November 29, 2024

Rê Bordosa comemora 40 anos com festa para arrecadar recursos para Angeli

 

 

Rê Bordosa, personagem emblemático de Angeli, que criou humor com sotaque paulistano ao retratar tribos da metrópole 

Personagem traduziu espírito libertário dos anos 1980 e quebrou paradigmas; esposa do cartunista diz que ele 'está bem, dentro do possível'

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“A Rê fez aniversário em abril, mas a ressaca foi tamanha que a festa vai ser só agora.” Quem avisa é a designer Carolina Guaycuru, casada com o cartunista Angeli. A aniversariante, no caso, é Rê Bordosa, um dos mais carismáticos personagens criados pelo artista paulistano. Ela veio ao mundo em 4 de abril de 1984, já de óculos escuros, cabelo espetado, decote provocante, com vida sexual animadíssima, um fraco por drogas lícitas e ilícitas e, detalhe pessoal, recuperando-se de noitadas e angústias na banheira.  

O legado da personagem que simbolizou o espírito punk dos anos 1980 será celebrado neste sábado (30), das 16h às 21h, no evento “40 anos de Rê Bordosa: a festa da porralouca”, realizado pela Fresh People no MIS Experience, em São Paulo. Os ingressos custam R$ 60 e a renda será revertida para Angeli, que se aposentou das tirinhas em 2022, após o diagnóstico de demência frontotemporal (mesma doença neurodegenerativa que acomete o ator americano Bruce Willis e o ex-repórter da TV Globo Maurício Kubrusly). A festa contará com apresentações das bandas Saco de Ratos e Fábrica de Animais, do ator Mario Bortolotto e das atrizes Grace Gianoukas e Paula Cohen (que já encarnaram Rê em diferentes produções).

‘Outra maneira de viver’

O cartunista Orlando Pedroso, um dos idealizadores do evento, contou que um grupo de amigos de Angeli cogitou diversos projetos para reforçar o caixa do criador de Bob Cuspe e dos Skrotinhos, de rifas a leilões, até se decidirem por uma festança (o que Rê Bordosa decerto aprovaria).

Ao GLOBO, Carolina afirmou que o marido “está bem, dentro do possível”.

— Hoje ele tem outra maneira de viver e de se expressar, o cérebro dele funciona em um outro registro. Nós, que o amamos, vamos encontrando caminhos para que essa nova maneira dele de ser se achegue à nossa. E para que a vida dele seja a melhor possível, mesmo sem ter a estrutura do Bruce Willis — diz ela, que descreve Rê Bordosa como “uma libertária”. — Ela quebrou paradigmas, trouxe à baila temas como a igualdade comportamental e sexual entre homens e mulheres.

Rê Bordosa, personagem criada em 1984 pelo cartunista Angeli — Foto: Reprodução

No curta “Dossiê Rê Bordosa”, de 2008, Angeli recorda a inspiração da personagem: certa madrugada, ao se dirigir ao banheiro do Riviera Bar, ele topou com uma mulher fazendo xixi de pé no mictório. “Depois das cinco da manhã, eu faço coisas de que até Deus duvida”, ela teria dito. Mais tarde, Rê Bordosa foi flagrada na mesma situação numa tirinha.

Frequentadora assídua de bares, onde interagia com personagens como o garçom Juvenal e o militante melancólico Meiaoito, Rê acordava “às 5 da tarde no maior bode”. Para curar a ressaca, receitava “sopa com uma aspirina” — mas a sopa tinha que ser de vodca.

Fonte de inspiração

Grace Gianoukas chegou a São Paulo no mesmo ano em que Rê Bordosa nasceu e foi apresentada à personagem pelo escritor e conterrâneo gaúcho Caio Fernando Abreu, que era leitor assíduo da revista Chiclete com Banana, onde eram publicadas as desventuras das crias de Angeli e histórias de outros cartunistas que despontavam à época, como Laerte e Glauco. A atriz conta que, ao lado de Rita Lee, Rê Bordosa foi sua grande inspiração.

— A obra genial do Angeli institucionalizou a sabedoria underground e chancelou minha escolha, enquanto jovem adulta, pelo humor, pelo desaforo, pelo deboche, pela autocrítica e por rir de mim mesma e da sociedade — afirma a atriz, que deu voz à personagem em animações. — Com a Rê Bordosa, Angeli descortinou a escrotidão da noite e essa vontade que todos temos de transgredir. As tirinhas dele sempre foram minhas bússolas.

Orlando Pedroso defende que Angeli foi capaz de captar as mudanças comportamentais que surgiam, especialmente em São Paulo, naqueles anos em que o Brasil encerrava duas décadas de ditadura militar e entrava na democracia afundado em crises econômicas.

