August 31, 2023

Muuuuuu, em inglês

 

 

 A tese de perseguição do
“sistema” consolida o apoio a Donald
Trump entre os eleitores republicanos

 P O R C H R IS M C G R E A L , D E C R ES C O, I OWA

 Do seu canto rural em Iowa,
no Centro-Oeste dos Esta-
dos Unidos, Neil Shaffer
fez mais do que precisava
para colocar Donald 
Trump na Casa Branca e tentarmantê-lo
lá. Shaffer supervisionou a maior mudan-
ça de qualquer condado no país deBarack
Obama para Trump em 2016 e aumentou
a participação do então presidente nos
votos quatro anos depois. Mas o líder do
Partido Republicano no condado de Ho-
ward não se entusiasma com a perspec-
tiva de mais uma campanha presidencial
de Trump, e culpa os democratas por im-
pulsioná-la. “Honestamente, os demo-
cratas estão dando um tiro no próprio pé
com esses processos”, disse. “Por que
Trump está indo tão bem? Porque os elei-
tores sentem que ele está sendo atacado.
Se esse é o esforço dos democratas para
fazê-lo parecer ruim, não conseguiram.
Provavelmente isto vai torná-lo o candi-
dato republicano e, honestamente, ele
pode ganhar a eleição geral de novo. E en-
tão de quem seria a culpa?”

 
Depois de se declarar inocente na
quinta-feira 3 de acusações federais so-
bre suas tentativas de roubar a elei-
ção presidencial de 2020, Trump de-
nunciou o indiciamento como “uma
perseguição a um oponente políti-
co”. “Se você não pode vencê-lo, vo-
cê o persegue ou o processa”, atacou.

 
Muitos compram essa linha de ra-
ciocínio em Iowa e no resto dos Estados
Unidos. Até agora, Ron DeSantis não
conseguiu diminuir a enorme liderança
de Trump para a indicação do Partido
Republicano. Com a probabilidade de o
ex-presidente passar boa parte do pró-
ximo ano em algum tribunal, depois de
ser indiciado em Nova York, Flórida e
Washington por uma série de acusações
e com outras esperadas para breve na
Geórgia, seus apoiadores estão mais que
dispostos a acreditar em uma conspira-
ção para manter seu homem fora da Ca-
sa Branca. Um deles é Tom Schatz, agri-
cultor no condado de Howard, na divisa

sa de Iowa com Minnesota. “Eles estão
apresentando as acusações contra Trump
para que ele não possa concorrer contra
Biden. Biden é tão desonesto... Nunca ti-
vemos esse tipo de merda nos Estados
Unidos, nunca”, afirmou. “Os democra-
tas vão continuar montando nas costas de
Trump. Eles não desistem. Simplesmen-
te, não gostam dele porque está drenando
o pântano, e eles não gostam disso.”
Schatz, como muitos apoiadores de
Trump, vê os processos como parte de
um padrão de ataques ao establishment,
desde o processo de impeachment do en-
tão presidente pelo Congresso por duas
vezes até a investigação do FBI sobre su-
postos laços entre a Rússia e sua campa-
nha de 2016. A mesma mensagem é mar-
telada em estações de rádio de direita,
que muitas vezes são o pano de fundo do
dia de trabalho nas áreas rurais.

 
No dia da acusação de Trump, Buck
Sexton, ex-analista da CIA na rádio AM
600 WMT em Iowa, dizia energicamente

a seus ouvintes, sem ironia, que os proces-
sos minavam a confiança no sistema elei-
toral. “Estamos enfrentando algo com que
nunca lidamos antes”, declarou. “Eles não
se importam com o quão irresponsável é
isso, os democratas. Não os incomoda a
perturbação que estão fazendo à fé no sis-
tema judicial, à fé nas nossas eleições, algo
de que ele falou o tempo todo. Como se po-
de ter uma eleição justa quando um candi-
dato logo terá quatro processos criminais
contra ele? Fato especificamente progra-
mado para acontecer durante a eleição.”

 
Shaffer sentiu o vigor renovado na
campanha de Trump quando se encon-
trou com o ex-presidente dias antes do
último indiciamento, no jantar anual
para angariar fundos para o Partido Re-
publicano em Iowa. Trump estava entre
os 13 candidatos presentes para defen-
der seu caso antes de se encontrar com
os ativistas do partido, um a um. E tam-
bém seu ex-vice-presidente Mike Pen-
ce. “Sinto-me mal por Pence, porque ha-
via 500 na fila para ver Trump, e literal-
mente cinco na sala para Pence. Trump
tem essa conexão. A maior parte do nos-
so grupo estava lá só para conhecê-lo.”

