gregorio duvivier
Tem surgido um tipo especial de golpista no Brasil: aquele que pede eleições diretas. De todos os tipos de golpe (baixo, traumático, militar, de mestre, da maioridade, do sequestro), esse novo tipo de golpe é o único que não quer transferir o poder pras mãos de uma pessoa só mas para as mãos de um grupo de 140 milhões de pessoas. Ou seja: bagunça.
Por que se trata de um golpe? Pra começar, porque não tá previsto na Constituição. Nossa Carta Magna não prevê eleições diretas na segunda metade do mandato. No entanto, acho melhor não evocar a Constituição, nesse caso, porque ela também não prevê impeachment sem crime de responsabilidade e nem terceirização da atividade fim e nem a possibilidade de pagar trabalhador rural com casa e comida. Em vez disso tem lá toda uma parte sobre respeito ao meio ambiente, direito ao lazer, e diz que o empregado tem direito a uma parcela dos lucros da empresa.
Nossa Constituição parece que foi escrita na praça Roosevelt. Se o pessoal começar a ler, pode dar merda pro nosso lado. Vamos continuar usando só como calço de mesa, que pra isso tem servido bem (embora pudesse ser um pouco mais fina, até pra isso a americana é melhor).
Por isso, o melhor argumento contra esse golpe não é constitucional. Precisamos dizer a verdade: quem quer "Diretas Já" na verdade só quer botar o Lula lá. Sim, eles acham que enganam, mas existe um plano claro: primeiro derrubam o Temer, depois põem o povo pra votar no Lula. Sim, tudo já foi combinado com o povo. Se for provado que o povo tá nessa, vai ser a primeira vez que 140 milhões de pessoas conspiraram juntas. "Não dá pra comprar uma nação inteira." O que seria o Bolsa Família senão um mega esquema de compra de voto?
Há quem chame esse processo de conspiração coletiva por outro nome: democracia. Eu chamo de golpe mesmo. Não é porque o povo tá envolvido nessa que não é golpe. É um golpe democrático, mas é golpe, porque o povo não consultou o principal mandatário da nação: o mercado.
Eleição direta, pra mim, seria se o mercado escolhesse diretamente o presidente. Quando o povo vota, a eleição deixa de ser direta, porque tá passando por cima dos investidores. E dá um puta trabalho depois. Tem que inflar um pato, tirar o presidente, desinflar o pato, botar outro presidente. Por isso proponho eleições diretas de verdade: reúne o PIB e deixa ele escolher. Vai poupar trabalho pra todo o mundo.
FOLHA, junho 2017
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