Até então, quem dava o tom do humor e das artes gráficas brasileiras eram nomes como Millôr Fernandes, Ziraldo e Henfil, que brilhavam no Pasquim, semanário da imprensa alternativa que vicejou sob o regime militar. Era um humor explicitamente político e influenciado pelo desbunde da esquerda carioca nos anos 1970. Quase como resposta, Angeli criou um humor com sotaque paulistano, que retratava as novas tribos da metrópole, como “yuppies” e “newwavers”, recorda Pedroso.

— Nos anos 1980, ele saca que em São Paulo já tinha uma fauna muito influenciada por uma cultura londrina, punk — diz. — Aqui, as pessoas espetavam o cabelo, pintavam de rosa, usavam óculos escuros à noite, paletó de ombro largo e iam à (boate) Madame Satã dançar rock alternativo. Na abertura política, houve um momento de porraloquice que é representado por personagens como a Rê Bordosa, um ícone tão grande que tem gente chorando a morte dela até hoje.

Uma ‘anti-Mônica’

Morte? Sim, e no auge. Rê Bordosa fez tanto sucesso que, para evitar a acomodação artística, Angeli resolveu matá-la em 1987— contaminada pelo vírus Tedius matrimonius, a porraloca explodiu. “A melhor coisa que eu fiz foi matar aquela filha da puta”, declarou o cartunista assassino no curta “Dossiê Rê Bordosa”, que investiga as circunstâncias do crime. A personagem, porém, voltou a dar as caras em espetáculos teatrais, animações e num diário seu publicado em 1995, “Memórias de uma porraloca”.

Em 2012, a Companhia das Letras pôs na rua “Toda Rê Bordosa”. Editor do livro, André Conti descreve a personagem como uma “anti-Mônica”, por sua perversidade, seu comportamento liberal e gosto pela perambulação noturna. Ainda hoje, opina, a “porraloca” mantém seu frescor e sua graça.

— Ela é abre-alas da obra do Angeli, é a tatuagem, o pôster, a representação de uma época e de um jeito de ser. Não sei como seria a Rê Bordosa hoje, mas ela cresceu nessa mesma cultura que atualmente discute a representatividade feminina — diz Conti, hoje diretor de operações da Todavia. — Ela fala de uma São Paulo específica, mas também universal, como o Rio de Millôr Fernandes ou a Curitiba de Dalton Trevisan. Rê Bordosa é sexo e bar, e isso tem em todo lugar. 

GLOBO

 


 

 

November 23, 2024

Barbárie legitimada

 

 


 ENQUANTO O PCC PROSPERA, A POLÍCIA
PAULISTA ATERRORIZA A POPULAÇÃO
PERIFÉRICA COM O AVAL DA GESTÃO
TARCÍSIO DE FREITAS, LAMENTA OUVIDOR

 

MARIANA SERAFINI


Recentemente, o ouvidor das Polícias de São Paulo, Cláudio Aparecido da Silva, envolveu-se em uma acalorada discus
são com policiais que rondavam o velório
do menino Ryan da Silva Andrade Santos,
de 4 anos, atingido por um disparo de fu-
zil durante uma desastrada operação da
PM em Santos. Nos últimos meses, torna-
ram-se recorrentes os episódios de intimi-
dação aos familiares de vítimas da violên-
cia policial, lamenta o ouvidor, igualmen-
te preocupado com o aumento de 78% das
mortes causadas pelas forças de seguran-
ça do estado de janeiro a agosto de 2024,
na comparação com o mesmo período do
ano anterior. Para Silva, o fenômeno es-
tá diretamente relacionado à postura le-
niente do governador Tarcísio de Freitas
e de seu secretário de Segurança Pública,
o capitão reformado Guilherme Derrite,
sempre dispostos a justificar os abusos da
tropa. “O problema é que, na prática, não
há efetiva fiscalização da atividade poli-
cial – ninguém para garantir que ela cum-
pra sua função de forma ética e responsá-
vel. Isso é extremamente grave, desespe-
rador e beira a barbárie.” Confira, a seguir,
a entrevista concedida a CartaCapital.

 
CartaCapital: Por que o senhor
acompanhou o cortejo do menino Ryan?