 
Segundo Shaffer, a fila para ver DeSan-
tis era mais longa do que para Pence, mas
nada como a de Trump, que ele interpre-
tou como mais uma prova de que o mo-
mento do governador da Flórida havia
passado e que os processos ajudaram
a reanimar a candidatura de Trump.
“Acho DeSantis incrível. Acho que um
dia ele será um grande presidente. Mas,
enquanto Trump estiver concorrendo,
não há como ele conseguir a indicação.”

 
As pesquisas confirmam essa visão,
mas entre alguns eleitores do condado de
Howard o apoio a Trump é menos claro. O
filho de Tom Schatz, Aaron, foi um eleitor
relutante de Trump em 2016. Ele votou
em Obama, mas não gostava de Hillary
Clinton. Estava muito mais entusiasma-
do com Trump quatro anos depois, mas
esfriou desde então. Por tudo isso, Schatz
acredita que o ex-presidente é vítima de
uma conspiração política. O produtor de
laticínios e milho disse estar mais preocu-
pado com a inflação, o aumento das taxas
de juro e a queda dos preços do leite que
produz do que com os detalhes da acusa-
ção de 45 páginas que expõem as tenta-
tivas de Trump de derrubar a eleição de
2020. Ele preferiu ver as acusações como
evidências de um critério duplo, no qual
o establishment de Washington falhou em
investigar adequadamente supostos cri-
mes de Hillary Clinton ou Hunter Biden.

 
Questionado sobre a participação de
Trump na invasão do Capitólio em 6 de
janeiro, Schatz a considerou uma coisa
ruim, mas não muito diferente do que,
na opinião dele, ver políticos democra-
tas encorajando os protestos e tumultos
que se seguiram ao assassinato de George
Floyd três anos atrás. “Eles incendiaram
Minneapolis. E foram processados por is-
so?”, perguntou. “Trump agiu mal quando
perdeu, admito. Mas eles estão apenas ten-
tando pôr tudo o que puderem em cima de-
le. Parte de mim pensa que tudo o que eles
farão é unir os seguidores de Trump. Acho
que estão fazendo mais mal do que bem.


Shaffer também não está convencido
pelos detalhes da acusação. “Ainda não
gosto de muita coisa que Trump fazia,
muito do que ele dizia. Os cidadãos sabem
que ele não se comportou muito bem des-
de o dia da eleição até 6 de janeiro. Mas isso
chega ao nível em que ele deveria ir para a
prisão porque disse algo num telefonema?

 
Acho que somos mais adultos que isso.”
As suspeitas sobre a enxurrada de acu-
sações estendem-se até mesmo à presi-

dente do Partido Democrata no conda-
do de Howard, Laura Hubka, veterana da
Marinha dos Estados Unidos e tecnóloga
de ultrassom no hospital da cidade, que
não gosta de Trump. “Acho que o estão
perseguindo porque ele está fugindo”,
avalia. “Ele quebrou as leis e é um cara
mau? Sim. Mas acho que, se ele simples-
mente fosse para o ocaso e tagarelasse no
Truth Social, talvez o tivessem deixado
em paz. Mas assim que concorreu nova-
mente as pessoas pensaram que ele era
popular o suficiente para vencer de novo,
e precisamos fazer algo para detê-lo. Eles
tinham de fazer alguma coisa, eu acho.”

 
O impacto dos próximos julgamen-
tos de Trump e as evidências que eles
expõem ainda não foram vistos. Mas po-
de-se esperar que, embora os apoiadores
obstinados permaneçam leais, aqueles
que votaram nele uma vez, mas muda-
ram para Biden quatro anos depois, têm
poucos motivos para voltar.

 
Trump foi derrotado por 7 milhões de
votos populares e 74 cédulas do Colégio
Eleitoral em 2020, e alguns democratas
calculam que ele lutará para superar es-
se déficit com a bagagem adicional de acu-
sações, julgamentos e, possivelmente, até
a prisão. As pesquisas mostram, porém,
que os dois presidentes mais recentes dos
Estados Unidos estão empatados, inclusi-
ve em estados decisivos, como Michigan.

 
“Toda vez que o indiciam, ele sobe nas pes-
quisas”, afirma Shaffer. “Acho que os de-
mocratas são muito arrogantes. Alguns li-
berais acreditam que, assim como fizeram
em 2016, ele nunca mais será eleito, nun-
ca mais. Não tenho muita certeza disso.”

