, os primos Francisco Diniz e Daniela Gomes e
os tios Guilherme dos Santos Hudson, Ana Maria Siqueira Hudson, Maria
José de Siqueira e Silva e Marina Siqueira Diniz.
O que não se sabia até agora é que Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), o vereador
mais jovem a ser eleito na história do Rio, foi igualmente generoso com
a madrasta e sua família na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Eleito
aos 17 anos, Carlos — ou 02, como o presidente Jair Bolsonaro costuma
chamá-lo — transformou Ana Cristina Valle em assessora-chefe de seu
gabinete em 2001. Ela trouxe consigo outros sete familiares para as
listas de assessores no Palácio Pedro Ernesto, sede do Legislativo
carioca. Assim, ao todo, nos três gabinetes do clã Bolsonaro, 17
parentes de Ana Cristina Valle, além de ela própria, ganharam cargos
comissionados nos últimos 20 anos. ÉPOCA constatou, porém, que alguns
deles jamais moraram no Rio ou pisaram no prédio histórico onde
trabalham os vereadores, localizado na Cinelândia.
Carlos Bolsonaro conquistou uma cadeira no Legislativo carioca em 2000,
disputando uma vaga contra a própria mãe, Rogéria Braga, então vereadora
e em busca da reeleição. Mais do que a corrida eleitoral, a disputa
simbolizava o racha entre os pais, após a separação e a união de
Bolsonaro com Ana Cristina Valle. Uma vez eleito para a Câmara
Municipal, um neófito na política, Carlos amparou-se na experiência que a
madrasta tinha em assessoria legislativa e deu a ela o cargo principal —
chefe de gabinete —, com um contracheque que, atualizado pela inflação,
agora alcança o equivalente a R$ 22.900, entre o salário bruto e os
penduricalhos pagos, como dedicação legislativa, auxílio-alimentação,
transporte, entre outros. Lá, ela reinou até sua separação de Jair
Bolsonaro, em 2008. Além do parentesco com Ana Cristina Valle, o grupo
lotado na Câmara Municipal tem em comum com os assessores de Flávio
Bolsonaro enormes dificuldades para provar que, de fato, trabalhavam no
cargo enquanto mantinham outras atividades profissionais em cidades
distantes dos gabinetes.
Moradores de Minas Gerais, mas nomeados na Câmara Municipal do Rio
Marta Valle é professora e foi lotada sete anos na capital mesmo morando em Juiz de Fora
Marta Valle é casada com Alexandre Valle, ex-cunhado de Bolsonaro. Foto: Reprodução
A movimentada praça da Cinelândia, onde fica o Palácio Pedro Ernesto,
fica a 185 quilômetros de uma pacata ladeira do bairro Paineiras, em
Juiz de Fora, Minas Gerais. Essa era a distância que Marta da Silva
Valle, em teoria, teria de percorrer entre sua casa e o trabalho — se
ela realmente desse expediente no local para o qual foi nomeada. Isso
nunca aconteceu.
Hoje com 45 anos, Marta Valle é professora de educação infantil e
cunhada de Ana Cristina Valle. Passou sete anos e quatro meses lotada no
gabinete de Carlos Bolsonaro na Câmara dos Vereadores do Rio, mesmo
morando em outro estado e tendo de, em teoria, percorrer o trajeto em
duas horas e meia. À época em que foi nomeada, em 1º de novembro de
2001, tinha uma filha de 1 ano e 5 meses, o que também dificultaria
percorrer tamanha distância todos os dias. Mas, como ela própria admite,
nunca trabalhou na Câmara de Vereadores.
ÉPOCA esteve em Juiz de Fora na semana passada. Passava pouco das 18
horas da segunda-feira 10 e a noite acabara de cair quando a reportagem
abordou Marta Valle saindo do trabalho, em uma escola infantil perto de
sua casa. Vestia uma camisa branca, com um casaco cinza sobreposto e
calças jeans justas com as barras dobradas, tendência de moda recente.
No antebraço, carregava uma bolsa preta.
Ao lado de uma amiga, caminhava tranquilamente quando foi questionada
pela reportagem sobre seu trabalho para a família Bolsonaro e, de
pronto, refutou. “Não trabalhei em nenhum gabinete, não. Minha família
lá que trabalhou, mas eu não”, disse ela, em forte sotaque mineiro.
