Cinquenta anos atrás o épico de Stanley Kubrick "2001: uma odisséia no espaço" foi lançado, primeiro em Washington e depois em Nova York — o filme chegaria ao Brasil no fim do mês de abril de 1968. O influente longa-metragem, que ganhou um Oscar por seus efeitos especiais pioneiros, foi considerado pelo crítico James Verniere um "salto quântico" na capacidade tecnológica do cinema. Steven Spielberg classifica o filme como o "Big Bang" de sua geração cinematográfica.
Lançado esta semana para marcar o aniversário da obra, o livro “2001: Uma Odisseia no Espaço - Stanley Kubrick, Arthur C. Clarke e a criação de uma obra-prima”, de Michael Benson, traz uma série de fatos interessantes sobre o filme. Aqui estão 19 coisas que você provavelmente não sabia sobre "2001", de acordo com Benson e outras fontes:
1- "2001" originalmente mostraria um precursor da internet
O intrépido grupo de futuristas de Kubrick, escreveu Benson, "aparentemente já havia visualizado aspectos importantes das implicações de uma nova tecnologia." Os acessórios do filme incluiriam um "jornal de 2001 para ser lido em algum tipo de tela". Se a peça, com um logotipo do New York Times, tivesse aparecido no filme, teria sido "lida por um astronauta usando tablets do tipo iPad" a bordo da Discovery.
"Se Kubrick tivesse seguido adiante e apresentado o jornal desta forma", escreve o autor, "não há dúvida de que '2001' seria lembrado hoje como um importante precursor da internet".
2. Os cineastas também imaginaram um mundo com carros autônomos
"Nos primeiros rascunhos", escreve Benson, "o personagem que se tornaria David Bowman se chama Bruno" e dirige um "Rolls guiado por computador" ao longo da "auto-estrada" que divide o grande "complexo de Washington-Nova York".
3. Nem Kubrick nem Arthur C. Clarke consideravam já ter visto um grande filme de ficção científica
A carta de apresentação de duas páginas escrita por Kubrick para Clarke sugeria a "possibilidade de fazer um filme de ficção científica 'realmente bom'". A resposta de Clarke: "O filme de ficção científica 'realmente bom' já devia ter sido feito há muitos anos."
4. A criação do icônico monolito foi um processo de anos
No início, Clarke motrou a Kubrick sua história "The Sentinel", na qual uma equipe de pesquisa descobre uma "pirâmide de cristal de origem extraterrestre, presente na superfície lunar por milhões de anos", observa Benson.
Além disso, Kubrick inicialmente queria que o "objeto alienígena" fosse claro, como um "tetraedro transparente". Ele insistiu para que fosse feito de acrílico, mas o material não criou o efeito desejado e o objeto imenso e caro foi destruído e substituído por um monolito preto que refletia cada mancha e falha.
5. Kubrick e a Nasa começaram a conversar com Clarke no mesmo ano
Viajando de sua casa no Sri Lanka, Clarke foi a Washington em maio de 1964 para se reunir com altos funcionários da Nasa. O diretor do projeto Apollo, escreveu Benson, solicitou as ideias do autor sobre o que a agência espacial deveria fazer depois que uma aterrissagem lunar fosse realizada.
6. "2001" teve uma série de títulos temporários
Kubrick e Clarke tinha assistido a "How the west was won" ("A conquista do Oeste", de 1962), secretamente deram ao seu suposto semi-documentário o nome "How the solar system was won". Outros títulos possíveis incluem "Universe: Tunnel to the Stars", "The Star Gate", "Jupiter Window" e "Earth Escape".
7. "2001" ultrapassou o cronograma e o orçamento
Kubrick disse a Clarke em 1964 que ele deveria trabalhar em um filme que levaria "cerca de dois anos para ser concluído", e um contrato posterior previa um lançamento no final de 1966 ou início de 1967 com um orçamento inicial de US $ 5 milhões. Quando o filme foi lançado, em 2 de abril de 1968, o orçamento era de cerca de US $ 12 milhões, de acordo com o Box Office Mojo.
8. Histórias e imagens que influenciaram a imagem do feto
Parte da inspiração para o filme veio do conto de 1959 de Clarke "Fora do berço, infinitamente em órbita", em que um narrador diz que o século XXI não começa em 2000, mas sim em 1º de janeiro de 2001. Como Benson observa, essa história termina com um incrível som: "o choro fino de um bebê recém-nascido". É "o primeiro filho em toda a história da humanidade vindo de fora da Terra ".
O futurismo de Clarke, escreve Benson, foi influenciado pelo visionário russo Konstantin Tsiolkovsky, que escreveu, em 1912, num ensaio: "A terra é o berço da mente, mas a humanidade não pode permanecer em seu berço para sempre."
Benson também comenta sobre uma ilustração de caneta que "mostrava um feto flutuando em um saco amniótico semelhante a uma bolha" que parecia "exatamente como um bebê não nascido no espaço", reproduzido no livro "African Genesis", de Robert Ardrey; e em 1965, a revista Life publicou as famosas imagens de um feto "flutuando na escuridão cósmica", capturadas pelo fotógrafo sueco Lennart Nilsson.
9. Foi ideia de Kubrick criar um romance e um filme ao mesmo tempo
"Não vamos nos sentar e escrever um roteiro", disse Kubrick no verão de 1964, segundo Benson. "Vamos nos sentar e escrever um romance. Vamos ter muito mais profundidade." Como resultado, o roteiro passou por revisões quase diárias durante a filmagem.