 
De sua parte, Hubka não consegue
acreditar que as pesquisas estejam tão
apertadas, mesmo que falte mais de um
ano para a eleição. “Sinto que ele pode
disputar da prisão, e ainda assim será
uma disputa acirrada com Joe Biden. É
isso que me assusta.”

 
O que levanta uma pergunta sobre por
que os democratas não estão se saindo
melhor em um antigo reduto como o con-

dado de Howard. Shaffer diz que o con-
dado está indo bem de várias maneiras,
graças a Biden. Segundo ele, a Lei de Re-
dução da Inflação injetou dinheiro no
condado, pagando para renovar a infra-
estrutura, incluindo pontes e estradas. O
trabalho de conservação de Shaffer para
o estado é bem financiado pelo governo
federal, e traz benefícios financeiros pa-
ra os agricultores. Além disso, o impul-
so para a energia verde resultou na pro-
liferação de moinhos de vento muito lu-
crativos. “Temos muitos moinhos por  
aqui, e isso é um enorme benefício. Ca-
da um deles está avaliado em 1 milhão de
dólares, e podemos tributá-los e colocar
dinheiro em nosso orçamento para po-
dermos construir pontes e estradas e ter
dinheiro para as escolas”, disse Shaffer.
“Um dos meus agricultores tem quatro
moinhos de vento e todas as estradas e li-
nhas. Ele recebe 185 mil dólares por ano
com isso. Ele construiu uma casa nova,
tem tratores novos. Toda a parte noroes-
te do condado costumava ser uma área
mais deprimida. Os moinhos de vento
bombearam muito dinheiro.”

 
Shaffer está surpreso que, com tan-
tos republicanos denunciando a energia
renovável, o Partido Democrata não es-
teja se esforçando mais para reivindicar
o crédito pelos benefícios no condado de
Howard. Hubka culpa a liderança nacio-
nal democrata, acusada de se concentrar
excessivamente em partes do país onde a
maioria dos residentes tem educação uni-
versitária, ao contrário da zona rural de
Iowa. “Eles precisam pegar algumas bolas,
ser mais ousados. Também sinto que estão
apenas descartando os condados rurais.”
Mas Hubka continua lá, em campanha
e a esperar para ver o que acontecerá se
Trump for preso. Ela comprou uma ar-
ma antes da última eleição por causa das
muitas ameaças de apoiadores do repu-
blicano. “Eu estava realmente com mui-
to medo de levar um tiro ou de me ma-
chucar. Acalmou um pouco nesse senti-
do, mas quem sabe o que acontecerá se
ele for jogado na prisão?”

 
Na esquina de seu hospital, uma ban-
deira pendurada diante de uma casa po-
de ser lida como um aviso: “Trump 2024.
As regras mudaram”.

 
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.

 

CARTA CAPITAL

   

August 30, 2023

Mais um outsider

 

EQUADOR Filho do “Magnata da Banana”, o azarão Daniel Noboa
vai disputar o segundo turno com a esquerdista Luisa González

 
P O R R O D R I G O M A R T I N S

 
Em uma eleição atípica, macu-

 lada pelo assassinato de um
presidenciável e diversos ou-
tros atentados políticos, a es-
querdista Luisa González,
candidata do Revolução Cidadã e respal-
dada pelo ex-presidente Rafael Correa,
confirmou o favoritismo nas pesquisas e
largou na dianteira da corrida presiden-
cial no Equador, com 33,4% dos votos vá-
lidos. Enfrentará no segundo turno, em
15 de outubro, o empresário liberal Da-
niel Noboa, um outsider que surpreendeu
com 23,5% dos sufrágios no domingo 20.
Proveniente de uma das famílias mais ri-
cas da América Latina, reconhecida pe-
los equatorianos por seu império bana-
neiro, o neófito deputado eleito em 2021
figurava com um porcentual de único dí-
gito até poucas semanas antes do pleito.
Agora já é visto como favorito por alguns
analistas que apostam em sua capacida-
de de herdar votos de candidatos conser-
vadores derrotados