Quando foi advertida de que, sim, havia sido lotada, ela enfatizou a
negativa: “Não fui eu, não. A família de meu marido, que é Valle, que
trabalhou”. Diante da resposta, a reportagem insistiu, perguntando se
ela mesma não havia trabalhado. Pela terceira vez, ela disse que não. Ao
lhe ser perguntado se sabia, então, que havia sido nomeada, Marta Valle
disparou: “Mas logo em seguida já me tiraram do cargo”.
Não foi bem assim. Os registros nos diários oficiais da Câmara Municipal
mostram que Marta Valle só deixou de ser, no papel, funcionária do
gabinete de Carlos em 1º de março de 2009. Quando a reportagem contestou
e disse que ela foi lotada na Câmara durante anos, Marta Valle apertou o
passo, acompanhada de uma colega de trabalho, sem querer falar mais:
“Prefiro não fazer nenhum depoimento”, finalizou. Parou na esquina,
sacou o celular da bolsa e começou a falar com alguém, como se estivesse
contando o que acabara de ocorrer.
Na vizinhança, amigos e conhecidos de Marta Valle esboçavam surpresa ao
ser indagados sobre o emprego da professora em terras fluminenses.
Ninguém nunca ouvira falar. Ao longo desse tempo, ela sempre morou na
cidade mineira com a filha e o marido, Alexandre, irmão da ex-mulher do
presidente Bolsonaro.
Nos registros de papel da Câmara, porém, a história foi apresentada de
modo diferente. No meio do caminho, entre a nomeação e a saída, a
professora teve até aumento salarial em virtude de uma alteração de
cargo. Em fevereiro de 2003, ela passou de DAI-5 para DAS-9. Saiu,
portanto, da função de confiança mais básica e foi alçada à segunda mais
importante e mais bem paga na estrutura dos gabinetes dos vereadores do
Rio, atrás apenas do chefe de gabinete. Tudo sem nunca ter desempenhado
efetivamente nenhum trabalho dentro do Legislativo. Com a correção da
inflação para os dias de hoje, o salário bruto de Marta Valle nesse
último cargo corresponderia atualmente a R$ 9.600, e, somado a
penduricalhos que funcionários podem receber, chegaria a R$ 17 mil.
Marta Valle não foi a única a viver em Minas e ser nomeada para o
gabinete do 02 do presidente Jair Bolsonaro na Câmara Municipal do Rio.
Gilmar Marques, de 60 anos, viveu em Juiz de Fora e, depois, em Rio
Pomba, também em Minas, onde mora até hoje. O município fica a 274
quilômetros do centro do Rio, onde ele deveria dar expediente. Marques é
um pequeno empresário e representante comercial na área farmacêutica.
Ele entrou no caminho da família Bolsonaro por ter sido companheiro de
Andrea Siqueira Valle, de 47 anos, fisiculturista e irmã de Ana Cristina
Valle. Os dois se conheceram em Juiz de Fora, em 1999, passaram a viver
juntos e ela engravidou depois de alguns meses, mas se separaram em
seguida. A filha nasceu em agosto de 2000 já em Resende, no Rio — para
onde Andrea havia retornado. Marques seguiu em Minas.
Mesmo separado de Andrea Valle, ele foi nomeado para o gabinete de
Carlos Bolsonaro na Câmara dos Vereadores em 4 de janeiro de 2001. O
cargo escolhido: DAS-7. Com correção inflacionária do período, o salário
bruto é de R$ 7.900, e com os eventuais adicionais o total chegaria a
R$ 14 mil. A nomeação de Marques perpassa mandatos. A exoneração só
aconteceu sete anos e três meses depois, em 1º de abril de 2008.
ÉPOCA também conseguiu contato com Marques. E a semelhança com Marta
Valle não está apenas no fato de morarem em Minas Gerais durante todo o
período em que estiveram lotados na cidade do Rio. Assim como a
professora, ele demonstrou surpresa ao ser questionado sobre o tempo em
que aparecia lotado na Câmara Municipal carioca.
