December 12, 2021

Glória a Deus



EM 20 ANOS, OS LÍDERES EVANGÉLICOS DUPLICAM A BANCADA DA BÍBLIA, CONSOLIDAM SEU IMPÉRIO DE COMUNICAÇÃO E EMPLACAM UM FUNDAMENTALISTA NO SUPREMO

p or M AU R Í C IO THUSWOH L e RODR I G O M A RT I N S

 E um passo para um
homem e um sal-
to para os evangéli-
cos.” Antes mesmo
de vestir a toga, An-
dré Mendonça cele-
brou a aprovação de
seu nome para o Supremo Tribunal Fede-
ral com uma adaptação da célebre frase
de Neil Armstrong ao tocar os pés na Lua.
A declaração apenas reforçou as descon-
fianças daqueles que enxergam na chega-
da de um homem “terrivelmente evangé-
lico” à Corte uma ameaça ao Estado laico.
Indicado por Jair Bolsonaro e referendado
pelo Senado com apenas seis votos a mais
que o mínimo necessário, após um chá de
cadeira de quase cinco meses imposto pe-
lo presidente da Comissão de Constitui-
ção e Justiça, o senador Davi Alcolumbre,
do DEM, o novo ministro surpreendeu pe-
la rapidez com que se desfez do discurso
ensaiado para a sabatina. E também pelo
aparato mobilizado por igrejas evangéli-
cas para assegurar a sua nomeação.


Na tentativa de convencer os senadores
de que não será um magistrado a serviço
da agenda dos pastores, Mendonça disse
compreender “a separação que deve haver
entre a manifestação religiosa e a função
pública”, e prometeu “defender a laicida-
de estatal e a liberdade religiosa de todo ci-
dadão”. Minutos depois de nomeado, deu
glória a Deus e mandou seu recado: “Que-
remos dizer ao povo brasileiro que o po-
vo evangélico tem ajudado esse país e quer
continuar ajudando. Quero fazer da Jus-
tiça brasileira uma referência, fazer com
que essa realidade se concretize cada dia
mais e, ao final, dar esperança ao povo”.


O povo esperançoso, no caso, é formado
pelas lideranças das maiores igrejas evan-
gélicas, sobretudo as neopentecostais, que
encontraram em Bolsonaro um presiden-
te para chamar de seu e enxergam na che-
gada de Mendonça ao STF uma oportuni-
dade ímpar de aprofundar seu projeto de
poder, que hoje transcende os templos e
inclui partidos políticos e redes de co-
municação. Não à toa, figuras emblemá-
ticas como Edir Macedo, Silas Malafaia,
R ­ obson Rodovalho e Estevam Hernandes,
preocupados com a greve dos aeronautas
no dia da sabatina, disponibilizaram oito
jatinhos para levar e trazer senadores de
vários pontos do Brasil.


Alguns desses votos podem ter vindo do
próprio PT. Evangélicos petistas, tendo à
frente as deputadas federais Benedita da
Silva e Rejane Dias, atuaram para conven-
cer os senadores do partido de que apro-
var Mendonça seria um aceno positivo ao
eleitorado evangélico. Um senador confir-
ma a movimentação e diz não saber se os
cinco colegas petistas votaram da mesma
forma: “Um ou outro pode ter votado a fa-
vor, o voto é secreto e ninguém sabe exa-
tamente como foi. A bancada não se reu-
niu formalmente para tratar do tema, mas
houve conversas entre alguns senadores”.