 
Cláudio Aparecido da Silva: Nós, da
Ouvidoria, e ativistas de direitos huma-
nos já conhecíamos dona Beatriz, mãe de
Ryan, desde a morte de seu marido, Leo-
nel, também assassinado pela polícia no-
ve meses antes. Decidimos acompanhar o
cortejo da família até o Cemitério da Areia
Branca. Ao chegarmos, uma viatura esta-
va bloqueando um cruzamento na comu-
nidade. Fui até o Cabo Silveira, que afir-
mou estar ali para “garantir tranquilida-
de”, mas não impediria ninguém. A passa-
gem do cortejo pela comunidade foi como-
vente. As pessoas choravam no ponto de
ônibus, nos comércios. Teve uma escola
que todos os alunos e professores saíram
para se solidarizar. Afinal, era uma crian-
ça de 4 anos que estava sendo sepultada.

 
CC: Quando a presença da polícia
passou a incomodar?

 
CAS: Mesmo se tratando de um caso de-
licado como esse, a polícia fez ronda os-
tensiva durante todo o percurso. Veio
até uma viatura do Batalhão de Ações
Especiais, o Baep. Passaram na contra-
mão, cortando outros veículos. Tenta-
ram impedir o cortejo de prosseguir, li-
beraram só o carro funerário. Um poli-
cial chegou a ameaçar uma fotógrafa do

ornal O Globo com um fuzil. Ao chegar-
mos, havia muitos policiais, dentro e fo-
ra do cemitério. Dona Beatriz ficou tão
abalada que precisou de cadeira de ro-
das. Na saída, ainda presenciei a violen-
ta abordagem de um policial da Força Tá-
tica, que me acusou de estar atrapalhan-
do o trabalho dele. Eu revidei: “Quem es-
tá tumultuando são vocês. Isso agora é
política de governo? A polícia mata e vai
ao enterro da vítima? Intimida os fami-
liares?” A situação só se acalmou quando
uma capitã ordenou a saída das viaturas.

 
CC: Em outubro, policiais envolvidos
na morte de dois jovens apareceram no
velório deles e ainda agrediram familia-
res. Isso tem acontecido muito?

 
CAS: Nesta gestão, essas ocorrências têm
se repetido. Na Operação Verão, começa-
ram a surgir reclamações de familiares.
Houve casos de policiais multando motos
de quem chegava ao cemitério, confiscan-
do camisetas em homenagem às vítimas e
até filmando o sepultamento. Temos re-
gistros e fotos desses episódios. Além dis-
so, durante a Operação Verão, nos nega-
ram acesso aos boletins de ocorrência. Os
únicos que conseguimos foram por meio
dos familiares, pois a Polícia Militar e a
Secretaria de Segurança Pública não nos
forneceram. No caso do Ryan, essa situa-
ção se repetiu. Essas práticas revelam um
desdém pela Ouvidoria e pela transparên-
cia. Outra queixa surgiu no Morro São
Bento, em Santos. Não permitem corte-
jos na comunidade, especialmente quan-
do a vítima faleceu durante uma operação
policial. As famílias pagam caro por essa
cerimônia, mas não conseguem realizar
o cortejo devido às restrições impostas.

 
CC: Ou seja, a polícia está violando
o direito ao luto das famílias?

 
CAS: Exatamente. No caso de Ryan, en-
caminhamos um ofício ao ministro Luiz
Roberto Barroso, do Supremo Tribunal
Federal, e também pediremos providên-
cias ao Ministério Público. Nas opera-
ções em comunidades da Baixada San-
tista, tem sido comum a presença de po-
liciais sem câmeras corporais, contra-

r iando a recomendação do magistrado.
No ofício, além de relatar o que ocorreu
no funeral de Ryan, denunciamos o uso
inadequado das câmeras nas abordagens.
Elas estavam desligadas e guardadas no
bolso da farda, temos imagens para pro-
var. Segundo a equipe do ministro, a Polí-
cia de São Paulo comprometeu-se a abrir
um Processo Administrativo Disciplinar
para apurar a conduta desses agentes.

 
CC: As câmeras podem ser desliga-
das? Qual é o protocolo?

 
CAS: As câmeras corporais são consi-
deradas equipamentos de proteção in-
dividual, semelhantes ao colete ou à bo-
ta. Elas devem ser fixadas na região do tó-
rax, pois estudos indicam que essa posi-
ção captura melhor as circunstâncias das
ocorrências. Atualmente, a polícia pau-
lista utiliza câmeras da Axon, que fazem
gravação ininterrupta. O novo modelo,
que permitirá ao policial desligar o apa-
relho, ainda não foi implementado. As
câmeras em uso têm dois modos: um de
gravação contínua, em baixa resolução e
sem som, e outro acionado pelo policial,
que grava em alta resolução e com áudio.