Numa conversa por telefone, a reportagem indagou a Marques se ele se
recordava do gabinete em que havia trabalhado para o clã Bolsonaro e o
que fazia. Ele disse inicialmente que não se recordava. Depois, outra
vez indagado sobre o assunto, perguntou à reportagem se não havia algum
engano em relação ao nome dele. A conversa seguiu sem que Marques também
se recordasse sobre o salário que recebia. “Meu Deus do céu. Ah, moça,
você está me deixando meio complicado aqui. Eu ganhava? Isso aí você
deve estar enganada”, disse em alentado sotaque mineiro.
Como é possível trabalhar no Rio, no gabinete de um vereador, e morar em
Minas Gerais? Mais uma vez, faltaram palavras a Marques: “Ah, moça,
estou meio por fora disso”. Sobre a possibilidade de ter devolvido
dinheiro do salário para o vereador, ele comentou simplesmente: “Estou
por fora disso”. No momento em que foi questionado sobre se sabia que
havia sido nomeado, Marques desligou o telefone.
Marta Valle e Marques não foram os únicos relacionados como funcionários
que, na prática, não prestaram serviços. É uma situação que se
assemelha aos casos de outros parentes que estavam, ao mesmo tempo, em
diferentes gabinetes do clã bolsonarista.
Ex-cunhada de Bolsonaro passou 20 anos em gabinetes da família
Andrea Siqueira Valle é fisiculturista e passou pela Câmara dos Deputados, Alerj e Câmara Municipal do Rio
Andrea Siqueira Valle é fisiculturista e irmã de Ana Cristina Valle Foto: Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
A história da fisiculturista Andrea Siqueira Valle chama a atenção. Até
poucos dias atrás, ela vivia em Guarapari, no litoral do Espírito Santo.
Não é vista, porém, desde que o jornal O Globo publicou uma reportagem
mostrando que não havia comprovação sobre a década em que constou como
funcionária de Flávio. Na Alerj, ela tinha um salário bruto de R$ 7.300,
além de receber um auxílio-educação de R$ 1.200. Por nove anos, jamais
teve identificação funcional. Apenas em 2017 foi pedido um crachá da
Alerj em seu nome. Durante esse período, sempre viveu em Resende, na
casa dos fundos dos pais.
Andrea Valle, no entanto, não esteve apenas no gabinete de Flávio. Ela
transitou em nomeações nos três mandatos do clã Bolsonaro entre 1998 e
2018 — 20 anos como funcionária comissionada do clã. Entre 30 de
setembro de 1998 e 7 de novembro de 2006, esteve lotada como secretária
parlamentar de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Dois dias depois
da exoneração, foi nomeada por Carlos Bolsonaro na Câmara Municipal e lá
ficou até 1º de setembro de 2008 — a vaga antes pertencia a André
Valle, irmão dela e de Ana Cristina Valle. Dos papéis do Palácio Pedro
Ernesto, Andrea Valle passou para os da Alerj, em que foi lotada como
funcionária de Flávio Bolsonaro — e lá constou por dez anos, até agosto
do ano passado.
Do tempo em que esteve lotada na Câmara dos Deputados, fora as listas de
frequência que o próprio Jair Bolsonaro entregava para comprovar o
trabalho de seus funcionários, a casa informou a ÉPOCA não possuir
nenhum registro funcional de Andrea Valle. Com gratificações, o salário
bruto dela chegou a R$ 12 mil, com correção inflacionária. Ao longo
desses oito anos, ela morou em Resende e, por um curto período, em Juiz
de Fora, quando engravidou. Sobre o tempo no gabinete de Carlos, a
Câmara não informou se ela teve crachá ou se sua frequência foi
registrada. Quem a conheceu nas últimas duas décadas sabe que ela sempre
se sustentou com faxinas e outros bicos, além de malhar duas ou três
vezes por dia para os concursos de fisiculturismo. Hoje ela é uma mulher
com medo e sérias dificuldades para se sustentar.
Além de Andrea Valle, três outros parentes também desempenhavam diversas
outras atividades em Resende ou em outras cidades do sul do Rio no
mesmo período em que constavam como servidores de Flávio na Alerj.
