Diego Garcia
Falta de liderança, escolhas erradas, substituições duvidosas e falsa blindagem ao elenco. Tite encerrou um ciclo de 6 anos na Seleção sendo eliminado duas vezes nas quartas de final de uma Copa do Mundo para países pequenos no cenário do futebol. Perder para a Croácia ficará marcado na história como um dos grandes fiascos do time brasileiro.
A seguir, veja 10 erros cometidos por Tite que podem ajudar a explicar o fiasco.
1- Daniel Alves
Parece claro que o primeiro erro de Tite foi convocar o quase aposentado
Daniel Alves. O lateral direito titular Danilo se machucou na partida
de estreia, o reserva imediato da esquerda Alex Telles foi cortado no no
meio da Copa e o titular da posição foi para o banco também por lesão.
O gol que eliminou o Brasil, a 4 minutos do fim da prorrogação, saiu por uma jogada na ala direita, quando Danilo - que começou improvisado na esquerda e voltou ao setor original nos 15 minutos finais - estava mancando de exaustão, já tinha um cartão amarelo e não conseguiu parar o contra-ataque.
Tivesse um lateral direito em condições de jogar uma Copa à disposição, que ainda estivesse em atividade (Daniel Alves não atuava em uma partida profissional desde setembro, quando entrou em campo pelo fraco futebol mexicano), o Brasil, provavelmente, estaria agora na semifinal.
2- Convocação
Em uma lista de 26 nomes, Tite levou 9 atacantes. O treinador me parecia
obcecado com a derrota diante da Bélgica, em 2018, quando ficou atrás
no placar e não tinha opções ofensivas para virar uma partida. Mas não
pensou que, na contramão, pudesse ter que, em algum momento, segurar um
resultado.
Com um lateral cortado por lesão, dois machucados e o já citado Daniel Alves como o quarto elemento, Tite foi obrigado a improvisar um zagueiro na lateral durante a Copa, incluindo no vexame diante da Croácia, perdendo assim um nome para o setor. Assim, só Bremer estava à disposição no banco. E Fabinho - que deveria ter entrado em vez de Fred.
Com 120 minutos em campo, a Seleção não tinha nenhuma outra opção defensiva no elenco, quando precisava de apenas 15 minutos para se defender de um time que não havia feito o goleiro Alisson fazer nenhuma defesa. Conseguiu tomar o gol.
3- Capitão
Tite passou o ciclo inteiro sem definir um capitão. Decidiu fazê-lo
nesta Copa. Será que acertou? A 5 minutos do fim da prorrogação contra a
Croácia, os dois volantes se lançam ao ataque. A Seleção vencia por 1 a
0. Foi quando, com sete homens no campo ofensivo, tomou o
contra-ataque. E não tinha ninguém dentro de campo para perceber e
orientar o time em um momento de desespero.
O capitão da Seleção era Thiago Silva, escolhido por Tite na véspera da Copa por sua experiência. Mas até quem não entende de futebol sabe que o zagueiro - um dos melhores do mundo em sua posição - não tem condição de ser capitão de um time. Talvez, ninguém no elenco tivesse esse perfil. Poderia então ser um líder técnico, como Casemiro.
Mas quem chora antes de uma disputa de pênaltis jamais pode ser um líder técnico e tático dentro de campo, e Thiago Silva fez isso há mais de 8 anos, no Brasil, contra o Chile, quando já tinha 30 anos. Já no Qatar, os capitães de Croácia (Modric), Argentina (Messi) e Holanda (Van Djik), acertando ou errando, chamaram a responsabilidade nas disputas de pênalti desta sexta-feira (10).
4- Psicólogo
Tite abriu mão de um psicólogo na Seleção. Aparentemente, existe um
preconceito velado de alguns grandes nomes do futebol brasileiro contra
esse tipo de profissional. Faltou um em 2014, faltou em 2018 e faltou
novamente em 2022. Em uma era de haters e pressão insana das redes
sociais, a saúde mental tem que ser priorizada.
Mas o agora ex-técnico da Seleção, aparentemente, se considerou qualificado o bastante para incentivar os jogadores apenas com seu poder de oratória. Decorou o CT com frases motivacionais e imagens de ídolos do passado.
Tite não tinha ninguém em sua imensa equipe para lhe dizer que, nos dias de hoje, é necessário ter o mínimo de um acompanhamento profissional psicológico, de alguém realmente diplomado e qualificado para isso?
Não deu outra: a Seleção desabou após tomar o gol de empate da Croácia, com jogadores atirados ao chão do gramado com uma disputa de pênaltis pela frente. Rodrygo perdeu o primeiro, Marquinhos o último e o Brasil deu adeus ao sonho do Hexa.
5- Reservas
Tite poupou todo o time titular contra Camarões no terceiro jogo da
Seleção Brasileira na Copa. Contra um freguês histórico, que não vencia
um jogo de Mundial há 20 anos. Conseguiu perder. E o Brasil nem estava
classificado em primeiro ainda! Por que não jogou ao menos um time
misto?
