Lucas Vettorazzo
Sérgio Rangel
Em julho passado, quando o governo federal
autorizou o uso das Forças Armadas no Rio por meio de um decreto, o
objetivo seria “golpear o crime organizado”, conforme explicou à época o
então ministro da Defesa, Raul Jungmann, hoje titular da nova pasta da Segurança Pública.
Por crime organizado, ressaltou ele na ocasião, entendia-se não só tráfico de drogas, mas também milícias e grupos paramilitares que dominam territórios na zona oeste e na Baixada Fluminense.
Hoje, sete meses depois do início das ações com apoio dos militares e tendo ocorrido 20 operações em favelas e zonas carentes do Rio, nenhum território da milícia teve nem sequer uma rua ocupada.
Do total de ações com militares, 11 foram em locais dominados pelo CV (Comando Vermelho), a maior facção criminosa do Rio. Em cinco ocasiões, deu-se prioridade onde há disputa entre CV, TCP (Terceiro Comando Puro) e ADA (Amigos dos Amigos). Outras quatro foram em locais dominados por TCP ou ADA.
Desde que o presidente Michel Temer decretou a intervenção federal na segurança do Rio, em 16 de fevereiro, a cúpula da segurança tem discutido formas de reduzir índices de criminalidade, principalmente roubos de carga, assaltos a pedestres e tiroteios em favelas. Sobre milícias, até agora, nenhum indicativo.
No Rio, quem atua contra as milícias são basicamente a Draco (Delegacia de Repressão ao Crime Organizado), as DHs (Delegacias de Homicídios) e o Gaeco (Grupo de Combate ao Crime Organizado), ligado ao Ministério Público.
Por enquanto, ninguém dos comandos dessas instituições foi chamado para conversar com o interventor federal, general Walter Braga Netto, ou o secretário de Segurança, general Richard Fernandez Nunes, responsáveis por tocar a área até 31 de dezembro (prazo da intervenção).
Questionado, o Comando Militar do Leste, responsável pelas operações do Exército no Rio, não se manifestou.
Nos últimos anos, as milícias mudaram de perfil. PMs e civis, bombeiros e agentes penitenciários seguem dando as cartas, mas atuam nos bastidores e reduziram presença na linha de frente. Jovens pobres antes cooptados pelo tráfico passaram a ser recrutados pelos milicianos.
Um emissário recolhe semanalmente os valores de extorsão, ainda hoje o principal carro-chefe dos grupos.
“Se colocar um do lado do outro, um traficante do CV e um soldado da milícia, você não vai encontrar diferença. É o mesmo material humano”, disse o delegado Alexandre Herdy, titular da Draco.
As milícias ganharam força no Rio no final dos anos 1990. Inicialmente, eram grupos de policiais moradores locais que, cansados de assaltos e tráfico de drogas em seus bairros, organizavam sua própria força à parte do estado.
O domínio do território virou atividade lucrativa —com taxa de proteção contra crimes, venda de botijão de gás, sinal clandestino de TV a cabo e transporte alternativo.
Os métodos nos últimos anos se diversificaram —elas cobram por qualquer atividade que movimente dinheiro.
Por crime organizado, ressaltou ele na ocasião, entendia-se não só tráfico de drogas, mas também milícias e grupos paramilitares que dominam territórios na zona oeste e na Baixada Fluminense.
Hoje, sete meses depois do início das ações com apoio dos militares e tendo ocorrido 20 operações em favelas e zonas carentes do Rio, nenhum território da milícia teve nem sequer uma rua ocupada.
Do total de ações com militares, 11 foram em locais dominados pelo CV (Comando Vermelho), a maior facção criminosa do Rio. Em cinco ocasiões, deu-se prioridade onde há disputa entre CV, TCP (Terceiro Comando Puro) e ADA (Amigos dos Amigos). Outras quatro foram em locais dominados por TCP ou ADA.
Desde que o presidente Michel Temer decretou a intervenção federal na segurança do Rio, em 16 de fevereiro, a cúpula da segurança tem discutido formas de reduzir índices de criminalidade, principalmente roubos de carga, assaltos a pedestres e tiroteios em favelas. Sobre milícias, até agora, nenhum indicativo.