Francisco Diniz, primo de Ana Cristina Valle, constou como servidor por
14 anos e chegou a cursar faculdade integral de medicina veterinária em
Barra Mansa ao longo desse tempo.
Ex-mulher de Bolsonaro diz que "não tinha nepotismo"
Ana Cristina Valle trabalha como chefe de gabinete na Câmara Municipal de Resende
Ana Cristina Valle,
ex-mulher de Jair Bolsonaro: nove parentes dela serão investigados pelo
MP em caso que envolve possível esquema de 'rachadinhas' no gabinete do
filho do presidente Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo
Após a separação litigiosa entre Ana Cristina Valle e Bolsonaro, em
2008, amplamente noticiada na campanha eleitoral do ano passado, elafoi
morar na Noruega. Há alguns anos, voltou a viver em Resende e tornou-se
chefe de gabinete do vereador Renan Marassi (PPS-RJ) na Câmara de
Vereadores da cidade. O prédio branco, quadrado e espelhado fica de
frente para parte das construções históricas da cidade e ao lado, por
exemplo, da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, construída a
partir de 1812, ainda no período imperial. Foi lá que ÉPOCA localizou
Ana Cristina Valle na semana passada.
Calada desde que viu sua família envolta na investigação, ela jamais
respondeu a qualquer contato da reportagem quando ÉPOCA revelou o caso,
em maio. Ao ser localizada nos corredores da Câmara, foi sucinta.
Maquiada, com cabelo louro ao estilo Chanel, mais longo na frente e
curto atrás, perfeitamente escovado, ela vestia um macacão azul-marinho
talhado em malha e salto alto. Caminhando no corredor, insistiu que não
queria falar sobre o caso. Nem para se defender. Eximiu-se de qualquer
responsabilidade sobre o envolvimento de seus familiares na investigação
sobre Flávio Bolsonaro. Ao ser questionada sobre os familiares listados
no gabinete de Jair, Flávio e Carlos Bolsonaro, disse que não nomeou
ninguém e que, na época, “não tinha nepotismo”.
Ainda andando, Ana Cristina Valle afirmou que não se sente culpada em
ver o pai, José Procópio Valle, e a irmã Andrea Valle, além dos outros
parentes, alvos de um inquérito que apura peculato e lavagem de dinheiro
no gabinete do ex-enteado Flávio. E se os parentes forem acusados
desses crimes? “Eles vão responder”, disse. Quando ÉPOCA lhe perguntou
se os funcionários eram obrigados a devolver os salários, ela abriu um
sorriso e finalizou: “Não tenho nada a declarar”, disse, dando as
costas, ao se despedir.
Quando Jair Bolsonaro e Ana Cristina Valle se separaram, em 2008, houve
mudanças importantes nos gabinetes. A madrasta deixou a chefia de
gabinete de Carlos Bolsonaro — em seu segundo mandato — em 1º de abril
daquele ano. No lugar dela, no mesmo dia, foi nomeado o então estudante
de Direito Guilherme Henrique de Siqueira Hudson, seu primo. Aos 23
anos, Guilherme Hudson só concluiu o curso na Universidade Estácio de Sá
no final de 2008 — o que o obrigaria a conciliar as tarefas no gabinete
com o final do curso.
Em 26 de agosto de 2009, Hudson enviou uma carta ao
Globo
, que foi publicada pelo jornal na seção do leitor. No texto, elogiou o
vereador Carlos Bolsonaro e tocou em um assunto que parece ser um tema
antigo para o clã: multas de trânsito. Hudson citou uma decisão do
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) de derrubar uma lei
estadual que pretendia manter radares ligados entre 22 horas e 6 horas.
“O cidadão carioca que tiver que trafegar neste horário, entretanto, não
está a descoberto, pois a Lei Municipal 4.636, de autoria do vereador
Carlos Bolsonaro, promulgada pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro em
26/9/2007, encontra-se em pleno vigor e poderá ser utilizada para anular
as multas que porventura venha a sofrer”, dizia a carta assinada por
Guilherme Henrique de Siqueira Hudson, Resende, Rio de Janeiro.