A DESPEITO
DOS AFAGOS,
A APROVAÇÃO DE
BOLSONARO ENTRE
OS ELEITORES
EVANGÉLICOS ESTÁ
EM DECLÍNIO


Líder da bancada do PT no Senado,
Paulo Rocha fala sobre as expectativas
do partido quanto ao desempenho do no-
vo ministro: “Uma coisa que foi bastan-
te conversada com o André Mendonça é
que não importa seu comportamento ou
seus costumes, mas é fundamental que
ele respeite a Constituição”. A deputada
Benedita da Silva, por sua vez, avalia que
a nomeação de “um cidadão evangélico”
para o STF reflete a diversidade da socie-
dade brasileira. “Como tem ocorrido com
os demais ministros da Alta Corte, tam-
bém este estará sujeito às pressões legíti-
mas da sociedade, especialmente de seus
setores mais organizados.”


Com 1,4 bilhão de reais em dívidas tri-
butárias perdoadas às igrejas, além de
um cardápio de afagos aos pastores que
vai da nomeação de Mendonça ao Supre-
mo ao prosaico projeto de mudar a em-
baixada brasileira em Israel de Tel-Aviv
para Jerusalém, Bolsonaro parece ter ga-
rantido o apoio da cúpula evangélica para
2022. Essa verdade não vale, porém, para
o eleitorado de fiéis, cada vez mais dividi-
do e decepcionado com o presidente. Se-
gundo a pesquisa Exame/Ideia divulga-
da em 19 de novembro, a aprovação do go-
verno nesse segmento caiu 11 pontos por-
centuais (28%) entre outubro e novem-
bro. E diversas sondagens apontam um
empate entre o ex-capitão e Lula nas in-
tenções de voto dos evangélicos.


O resultado não surpreende
Magali Cunha, doutora em
Ciências da Comunicação
pela USP e pesquisadora
do Instituto de Estudos da
Religião, para quem o “voto evangélico” é
um mito construído pela mídia. “De acor-
do com pesquisas, a maioria da população
evangélica é composta de mulheres, pes-
soas negras e trabalhadores que ganham
até três salários mínimos e vivem nas pe-
riferias das grandes cidades. Essas pes-
soas não votam apenas pensando em sua
identidade religiosa, têm uma infinidade
de outras preocupações.” Segundo a espe-
cialista, muitos evangélicos podem ter vo-
tado em Bolsonaro nas últimas eleições
por acreditar no seu discurso anticorrup-
ção ou por achar que ele poderia dar uma
resposta mais eficaz ao problema da se-
gurança pública. “Boa parte desses elei-
tores votou em Lula e Dilma no passado e
por outras razões, como a prioridade da-
da pelas gestões petistas aos programas
sociais. Se os evangélicos fossem um blo-
co monolítico e pensassem apenas em re-
ligião, por que Marcelo Crivella não se re-
elegeu no Rio? Perdeu as eleições porque
fez uma gestão desastrosa.”


Os presidenciáveis procuram minar
possíveis resistências de natureza reli-
giosa. De olho nos votos dos neopente-

costais, o pré-candidato do Podemos,
Sergio Moro, chamou para sua campa-
nha o presidente da Associação Nacional
dos Juristas Evangélicos (Anajufe), Uziel
Santana, um dos principais articulado-
res da indicação de Mendonça ao STF. Na
quarta-feira 8, Moro esteve com lideran-
ças evangélicas em São Paulo, em encon-
tro articulado por Santana. Outras reu-
niões virão, e a ideia é aproveitar a pre-
sença de Deltan Dallagnol, popular en-
tre os cristãos e agora candidato a uma
vaga no Parlamento, para intensificar as
conversas com as lideranças. “Falamos
de valores, princípios e da relevância do
segmento para um projeto de Brasil jus-
to para todos”, disse o ex-juiz.

 


O s pré-candidatos progres-
sistas também se movi-
mentam para ir ao encon-
tro dos evangélicos. Lula
reuniu-se em junho com o
pastor Manoel Ferreira, bispo primaz da
Assembleia de Deus, para discutir a “con-
juntura”. Desde então, realizou uma sé-
rie de conversas com lideranças evangé-
licas próximas ao PT. O ex-presidente che-
gou a cogitar uma “carta aos evangélicos”,
mas, diante do razoável desempenho nas
pesquisas nesse segmento, a ideia acabou
descartada. O objetivo de Lula agora é tra-
zer para sua campanha pautas de interes-
se dos evangélicos, sobretudo os mais po-
bres e moradores das periferias.