 
CC: De janeiro a agosto, as mortes
causadas por policiais em serviço au-
mentaram 78,5% em São Paulo, na
comparação com o mesmo período do
ano passado. O que explica esse au-
mento da letalidade policial?

 
CAS: Essa alta está diretamente relacio-
nada à política de segurança adotada pela
atual gestão. A postura do governador, ao
desconsiderar as denúncias de abusos da
polícia, envia uma mensagem clara para a
tropa de que pode agir sem temer conse-
quências, pois o governo aprova esse com-
portamento. Quando soube que entidades
pretendiam acionar o Conselho de Direi-
tos Humanos das Nações Unidas, Tarcísio
de Freitas chegou a debochar: “Pode ir à
ONU, à Liga da Justiça, ao raio que o parta,
que não tô nem aí”. A atitude do secretário
de Segurança Pública, Guilherme Derrite,
também contribui. Ele interveio nas in-
vestigações das operações Verão e Escudo,
promovendo a troca de 34 dos 63 coronéis
da cúpula da PM, colocando em postos de
comando oficiais da Rota e do Batalhão de
Choque, com históricos de excessos. Isso
reforçou a sensação de impunidade den-
tro da corporação. Além disso, a gestão do
coronel Fábio Amaral na Corregedoria re-
sultou em queda nas demissões, sugerindo
conivência do órgão de controle.

 
CC: No caso de Ryan, Derrite ainda
acusou os críticos de fazer “vitimismo
barato”...

 
CAS: As respostas do secretário e do res-
ponsável pela comunicação da PM, co-
ronel Emerson Massera, são absurdas.
O secretário minimiza a situação, en-
quanto o porta-voz da corporação afir-
ma que os policiais envolvidos naquela
ocorrência foram afastados para “pre-
servação deles”, como se eles fossem as
vítimas, e não o menino de 4 anos atingi-
do por um disparo de fuzil. E, para com-
pletar, ainda aproveitou a ocasião para
defender a retomada do debate sobre a
redução da maioridade penal. É um ab-
surdo! A falta de empatia com a família
da criança é chocante. Será que querem
reduzir a maioridade para 3 anos? Ryan
tinha 4. São distorções sem limites.

 
CC: Como estão as investigações
sobre as operações Escudo e Verão,
que resultaram em 84 mortes pela po-
lícia na Baixada Santista entre julho de
2023 e abril de 2024, segundo a ONG
Conectas?

 
CAS: Tentamos nos habilitar para
acompanhar as investigações, não conse-
guimos acesso aos inquéritos. O juiz não
permitiu. Apesar dos nossos argumen-
tos, o Ministério Público manifestou-se
favoravelmente à restrição. No despacho,
o MP alegou exercer o papel de controle
externo da atividade policial, o que nos
deixou sem informações diretas. O que
conseguimos apurar foi apenas por meio
das famílias, que nos trazem algumas in-
formações, ou pela mídia, quando há al-
gum desfecho nos casos.

 
CC: Recentemente, o coronel Mello

Araújo, vice-prefeito eleito de São
Paulo e ex-comandante da Rota, disse
que a abordagem policial deve ser di-
ferente em bairros ricos e na periferia.

 
CAS: O coronel Mello Araújo foi hones-
to ao deixar claro como orienta a atuação
da polícia, ou pelo menos como orienta-
va enquanto estava na ativa. Isso nós de-
vemos louvar, a honestidade. Mas ele es-
tá falando de uma instituição que tem a
responsabilidade de proteger todos, sem
distinção. O direito à vida, que o pequeno
Ryan não teve, é um direito fundamental
garantido pela Constituição. Quando um
comandante, um secretário, um governa-
dor ou qualquer pessoa em posição de po-
der endossa esse tipo de postura, a men-
sagem que passa é de que a polícia pode
agir à vontade. O problema é que, na prá-
tica, não há efetiva fiscalização da ativida-
de policial, ninguém para garantir que ela
cumpra sua função de forma ética e res-
ponsável. Isso é extremamente grave, de-
sesperador e beira a barbárie.

 
CC: Infelizmente, boa parte da
população ainda é seduzida pelo dis-
curso de que “bandido bom é bandido
morto”. Como mudar essa cultura?

 
CAS: Precisamos enfrentar essa menta-
lidade, pois vivemos em um Estado De-
mocrático de Direito, não em um regime
ditatorial. Há várias questões que devem
ser abordadas para reverter esse tipo de
pensamento e transmitir uma mensagem
clara de que as forças policiais não podem
agir dessa maneira — não só em São Pau-
lo, mas em todo o Brasil. Um passo crucial
é extinguir os efeitos do Decreto 667/69,
que institui as polícias militares como
braço auxiliar do Exército e as coloca em
uma lógica de combate contra um “inimi-
go comum”. O resultado dessa visão está
presente todos os dias nas ruas, nos mor-
ros, nas periferias. Estamos retrocedendo
com a atual gestão. Em termos de letalida-
de policial, voltamos 20 anos na história.

