CID BENJAMIN
O Ibama demitiu semana passada o servidor José Olímpio Augusto Morelli. A razão? Em 2012, ele autuou o então deputado Jair Bolsonaro, que acabou multado em R$ 10 mil por pescar em área de preservação ambiental protegida.
No exercício de suas funções, Morelli, que era funcionário concursado, assinou o auto de infração e o relatório do flagrante de Bolsonaro. Foi também o autor da foto na qual Bolsonaro aparece num barco, de sunga, tendo ao fundo uma vara de pescar. O então deputado estava na Estação Ecológica de Tamoios, em Angra dos Reis (RJ), área protegida e em que não é permitida a presença de pessoas estranhas e, muito menos, a pesca.
“Ele foi multado porque estava com uma vara de pesca. O fiscal presumiu que ele estava pescando”, afirmou o ministro.
É inacreditável. O que Bolsonaro estaria fazendo, então, com os apetrechos de pescaria? O que, na opinião do ministro, deveria o fiscal presumir?
Este foi um caso menor e pouco relevante, a não ser pelo simbolismo. É um exemplo típico de tempos não republicanos, nos quais vale a história do “sabe com quem está falando?”
O ex-PM Queiroz – amigo, laranja, motorista, faz-tudo e sabe-se lá mais o quê de Bolsonaro – debochou do Ministério Público ao ser chamado para depor, depois de flagrado em transações econômicas suspeitas. Um cidadão comum faria isso sem ser incomodado? Pois Queiroz não foi.
A cerimônia da posse do presidente já tinha antecipado a situação. Um dos patetas, ostensivamente armado, exibindo cara de mau, sentou-se na parte de trás do Rolls Royce presidencial, como se fosse um segurança. Nunca se viu coisa igual.
Outro filho sapecou na cabeça o boné de campanha de Trump, como se garoto-propaganda fosse, e arvorando-se a chanceler saiu a fazer articulações internacionais e a pregar a invasão militar de um país vizinho.
Enquanto isso, outro dos filhos (como se vê, o autor deste artigo os confunde e, sinceramente, já não sabe se está falando do pateta 01, do 02 ou do 03) usa o Twitter para agredir o presidente da Câmara e ditar regras sobre todo e qualquer assunto do governo, como se voz oficial tivesse. Não é desautorizado pelo papai. É como se fosse mais um pimpolho fazendo travessuras.
Mas há algo mais grave. As flagrantes ligações da família Bolsonaro com as milícias – grupos criminosos da pior espécie – não são investigadas seriamente pelo outrora candidato a justiceiro Sérgio Moro. Aliás, o mesmo Moro, agora ministro, elabora um projeto de combate ao crime que não dá a menor importância a elas. Será que as notórias ligações do presidente com milicianos inibem uma ação do ministro da Justiça?
A verdade é que voltamos ao reino do “sabe com quem está falando”. O governo não funciona segundo critérios republicanos.
O país está diante de gente que pensa ser uma família real, mas não passa de um bando de caipiras grosseiros, deslumbrados, primários e autoritários, encantados com o poder e ignorantes sobre o que significa uma república e o funcionamento de um Estado democrático.
Enfim, estamos diante de um retrocesso civilizatório.
Como se vê, a espantosa demissão do funcionário do Ibama não foi algo isolado. Ela é perfeitamente coerente e se articula com um conjunto de fatos.
Fatos escabrosos, por sinal.
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