Telio Navega
No futuro distópico da HQ “Nem todo robô”, cada família tem um autômato para chamar de seu. A máquina trabalha para os humanos, mas não em serviços domésticos. Os robôs são tão desenvolvidos que possuem inteligência artificial e são eles que trabalham fora, para obter o sustento dos donos
Assim, as famílias se tornam financeiramente dependentes das máquinas, que reclamam publicamente da condição. Para as criaturas eletrônicas, nós, humanos, além de emotivos, precisamos de manutenção constante. E de três refeições por dia!
“Ouvi falar que tem humano que dorme até oito horas por dia!”, comenta, surpreso, um robô em um programa de TV, ao vivo.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/a/9/8sTLgZRfa44ufRdWzlAw/99266333-nem-todo-robo-hq-comix-zone-divulgacao-quadrinhos-mike-deodato.jpg)
Nem todo robô, HQ ilustrada por Mike Deodato Jr. — Foto: Divulgação
Recheado de crítica social, o quadrinho escrito pelo americano Mark Russell e ilustrado pelo brasileiro Mike Deodato Jr. acaba de sair no Brasil pela editora Comix Zone e foi indicado ao Prêmio Eisner, considerado o Oscar dos comics, como melhor série de humor, além de melhor nova série.
— Fiquei impressionado com o script, em poucas páginas Russell conseguiu introduzir o cenário, os principais personagens, e ainda dar voz para cada um deles, tudo isso de maneira natural — conta por e-mail o desenhista paraibano, que já trabalhou com grandes escritores nas HQs, como Brian Michael Bendis, J. Michael Straczynski e Jeff Lemire. — É um dos roteiros mais inteligentes que já li.
Deodato diz que topou o convite do editor Axel Alonso, da AWA Studios, mas logo ficou em dúvida, pois achou que o tipo de humor de Russell combinaria mais com a arte do britânico Dave Gibbons ou Steve Dillon (morto em 2016):
— Expliquei isso ao Axel e ele me disse que eu era Mike Fucking Deodato, e que poderia desenhar qualquer coisa, que meu estilo serviria para deixar o humor mais sutil. No final, ele tinha razão.
Para um artista como Deodato, que trabalha há quase 30 anos para o mercado americano de quadrinhos, desenhando para Marvel, DC e, atualmente, editoras novas como a AWA Studios, a indicação ao Eisner foi uma agradável surpresa. Mesmo que indiretamente, foi a primeira vez que “disputou” o prêmio.
— Porém, o mais importante é que é um projeto autoral, meu e de Russel — conta o desenhista paraibano. — Não são personagens de uma editora, são nossos, criação nossa. Isso faz a indicação ser ainda mais especial. Talvez se fosse para alguma revista da Marvel ou da DC, com personagens deles, eu me sentisse um pouco com síndrome de impostor.
'
Por falar em impostor, é possível reconhecer alguns dos rostos em “Nem todo robô”, como Michael Douglas, Jennifer Jason Leigh e Michael K. Williams. Usar atores de cinema como referência é uma das características do estilo de Deodato.
— Isso começou quando li o quadrinho “Mestre do Kung Fu”, de Gulacy, nos anos 70, em que ele usou Bruce Lee, Marlon Brando, James Coburn e outros como referência. Fiquei muito impressionado e inspirado a fazer o mesmo — explica Deodato, de 59 anos. — Escolho “meu elenco” baseado na descrição do personagem no roteiro. Depois, vou atrás de referências em filmes.
Segundo Deodato, há planos de continuar a série com Russell. Mas só no ano que vem, pois existem outros projetos na fila, como “Newthink”, com Gregg Hurwitz, e “Absolution”, com Peter Milligan, além de outros dois com a AWA e mais um com o jornalista Rodrigo Salem, que ele ainda mantém sob sigilo.
“Nem todo robô”. Autores: Mark Russell e Mike Deodato Jr. Tradução: Érico Assis. Editora: Comix Zone. Páginas: 120. Preço: R$ 94,90.
GLOBO
No comments:
Post a Comment