 
CC: Uma polícia violenta é mais efi-
caz no combate ao crime?

 
CAS: De modo algum. Essa gestão não
trouxe resultados concretos na redução da
criminalidade. Embora tenha havido uma
queda tímida nos índices de roubo e furto,
a violência continua em níveis alarmantes:
mulheres vítimas de agressões, assaltos
em plena luz do dia, o crime organizado ca-
da vez mais fortalecido, a insegurança nas
periferias. Isso mostra que a política de
segurança do estado não tem sido eficaz.

 
Quando um secretário considera “nor-
mal” a morte de uma criança pelas mãos
da polícia, ele legitima uma tropa descon-
trolada. Recentemente, um policial entrou
num alojamento e matou o colega que es-
tava dormindo. Por muitos anos, não se ti-
nha notícia de um policial da Rota morto
em serviço. Nessa gestão, já tivemos dois.
O caso do Ryan, de 4 anos, é outra triste
novidade. Não me recordo de uma crian-
ça tão pequena morrer nas mãos da polí-
cia em São Paulo. E o secretário Derrite,
ao se calar, contribui para essa tragédia. 

CARTA CAPITAL

 

 

November 18, 2024

Quincy Jones, the Maestro of the Recording Studio

 A black-and-white image of Quincy Jones wearing a scarf and a jacket, with a small mustache.

 

 As a producer, he made the best-selling album of all time, Michael Jackson’s “Thriller.” He was also a prolific arranger and composer of film music.

Mr. Jones began his career as a jazz trumpeter and was later in great demand as an arranger, writing for the big bands of Count Basie and others; as a composer of film music; and as a record producer. But he may have made his most lasting mark by doing what some believe to be equally important in the ground-level history of an art form: the work of connecting.

Beyond his hands-on work with score paper, he organized, charmed, persuaded, hired and validated. Starting in the late 1950s, he took social and professional mobility to a new level in Black popular art, eventually creating the conditions for a great deal of music to flow between styles, outlets and markets. And all of that could be said of him even if he had not produced Michael Jackson’s “Thriller,” the best-selling album of all time.

Mr. Jones’s music has been sampled and reused hundreds of times, through all stages of hip-hop and for the theme to the “Austin Powers” films (his “Soul Bossa Nova,” from 1962). He has the third-highest total of Grammy Awards won by a single person — he was nominated 80 times and won 28. (Beyoncé’s 32 wins is the highest total; Georg Solti is second with 31.) He was given honorary degrees by Harvard, Princeton, Juilliard, the New England Conservatory, the Berklee School of Music and many other institutions, as well as a National Medal of Arts and a National Endowment for the Arts Jazz Master fellowship.

His success — as his colleague in arranging, Benny Carter, is said to have remarked — may have overshadowed his talent.

ImageQuincy Jones, wearing a black suit, stands onstage in front of screens showing images of him.
Mr. Jones at his induction into the Rock & Roll Hall of Fame in 2013 in Los Angeles.Credit...Danny Moloshok/Invision, via Associated Press

In the late 1950s and early ’60s, Mr. Jones led his own bands and was the arranger of plush, confident recordings like Dinah Washington’s “The Swingin’ Miss ‘D’” (1957), Betty Carter’s “Meet Betty Carter and Ray Bryant” (1955), and Ray Charles’s “Genius + Soul = Jazz” (1961). He arranged and conducted several collaborations between Frank Sinatra and Count Basie, including what is widely regarded as one of Sinatra’s greatest records, “Sinatra at the Sands” (1966).

He composed the soundtracks to “The Pawnbroker” (1964), “In Cold Blood” (1967) and “The Color Purple” (1985), among many other movies; his film and television work expertly mixed 20th-century classical, jazz, funk and Afro-Cuban, street, studio and conservatory. And the three albums he produced for Michael Jackson between 1979 and 1987 — “Off the Wall,” “Thriller” and “Bad” — arguably remade the pop business with their success, by appealing profoundly to both Black and white audiences at a time when mainstream radio playlists were becoming increasingly segregated.