No único debate presidencial, realiza-
do uma semana antes da votação, Noboa
teve um bom desempenho e acabou fa-
vorecido pela intensa troca de acusa-
ções entre candidatos mais bem posicio-
nados nas pesquisas. Durante a campa-
nha, ele procurou distanciar-se das pro-
vocações entre apoiadores e oponentes de
Correa. Em vez disso, apresentou-se co-
mo um candidato antissistema, com dis-
curso focado na geração de empregos. Es-
sa postura angariou a simpatia de eleito-
res mais jovens, não identificados com a
velha polarização política em torno do ex-
-presidente socialista, observa Caroline
Avila, especialista em comunicação po-
lítica da Universidad de Azuay, ao Wa-
shington Post. Mesmo não sendo o candi-
dato mais associado ao tema da seguran-
ça pública, ele “oferece um tipo de políti-
ca jovem e revigorante que não é mancha-
da pelo conflito”, avaliou a pesquisadora.
“A juventude optou pela alternativa de
Daniel Noboa”, celebrou o candidato, du-
rante uma coletiva de imprensa logo após
a confirmação de seu nome. “Não seria a
primeira vez que uma nova proposta dá
uma volta no establishment eleitoral”,
acrescentou, referindo-se a si mesmo.

 
Para variar, a pose de outsider tem chei-
ro de engodo. Embora tenha no curriculo

uma única e breve passagem pela Assem-
bleia Nacional, o empresário beneficiou-
-se do enorme recall político de seu pai,
Álvaro Noboa, conhecido como o “Mag-
nata da Banana”, que disputou a Presi-
dência da República cinco vezes.

 
Desde que Lasso dissolveu a Assem-
bleia Nacional e antecipou as eleições
gerais para escapar de um processo de
impeachment por corrupção, o Equador
mergulhou em um cenário de instabili-
dade e violência política sem preceden-
tes. Após o assassinato do presidenciável
Fernando Villavicencio, em 9 de agosto,
o presidente decretou estado de exceção,
mas mesmo com a mobilização das For-
ças Armadas para reforçar a segurança
dos candidatos não foi possível interrom-
per a onda de ataques.

 
Jornalista de formação, Villavicencio
vinha sendo ameaçado por um dos princi-
pais cartéis de drogas equatorianos, Los
Choneros, incomodados com o feroz dis-
curso do candidato contra o que chamava
de “narco-Estado”. Suas propostas mira-
vam na militarização dos portos para con-
trolar o narcotráfico, na criação de uma
Unidade Antimáfia com apoio interna-
cional e na construção de um presídio
de segurança máxima para os crimino-
sos mais perigosos. Um dia após o atenta-
do, Estefany Puente, postulante ao Parla-
mento, foi atingida por um tiro de raspão
no braço esquerdo após uma dupla de pis-
toleiros disparar contra seu carro. Passa-
dos quatro dias, Pedro Briones, líder re-
gional do Revolução Cidadã, foi executado
em sua casa, na cidade de Esmeraldas, na
fronteira com a Colômbia. Três dias an-
tes da votação, o próprio Noboa precisou
interromper uma caminhada após ouvir

isparos no meio da multidão. Felizmen-
te, não houve mortos nem feridos.

 
A despeito do banho de sangue promo-
vido por sicários do narcotráfico, a popu-
lação não se deixou intimidar. O pleito te-
ve participação recorde. Ao todo, 82,26%
dos 13,4 milhões de cidadãos aptos a vo-
tar compareceram às urnas no domingo
20. Em algumas cidades, os eleitores en-
frentaram longas filas para acessar as ca-
bines de votação, após passarem por re-
vistas corporais e detectores de metais.
Muito além da insatisfação com os ru-
mos políticos do país, a presença massi-
va de eleitores desnuda o inconformis-
mo com a violência que tomou de assal-
to o país nos últimos anos, fruto da guer-
ra travada, nas ruas e nos presídios, por
grupos criminosos financiados por car-
téis mexicanos e colombianos. Os dados
são aterradores. Até 2018, o Equador re-
gistrava 9,8 homicídios a cada 100 mil ha-
bitantes. No ano passado, a taxa subiu pa-
ra 25,9, quase o dobro de 2021. A barbárie
afetou duramente a indústria do turis-
mo, setor vital da economia equatoriana.

 
Como era de se esperar, o debate elei-
toral acabou contaminado pela série de
atentados. Christian Zurita, o substituto
de Villavicencio, fez questão de compare-
cer ao local de votação com colete balísti-
co e capacete. Apesar de entrar na disputa
faltando dez dias para as eleições, ele fi-
cou em terceiro lugar, com 16,47% dos vo-
tos – as cédulas eleitorais ainda traziam a
foto do presidenciável assassinado. “Nas
eleições passadas usei o TikTok, desta vez
venho com colete à prova de balas”, emen-
dou o nanico candidato Xavier Hervas,
com a proteção por baixo da camisa. Ele
amealhou 0,5% dos votos.