O pré-candidato do PDT, Ciro Gomes,
que em junho gravou um vídeo no qual
segura a Bíblia em uma mão e a Consti-
tuição na outra, conta, por sua vez, com o
apoio do Movimento Cristão Trabalhis-
ta para aumentar suas chances de tocar o
coração dos eleitores evangélicos. “Somos
um Estado laico, mas a Bíblia e a Consti-
tuição não são livros conflitantes. O mes-
mo acontece com a religião e a política. Se
observarmos bem, veremos que as ideias

centrais do cristianismo inspiram a vida
de todos nós que lutamos por um Brasil
melhor”, disse o pedetista.

EM 2032, OS
EVANGÉLICOS
DEVEM
ULTRAPASSAR
OS CATÓLICOS
E CHEGAR A 40%
DA POPULAÇÃO


Os presidenciáveis não podem prescin-
dir do eleitorado evangélico. Em 2010, as
igrejas protestantes somavam 42,3 mi-
lhões de fiéis, 22,2% da população, segun-
do o IBGE. Desde os anos 1970, o número
não para de crescer. Com o Censo de 2020
adiado, não há dados oficiais sobre o atual
contingente, mas uma projeção feita pelo
demógrafo José Eustáquio Alves, profes-

sor aposentado da Escola Nacional de Ci-
ências Estatísticas do IBGE, indica que os
evangélicos já representam mais de 30%
dos habitantes e, a partir de 2032, devem
chegar a 40%, ultrapassando o porcentual
de católicos


A explosão dos evangélicos deve-se, em
grande parte, à emergência do movimento
neopentecostal nos anos 1980. Hoje, esti-
ma-se que ele corresponda a 60% do uni-
verso protestante no Brasil. Organizadas
com estruturas empresariais e disputan-
do fiéis como consumidores, as igrejas
dessa linha pregam a teologia da prospe-
ridade, segundo a qual a fé do cristão (e,
claro, a sua generosidade nas doações) é
determinante para o sucesso financeiro,
entendido como uma bênção divina. E in-
vestem pesado no proselitismo eletrôni-
co, como revela a pesquisa Monitoramen-
to da Propriedade da Mídia no Brasil, re-
alizada em 2017 pelo Intervozes em par-
ceria com a Repórteres Sem Fronteiras.
Entre os 50 veículos de comunicação
de maior audiência no País, nove são d e

propriedade de lideranças religiosas, to-
das elas cristãs. O Grupo Record, forma-
do pela RecordTV, a RecordNews, o Por-
tal R7 e o jornal Correio do Povo, entre ou-
tros, pertence desde 1989 ao bispo Edir
Macedo, líder da Igreja Universal do Rei-
no de Deus. Os bispos da Universal tam-
bém possuem, desde 1995, numerosas
emissoras de rádio, como as que formam
a Rede Aleluia. Há a Rede Gospel de Te-
levisão, controlada desde 1996 pelos bis-
pos Estevam e Sônia Hernandes, líderes
da Igreja Apostólica Renascer em Cristo,
e a Rede Novo Tempo de rádio, lançada
pela Igreja Adventista do Sétimo Dia em
1989. A Igreja Católica, por sua vez, apa-
rece na pesquisa associada à Rede Cató-
lica de Rádio, fundada em 1997, e à Rede
Vida, inaugurada em 1995.