 

Quincy Delight Jones Jr. was born on the South Side of Chicago on March 14, 1933, to Quincy Sr. — a carpenter who worked for local gangsters — and Sarah (Wells) Jones, a musically talented Boston University graduate. At one point in the late 1930s, Quincy and his brother, Lloyd, were separated from their mother, who had developed a schizophrenic disorder, and taken by their father to Louisville, Ky., where they were put in the care of their maternal grandmother, a former enslaved worker.

By 1943, Quincy Sr. had moved with his sons to Bremerton, Wash., where he found work in the Puget Sound Naval Shipyard. They were eventually joined by his second wife, Elvera, and her three children, and four years later the family moved to Seattle. Once there, Quincy Sr. and Elvera had three more children; of the eight, Quincy Jr. and Lloyd perceived themselves to be the least favored by their stepmother and were often left to fend for themselves.

But the young Quincy was hungry to learn, and eventually to leave. At 11, he and his brother broke into a recreation center looking for food; there was a spinet piano in a supervisor’s room in the back, and as he later told the story in the BBC documentary “The Many Lives of Q” (2008), “God’s whispers” made him move toward it and touch it.

He went on to join his school band and choir, learning several brass, reed and percussion instruments, and music became his focus.

At 13, he persuaded the trumpeter Clark Terry, who was in Seattle for a month while touring with Count Basie’s band, to give him lessons after the band’s late set and before his school day began.

At 14, he met the 16-year-old Ray Charles, then known as R.C. Robinson, who had come west from Florida; they became close, and both worked for Bumps Blackwell, a local bandleader. At 15, Quincy gave Lionel Hampton an original composition and was hired for his touring band on the spot, only to be dismissed the next day by Hampton’s wife and manager, Gladys; she admonished him to go back to school.

After graduating from Garfield High School in Seattle, he attended Seattle University for one semester, then accepted a scholarship to attend the Schillinger House in Boston, now known as Berklee College of Music.

In 1951, Hampton’s band came calling again. This time, Mr. Jones joined and stayed for two years, as a trumpeter and occasional arranger. He wrote music quickly — including his first complete and credited composition, “Kingfish”— and got it sounding good quickly, through preternatural skills of charm and organization.

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A bearded man sitting at a piano with his legs crossed.
Mr. Jones circa 1974.Credit...A&M Records/ Michael Ochs Archives, via Getty Images

During that time he settled down with his high school girlfriend, Jeri Caldwell, and had a daughter, Jolie, in 1953, although the couple did not marry until 1957. (She was white, and the early days of their relationship and child-rearing met much disapproval. It was the first of Mr. Jones’s three marriages, all interracial.)

By the end of 1953, still only 20 and with a young daughter, he left Hampton’s band to settle in New York and work as a freelance arranger for Count Basie and the saxophonist James Moody, among others.

Mr. Jones’s true education was only beginning. In 1956, he was hired as musical director, arranger and trumpeter in the trumpeter Dizzy Gillespie’s band, which traveled under the auspices of the State Department for three months through Europe and the Middle East and then took a second trip to South America.

Mr. Jones recorded the first album under his own name, “This Is How I Feel About Jazz,” in 1956. A year later, he moved to Paris to work for Barclay Records and stayed in Europe on and off for five years as the label’s staff arranger and conductor. He took advantage of the opportunity to write for strings — because, in his view, a Black arranger was much less likely to be given the chance to do so in America — and studied music theory with Nadia Boulanger.

In 1958, Mr. Jones signed with Mercury Records. For his albums “The Birth of a Band!” and “The Great Wide World of Quincy Jones,” both released in 1959, he assembled a big band including Mr. Terry and other first-tier jazz musicians. Mr. Jones’s vision for this band grew out of the tight and smooth sound world of the 1950s Count Basie Orchestra.

Offered the job of assembling a jazz band to lead the orchestra in a musical — “Free and Easy,” about the post-abolition South, based on the work of the Black American writers Arna Bontemps and Countee Cullen and with a score by Harold Arlen and Johnny Mercer — Mr. Jones used many of the players from his working ensemble. The idea, as he explained in “Q,” his 2001 memoir, was for the group to “work the kinks out of the show” in Europe before it moved on to London and, potentially, Broadway.

Hobbled by a problematic script and an 11th-hour change in director, “Free and Easy” opened at the Alhambra Theater in Paris in January 1960 and closed within a few weeks.

Wanting to keep his band together at all costs, Mr. Jones kept 30 people on the payroll and assembled concerts around Europe for 10 months; deep in debt at the end of the tour, he sold publishing rights for half of his songs to get his retinue home. (He would later buy back those rights at a much higher price.)

