NÁUSEA

 

ESTHER SOLANO

 Nojo, repulsa, asco. Nunca pen-
sei que pudesse ter esses sen-
timentos em dose tão gigan-
tescas. Tenho. A cada vez que vejo uma
foto ou assisto a uma live do monstro
no poder, meu corpo sofre uma reação
física instantânea. Náusea. Sinto a ne-
cessidade imediata de vomitar, como
se tivesse de expulsar de forma ime-
diata o que acabo de ver ou de ler. Co-
mo se o rosto do monstro fosse tóxico,
infecto, substância contaminante que
não pode permanecer no meu organis-
mo, pois me fará adoecer. Um câncer,
no fim das contas. Um câncer em me-
tástase no corpo e na mente de um país.
Mente e corpo, ao uníssono, rejeitam o
que se passa no Brasil. É podre demais.
É pútrido demais, pestilento demais.
Mentes e corpos daqueles que não são
fascistoides não estão preparados para
esta quantidade de putrefação. Tirar o
monstro no poder é questão de vida, de
morte, de saúde coletiva, de saúde men-
tal, de bem-estar, de presente, de futu-
ro, de dignidade.

Tive um filho em março deste ano. Em
plena pandemia. Infelizmente, ele nas-
ceu num mundo onde o beijo é suspeito,
onde se abraçar é quase uma infração pe-
nal, onde as máscaras escondem os sorri-
sos. Mas ele também nasceu num mun-
do que tem Jair Bolsonaro e isso torna as
coisas insuportáveis. Não quero meu fi-
lho a pagar por este pecado que é muito
pior do que o pecado original. No fim das
contas, Eva só comeu uma maçã, a gente
permitiu que Bolsonaro chegasse ao po-
der... Não suporto a ideia de meu filho, de
tantos outros filhos, de tantas crianças
que estão aqui, de tantas crianças que vi-
rão, de tanto potencial, de tanta esperan-
ça, conviver no mesmo período histórico
que um monstro.

Tirar o monstro no poder seria um
ato por nós e por eles. Por que nossos jo-
vens, nossas crianças, não merecem pa-
gar por um pecado nosso. Ter permitido
que o monstro chegasse ao poder é algo
que o mesmo Deus não vai perdoar tão
fácil. Um pecado mortal, que carregare-
mos nas costas, mas que será impossível
de expiar. Por que a gente pode, e deve,
mudar os rumos do Brasil, mas os mor-
tos não ressuscitarão mais. E a gente vai
ter de carregar com essa dor.

Nojo. Repulsa. Asco. Sinto repugnân-
cia quando escuto as fanfarronadas dos
idiotas fardados que latem estrondosa-
mente (pensando que são lobos, não
passam de cachorrinhos insignifican-
tes, pensando que intimidam, não pas-
sam de uma caricatura). Repugnância
quando escuto os idiotas da fé, Bíblia na
mão direita, arma na esquerda. Se Deus
não tiver reservado um lugar no infer-
no para vocês, eu me faço mais ateia ain-
da. Repugnância quando escuto os rica-
ços do mercado, reiterando, uma e ou-
tra vez, que em 2018 não tinham escolha
porque o PT etc. e tal. Acontece que, ul-
timamente, sinto repugnância por mui-
tas coisas, por muita gente. Porque vo-
cês nos fizeram ter de pagar pelo pecado
mortal de ser o país que escolheu Bolso-
naro e porque estamos chegando a 600
mil mortos pela Covid.

Vai lá, idiota. Quer dar um golpe? Vai
lá dar um golpe. Até para isso é preciso
um pouco de inteligência. Vão lá com
eles, idiotas fascistas do Brasil, uni-vos.
Vocês são uma minoria estúpida, os que
se acham lobos ferozes e não passam de
cachorrinhos ridículos. A última versão
da idiotice fascista é que eles estão com-
prando fardas falsas para irem na mani-
festação de 7 de setembro. Que belo resu-
mo da imbecilidade, uma das poucas ca-
racterísticas humanas que tende ao in-
finito, que se acumula e se acumula, or-
gulhosa de si própria.

Imagino o regozijo dos idiotas farda-
dos com farda falsa, bradando na Avenida
Paulista pela “intervenção militar”. Vo-
cês são uma minoria que constrange um
país inteiro. Estou cansada de entrevistar
gente que votou em Bolsonaro, hoje desi-
ludida, arrependida, e que sente vergonha
de vocês, desdém pelo que representam.
Vocês vão ficar sozinhos, com suas fardas
falsas e o mundo cairá na gargalhada, pois
vocês são simples folclore, folclore brega,
burla, nada mais do que burla.

Nojo, nojo de todos vocês.

Só não quero sentir nojo do Brasil. Vo-
cês não o representam. No dia 7 de se-
tembro, o único Brasil que me represen-
tará será o do #ForaBolsonaro. Vamos às
ruas, no Vale do Anhangabaú e em ou-
tras partes do País, contra os idiotas. So-
mos muitos mais. •

CARTA CAPITAL