Em 2016, um estudo da Ancine revelou
que a programação religiosa é o principal
gênero transmitido pela tevê aberta, in-
clusive nas redes comerciais, ocupando
21% do total de programação. A campeã é
a Rede TV!, que teve 43,41% do seu tempo
destinado a programas religiosos naquele
ano. Em seguida, vieram a RecordTV, com
21,75%, a Band, com 16,4%, a TV ­Brasil,
com 1,66%, e a Globo, com 0,58%. Diante
desse cenário, a nomeação de um minis-
tro “terrivelmente evangélico” para o Su-
premo não surpreendeu Gyssele Mendes,
coordenadora do Intervozes. “Mendonça
no STF representa menos o aumento do
poder evangélico e mais a consolidação de
algo que vem sendo gestado há décadas.”



A estrutura midiática con-
tribui não apenas para a
conquista de novos fiéis,
mas também de eleito-
res. Se até os anos 1970 a
maioria das igrejas via com desconfian-
ça a mistura entre Estado e religião, nas
décadas subsequentes os evangélicos
entraram de cabeça nas disputas eleito-
rais. Nos últimos 20 anos, a Bancada da
Bíblia praticamente dobrou de tamanho,
chegando a 84 deputados e sete senado-
res, segundo dados do Departamento

Intersindical de Assessoria Parlamentar,
o Diap (gráfico à pág. 16). Somente em
2006 houve um recuo. À época, 16
de ­ putados não se reelegeram após en-
volvimento na Máfia das Ambulâncias,
exposta pela CPI dos Sanguessugas.


“À exceção desse revés pontual, a ten-
dência é de crescimento contínuo”, obser-
va Antônio Augusto de Queiroz, consultor
político e ex-diretor do Diap. “Em parte,
isso se deve ao poder midiático das igrejas,
mas não só. Os sindicatos e os movimen-
tos sociais se desmobilizaram nos gover-
nos Lula e Dilma. Muitos militantes que
faziam trabalho de base migraram para
os gabinetes em Brasília. As denomina-
ções evangélicas passaram a ocupar es-
ses espaços, realizando um trabalho so-
cial que antes era feito pela esquerda ou
pela Igreja Católica, igualmente acomo-
dada. Na política, não existe vácuo de po-

der. Os pastores souberam ocupar esse es-
paço, mas com um discurso reacionário.”
Os governos petistas jamais se recusa-
ram a atender às demandas corporativas
de líderes religiosos, como perdão de dí-
vidas tributárias e outras benesses. Tam-
pouco hesitaram em sacrificar bandeiras
como a legalização do aborto, a descrimi-
nalização das drogas e o reconhecimen-
to das uniões homoafetivas para não de-
sagradar aos aliados evangélicos. No go-
verno Dilma, a bancada petista na Câma-
ra chegou a ceder a presidência da Comis-
são de Direitos Humanos ao pastor Mar-
cos Feliciano, que entre outras peripécias
conseguiu aprovar no colegiado um proje-
to que autorizava psicólogos a tratar a ho-
mossexualidade como doença.




Nenhum outro governo es-
teve, porém, tão ligado às
lideranças evangélicas
quanto Bolsonaro, e não
apenas pelo bilionário
perdão de dívidas tributárias. Católico,
o ex-capitão foi rebatizado nas águas do
Rio Jordão pelo pastor Everaldo, do PSC.
Sua esposa, Michelle, é batista e celebrou
a nomeação do presbiteriano Mendonça
para o STF com pulinhos de júbilo e exal-
tações em língua estranha. Outro pres-
biteriano, Milton Ribeiro, comanda o
Ministério da Educação. Onyx Lorenzoni,
fiel da Igreja Sara Nossa Terra, chefiou a
Casa Civil e agora está à frente da pas-
ta do Trabalho e Previdência. A ministra
dos Direitos Humanos, Damares Alves,
é batista e costuma frequentar cultos
com a primeira-dama. Tereza Cristina,
da Agricultura, Tarcísio de Freitas,
da Infraestrutura, e Fábio Faria, das
Comunicações, completam o time de
evangélicos do primeiro escalão.