Back in New York, the band dissolved, as did Mr. Jones’s first marriage — although, given his acknowledged chronic infidelity, that might have been some time coming. “It got so out of control,” he wrote in his memoir, “that at one point I was in love with and dating Marpessa Dawn, the leading lovely from ‘Black Orpheus’; a Chinese beauty; a French actress; Hazel Scott, the gifted, cosmopolitan ex-wife of Adam Clayton Powell Jr.; and Juliette Gréco, the Queen of French Existentialism, all at the same time.”

Mr. Jones took the job of musical director at Mercury in 1961, assembling its jazz roster: He signed Dizzy Gillespie, Gerry Mulligan, Shirley Horn and others. But this was a moment when pop was taking over; jazz’s margins, and perhaps its audience, too, were in steep decline.

He changed his focus accordingly. His first pop success was with the singer Lesley Gore, who was only 16 when he came into possession of her demo tape. “She had a mellow, distinctive voice and sang in tune, which a lot of grown-up rock ’n’ roll singers couldn’t do, so I signed her,” Mr. Jones wrote. He helped make the song “It’s My Party” (1963) into a No. 1 hit for Ms. Gore, rushing acetates to radio stations just before another version of the song, sung by the Crystals and produced by Phil Spector, which remains unreleased.

Mr. Jones ascended at Mercury, in 1964 becoming the first Black vice president of a white-owned record label. (He also won his first Grammy Award that year, for his arrangement of Count Basie’s “I Can’t Stop Loving You.”) He kept the position for less than a year, until he scored “The Pawnbroker” — one of his greatest achievements as a composer — and moved to Los Angeles to work in films and television.

His most frenetic years, professionally and personally, began in the late 1960s and stretched to 1974. He married Ulla Andersson, a 19-year-old Swedish model, in 1967 and had two children with her, Martina and Quincy III; they divorced in 1974. His dozens of film-score credits in those years included “The Deadly Affair,” “In the Heat of the Night,” “In Cold Blood,” “Mirage,” “For Love of Ivy” and “The Getaway.” And he composed theme songs and scored episodes for “Sanford and Son,” “Ironside” and two different shows starring Bill Cosby. He also produced the 1973 television tribute “Duke Ellington … We Love You Madly.”

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Quincy Jones stands with two other men near a piano, next to another man sitting on the bench.
Mr. Jones with Duke Ellington, seated, during a recording session in 1973.Credit...David Redfern/Redferns, via Getty Images

At the same time, Mr. Jones was making large-ensemble jazz-funk records as a leader, including “Walking in Space” (1969), whose title track won a Grammy for best instrumental jazz performance by a large group. He soon moved toward a more purely commercial kind of funk and R&B with “Body Heat” (1974).

He was working on “Mellow Madness,” a follow-up to “Body Heat,” when he suffered a brain aneurysm in 1974, resulting in two operations. After the first, his friends, not expecting him to live, organized a memorial concert at the Shrine Auditorium in Los Angeles. The concert went on as planned, with a roster that included Cannonball Adderley, Sarah Vaughan and Ray Charles. Mr. Jones attended, under strict orders from his neurosurgeon not to get excited.

“It felt like I was watching my own funeral,” he later wrote.

For a few years Mr. Jones slowed down, comparatively. He married the actress Peggy Lipton and had two daughters with her: Kidada Jones, an actress, model and fashion designer, and the film and television actress Rashida Jones.

He produced hit records by the Brothers Johnson, who had sung on “Mellow Madness”; contributed music to the celebrated mini-series “Roots” in 1977; and in 1978 served as musical supervisor for Sidney Lumet’s film version of the Broadway musical “The Wiz,” working with Michael Jackson for the first time. That led to their collaborations on the albums “Off the Wall,” “Thriller” and “Bad,” whose combined certified American unit-sales amount to 46 million, and whose worldwide figures are said to be more than double that.

As a joint venture with Warner Bros. Records, Mr. Jones started his own label, Qwest, in 1980. The label’s first release was the singer and guitarist George Benson’s “Give Me the Night,” which won three Grammys; otherwise, its quirky discography — the list includes not just stars like Frank Sinatra, Lena Horne and the R&B singer James Ingram, but also the post-punk band New Order, the gospel singer Andraé Crouch and the experimental jazz saxophonist Sonny Simmons — proved, if it needed proving, that Mr. Jones was not concerned only with the bottom line.

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A group of men stand together, as one holds sheet music in his hand.
Clockwise from left, Lionel Richie, Daryl Hall, Mr. Jones, Paul Simon and Stevie Wonder recording “We Are The World” in 1985.Credit...Associated Press

His profile was raised even higher in 1985, when he produced, arranged and conducted a supergroup of more than 40 singers — including Diana Ross, Michael Jackson, Bruce Springsteen and Stevie Wonder — under the banner name USA for Africa, in “We Are the World,” a fund-raising single for famine relief.