Em um torneio de tiro curto, com apenas 7 jogos em um mês, qual é o sentido de poupar toda a equipe em uma partida que ainda valia no mata-mata? A Seleção não ficou com a segunda colocação da chave por um gol. E só precisava de um empate! Pressão psicológica desnecessária em um time, como já citado, sem psicólogo.
As críticas vieram de todos os lados em um momento que o time vivia lua de mel com o país. Então, poupados, os jogadores entraram voando contra a Coreia e atropelaram no primeiro tempo. Mas foi mais reflexo da superioridade brasileira ou da fragilidade coreana? Afinal, contra a Croácia, a Seleção fez seus piores 45 minutos de toda a Copa.
A derrota com os reservas é também uma amostra da soberba da comissão técnica, talvez acreditando em uma falsa crença de que o Brasil tem à disposição 2 times capazes de vencer a Copa. Tanto não tem que perdeu para Camarões. E para a Croácia.
6- Vinicius Júnior
A substituição de Vinicius Júnior, a maior revelação do futebol brasileiro depois de Neymar, aos 18 minutos do segundo tempo de uma partida de quartas de final de Copa do Mundo é inexplicável.
A partida estava 0 a 0. O Brasil crescendo. E o técnico me saca um talento de 22 anos com pelo menos 30 minutos em jogo no tempo normal e possíveis mais 30 na prorrogação? O que se passou na cabeça de Tite? É claro que Rodrygo deveria ter entrado, mas não na vaga do companheiro de Real Madrid.
Não que Vinicius Júnior seja insubstituível. Estava apagado em campo, anulado por uma forte marcação croata. Mas era um jogo em que o Brasil precisava de um gol e de todos os seus talentos em campo o máximo de tempo possível, o que torna a substituição injustificável.
7- Militão
O time tinha acabado de fazer um gol antológico nos acréscimos do
primeiro tempo da prorrogação quando o técnico substituiu o zagueiro que
estava improvisado na direita e segurava bem o setor. Colocou um
lateral esquerdo machucado e mandou o direito - com dores e amarelado -
de volta à posição.
Tite diz que Militão estava com dores. Mas Danilo também não estava? E Alex Sandro voltando de lesão? Por que não existiam outras opções?
Não demorou para o técnico Zlatko Dalic colocar Orsic pela esquerda do ataque croata para puxar um contra-ataque em cima justamente de Danilo, que não conseguiu acompanhar pelo desgaste e o cartão amarelo.
O resultado foi o gol de empate da Croácia no único chute a gol da equipe no jogo, a 4 minutos do fim, e posterior eliminação brasileira nos pênaltis.
8- Blindagem
O técnico tentou blindar o ambiente da Seleção de polêmicas, mas não
conseguiu. Mesmo antes da Copa, ao pedir que ninguém se envolvesse no
ambiente de polarização política que deixava o país dividido e em
ambiente péssimo às vésperas da Copa, Tite viu Neymar apoiar
publicamente um dos candidatos.
Isso gerou uma publicidade negativa ao craque da Seleção, que foi inundado de críticas de um lado e mensagens de apoio do outro, quando poderia ter permanecido neutro e obtido o apoio total da população. Mas Neymar preferiu fazer campanha por Bolsonaro.
Já no Qatar, o técnico não evitou que os atletas entrassem em desnecessária polêmica com o "bife de ouro", gerando um viés negativo a um elenco que estava aclamado pela crítica popular após vitória na estreia, em um país com mais de 30 milhões de pessoas passando fome.
E não estou entrando no mérito de ser certo ou errado comer o bife dourado. Só no ponto de que todos sabem, inclusive Tite, que, no Brasil, qualquer coisa vira bomba em uma Copa.
9- Pênaltis
Tite determinou que Neymar assumisse o último e decisivo pênalti contra a
Croácia. Mas alguém viu o camisa 10 brasileiro batendo pênalti? Pois é.
A Croácia acabou com a fatura na quarta cobrança e despachou a Seleção
sem que seu astro pudesse encostar na bola na disputa.
Isso mostrou clara falta de discernimento e liderança do treinador, no mesmo dia em que Messi bateu o primeiro pênalti da Argentina e Modric pediu a terceira bola, em um momento crucial da disputa, abrindo 3 a 1 para os croatas. Isso também demonstrou falta de liderança em campo do capitão escolhido por Tite, que não assumiu a responsabilidade nem de bater e nem de mandar Neymar assumir a cobrança inicial.
Era um momento crucial da partida. O Brasil havia tomado um gol de empate minutos antes e vivia momento emocional delicado. Precisava fazer o primeiro arremate para recuperar a confiança, do time e da torcida. Mas aí também faltava aquele lado psicológico em dia já citado anteriormente.
Enfim, só não era um momento de um garoto de 21 anos bater. A Seleção precisava de seu craque e de mais ninguém.
10- Abandono
Após Marquinhos chutar o sonho do Hexa na trave, Tite abandonou o campo e
deixou seus atletas chorando atirados no gramado para serem filmados
pelas câmeras do mundo inteiro. Quando mais precisaram de seu
comandante, os jovens da Seleção não o tiveram. Uma promissora geração
foi deixada sozinha às lágrimas.
Foi a última demonstração de como um técnico não estava preparado para uma Copa do Mundo.
UOL
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