10. O 'encontro de mentes brilhantes' com Carl Sagan foi de curta duração
Nos primeiros estágios do planejamento, Clarke apresentou Kubrick ao famoso astrônomo-escritor. Infelizmente, não foi um encontro tão bom. Kubrick descobriu que Sagan era paternalista, escreve Benson, e uma hora depois da reunião, disse a Clarke para "livrar-se de Sagan" porque "não queria vê-lo novamente."
11. HAL foi uma criação pensada aos poucos
Para a "sequência do robô", o esboço inicial de Clarke chamava HAL-9000 de Sócrates. Tratava-se de um robô ambulatorial com um "modo independente". A cada rascunho, diz Benson, o QI dessa Inteligência Artificial foi aumentando. Antes da sigla HAL, o computador falante do Discovery chamava-se Athena.
Quanto à voz de HAL, Kubrick e Clarke foram influenciados por um curta em preto-e-branco indicado ao Oscar, "Universo", produzido pela National Film Board of Canada e dirigido por Colin Low.
Os cineastas de "2001" ficaram impressionados com as técnicas do longa e contrataram o especialista em efeitos especiais Wally Gentleman para ''2001''. No entanto, os dubladores de HAL estavam no ar durante toda a transmissão ao vivo.
Kubrick tentou atores como Nigel Davenport e Martin Balsam antes de contratar Douglas Rain - o narrador que ele havia ouvido pela primeira vez em "Universo".
12. O filme começou em uma fábrica de sutiã
As primeiras cenas de "2001" foram filmadas no início de 1965, em uma fábrica de sutiãs abandonada, em Nova York. Inspirado por "Universo", Kubrick usou tintas diluentes e luzes de alta intensidade para criar efeitos espaciais surreais.
13. Havia uma lista de possíveis diretores
Quando a MGM estava redigindo um contrato para a produtora de Kubrick, uma cláusula fornecia uma pequena lista com alternativas para a direção que incluía Alfred Hitchcock, David Lean e Billy Wilder. "A MGM aparentemente estava se protegendo para caso Kubrick fosse, por algum motivo, incapaz de dirigir o filme ".
14. O consultor interessado em psicodelia
Durante as filmagens, o consultor científico Fred Ordway, ex-funcionário da NASA, manifestou interesse nos resultados de um experimento acadêmico onde estudantes de pós-graduação de Boston tomaram doses de psilocibina, um alucinógeno extraído de cogumelos. Algumas das teses descreviam um "poderoso regresso cósmico" e "um mar de cor". (Um dos orientadores da tese do experimento, observa Benson, era Timothy Leary.)
15. Kubrick procurou especialistas em tecnologia de ponta
Os idealizadores de "2001" procuraram mais de 40 corporações, incluindo IBM, Hewlett-Packard, Hilton Hotels, Bell Labs, Canetas Bausch & Lomb e Whirlpool e Parker. Durante uma visita ao Bell Labs, por exemplo, Clarke ouviu experimentos com sintetizadores plugados a um computador IBM 7094 que produzia uma versão da canção de 1890 "Daisy Bell" - "a primeira música já cantada por um computador", escreve Benson. HAL, claro, canta em ''2001''.
16. O voo espacial simulado foi menos assustador do que os voos aéreos.
Kubrick e dois de seus astros de "2001", Keir Dullea e Gary Lockwood, tinham medo de voar, segundo Benson.
17. O estúdio era bastante perigoso
O especialista em inteligência artificial do MIT, Marvin Minsky, confessou que "quase foi morto" durante uma visita ao set, quando um mecânico causou um incêndio. Coincidentemente, escreve Benson, foi Minsky quem disse a Kubrick que os computadores de 2001 "poderiam estar avançados o suficiente para sofrer colapsos diante de problemas insolúveis".
18. Mímica foi o segredo da performance da 'Origem do homem'
Kubrick não queria que seus símios parecessem "homens de macacão". Então, ele foi apresentado a Dan Richter, um artista em ascensão em Londres e estrela do American Mime Theatre. (Ele também estudou teatro Kabuki com Yoko Ono).
Richter foi, de certa forma, um precursor de Andy Serkis, astro de "O Senhor dos Aneis" e "Planeta dos Macacos". Sua filosofia de mímica, como escreve Benson, "era começar com os valores da atuação e transformá-los em movimentos físicos puros".
Richter chegou a uma reunião acreditando se tratar de uma consultoria rápida, mas logo se percebeu em um teste, quando suas habilidades deslumbraram Kubrick. Richter não só interpretou o macaco assassino de ''2001'', como também ensinou o resto do elenco a se movimentar e agir de forma convincente.
19. O lançamento do filme em Washington foi 'um desastre'
A premiere de "2001" foi no teatro Uptown, em Cleveland Park, Washington. No intervalo, os convidados "saíram correndo. Foi um desastre. Ninguém gostou", relata Benson em seu livro. Um jornalista britânico escreveu: "Não houve uma única palma. O público apenas se levantou, atordoado e pensativo, seguindo para fora."
Na noite seguinte, após a estreia em Nova York, Clarke supostamente ouviu os chefões da MGM declarando:"Bem, esse é o fim de Stanley Kubrick".
Mas em cinco semanas de exibição em somente oito cinemas, "2001" arrecadou mais de US$ 1 milhão. Aos poucos, alguns críticos começaram a enxergar a luz.
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