Ele constou como assessor-chefe de Carlos até dezembro de 2017. No
entanto, ao menos desde 2012, possui residência fixa em Resende, onde
casara em 2011 e abrira um escritório de advocacia, além de uma loja de
decoração com a mulher, a professora Ananda de Menezes Hudson, de 31
anos. Desde 2012, o site do TJRJ mostra que ele atuou em 68 processos na
região de Resende e em cinco na capital. Chegou a fazer concurso para a
prefeitura de Barra Mansa, mas foi reprovado. Pessoas que o conhecem em
Resende jamais souberam de seu cargo na Câmara Municipal do Rio, pois
conhecem suas atividades na cidade no sul do estado. ÉPOCA esteve em seu
escritório no sul fluminense e deixou mensagens, mas Hudson não
respondeu. Resende fica a cerca de 170 quilômetros da capital.
No período em que Hudson é relacionado como assessor-chefe, Marta Valle
foi substituída entre as assessoras de Carlos por Ananda Hudson, então
namorada e agora mulher de Guilherme Hudson. Ela foi nomeada no mesmo
cargo e com o mesmo salário de Marta Valle, em 1º de março de 2009. Lá
ficou até agosto de 2010. Só que, em 2009, ela cursava o último ano do
curso de letras na Associação Educacional Dom Bosco, em Resende.
Conhecida por ser alguém que reunia a turma para atividades, marcou
presença em diversos eventos locais. No portal da faculdade, foi
noticiado que ela integrava, como presidente do centro acadêmico do
curso de letras, a organização da campanha do agasalho em maio de 2009.
Ela só concluiu o curso em novembro daquele ano. Procurada para explicar
como estudava em Resende e trabalhava na Câmara, não respondeu.
Ananda Hudson foi exonerada por Carlos Bolsonaro em agosto de 2010. E,
como de costume, outro familiar herdou a vaga. No lugar dela, foi
nomeada Monique Hudson, cunhada de Guilherme Hudson. Ela também mantém
residência fixa em Resende há pelo menos duas décadas com o marido,
André Hudson, irmão de Guilherme Hudson. Ela ficou lotada no gabinete da
Câmara Municipal até dezembro de 2014, mas, nesse período, também
cursou letras na Associação Educacional Dom Bosco, mesma faculdade de
Ananda Hudson. O casal também teve um filho, que nasceu na cidade em
fevereiro de 2012. Monique defendeu o trabalho de conclusão de curso no
final de 2014 sob o título O discurso feminino e a leitura semiótica do
conto “A moça tecelã”, de Marina Colasanti. Jonathan David Truelove,
colega de faculdade, disse que ela frequentava as aulas normalmente e
era uma aluna perfeccionista. Nunca soube sobre seu cargo na Câmara de
Vereadores do Rio.
Antes de Monique Hudson figurar como assessora de Carlos, o marido dela,
André Hudson, também tinha constado como secretário parlamentar de Jair
Bolsonaro desde 6 novembro de 2006. Como as vagas sempre ficavam entre
pessoas da família, ele entrou no mesmo dia em que Andrea Valle foi
exonerada, rumo à Câmara Municipal do Rio. André tem formação acadêmica
em informática.
Formado pela Universidade Estácio de Sá em 2002, ele próprio descreve
uma série de cursos feitos na área e detalha minuciosamente as empresas
onde trabalhou em seu LinkedIn. No período em que consta como assessor
de Jair Bolsonaro, ele informou na rede que trabalhava na empresa Eco
Sistemas, em Resende. André Hudson descreveu suas funções como o
“responsável por toda infraestrutura de TI e controle logístico da
empresa Farmácia Popular de Resende e coordenação da equipe de técnicos
de TI”. Depois, em fevereiro de 2008, tornou-se oficial temporário do
Exército e trabalhou na área de tecnologia da Academia Militar das
Agulhas Negras (Aman), também em Resende. Ex-colega de trabalho na Aman,
Adriana Dabês disse que “ele trabalhava normalmente no Exército” e
jamais soube de outras atividades. Ele só foi exonerado da Câmara dos
Deputados em 9 de março de 2008. Procurados, nem André nem Monique
Hudson responderam. A assessoria de imprensa do vereador Carlos
Bolsonaro não respondeu aos contatos da reportagem. O Palácio do
Planalto disse que não comentaria.
com Rayanderson Guerra
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