May 7, 2018

No Edifício Prestes Maia, burocracia impede reformas na 2ª maior ocupação da América Latina


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Entre as famílias apinhadas em cubículos de madeira ao custo de R$ 105 por mês, e com direito a um único banheiro por andar, o assunto nos corredores do Prestes Maia nos últimos dias era a tragédia no Largo do Paissandu. Moradores correram para a porta do prédio na madrugada do incêndio para ajudar conhecidos. Outros, como Luís Santos Costa, de 51 anos, convenceram seus vizinhos do 21º andar a trocar todas as divisórias de madeirite dos “apês” por placas de drywall, mais resistentes a incêndio. Ele lembra como conseguiu o cômodo

. — Eu implorei chorando por um canto e me deram o último andar, que estava vazio porque era uma goteira só.— diz Costa.

Já a equipe de manutenção da ocupação, formada por moradores, estava às voltas com alguns reparos na sexta-feira, se preparando para a inspeção da prefeitura. Extintores vencidos foram retirados do prédio e a fiação elétrica descascada e velha era substituída por cabos novos em alguns andares.



Vera Lucia Maria dos Santos, de 64 anos - Edilson Dantas / Agência O Globo

Alguns andares abaixo, Vera Lúcia Maria dos Santos, de 64 anos, começava a fazer o almoço no cômodo iluminado apenas por uma abertura de 60 centímetros na parede e cheio de fios pendurados. Há oito anos, a idosa vive ali à espera da casa própria.

— Estou vendendo coisas na rua para ganhar um dinheirinho. Aqui está tudo que eu tenho. Vocês querem um cafezinho? — ofereceu Vera à reportagem, após resumir sua luta.

O arquiteto do Prestes Maia explica que a não seleção do projeto ocorreu por questões burocráticas. A ONG que representa o projeto já havia obtido o financiamento para a reforma de outro prédio ocupado e o Prestes Maia extrapolaria a cota de moradias a que tem direito de contratar pela Caixa. Waldir acredita que o desabamento no Paissandu pressionará o governo federal a liberar recursos para reformas:

— Me parece que todas as partes serão obrigadas a chegar num entendimento. Precisou uma tragédia para as pessoas se mexerem.

O Ministério das Cidades e a Caixa foram procurados mas não se manifestaram. A prefeitura informou que a única pendência é o licenciamento do projeto de reforma, em análise.
O Prestes Maia é uma das oito desapropriações para moradia social feitas pelo ex-prefeito Fernando Haddad (2013-2016). Sete aconteceram no último ano de mandato. Até agora, nenhum imóvel conseguiu se desembaraçar da burocracia nem viabilizar suas reformas.

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