August 26, 2018

O Brasil tem seis ex-presidentes vivos. Um deles continua a bater ponto no Planalto.


por Bernardo Mello Franco

Ailton de Freitas 
 
O Brasil tem seis ex-presidentes vivos. Um deles continua a bater ponto no Planalto. Aos 77 anos, Michel Temer vaga pelo palácio como uma alma penada. Rejeitado pelos eleitores, abandonado pelos aliados, ele finge que ainda governa enquanto o sucessor não chega. Agora faltam 128 dias para a posse.

Governantes em fim de mandato costumam reclamar da maldição do café frio. Temer parece conformado com o ostracismo. Neste mês, ele reduziu as aparições públicas e cancelou duas viagens internacionais. Passou a maior parte do tempo no gabinete, cercado por outros políticos enrolados com a Justiça.

Na quinta-feira, sua agenda oficial registrou a visita do mensaleiro Valdemar Costa Neto, o poderoso chefão do PR. Três dias antes, foi a vez do deputado Lúcio Vieira Lima, alvo de um processo de cassação na Câmara. Ele é irmão do ex-ministro Geddel, que escondia R$ 51 milhões em malas e caixas de papelão.

O governo parou, mas as investigações continuam. Na sexta-feira, O GLOBO revelou um novo depoimento do doleiro Lúcio Funaro. Ele disse à Polícia Federal que o ex-deputado Eduardo Cunha repassava propina a Temer desde 2003. Em outra frente, o empresário Marcelo Castanho afirmou ter pingado R$ 1 milhão na empresa do coronel João Baptista Lima, o faz-tudo do presidente.
O governo emitiu os desmentidos de praxe. A procuradora Raquel Dodge não se manifestou. Prestes a festejar o primeiro aniversário no cargo, ela parece sem pressa para denunciar o responsável por sua nomeação. A doutora tem sido mais veloz com outros personagens. No dia 15, levou poucas horas para contestar o registro de Lula no TSE.

A impopularidade obrigou Temer a se esconder da corrida presidencial. Isso não significa que ele tenha sido esquecido. No debate da RedeTV!, os candidatos citaram seu nome 14 vezes. Em 12 delas, para acusá-lo de praticar “atos criminosos”, cortar gastos sociais, entregar o pré-sal e chefiar um governo “sem legitimidade”.

O tucano Geraldo Alckmin o citou outras duas vezes. Em ambas, tentou livrar-se da alcunha de candidato do presidente. O emedebista Henrique Meirelles preferiu não pronunciar o nome do ex-chefe. Teve motivo: de acordo com o Datafolha, 87% rejeitam votar em alguém apoiado por ele.
Sem ter quem o defenda, Temer virou advogado de si mesmo. Na segunda-feira, ele se expôs ao ridículo ao redigir uma carta para Caetano Veloso, que o chamou de “dissimulado” num post de Facebook. O ex-presidente em atividade escreveu 47 linhas empoladas e cheias de autoelogios, apresentados como “um contraponto para sua apreciação”.

O compositor de “Podres Poderes” respondeu com um vídeo debochado. “A última pessoa para quem Temer escreveu uma carta longa foi a Dilma. E a turma dele deu um golpe contra ela. Será que ele vai dar um golpe contra mim? Eu sou difícil de destituir”, disse, aos risos.
 

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