January 5, 2022

Governança ineficaz das big techs vai impor custos a empresas e sociedades em 2022

 

Ian Bremmer

Em 2022, as tecnologias digitais que já estão transformando nossas vidas, sob muitos aspectos para melhor, vão expor novas vulnerabilidades em nossas sociedades.

Algoritmos criados com dados enviesados tomarão decisões destrutivas que afetarão o modo como bilhões de pessoas vivem e trabalham. Turbas online incitarão a violência. Má informação movimentará bolsas de valores. Teorias conspiratórias distorcerão as opiniões de milhões de pessoas. Hackers roubarão informações a nosso respeito. Todas essas ameaças crescerão no espaço digital, onde as regras são definidas pelas maiores empresas de tecnologia do mundo, não por governos.

É uma situação nova. Há quase quatro séculos, Estados-nações traçam os limites e implementam as regras que regem nossas sociedades e nossa vida. Hoje, porém, as maiores firmas de tecnologia do mundo estão projetando, construindo e gerindo uma dimensão inteiramente nova de geopolítica, economia e interação social. Estão escrevendo os algoritmos que decidem o que as pessoas veem e ouvem, determinam nossas oportunidades e influenciam o modo como pensamos.

Cada vez mais, partes importantes de nossa vida diária e até mesmo algumas funções essenciais do Estado funcionam no mundo digital, e o futuro está sendo moldado por empresas de tecnologia que não estão dispostas e não são capazes de governar a sociedade efetivamente.

Em 2022, as pessoas vão passar mais tempo, tanto no trabalho quanto em casa, no espaço digital e até mesmo no chamado "metaverso" –uma versão emergente e mais imersiva da web em que todos os problemas de governança digital serão amplificados. Com o passar do tempo, o metaverso, por sua vez, dependerá cada vez mais de sistemas econômicos baseados em plataformas blockchain descentralizadas que os governos já estão tendo dificuldade em controlar.

Os governos estão tentando opor resistência. Em 2022, a União Europeia vai aprovar novas leis que impõem limites a algumas práticas comerciais das big techs. Reguladores dos EUA vão avançar com ações judiciais antitruste e iniciarão o processo demorado e contencioso de redigir novas regras de privacidade digital. A China vai continuar a pressionar suas empresas de tecnologia para que se alinhem às prioridades nacionais determinadas pelo Estado. Outros governos vão restringir os tipos de dados que podem atravessar fronteiras.

Mas essas são táticas regulatórias, não estratégias, e nenhum governo no futuro próximo vai desafiar os lucros e a influência enormes das big techs. E políticos não vão limitar a capacidade das maiores plataformas de investir lucros na esfera digital em que essas plataformas, não os governos, ainda são os principais arquitetos, atores e executores.

Este não é um desafio que afeta apenas os EUA ou o Ocidente. Diz respeito também ao mundo em desenvolvimento, no qual os governos enfrentam escolhas ainda mais difíceis entre o acesso a serviços digitais, necessário para captar oportunidades econômicas no século 21, e os riscos decorrentes de cibersegurança fraca e desinformação viral.

A China não está imune aos desafios desse admirável novo mundo digital. Sim, a China possui o mecanismo mais sofisticado do mundo de vigilância e firewall na internet, e o líder Xi Jinping não tem hesitado em reprimir empresas que considera estarem ficando poderosas demais. Mas o Partido Comunista Chinês precisa de crescimento econômico robusto e resiliente para sustentar seu monopólio sobre o poder político doméstico.

Se Xi pegar muito pesado com os mais empreendedores e hábeis pioneiros da tecnologia e empresas do setor privado do país, a China não conseguirá desenvolver a infraestrutura digital que necessita para elevar sua produtividade e seus padrões de vida no longo prazo. Em muitos casos, as próprias companhias que Pequim vê como potenciais ameaças ao regime são também pilares indispensáveis da economia chinesa. É um dilema fundamental para qualquer país, seja uma democracia ou um Estado policial.

folha

 

 

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