Qatar foi escolhido em dezembro de 2010 pela Fifa para sediar a Copa. Naquela época, o país já tinha sérias questões relacionadas a violações dos direitos humanos. Mas isso não era, e não é, problema da Fifa.
Afinal, a Fifa está mais para um banco mundial do que para a ONU, portanto, gostam de dinheiro, não de gente. A não ser que seja gente com dinheiro. Aliás, a minissérie documental "Esquemas da Fifa", da Netflix, mostra em quatro episódios o tipo de gente que a Fifa curte.
Talvez imaginava-se que o país-sede da Copa fosse pisar no freio, pelo menos durante o Mundial. Até pisaram, mas beeeem devagarinho. E depois aceleraram de novo. Já teve torcedor barrado com chapéu de arco-íris, jornalista barrado de restaurante com camisa de arco-íris e até bronca com bandeira de Pernambuco.
Às questões do país de perseguição à comunidade LGBTQIA+, somam-se as críticas às condições dadas aos trabalhadores, muitos deles imigrantes, que estiveram em ação na construção dos estádios e na melhora da infraestrutura para a Copa. De acordo com a Anistia Internacional, a conta de mortos foi na casa dos milhares.
Portanto, não faltam motivos para protestos. Aliás, sobram. Então, vamos protestar na Copa. Problema: a Fifa, que não gosta de gente, também não gosta de protesto no seu quintal.
Sete federações europeias queriam manifestar apoio aos grupos LGBTQIA+ com braçadeiras —o que significa que seis federações europeias não estavam nem aí; e nem vamos falar das sul-americanas. Como a Fifa sabe que multa não é um problema para os europeus, ameaçou dar cartão amarelo para os capitães. E ganhou a queda de braço.
Mas dá para protestar, minha gente, de várias formas. Está faltando criatividade aos atletas, tão espertinhos no TikTok. Os alemães já deram a deixa, com a mão tampando a boca na foto do jogo, para dizer que foram calados.
Mas vamos a algumas outras sugestões.
Cabelo. Tudo é permitido com o cabelo desde que Ronaldo, o nosso, fez o ridículo corte Cascão na fase final da Copa de 2002 —imitado por muitas crianças na época, fato pelo qual o Fenômeno já pediu desculpas. Assim, os jogadores que apoiam a causa LGBT poderiam pintar o arco-íris na cabeça. A Fifa nunca puniu cor de cabelo antes.
Não quer mexer no penteado? Não tem problema. Que tal as chuteiras? Foi-se o tempo em que todos os jogadores usavam chuteiras pretas (sim, sou viúvo da Copa de 1982). Todo mundo usa uma cor diferente no pisante, às vezes duas, outro dia vi uma chuteira furta-cor.
Por que não uma chuteira arco-íris? E fabricantes do calçado ganhariam um marketing positivo grátis. Em 2018, o suíço Shaqiri usou chuteira com a bandeira de Kosovo. Teve multa, mas não lembro de cartão amarelo por uso de chuteira.
Dá também para usar a regra a favor. Agora são cinco alterações no time, e são 26 jogadores no elenco, com três goleiros. Na prática, isso significa que uns seis caras de cada seleção não vão entrar em campo nunca, certeza.
Dica: trocar um jogador útil por um inútil nos acréscimos de confrontos decididos e colocar a tal braçadeira proibida. Exemplo, imagine que uma partida entre Inglaterra e Irã esteja… sei lá… 6 a 2, aos 45 minutos do segundo tempo. Então você saca o goleiro titular Pickford (que nem é grande coisa) e coloca no lugar o terceiro goleiro, Ramsdale (que é melhor que o titular, mas deixa para lá). O que aconteceria? Ramsdale entraria com a braçadeira LGBTQIA+, com a inscrição "One Love", o juiz veria aquela atrocidade e daria um cartão amarelo. E pronto, protesto feito. No próximo jogo, volta o intrépido Pickford.
Última sugestão, e essa deixaria Fifa e qatarianos doidos: um selinho de comemoração. Jogadores se beijam o tempo todo nas substituições, se abraçam, se apalpam. Já pensou um dinamarquês fazendo gol e, na hora de celebrar, dar um selinho no amiguinho de uns cinco segundos? Gianni Infantino —que sabe o que é bullying com LGBT porque foi ruivo— ia cair do camarote direto no gramado.
FOLHA
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