Na avaliação de Queiroz, uma ou ou-
tra igreja pode ter um projeto de poder
mais claro, a exemplo da Igreja Universal
do Reino de Deus, que controla o partido
Republicanos, ou de alguns ministérios
da Assembleia de Deus, que aparelharam
o PSC e não escondem o desejo de criar a
própria legenda. “Mas a grande caracte-
rística dos líderes religiosos que se lan-
çam na política é o fisiologismo. Não im-
porta qual seja o governo, eles vão sem-

ter vantagens corporativas”, avalia. “Não
tenho dúvidas de que, se Lula vencer, eles
vão inventar alguma justificativa para os
fiéis e buscar uma reconciliação.”


Entre os evangélicos progressistas, a
nomeação de Mendonça causou descon-
forto, devido ao modo como Estado e re-
ligião se misturaram no episódio. “Não
acreditamos que o Estado laico seja com-
prometido. O que tememos é essa escolha
ter sido feita a partir da religiosidade. Ne-
nhum servidor, seja ele de qualquer po-
der em qualquer nível, deve ser escolhi-
do por esse critério”, diz Valéria Zacarias,
c ­ oordenadora da Frente de Evangélicos
pelo Estado de Direito. Ícone entre os pro-
testantes de esquerda, o pastor Arioval-
do Ramos diz que movimentos como a
Frente são “a prova cabal de que é possível
exercer participação política por fora da
máquina de algumas igrejas e pastores”.
Contudo, faz um alerta: “Existe hoje um
cenário de perseguição aos quadros po-
líticos evangélicos com orientação mais
à esquerda ou progressista. O que antes
era uma animosidade, agora é uma polí-
tica de cancelamento e de condenação”.


O temor de Ramos materializou-se
com o anúncio do desligamento do pro-
gressista Ed René Kivitz da Ordem dos
Pastores Batistas do Brasil, após um
processo disciplinar, no qual chegou a
ser acusado de herege. Kivitz prega na
Igreja Batista de Água Branca, faz mui-
to sucesso entre os jovens e tem um ca-
nal com mais de 130 mil seguidores no
YouTube. Coincidência ou não, a deci-
são foi anunciada no mesmo dia em que
Mendonça teve seu nome aprovado para
o STF. O processo corria desde outubro
do ano passado, quando, em um sermão,
Kivitz afirmou que a Bíblia “é insuficien-
te” e que “deve ser atualizada”. Em vídeo
postado na sexta-feira 3, o pastor diz que
c ­ ontinuará a atuar: “A Ordem não tem au-
toridade sobre a vida de nenhum pastor e
nenhuma igreja batista”, diz. “Meu caso
é uma gota em um rio que vai se tornan-
do cada vez mais caudaloso. Me preocu-
pa o fato de que muitos pastores que não
têm a visibilidade que tenho estejam so-
frendo essa mesma tentativa de controle.”


O Estado laico corre risco
efetivo com o avanço de
lideranças evangélicas re-
acionárias sobre as insti-
tuições? “Em determina-
dos grupos fundamentalistas e bolsona-
ristas há o desejo de um Estado teocrático,
mas não acho que seja uma coisa factível
neste momento. Não há condições para
transformar o Brasil em um Afeganistão”,
avalia Gilberto Nascimento, autor do livro
O Reino: A História de Edir Macedo e Uma
Radiografia da Igreja Universal. “Se con-
tinuarem ampliando seus poderes e ocu-
pando espaços, poderíamos chegar a um
Estado teocrático. Malafaia diz não ter
um projeto de poder, mas acusa Macedo
de ter. Em encontros com outros religio-
sos, ele teria, inclusive, manifestado o de-
sejo de um dia eleger um evangélico presi-
dente da República.” O problema é se ele
for mais que isso, um presidente “terrivel-
mente fundamentalista”, disposto a sub-
meter os brasileiros aos desígnios de pas-
tores, bispos e reverendos. •


CAR TACAP I TAL ­



 

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