A previsão é mais ampla do que o Fernando imagina. Este promete ser o
resultado de todas as entrevistas do candidato, pelo menos enquanto os
jornalistas o confrontarem como um boçal truculento que precisa ser
desmascarado. Bolsonaro não tem a quantidade de eleitores que tem porque
eles não sabem que o seu candidato é um troglodita que sente saudades
da ditadura; pelo contrário. Eles sabem — e é justamente isso que os
atrai. Assim como os eleitores de Trump, eles querem alguém que não
tenha medo de ferir as suscetibilidades contemporâneas, um homem que
pouco está se lixando para o politicamente correto e que promete por
ordem na casa.
Esses eleitores perdoam-lhe qualquer coisa porque,
para eles, a mídia é um ninho de militantes de esquerda que antagoniza o
seu herói. Cada vez que um jornalista tenta arrancar de Bolsonaro
alguma declaração absurda a favor da ditadura ou contra os movimentos
sociais reforça essa percepção; cada vez que repisa uma barbaridade
antiga, ele cresce, porque já respondeu incontáveis vezes sobre
episódios que ninguém desconhece, e já encontrou a fórmula certa para
agradar na sua bolha.
Enquanto isso, perde-se a oportunidade de
mostrar para os eleitores indecisos, que são os que realmente importam,
quem Bolsonaro é para além do óbvio — o seu absoluto despreparo, a sua
falta de qualquer projeto de nação, a sua irrelevância como parlamentar,
a sua incapacidade de fazer alianças e de dialogar. O passado do
candidato esses eleitores indecisos já conhecem; é preciso mostrar a
eles como lhe faltam ideias em relação ao futuro. Não à toa, as suas
respostas mais reveladoras no programa foram dadas às perguntas que
menos tinham a ver com as suas inclinações pessoais — mortalidade
infantil, desemprego no campo, economia.
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