 
Uma semana após o atentado contra
Villavicencio, o ex-presidente Rafael
Correa atribuiu a morte do concorrente a
um complô para impedir a vitória de sua
candidata, Luisa González, logo na pri-
meira votação. “Ele estava em quarto ou
quinto nas pesquisas, não ia ganhar nun-
ca, então era mais útil morto do que vivo.
E para nos prejudicar, já que somos seus
arquirrivais”, afirmou o ex-presidente à
Folha de S.Paulo. “Agora há uma campa-
nha brutal nas redes culpando-nos pela
morte. Quem ganha com isso é a extre-
ma-direita, pois sabiam que íamos ven-
cer no primeiro turno.”

 
Acusado de cobrar propinas de gran-
des empresas e condenado à revelia por
corrupção, Correa se diz vítima de uma
perseguição judicial semelhante à en-
frentada por Lula, no Brasil, e Cristina
Kirchner, na Argentina. Desde 2017 vi-
ve na Bélgica, país de origem de sua es-
posa, Ann Malherbede. A Justiça equa-
toriana solicitou a extradição do ex-pre-
sidente, para que ele cumprisse pena de
oito anos de prisão, mas o pedido foi ne-
gado. Em abril deste ano, o governo bel-
ga reconheceu seu status de refugiado.

 
O episódio é usado pelo socialista como
prova de que foi vítima de lawfare duran-
te a gestão de Lenin Moreno, ex-aliado
que se voltou contra o padrinho após
chegar ao poder. “É um alívio. Quando
te dão essa proteção, isso mostra que vo

ê está sendo perseguido”, disse Correa
à agência France Presse.

 
Se, por um lado, Daniel Noboa tende
a atrair os eleitores de candidatos con-
servadores, a exemplo do direitista Jan
Topic (14,69% dos votos válidos), por ou-
tro, é inegável que o correísmo mantém
uma base forte e leal. Sozinho, o partido
Revolução Cidadã obteve 39,32% dos vo-
tos para a Assembleia Nacional, um de-
sempenho superior ao de Luisa González
na corrida presidencial. É possível que,
com o arrefecimento da violência política
no Equador, a candidata volte ao incon-
teste favoritismo que tinha antes da onda
de atentados. Para tanto, a ex-deputada

e 45 anos deve estimular, nos eleitores,
o sentimento de nostalgia em relação ao
governo de Correa (2007 a 2017), quan-
do as taxas de homicídio eram baixas e
o boom no mercado de commodities per-
mitiu retirar milhões de equatorianos da
situação de pobreza. “Vamos ter aquela
pátria novamente, com esperança, digni-
dade e segurança”, discursou a candidata
após o encerramento da votação.

 
A eleição, convém ressaltar, é para um
mandato-tampão de um ano e meio. Co-
mo o presidente Guilherme Lasso acio-
nou o dispositivo da “morte cruzada”, na
qual renuncia ao cargo ao mesmo tempo
que dissolve a Assembleia Nacional, o no-
vo líder eleito só ficará no poder até maio
de 2025, quando está prevista a realiza-
ção de nova disputa presidencial.

 
Em um plebiscito simultâneo, quase
59% dos eleitores equatorianos votaram,
no domingo 20, pelo fim da exploração de
petróleo em uma de suas maiores jazidas,
o Parque Nacional Yasuní, considerado o
coração da Amazônia equatoriana. A vo-
tação foi celebrada pelo Yasunidos, grupo
ambiental que coletou 757 mil assinatu-
ras e enfrentou uma longa batalha judi-
cial para obrigar a Justiça Eleitoral a re-
alizar a consulta popular.

 
O parque abriga, em mais de 1 milhão
de hectares, ao menos 2 mil espécies de
árvores e arbustos e 610 espécies de pás-
saros, sem contar com as demais espé-
cies. A exploração do chamado “Bloco
43” ocorre desde 2016. O governo Lasso,
que sempre atuou em defesa das perfura-
ções, estima que a jazida seja responsável
por 12% dos 466 mil barris de petróleo
produzidos por dia pelo país. Com a deci-
são, a Petroecuador tem prazo de um ano
para encerrar os trabalhos e remover todo

o maquinário de bloco amazônico.

CARTA CAPITAL