The recording, with an accompanying video, was an international hit, becoming the industry’s first multiplatinum release, raising millions of dollars in donations and winning four Grammys, including “Song of the Year.” (The making of that record was the subject of a 2024 Netflix documentary, “The Greatest Night in Pop.”)

Shortly after that, Mr. Jones served as associate producer of Steven Spielberg’s film adaptation of Alice Walker’s novel “The Color Purple.” He also wrote the score, in less than two months.

Meanwhile, Mr. Jones’s third marriage failed, he became dependent on the sleeping pill Halcion, and he was not making good on plans for a follow-up to “Bad.” In 1986, he fled to one of Marlon Brando’s vacation spots — “a cluster of islands he’d owned in Tahiti since filming ‘Mutiny on the Bounty,’” as he described it in “Q.” He spent a month recovering, overcame his Halcion addiction and bounced back.

The 1989 album “Back on the Block” served as his official return, with a guest roster that typified his cross-generational, cross-stylistic dream of Black American music: Ella Fitzgerald, Miles Davis, Ice-T, Luther Vandross, Barry White. The album won six Grammys, including album of the year, and Mr. Jones was named nonclassical producer of the year.

The documentary feature “Listen Up: The Lives of Quincy Jones,” which told his story through the recollections of his colleagues, was released in 1990. That same year, his record label became part of a larger multimedia entity, Quincy Jones Entertainment, which produced the sitcoms “The Fresh Prince of Bel Air” and “In the House” as well as the sketch show “Mad TV.” The business eventually branched out into publishing: He helped start the hip-hop magazine Vibe, and published Spin and Blaze with Robert Miller.

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Quincy Jones, in a light-blue suit coat, stands before a group of young men holding instruments.
Mr. Jones with students at the Montreux Jazz Festival in 1991.Credit...Alain Benainous/Gamma-Rapho, via Getty Images

In 1991, Mr. Jones produced a concert at the Montreux Jazz Festival in Switzerland — of which he, in typical factotum spirit, had become a co-producer — reuniting Miles Davis with the arrangements that Gil Evans had written years earlier for the albums “Sketches of Spain” and “Porgy and Bess.” It was there that he met the actress Nastassja Kinski, with whom he lived for four years, a union that produced his seventh child, Kenya Julia Miambi Sarah Jones, who became a model and is known professionally as Kenya Kinski-Jones.

By that time Mr. Jones’s life and work had become entwined with hip-hop, with or without his direct input. At his death in 1996, Tupac Shakur had sampled, for his own No. 1 hit “How Do U Want It,” a piece of Mr. Jones’s “Body Heat” — a track that has also been sampled by Das EFX, Mobb Deep and Tyrese, among others — and was dating Mr. Jones’s daughter Kidada.

According to his publicist, Mr. Jones is survived by a brother, Richard; two sisters, Margie Jay and Theresa Frank; and seven children: Jolie, Kidada, Kenya, Martina, Rachel, Rashida and Quincy III.

In his final decades, Mr. Jones dedicated much of his time to charity work through his Listen Up! Foundation; established a Quincy Jones professorship of African American music at Harvard University; produced “Keep On Keepin’ On,” a 2014 film about the teacher-student relationship between the 89-year-old Clark Terry, Mr. Jones’s old mentor, and Justin Kauflin, a young blind jazz pianist; and released the album “Soul Bossa Nostra,” reprising songs he’d produced in the past, with appearances by Snoop Dogg, T-Pain and Amy Winehouse, who contributed a louche version of “It’s My Party” — her last commercial release before her death in 2011.

Mr. Jones stayed in the public eye. In 2018, he made headlines when he gave wide-ranging interviews to New York and GQ magazines that contained surprising comments about Michael Jackson and other subjects.

In 2017, he helped launch a video platform, Qwest TV, offering high-definition streams of jazz concerts and documentaries, and in 2022 he appeared on the album “Dawn FM” by the Weeknd, performing a monologue on the track “A Tale by Quincy.”

But even his not-fully-realized back-burner projects tell a story of their own, a kind of secondary biography of the obsessions and connections of a constantly busy man. Among them were a musical about Sammy Davis Jr.; a Cirque du Soleil show on the history of Black American music, from its African roots; a film about Brazilian carnivals; a film version of Ralph Ellison’s unfinished novel “Juneteenth”; and a film on the life of Alexander Pushkin, the Russian poet who was said to be of African origin.

NEW YORK TIMES