No Rio, quem atua contra as milícias são basicamente a Draco (Delegacia de Repressão ao Crime Organizado), as DHs (Delegacias de Homicídios) e o Gaeco (Grupo de Combate ao Crime Organizado), ligado ao Ministério Público.
Por enquanto, ninguém dos comandos dessas instituições foi chamado para conversar com o interventor federal, general Walter Braga Netto, ou o secretário de Segurança, general Richard Fernandez Nunes, responsáveis por tocar a área até 31 de dezembro (prazo da intervenção).
Questionado, o Comando Militar do Leste, responsável pelas operações do Exército no Rio, não se manifestou.
MUDANÇA DE PERFIL
Enquanto as autoridades não incluem a milícia no escopo das ações, grupos disputam áreas e mantêm moradores sujeitos a leis próprias em troca de alegada segurança.Nos últimos anos, as milícias mudaram de perfil. PMs e civis, bombeiros e agentes penitenciários seguem dando as cartas, mas atuam nos bastidores e reduziram presença na linha de frente. Jovens pobres antes cooptados pelo tráfico passaram a ser recrutados pelos milicianos.
Um emissário recolhe semanalmente os valores de extorsão, ainda hoje o principal carro-chefe dos grupos.
“Se colocar um do lado do outro, um traficante do CV e um soldado da milícia, você não vai encontrar diferença. É o mesmo material humano”, disse o delegado Alexandre Herdy, titular da Draco.
As milícias ganharam força no Rio no final dos anos 1990. Inicialmente, eram grupos de policiais moradores locais que, cansados de assaltos e tráfico de drogas em seus bairros, organizavam sua própria força à parte do estado.
O domínio do território virou atividade lucrativa —com taxa de proteção contra crimes, venda de botijão de gás, sinal clandestino de TV a cabo e transporte alternativo.
Os métodos nos últimos anos se diversificaram —elas cobram por qualquer atividade que movimente dinheiro.
Em Campo Grande, zona oeste, motoristas de Uber só circulam com autorização da milícia, mediante pagamento. Em Seropédica, na Baixada Fluminense, ao menos duas fábricas de areia para construção civil foram controladas pela milícia depois que os administradores foram expulsos ao se negarem a colaborar.
Na mesma cidade, cobra-se até de quem for dar festas dentro de casa —conforme a quantidade de convidados.
Em Santa Cruz, na zona oeste, há relatos investigados pela Promotoria de que traficantes pagam propina aos milicianos para poderem atuar livremente. Milicianos passaram a cobrar também R$ 40 mensais pelo gato de luz e ágio sobre galão de água.
A busca pelo lucro está se sobrepondo ao desejo pela ordem, afirmaram à Folha quatro pessoas envolvidas em investigações sobre milícias.
No ano passado, a Draco apurou denúncia de que grupos cobravam até R$ 800 por semana dos operadores de vans clandestinas em Bangu.
“Eles passaram de uma falsa polícia comunitária a quadrilhas de extorsão pura e simples”, afirmou Jorge Furkim, promotor do Gaeco.
CARROS ROUBADOS
Uma das novas características é a utilização pelas milícias de carros roubados. No fim de 2017, por exemplo, a Draco recuperou oito carros na favela Bateau Mouche, na Praça Seca, na zona oeste, dominada por milicianos.Em Nova Iguaçu, na Baixada, há suspeita de que milicianos estejam envolvidos também no roubo de cargas.
O grupo que atua na vizinha Duque de Caxias, por exemplo, se especializou no roubo de combustíveis da Reduc, a refinaria da Petrobras.
O caso mais marcante de mudança é que nas milícias da zona oeste, as mais antigas do Rio, quem chefiava até 2017 era egresso das fileiras do Comando Vermelho.
Os exemplos dificilmente seriam observados nos anos 2000, quando as milícias eram encaradas como braço informal do poder público.
De março de 2010 até fevereiro passado, ao menos 375 pessoas foram denunciadas por crimes relacionados a milícias. Somente no ano passado, 40 foram presas por envolvimento com esses grupos.
Quem não compactua com a milícia é expulso ou desaparece. Do fim de 2015 até agora, ao menos sete pessoas entraram no serviço de proteção à testemunha por ameaças de milicianos.
FOTO MAURO PIMENTEL
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